Hábitos, produtividade, posicionamento, lidando com a preguiça, etc. Estes textos vão ter total relação com a construção de conteúdo mais voltada ao Maria do Infinitivo. Ferramentas, dicas, experiências e aprendizados etc.

Os piores erros que você (não) pode cometer como freela
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Os piores erros que você (não) pode cometer como freela

Se você é freela, prestador de serviço, autônomo: eu sei que você deve estar com várias guias de navegador, uma cassetada de e-mails para ler, e mais mensagens de WhatsApp que o Papai Noel no Natal.

Você quer respeito, reconhecimento, admiração pelo seu trabalho (espero). Você quer poder ser visto(a) como um dos melhores do seu nicho.

Você quer poder cobrar mais para trabalhar com mais qualidade em cada trabalho.

E é desafiante conseguir isso quando você acabou de começar ou trabalha sozinho(a). Certo?

Mas calma. Aqui estão três kamehameha da paz freela para transformar não só como os outros, mas como você vai se ver como profissional.

Então senta aí um pouco, toma uma água, respira. O mundo não vai acabar se você parar para ver o que tenho pra te dizer. Porque olha só, eu sou como você. Eu tenho pressa.

Corri uma maratona pra chegar até aqui. Sério. Minha última década se resumiu num longo e desesperado circuito de experimentos e tentativas para me encontrar profissionalmente.

Eu errei muito. E aprendi muito também.

Você não precisa cometer os mesmos erros que eu. Mas, olhando para os lados, posso dizer que a chance de estar sim, cometendo pelo menos um deles, é bem alta.

Principalmente se está no início dessa jornada.

Então, absorver as ideias que vou trazer aqui podem levar você a ir de um(a) “cara/garota que faz uns jobs” para se tornar um verdadeiro profissional da sua ‘coisa‘, seja ela qual for.

E vou começar com um erro clássico.

Ser um buffet de sorvete

Você pode amar sorvete. Buffet de sorvete então… Mas você tem que concordar que é mais fácil escolher o que botar no potinho quando não tem muitas opções. É o tal paradoxo da escolha (sobre o qual o Barry Scwartz fala muito bem aqui).

Tudo bem, exceto neste caso, onde duas opções já podem complicar bastante | fonte: Paul Drinkwater/NBCU Photo Bank

Por isso, doce freela, não cometa o engano de pensar que seu cliente te paga só pela sua entrega tangível ou pelas suas qualidades técnicas.

Na maior parte das vezes, o cliente só não sabe a resposta certa.

Seu cliente ama o contexto do problema que fez com que ele te procurasse: a casa dele, a empresa dele, a marca dele, o cabelo dele, enfim.

Mas ele, definitivamente, não espera passar muito tempo rondando os sorvetes. Ele já fez ou tentou fazer isso e a experiência não foi boa.

Por isso chegou até você.

Ele só deseja sentar numa mesinha, com a brisa suave no rosto, e provar um sorvete delicioso. Aliás: o melhor sorvete que ele poderia estar provando naquele momento.

Essa é a parte tácita do acordo, na contratação de um profissional. Quando você entrega uma única versão para o seu cliente, você está dizendo para ele:

Eu estudei muito, eu pesquisei muito, eu pensei muito, eu testei muito, e esta é a
melhor opção pelo caminho que achei ser o mais adequado para você.”

Você está dizendo para ele:

“Fica tranquilo, eu já sofri por você no processo de tomada de decisão”.

Sim, de certo modo, o cliente está te pagando para sofrer por ele e resolver o problema.

Exceto se a condição de duas ou dez versões for uma condição imposta pelo cliente — e você não se sentir desconfortável nesta posição, o caminho mais lindo tá dado.

Pergunte muito no início, tire todas as suas dúvidas e, depois: sofra pelo cliente, faça seu melhor, coloque todo seu espírito criativo ali.

Eu entendo que a intenção de apresentar mais de uma versão é boa.

