O primeiro passo para você ter uma vida mais calma
Antes, vamos esclarecer algumas coisas.
Primeiro: não, eu não sei qual é a sua realidade. Se você precisa, por exemplo, trabalhar durante o dia, estudar a noite, e trabalhar num segundo turno de madrugada, não viver com pressa é mais difícil. Mas é ainda mais necessário.
Então, como sempre, tudo pode ser adaptado. É questão de ritmo, de prioridade e de escolha. Agora, vamos lá:
Ter uma vida mais calma, tranquila e paciente é possível?
Quero crer que sim. Paciência é uma das habilidades mais incríveis. Eu imagino, claro. Porque se tem uma coisa que eu não sou, essa coisa é calma.
Eu tenho pressa.
E a gente pode até achar lindo isso — quando eu tinha 21 eu achava. Essa fome de mundo, de vida, de experiências, de viagens, de coisas, de dinheiro, de tudo. Mas, na prática, quando se torna uma constante, e não um desejo propulsor de uma fase específica, é bastante desgastante.
Se for o seu caso, se você sente que tem pressa e está tudo bem com isso, que ótimo: compartilhe! No entanto, se você sente o desconforto da dúvida sobre o ritmo das coisas na sua vida, talvez seja um bom momento para pensar sobre isso.
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Você fala muito rápido, gesticula demais, ta sempre “correndo” para alguma coisa? Bom, se for o caso acho que não tem muito o que discutir.
Mas nem sempre vemos os sinais óbvios (estamos com muita pressa para isso) e nem sempre eles são tão óbvios assim. Eu, por exemplo, precisei fazer algumas perguntas para mim mesma:
“Por que escuto tanto ‘calma, tudo no seu tempo’, ‘calma’, ‘respira’, ‘calma’, ‘pára’, ‘calma’. Será que eu sou mesmo apressada? Ou será que tratei de me apressar ao ver a vida passar?”
Olhar para trás para olhar para dentro
Para responder a algumas dessas perguntas, acabei olhando para o ponto mais “atrás” que pude. Foi assim que confirmei como sou apressada.
Descobri que, quando eu era criança, já ficava me imaginando no futuro. Adulta. Um ótimo exemplo disso, talvez o caso mais antigo que me lembre, foi no jardim de infância.
A professora nos levou para fora e nos convidou a sentar em círculo no gramado, para nos apresentarmos.
Logo que ela falou o objetivo, comecei a pensar no que iria dizer, como iria dizer — como se houvesse muito a ser dito ou alguma coisa para esconder sobre minha tenra experiência.
E então, assim foi. Tudo correu normalmente e minha ansiedade foi diminuindo à medida que entendi que todos tinham mais ou menos 3 ou 4 anos, falavam só o primeiro nome e era no máximo o segundo ano “escolar” de todos.
Até que o Bruno se levantou e disse: “Oi. Eu sou o Bruno e tenho 7 anos.“
Meu olhar, naquele momento, deve ter se iluminado. Estava ali um ser-humano de sete, SETE anos. Em instantes, Bruno se tornara meu objeto de admiração e respeito.
Comecei a me imaginar com incríveis SETE anos. Como eu seria? O que eu estaria fazendo? Eu seria tão alta quanto ele? Eu teria sardas como ele?
Eram minhas perguntas naquele momento.
Mas não foi o que a professora havia perguntado, provavelmente mais de uma vez, já que todos estavam me olhando. E eu percebi que tinha esquecido o que eu precisava falar.
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Então este é o passo #1: Pare de tentar ludibriar sua Realidade.
Porque ás vezes, é assim. A gente fantasia com o futuro e com tudo que vai acontecer nele. E obviamente existem inúmeros problemas nisso. Mas vou citar estes:
- Dona Realidade precisa: A gente acorda com a realidade batendo na sua porta, esperando que você execute coisas para as quais esqueceu-se de preparar-se, levando você a tentar resolver tudo antes que seja tarde.
- Dona Realidade desiste: Ás vezes simplesmente é tarde. Corremos o risco de acordar para a realidade do presente quando ele já se tornou passado e não há mais nada para fazer.
Pelo menos comigo, acabo indo para o futuro justamente com medo de chegar num ponto onde eu não possa mais corrigir minha história — ou uma parte dela.
É o pretinho básico da minha vida: errar por medo de errar.
Dona Realidade precisa
Esse problema passou a ser mais perceptível no início da vida adulta, quando me via tendo que fazer algumas coisas ás pressas. Não estou nem me referindo a imprevistos, a momentos em que parece que tudo acontece ao mesmo tempo e são específicos.
Estou me referindo a funções regulares.
A tarefas frequentes e relativamente fáceis de realizar, uma vez que eu sabia como, já tinha feito e sabia que viriam, antecipadamente: trabalhos de faculdade, estudar para a prova, escrever um texto, arrumar a mala, etc.
