Quando criança, eu era uma menininha impaciente. Queria todas as respostas, não parava nunca e insistia em não ‘aceitar’ que algumas coisas não podem ser mudadas — como se assim eu pudesse convencer o universo a mudar de rotação. O que, claro, se tornou um movimento lento, louco e algumas vezes doloroso.
Então um dia eu tava lá, aflita. E minha mãe contou a história que me marcaria e seria bálsamo em tantas ocasiões: a do homem que, na cabeceira, escreveu “vai passar”.
Assim ele lembraria, todos os dias, que não importava o que fosse, ia passar.
Quando estava tudo bem ou quando estava uma droga, eu pensava: vai passar. Foi o primeiro passo para entender e aceitar a impermanência de tudo — menos dos meus encontros com a escrita como forma de ser, ver e organizar esse bololô.
Logo, vi como as duas coisas se uniam. Enquanto escrevia, também organizava meus pensamentos, e ia desenrolando os nós da vida.
Já a menininha… talvez eu só tenha deixado de ser depois de muito, muito tempo. Quando eu não era mais criança e quando finalmente entendi a lição oculta da história da minha mãe: ia passar, claro, mas como passaria, dependia mais de mim que do mundo.
Foi preciso mudar com a vida. Não passar por ela, nem deixar ela passar por mim — pra gente pass(e)ar, juntas. Portanto, pensar + escrever são meu jeito de continuar sensível, de estar atenta para agarrar o braço da vida e acei(r)tar seu ritmo.