Mas geralmente causa a impressão de que deriva, de algum modo, ou da preguiça, ou da insegurança — ambas relacionadas ao imediatismo. E nenhuma dessas coisas parece realmente boa. Porque:

  • ou você quer adiantar o processo e ‘matar’ a entrega em uma única reunião (buscando evitar o retrabalho);
  • ou você tem receio de que o cliente não vá gostar do que você escolheu porque não se sente seguro (seja pelo seu pouco tempo de experiência, ou porque não perguntou, não estudou ou pesquisou o suficiente).

E tem mais: quando você apresenta duas ou três versões para seu cliente, ao invés de evitar, você está abraçando o retrabalho.

A não ser que você tenha dedicado menos tempo a cada versão (o que é bem ruim), você está trabalhando a mais para fazer todas as versões sem nem saber se isso seria necessário.

É por isso que o processo de briefing precisa ser assertivo e até exaustivo.

Faça perguntas estranhas se for preciso. Não deixe de perguntar, pesquise, e pergunte de novo.

Muita gente erra por achar que o briefing acaba no final de um formulário. Mas o tempo todo é uma oportunidade de retomá-lo. ING, sabe?!

Você coletou tudo mas no meio do caminho cruzou com alguma nova informação, referência, ou ideia que deu uma balançada — e acredita que uma resposta do cliente possa ajudar? Então crie uma pergunta perfeita para ter essa resposta.

Não fazer isso pode cagar sua entrega. E isso nos leva para outro erro que serve para qualquer profissional e qualquer tipo de negócio.

Não cuidar da entrega

Sempre que dou presente para alguém, independente do valor, eu adoro pensar em como vou embalar e como vou entregar aquilo para a pessoa.

Para mim, esse é o momento em que vou estar presenteando.

Você pode comprar um brinco de diamantes de milhares de reais. Mas experimente dá-los em um saquinho brilhante todo colorido e meio gasto pelo tempo, ‘amarrado’ com um fita durex?!

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não importa o sorriso que você veja, por dentro a pessoa presenteada sempre fica meio assim

É claro, uma vez que descubra o valor daquele brinco, a pessoa presenteada ficará bem feliz. Mas num primeiro momento, o valor do presente é menor que ser levado pra tomar um bom espresso.

Não porque o pacote é simples. Mas porque faltou, claramente, capricho. Faltou cuidado, faltou atenção, faltou colocar o máximo de amor naquele pacotinho. Naquela intenção.

Fala sério: você nem precisa gastar num diamante de verdade. Basta que disponha tempo e energia. Escolhendo com carinho, pensando na pessoa e em como ela poderia entender que ali está todo o seu melhor. Não esqueça disso:

Um caro presente mal dado soa como obrigação. Um modesto presente bem dado se torna um detalhe: porque o verdadeiro presente é o que o gesto representa.

Então, entenda de uma vez por todas: mesmo que você seja tecnicamente o melhor profissional do mundo na sua área, não ouse entregar isso em um pacotinho amassado.

Quando você faz sua entrega dessa maneira, você está não só demonstrando pouco apreço pelo problema e pelo cliente em si, como pelo seu próprio tempo e trabalho.

A sua entrega precisa ser valorosa. É você, dizendo ao seu cliente:

“Cara, valeu por ter confiado em mim ter trazido um problema de algo tão
importante pra você. Em troca, coloquei o meu melhor de mim aqui. Foi feito com
muito carinho, espero que você curta.”

Não importa seu nicho, pense na melhor maneira de entregar seus resultados. Se for uma apresentação: que seja a apresentação mais linda, clara, fácil e agradável possível.

Se for um relatório impresso, que seja de ótima qualidade de cores e de resolução, dentro de um pacote personalizado ou escrito à mão.

Se for uma reforma ou obra, que seja agendando um dia com o cliente para mostrar tudo que foi/tem sido/será feito, esclarecendo as dúvidas e finalizando com a devolução de um espaço limpinho.

