Anos 90, Elon Musk e a m#rd@ toda

O que de fato deveria interessar diante de compras bilionárias como a do Elon Musk e de promessas como a do Orkut? Se divirta (um pouco), se preocupe (na medida), confira algumas referências e responda: Afinal, como chegamos até aqui e quanto isso vai nos custar?
assim-passa-elon-musk-jovem-anos-90-tecnologia-orkut

Essa semana, como muita gente, fui ‘surpreendida’ por duas notícias:

Sobre a primeira, não há muito o que dizer:

a finalização bilionária da compra integral do Twitter por parte do Elon Musk e os petelecos do Sr. Orkut nas nossas vidas.

“Homem bilionário faz transação aparentemente extravagante e choca um mundo aparentemente inocente por acreditar que seus objetivos são exatamente o que se vê acima da superfície.”

manchete imaginária do meu jornal mental


Essa semana de 2022: Elon Musk e Orkut

Então, não vou ficar redundando nada aqui, mas espero que você pare logo de ficar: “oh meu Deus mas é muito dinheiro por uma rede social só pode ser porque ele quer criar caos na terra” – se está sendo seu caso.

Não, o cara não é burro (tampouco vilão nem santo) e embora eu acredite que a defesa pública do ato tenha uma porcentagem de verdade, está longe de ser a verdade toda.

Como disse um ex-colega de trabalho, isso não é sobre rede social, é sobre learning machine. E como esse assunto (incrível) não é tema por aqui, te indico demais ver o videozinho do Dácio Alexandrino sobre isso, lá no instagram dele, e também ir atrás do conteúdo maravilhoso do Zero.Ai, do Hyan.

Bom, indicações FREE à parte… O segundo tópico, aí sim, queridos passageiros, bate mais forte nesse peito nostálgico.

Me ridicularizem à vontade, mas a verdade é que, quando vi aquela palavrinha, já remota, surgindo numa conversa de whatsapp, fui arrebatada por lembranças e reflexões que, provavelmente, quem nasceu nos anos 90 vai entender melhor.

De novo, meu ceticismo marca essa circunstância na minha cabeça: nada é exatamente o que parece quando o assunto envolve muitos dados e, claro, dinheiro.

E, sim, se você pensou isso, eu concordo: precisa existir algum interesse para motivar um ‘pronunciamento’ desse. O conto da fênix renascida é bem forte e irresistível, mas a verdade é que, por mais bonito que seja, precisamos admitir que mesmo se o cara estiver completamente bem intencionado (o que eu não acho tão ridículo assim) e decidir fazer uma operação enxuta:

  1. Gerenciar uma rede social com a quantidade de bytes que isso exige, envolve servidores, hospedagem, aluguel na ‘nuvem’ e um monte de coisas que não são exatamente baratas e dificilmente poderiam ser feitas por uma única pessoa.
  2. E aí vai de a gente pensar quem banca ou vai bancar essa parada aí, aparecendo ou não. Porque o Sr. Orkut não vai simplesmente se aposentar e do nada bancar um sonho maluco de tantas pessoas que pediram (de brincadeira, que seja) a volta do Orkut.

Os anos 90

Tá bom, ok, sanado esse trecho supostamente ingênuo das minhas emoções afloradas, vou te levar para onde isso tudo me levou.

assim-passa-charlie-brown-elon-musk-anos-90
uma homenagem

É que coincidentemente, essa noite tive um sonho bizarro e ruim que terminava comigo encolhida dizendo: “chega, chega, chega, chega, chega!” repetidamente. Como num surto psicótico, era como se eu tivesse vivendo um pesadelo acordada.

Com a liberdade onírica e um tanto dramática da história, a verdade é que contando pro meu marido sobre o sonho tive um pequeno vislumbre de uma das tantas possíveis origens e significado dele.

Então, vamos lá, se você nasceu ali entre 1985 e 1992, e teve uma vida um relativamente privilegiada, você vai se lembrar: de ter ido na casa de algum amigo jogar videogame e soprar a fita do nintendão. Ou do discman, do gameboy, de Charlie Brown cantando “Vou te levar” Malhação às 17h30 numa academia ‘de verdade‘, dos brinquedos da Estrela e jogos da Grow, de ir na locadora alugar filme (e levar bronca por não ter devolvido e pagar multa); de Doug, da tesoura da Minnie, do Fantástico Mundo de Bob, Dragonball, do pânico parental com Pokemon, dos questionários em caderno que rodavam por aí na sala de aula… e uma série de outras coisas que você viveu nesse surto coletivo.

Mas outra coisa interessante, é que essa galerinha toda aí, na qual me incluo pacas, viveu uma parada que sempre vou achar bem épica: a gente nasceu e cresceu junto com essa merda boa de tecnologia acessível.

Isso significa, entre outras coisas, que vimos coisas como mIRC e ICQ surgirem, evoluírem (em partes) e dar lugar a coisas como blogger, MSN e Orkut para ‘crescerem’ junto com a gente.

E, cara, me corrijam se eu tiver MUITO errada só que era gostoso pensar como tudo era carregado de uma… inocência.

A gente se achava os malandrão, esperando dar meia-noite pra usar escondido a internet. Colocando frase ou ouvindo uma música de indireta no status do MSN. Andando com a mochila cheia de disquete, mandando ou recebendo depoimento para alguém.

‘Participando’ de alguma comunidade onde tudo se resumia a entrar nela para todos saberem que “Eu acho tudo muito caro” e pensarem em você como um senhor de oitenta anos andando num corredor de supermercado e dizendo que achava tudo muito caro.

sem dúvida alguma, uma das minhas preferidas

Ou, em outros casos, uma maneira de deixar no ar aquela ‘indireta’

um clássico

E até mesmo se sentir um adolescente reizão, donão de si, declarando com coragem um tipo muito estranho de rebeldia (só que nada, porque levava peteleco e pedia desculpa se a vó visse)

tipo isso

Ou o oposto, posando de adolescente-xófen-adulto-intelectual e ainda por cima engraçadão com estilo.

quem nunca se irritou mas desejou essa?