Essas tarefas se tornavam urgentes a medida que o tempo passava enquanto eu estava preocupada com outras coisas, que não eram urgentes ou sequer existiam. E aí eu não conseguia fazer mais nada.
Não conseguia apreciar ou dar atenção ao que estava acontecendo ao redor de mim. Porque eu precisava estar naquele ritmo que precisava dispensar qualquer outra distração.
O cachorro latindo na rua me incomodava mais do que deveria; as pessoas falando indevidamente comigo quando notavelmente eu estava precisando concluir algo me irritavam; o barulho do telefone martelava na minha cabeça.
Dona Realidade desiste
Aí entra o segundo caso, quando a Dona Realidade “desiste”. Não precisa estar à beira da morte para passar por isso. Podem ser momentos simples. Coisas que simplesmente perdemos por não estarmos suficientemente atentos.
A Realidade está continuamente esperando que executemos algo, ou nos dando oportunidade de executar algo: ao nos encontrar tão ocupados, ela tende a procurar outra pessoa.
E ter pressa me levava a não prestar atenção e viver as coisas na hora certa. Eu deixava para depois as coisas “chatas” fantasiando com coisas “legais” que poderiam acontecer.
Mas as coisas chatas são aquelas que a Dona Realidade nos cobra. Enquanto as coisas legais que idealizamos são aquilo ela nos oferece — mas só entrega quando prestamos atenção.
Portanto, ao fazer as coisas com pressa, fui perdendo oportunidades de aproveitar com totalidade o que a Realidade tinha para me oferecer. Ter pressa me impedia de viver as coisas na hora certa, explorar as experiências e colheitas.
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Eu não estava prestando atenção, eu estava ocupada demais fazendo as coisas com pressa
Então eu passava a ficar apenas com as coisas que a realidade PRECISAVA que eu fizesse, do único jeito possível: com pressa. E o ciclo tornava a se repetir. Para mim, esse se tornou o pior problema.
A sensação de que eu era um hamster, e a vida era o cientista me observando com curiosidade e dizendo aos seus colegas: incrível, ela realmente ainda não entendeu.
Quando estamos fazendo as coisas com pressa, até as coisas que poderiam ser boas e agradáveis, nos irritam. E as coisas que são desagradáveis e irritantes por si, nos levam mais rapidamente ao colapso nervoso.
Estava na hora de fazer as pazes
Era a minha realidade.
E aquilo, claramente, não estava me fazendo bem. Estava na hora de pôr novas regras no relacionamento abusivo que eu vinha tendo com esta senhora impecável chamada Realidade.
Precisávamos de um alinhamento. Ela estava precisando ou me oferecendo coisas que eu não estava sendo capaz de entregar.
Embora eu sempre tenha sido comprometida com metas, prazos, e em dar meu máximo para que cada coisa ficasse boa o bastante, estava pagando caro pelas minhas escolhas.
Assim, olhar para trás, me preparou melhor para mastigar bem mastigadinho o papo passivo-agressivo da Dona Realidade.
Identifiquei algumas percepções construídas que limitavam minhas possibilidades, analisei a origem do problema. E pude ver as coisas sob outro ângulo.
Viver tranquilamente era possível, e só dependia de mim. Foi minha vez de impôr limites. Assim, essa foi uma importante resolução tomada entre o final de 2016 e início de 2017 e que se aperfeiçoou a cada novo aprendizado:
Fazer as coisas com menos pressa
Simples. Ao mesmo tempo dificílimo. Porque envolve hábitos, e hábitos não são como decorar uma fórmula, mas sobre entender e praticar o problema. Ou melhor, a solução.
No meu caso, precisei de alguns critérios que serviram como base e talvez te ajudem bastante. Este, este, este e mais este artigo, inclusive, falam sobre isso. Mas, basicamente, as regras principais que adotei, tiveram muito resultado e por isso indico foram:
- Conhecer-se: seu ritmo, prioridades, sacrifícios que está disposto a fazer;
- Manter as coisas arrumadas diariamente;
- Focar no horário que precisa SAIR, não no horário do compromisso;
- Ter um dresscode básico e versátil;
- Dizer não para coisas que não são prioridade;
- Fazer coisas rápidas e urgentes primeiro;
- Calcular rotas antecipadamente;
- Criar rotinas para tarefas padrão;
- Anotar tudo e fazer listas mais direcionadas;
- Pedir ajuda e ser honesto.
É claro que incorporar consistência e não falhar nunca é uma equação que ainda não domino. Mas tenho entendido um pouco melhor e gostado bastante dos resultados: passei a me conectar mais facilmente com as coisas, entender melhor outras, e ser mais generosa – comigo e com os outros.
Esta é uma mudança que recomendo a todos. Ela não acontece de uma hora para outra. Depende de pequenos passos, é verdade. E é sempre incrível, porque, a cada passo que você dá, fica mais longe de onde esteve. Pode ver novas coisas a melhorar que te levarão ao próximo degrau.
Então…que tal tentar e ver como você sente?
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