Isso pode mudar tudo pra você.

Muita gente confunde a hora certa de fazer um cliente se apaixonar. Não é na venda, é na entrega.

E, como freela, é ainda mais crítico, porque cada entrega pode ser decisiva para seu próximo mês.

Agora, por fim, vamos para um “erro” baseado numa controvérsia.

Tornar a razão do cliente inversamente proporcional à sua

Meu pai era “budegueiro” como dizia ele. Isso significa que ele tinha umas “budega”. E ele sempre dizia o que todo empreendor já disse ou já ouviu: “o cliente tem sempre razão”.

A questão é que a galera não entendeu bem esse conceito ainda.

Dizer que o cliente tem sempre razão não necessariamente significa que ele de fato tenha —nem que não tenha. Mas, com certeza, não significa que você deva:

  1. Atender à todas suas vontades;
  2. Atender suas vontades por pura condescendência;
  3. Não atender porra nenhuma das suas vontades e foda-se.

Porque o oposto de “o cliente sempre ter razão” não é um simples “nem sempre o cliente tem razão”, nem o extremo “nunca tem razão”.

O bom é entender que o cliente tem as razões dele, e você tem as suas. Estar atento(a) a entender isso é a premissa básica para que se chegue num acordo.

Seu cliente não gostou do que você mostrou?

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eu sei, rola uma ansiedade

Sem crise, tente entender o porquê. E chegar a um denominador comum. O que não é simplesmente algo que agrade ao cliente. Mas algo que te agrade também.

E com “te agradar” não estou dizendo você, pessoa, cheia de preconceitos, crenças e julgamentos. Mas você profissional.

O cliente curtiu e você, tecnicamente falando, percebe que faz muito sentido? Pronto, aí está o que você busca.

Ah, Luana! Mas o eu pessoa é o eu profissional.

Olha, eu sei, eu demorei a entender o ingrediente dessa parada. Mas como sou uma anja, vou te passar de graça:

Pra conseguir realizar esse fetiche, desligue seu modo consumidor (de informação, de referência, de produto).

Você jamais faria isso no seu banheiro? Você jamais compraria uma calça com modelagem tão justa? Você jamais faria isso no seu site? Você detestaria usar um aplicativo daquela maneira?

Dane-se. Ninguém se importa. Você precisa saber e garantir que aquilo vai funcionar para seu cliente, para as pessoas que irão usufuir daquela solução.

E você só precisa ser tecnicamente bom para identificar se realizou todos os processos, se aplicou todos os métodos e se considerou todos os conceitos adequados para aquele projeto.

Por outro lado, ás vezes você precisa dizer ao cliente que algo não funciona e explicar o porquê.

Sim, isso também é difícil. No início da vida profissional, aceitar ‘mesmo que’ soa coerente.

Mas se você está cobrando por um serviço ou produto, você precisa adotar a postura de quem pode cobrar por um serviço ou produto.

A postura de quem sabe do que está falando.

E você precisa saber do que está falando.

Fuja dos jargões e explique da forma mais rápida, didática e gentil que puder. Mostre ou fale exemplos e referências. Pergunte bastante.

Além disso, apure sua intuição para ler nas entrelinhas, para entender o que o cliente quer e não quis ou não soube dizer.

Esse é seu papel.

Lembre-se que dizer não para o seu cliente é exercer compaixão também. Seria muito fácil simplesmente fazer o que ele pede, mesmo sabendo não ser o melhor caminho.

Mas se ele está te pagando para dizer sim, talvez você não seja o profissional que ele procura.

Ou, talvez, você não seja o profissional que deseja ser.


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O guia completo da Zona de Conforto – Coisas para jogar fora

É possível que você não goste do que eu vou dizer. 

Produtividade. Alta performance. Mindfulness. Zona de conforto.