Fora que era uma delícia ficar clicando naquele botão que fazia o MSN alheio se tremer todo e obrigar a outra pessoa a te dar uma resposta, só pra encher o saco – e na mesma linha, usar a cutucada do Orkut. (inclusive, aproveita que Facebook ainda existe, e viaja aqui nessa página cheia de referências como estas)

Mesmo quando a gente já tinha crescido um pouquinho, tinha um quê de malemolência ‘dar um toquezinho’ para aquela menina ou menino com quem a gente vinha empreendendo um jogo juvenil, gostosinho e, hoje, arcaico, de conquista – se é que se pode chamar assim.

Nota: queridos millenials e demais: isso era basicamente um universo onde não existia WhatsApp, a internet era cara e até mesmo um SMS poderia ser bem inviável, então o que fazíamos?! A gente ligava para o número, muitas vezes a cobrar, lógico, e deixava tocar uma vez… ás vezes, ousadamente, até DUAS. Impressionante, não é mesmo?

Sei lá, eu me achava muito coerente quando consegui publicar meu blog de poesia e prosa poética (sim, ele ainda existe como um arquivo público, rs) e conversava com escritores e poetas do Brasil todo – sem fazer a menor ideia se o nome daquelas pessoas era aquele mesmo, mas ainda assim gastando horas da minha vida com aqueles perfis cujo rosto e corpo eu desconhecia – mas cujo fragmento ínfimo da intimidade era tão fácil me identificar.

Um jeito simples de entender o que aconteceu

Fazendo um paralelo bem fácil de metalinguagem, vocês também podem lembrar daquele alerta clássico da balinha contendo droga que era vendida perto das escolas.

Pela ‘mitologia’ popular, existia por todo o Brasil, garotos bem apessoados, que se aproximavam das crianças e davam um balinha num dia, um pirulito no outro… e iam construindo uma generosa amizade com essas crianças que se achavam bem especiais, faturando de graça a dose diária de docinho.

Bom, eu daria vários outros nomes para práticas muito semelhantes que infelizmente acontecem com pequenos ajustes de realidade (afinal os mitos nascem de algum lugar). Mas a verdade é que somos essas crianças.

Dia após dia, mês após mês, ano após ano, fomos sendo atraídos com estilo, vai?!

O mundo foi parecendo mais diferente, colorido e divertido. Tinha corrente e fake news, mas a gente recebia essa parada de gente mais velha e era um troço bem elaborado, com apresentação e .ppt, voz Cid Moreira!

Não era uma parada organizada, estruturada, criminosa. Existiam sim outros meios de manipular informação e ‘politizar’ em manada a sociedade. Mas até então, aquele era nosso escape. Ali era um lugar seguro

Aí… vieram os anúncios. E os nossos CPF’s que eram tão protegidos e cuidadinhos, de repente, passaram a ser solicitados com uma frequência cada vez maior.

Afinal AQUELE volumes de dados, aos olhos de um grupo importante de pessoas, era tipo um bifão no melhor estilo Frajola.

o que nossos dados sempre foram

Essa galera aplaudiu em pé o surgimento dos smartphones, do SMS, das compras gigantes de serviços online que iam se bifurcando e buscando espaço no monopólio que se desdobrava.

Isso tudo enquanto a gente andava pra lá e pra cá meio tenso sobre o que fariam com os números dos nossos documentos – você não pode negar que era até charmosa tanta inocência.

Brincadeiras à parte, enquanto a gente estava pensando se ia vender nosso pão, outra patotinha estava focada não só em dominar as padarias como em transformar tudo em uma multirrede.

Chegamos

E aqui estamos. Onde tudo é anúncio, propaganda, imagem pessoal, gatilho mental, landing page, copy, estratégia, marketing. Não tô dizendo que isso é intrinsecamente ruim. Nem daria pra vilanizar a coisa toda porque a gente se beneficiou disso também. Além do mais, eu sei que tudo passa.

Fato é que eu estaria disposta até a pagar por algo que antes eu tinha de graça e, hoje, me sinto incapaz de conquistar sem dificuldade: minha paz de espírito. Mea-culpa, claro, mas de algo que dissesse por mim: “chega, chega, chega!”.

Que me trouxesse a liberdade de sair de casa sem celular e não se preocupar em responder mensagens. De postar a cada três semanas porque deu vontade sem me sentir culpada ou triste ou envergonhada ou ineficiente por isso. De não estar ganhando dinheiro por algo que deveria ser só uma maneira de nos conectarmos sem limites.

Eu entendo, de verdade que, se eu me sinto assim, a culpa é minha por me permitir – e se você carrega frustrações semelhantes mas não vê dessa maneira, te convido a ler esse artigo incrível do Mark Manson a respeito do tema.

Mas no fim das contas, só estou falando sobre conseguirmos ser humanos sem ter que nos esforçarmos tanto pra lembrar que qualquer coisa que tenhamos criado deveria servir para evoluir nossa consciência, e não em externá-la – a ponto de nos tornar dependentes de coisas bem mais perigosas do que os amigos sem identidade dos fóruns que eu participava.

E você? Vai pagar quanto?

GOSTOU? compartilhe o texto

assimpassa.com.br ⚡ perspectivas a base de bagunça // todos os direitos reservados

assimpassa.com.br // luana conti ⚡ perspectivas a base de bagunça // todos os direitos reservados.