Toda essa porcaria. Sabe o que você faz com elas? Joga no lixo. Elas não servem para nada se você não estiver bem posicionado. Mas vamos por partes porque eu quero continuar sua amiguinha (talvez). 

Hoje vou falar só da segunda. Porque ficaria ainda mais enorme (?).

Então decidi ampliar minha singela “homenagem” às afirmações que nos entregam na bandeja na tentativa de que sirvamoss aos outros buscando impressionar.

Ao invés de um único artigo contra uma única “verdade incontestável”, decidi começar uma série (nada planejada) para combater essas coisas que ficam na boca do povo e nem sempre fazem sentido.

Como você pode já ter sacado meu motim, aproveito para avisar e me desculpar: esse artigo ficou gigantão. E precisava ser assim. No entanto, como sou incrível razoável decidi pôr um sumário para te ajudar, caso você esteja com preguiça seja uma pessoa objetiva e assertiva e não queira ler todas as ponderações que antecederam conclusões.

  • Zona de conforto: por que mesmo isso é ruim?
    Aqui vou falar bem brevemente da minha cisma com o termo e parte da minha motivação para escrever esse post – prometo não te encher muito o saco.

  • Afinal, o que é “Zona de Conforto”
    Discuto sobre de onde surgiu essa merda a suposta origem do termo e começo a te encher um pouco o saco.

  • Ok, vamos de base científica 
    Não ronca. Essa parte é importante pra você entender porque não faz sentido nenhum o uso tão enriquecido de um termo tão pobre baseado na interpretação rasa de coisas bem mais legais (e algumas óbvias graças aos avanços e etc)

  • Finalmente posso dizer
    Finalmente falo o que queria falar desde o início mas precisava de uma introdução bem embasada para mandar para longe umas coisas bestas que surgem e os problemas que elas geram:

    1. O problema das interpretações genéricas
    2.  Culpa e vergonha.
  • Joga fora no lixo, e ponto.
    Finalizo enchendo quase nada o seu saco com coisas que você pode tentar lembrar quando alguém mal-informado sobre o tema ou sobre a sua vida e não tão bem-intencionado vir com conversinha explanações pouco aprofundadas.

Zona de conforto: por que mesmo isso é ruim? 

zona de conforto não é ruim

Foi essa a pergunta que eu estava me fazendo um dia. Confesso que me senti envergonhada. Culpada. Constrangida. Eu não podia falar aquilo para ninguém. Ninguém poderia descobrir que eu tinha  minhas considerações a respeito de algo aparentemente tão óbvio para todo mundo. 

Até que confiei a inquietação para uma amiga. Já estava lá, me preparando para a derrota de um jogo que eu entrei em campo para perder. 

E então ela me disse algo como: “poisé, né?! também não entendo”. Essa reação, vinda de uma pessoa incrível, extremamente profissional, competente, engajada com sua carreira e, por que não dizer, workaholic me surpreendeu e me pegou de “calça curta”.

Conversando sobre o assunto e depois estendendo a outras pessoas de variadas perspectivas e estilos de vida cheguei à conclusão que esse assunto, em algum momento, se tornou um tabu. Entrou no grupo daquelas coisas das quais você não pode discordar: 

Sim. Este é um fato consumado. O céu é azul tanto quanto zona de conforto é um lugar horrível para se estar, se é o seu caso, nossos pêsames! Você precisa sair dela/você está sendo preguiçoso/você vai ficar para trás/várias outras coisas do gênero.


Isso me faz pensar em um artigo recente da Freaknomics Radio que mencionava um problema chamado illusion of explanatory depth (ilusão de profundidade explicativa), investigado por Leonid Rozenblit e Frank Keil há alguns anos e ajustado mais recentemente por Steven Sloman. 

Este conceito diz respeito ao “fenômeno” que leva as pessoas a acreditarem que sabem sobre um determinado assunto. No entanto, quando suas explicações são solicitadas, elas simplesmente não são capazes de fazê-lo da mesma forma lógica e coerente com que concluíram determinados conteúdos. 

Essas coisas costumam me incomodar. E não por motivações egoístas ou como postura defdensiva. As pessoas dizem uma porção de coisas sobre mim, mas eu não lembro de alguém ter mencionado: “ei, você está bem acomodada aí, não é mesmo?”.

Porque, infelizmente, eu vivo inquieta. Sem querer, busco o desconforto. Portanto, esse lugar “horrendo” nunca deixou de ser algo que me intrigava e me atraía: “Gente, existe mesmo um lugar onde você vai lá e fica benzão e tudo bem? Gosto.”.

No entanto, eu vejo isso o tempo todo. Pessoas dizendo para outras pessoas como elas deveriam estar se sentindo mal por não estarem se movendo do modo que o mundo, outras pessoas e aquele renomado CEO que todo mundo venera (mas cuja empresa poucas pessoas conhecem). 


Afinal, o que é Zona de Conforto? 

Então ta. O que é mesmo essa tal de Zona de Conforto que tem gente que gosta tanto de falar? Não a coisa óbvia. Eu sei que você sabe o que é se tivesse que falar rapidamente sobre ela. Mas, e se tivesse que analisar BEM direitinho, se tivesse que explicar tintim-por-tintim para um alienígena visitando nosso planeta?

explicando zona de conforto não faz sentido
assista essa série, sério


Vamos lá, nosso amigo WikiPedia diz:

Na psicologia a zona de conforto é uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Nessa condição a pessoa realiza um determinado número de comportamentos que lhe dá um desempenho constante, porém limitado e com uma sensação de segurança. Segundo essa teoria, porém, um indivíduo necessita saber operar fora de sua zona de conforto para realizar avanços em seu desempenho – por exemplo no trabalho – eventualmente chegando a uma segunda zona de conforto. Atualmente já foi concretizado que indivíduos mais bem sucedidos operam com frequência fora da zona de conforto, expandindo cada vez mais o número de dificuldades que conseguem superar.


Bem, parece que é isso mesmo. Ao que tudo indica, esse conceito pode ter tido origem na psicologia behaviorista em 1908 (!) quando Robert M. Yerkes e John D. Dodson fizeram um experimento voltado a entender a relação entre velocidade de aprendizagem e níveis de excitação.

Eles observaram que ao levar pequenos choques elétricos o ratinho (desculpe) sentia-se “motivado” a completar o labirinto, mas se a intensidade dos choques aumentava o desempenho apresentava resultados inversos, levando-os a correr com a intenção desesperada de escapar.

Assim, a conclusão foi que níveis ideais de excitação (nesse caso representada pelos choques leves) ajudam a concentrar a atenção na conclusão da tarefa em questão, mas apenas até um determinado ponto.

Ou seja, se você decide saltar de paraquedas pela primeira vez, naturalmente estará com algum um nível de ansiedade. Quando o grau de estresse provocado pela ansiedade for “ideal” você será levado a se concentrar naquilo, respeitar o processo e as instruções atentamente e concluir a “missão” do jeito que espera.

Por outro lado, se o estresse provocado pela ansiedade for muito alto, você facilmente poderá ficar atrapalhado, pensando, por exemplo, em como aquilo pode dar errado, não prestando atenção nas instruções ou sair correndo para o banheiro fugir.

Ok. O que é que tem?! Eu diria que tem muito. Mas vou começar pelo mais óbvio:


a única relação “científica” do termo Zona de Conforto é um experimento feito há mais de cem anos atrás, sobre velocidade de aprendizagem e níveis de excitação, em que o termo “comfort zone” nem sequer aparece.

É claro, fui apenas até a página quinze do Google (muito descuidada) e você pode me desafiar descobrindo algo diferente disso. Mas pelas minhas leituras posso supor com alguma confiança que esse termo surgiu de uma interpretação do estudo, conhecido como Lei de Yerkes-Dodson ou U invertido.

Como a maioria dos itens que entram no não-tão concorrido grupo das coisas-absolutas-sem-devido-embasamento, em algum momento alguém entendeu e disse algo que rapidamente transformou-se num telefone sem fio no emaranhado de informações, comportamentos de consumo criados, reinventados e mascarados, e assim nasceu uma nova verdade. 

“Se você continuar gostando mais de sorvete de café ao invés de chocolate, será incapaz de meditar porque estará entrando na curva de distração viciante.”.


Isso faz sentido para você? Se você gostasse de sorvete de café e alguém te dissesse isso, sairia distribuindo a informação e sequer questionaria? Bem, suponho que foi algo assim que aconteceu em algum momento.


Ok. Vamos de base científica

origem da zona de conforto e lei de yerkes-dodson
sacou?

 

Aparentemente, a chamada “zona de conforto” seria algum ponto na curva de desempenho, antes do ápice (ponto ideal de ansiedade) do desempenho. Nos gráficos representativos geralmente aproxima-se muito mais do tédio.

Ou seja, não é exatamente sobre um desempenho RUIM. Tanto que, no próprio estudo, este era considerado um ponto de desempenho estável, constante. Ponto. Apenas isso.

É preciso dizer que respeito muito afirmações embasadas empiricamente. Portanto, mesmo se partirmos do princípio de que aquilo que foi comprovado não pode ser derrubado por achismos, encontraríamos objeções que até Yerkes e Dodson facilmente concordariam.

Por exemplo: ainda que níveis de ansiedade possam afetar nosso desempenho, não há um copo medidor de qual seria esse nível. 

Esses indicadores só são possíveis com laboratórios, neurotransmissores e outras coisas que normalmente não fazem parte da nossa rotina. Portanto, qualquer pessoa que queira afirmar que uma outra está em sua “zona de conforto” precisaria carregar algo mais que as convicções adquiridas.

Outro ponto é que, em tarefas simples e operacionais (organizar coisas numa caixa) o nível de estresse tem menor poder de influência. Enquanto que tarefas mais complexas (tomar uma decisão que pode matar uma pessoa, como as que os cirurgiões cardíacos passam, por exemplo) são mais propensas a sofrerem as influências dos baixos ou altos níveis de ativação/excitação.

Faz sentido porque tem uma relação direta com o peso da decisão, que varia conforme as possíveis conseqüências no resultado final (errar o lugar do objeto na caixa é muito mais banal que a vida de alguém, a não ser que você seja psicopata). 

Mas não é só a complexidade da tarefa que é contabilizada nessa lógica. O modelo considera outras variações, que inferem em diferentes medidas conforme o indivíduo, já que considera-se quatro fatores que afetam a curva: habilidade, personalidade, traço de ansiedade (nível de autoconfiança) e complexidade da tarefa.

Assim, extrovertidos parecem lidar melhor com a pressão do que introvertidos, que costumam apresentar desempenhos melhores na ausência de pressão – o que foi confirmado por outros novos estudos, que sugerem que a lei do U invertido não funciona para todos, inerentemente ao elemento habilidade ou autoconfiança.

Antes disso, inclusive, várias pesquisas surgiram, indicando que a correlação de excitação e desempenho existe – como a de Broadhurst (1959), Duffy (1957) e Anderson (1988)  – embora as causas ainda não tenham sido estabelecidas com sucesso. (Anderson, Revelle, & Lynch, 1989).  Se quiser, você pode ler aqui uma das mais recentes e expressivas, feita pela NASA em 2004. 


Finalmente, posso dizer


Então…vamos parar de usar esse termo?! Convoco a todos que estão lendo (e entenderam os porquês), de pararmos de usar termos como “zona de conforto”, como se eles realmente significassem algo muito sério e verdadeiro.

Porque eu realmente gostaria muito de saber quem usou o termo pela primeira vez, já que desde sempre tive desconfiança de que dois cientistas (ainda que do século passado) pudessem remeter o nome zona de CONFORTO a algo tão desconfortável. Portanto, se você descobrir ou souber, por favor, me avise!

Afinal, desde os primórdios buscamos o conforto. Foi graças a isso que sobrevivemos: descobrimos o fogo, aprendemos a construir casacos, a endireitar a postura para não sobrecarregar a coluna com nosso cabeção, a criar ferramentas para construir outras coisas, e assim sucessivamente (inclusive, recomendo esta leitura que fala bastante disso).

Para título de curiosidade, a palavra conforto vem do Latim Confortus (con – junto e fortus – forte, intenso), significando, literalmente, algo como “com força, com intensidade”. Uma das teorias é que, com o surgimento do termo “dar uma força” (ou seja, oferecer apoio e amparo em momentos difíceis) a palavra foi ganhando um novo sentido, de suavizar, aliviar. E, por fim, levando ao significado de atmosfera agradável, de um estado emocional ou local onde se sinta amparado, acolhido. 

Vamos logo esclarecer: deixar de fazer algo por medo, por se julgar inferior ou incapaz e ficar ali se sentindo infeliz, miserável, arrependido e/ou um bosta porque sua vida não está como você gostaria não tem, absolutamente, NADA a ver com conforto (lembra da época do discurso efeito estufa/aquecimento global? mesma coisa).

Porque estar num ponto, querendo estar em outro, não tem absolutamente nada de acolhedor e, portanto, nada de confortável. Neste caso, a palavra ideal poderia ser, quem sabe, acomodação, cuja origem significa “maneira satisfatória, modo adequado“. Bastante a ver com o sentido daquilo que é mediano e/ou ordinário comumente associado nos discursos pró “ouf of the box“. 

Para mim, esse sempre foi o topo do desconforto (como já disse aqui, meu maior medo é olhar para trás e sentir que fiz tudo errado).

Da mesma forma, se arriscar, vender tudo para realizar o sonho de viajar, abrir a própria empresa, se demitir de um emprego estável ou recusar uma oferta irresistível. Decidir casar ou decidir nunca casar nem ter filhos. Fazer uma faculdade ou decidir não fazer uma faculdade.

Fazer uma especialização para ser foda num determinado assunto, ser líder ou ser “súdito” – tudo isso e milhares de outros casos apresentam tanto conforto quanto desconforto.

A única diferença é que as pessoas aceitam (conscientemente ou não) desconfortos diferentes.

Alguns são constantemente motivados pelo risco, pela pressão, pela dor. Eles geralmente vivem em picos e precisam aceitar o desconforto que vem como conseqüência dessa escolha.

Outras pessoas buscam sistematicamente a estabilidade e a segurança, e precisam aceitar o desconforto que vem do medo, da não-aceitação, de talvez não ter ganhos significativos como aquela amiga que investiu na bolsa e foi para outro patamar de estrutura financeira.


Se somos perfeitamente capazes de entender e aceitar que cada escolha tem um peso, que todo espetáculo tem um bastidor, que toda conquista tem prioridades e sacrifícios, também somos perfeitamente capazes de entender que não faz sentido nenhum nos preocuparmos tanto com “zona de conforto”, já que conforto, sucesso e felicidade são diferentes para cada um.


Por isso fico incomodada com termos jargonizados-gurulizados-demonizados-exaltados-etc. Porque: eles tendem a perder sentido se a gente pára para questionar, analisar, investigar e entender bem bonitinho; eles geram problemas de interpretação devido a conclusões generalizadas; eles promovem embaixadores da culpa e vergonha.

1. O problema das interpretações genéricas

Se você disser, em um ambiente ou pessoa totalmente focado em alto desempenho, competitividade, produtividade e afins: “Eu gosto de estar confortável. Qual o problema?”

Você provavelmente ouvirá frases do tipo:

  • O problema é que se você ficar confortável, não vai mudar e evoluir;
  • O problema é que você vai se contentar com aquilo ali e vai se aconchegando;
  • O problema é que você vai parar de buscar coisas novas que te desenvolvam; 
  • O problema é que você vai esquecer que a vida é mais que isso;
  • O problema é que você pode ficar para trás;
  • O problema é que quando a vida te cobrar você não estará preparado (a).

Eu sei disso porque pesquisei muito e foi o que encontrei. São respostas mais ou menos assim que normalmente vêm. E, bem, existem pelo menos dois pontos a respeito:

a. Se buscar o desconforto é importante para você, é claro que tudo bem. Mas isso é como: “ei, tudo bem se você preferir tomar banho de água gelada logo cedo quando estiver 4 graus; tudo bem se você gosta mais de rúcula do que de brócolis; tudo bem se você prefere sorvete de café do que de chocolate”. Ou seja: tudo bem se algumas pessoas fazem uma coisa e outras não, gostam de uma coisa e outras não.

b. Até que alguém importante diga que água gelada, rúcula e sorvete de café são certamente a única escolha plausível, é natural que você não aceite que alguém te diga, sem qualquer explicação razoável e racional, que justo a sua opção é a errada.

2. Culpa e vergonha: as ferramentas dos embaixadores da “zona de conforto”

Gostar do conforto, de estar bem, feliz e satisfeito na “zona de conforto” não é impossível até que alguém diga: “ei, você não será feliz aí, você sabe disso, não é mesmo?”.

A armadilha parece ser exatamente essa.

Ninguém pode estar confortável na zona de conforto. Se alguém estiver sorrindo quando estiver naquele lugar horrível, você precisa mostrar a ele(a) sua terrível realidade. Está nas suas mãos salvar alguém que acha que está bem e feliz com suas medidas de conforto e desconforto, fruto das decisões de cada um. A felicidade que alguém aparenta quando estiver lá não é real. Acredite em mim. Sua missão é fazer com que a vítima perceba.


E aí tooodo mundo parece fazer exatamente isso: deixar alguém se sentir culpado por estar satisfeito do jeito que está. 

Mesmo artigos bem intencionados na internet parecem carregar uma ameaça velada àqueles que estão “naquele lugar”. É fácil encontrar coisas como: “A não ser que seu objetivo de vida seja ficar estagnado. A escolha é individual e as consequências são a médio e longo prazo.”. O que significa, basicamente:

se você quer mesmo isso, tudo bem, mas pode se preparar porque você vai se foder em algum momento, mesmo que demore a sua vida toda, eu tenho certeza que você vai se arrepender dessa decisão.


Embora eu nunca tenha precisado disso para me sentir desconfortável e raramente precisei ser cutucada pelos outros, eu mesma fazia isso por mim. Eu sei o preço que isso me causou. E por isso me incomoda que alguém assuma esse papel de embaixador da vergonha. 

Porque o conforto, essa coisa de estar parado, sentado, vendo um filme besta sem culpa, sem pensar que deveria estar fazendo algo importante e significativo e produtivo era algo que eu invejava.

Então, vejo da seguinte maneira:

  • Quando você está sentado felizão no sofá gostoso vendo Sherlock uma série Netflix você está CONFORTÁVEL, portanto em uma ZONA DE CONFORTO.

  • Se você está sentado no sofá gostoso vendo Sherlock uma série Netflix pensando que gostaria de ter um blog reconhecido sobre outra coisa isso é DESCONFORTÁVEL, e esta é sua ZONA DE DESCONFORTO

  • E quando está felizão no sofá gostoso vendo Sherlock uma série Netflix você está CONFORTÁVEL, portanto em uma ZONA DE CONFORTO e a tendência é que continue assim, até que alguém te convença de que não está:

    Ei você está na sua zona de conforto e precisa sair dela. Tinha é que estar estudando agora, ganhando dinheiro, achar um emprego para usar terno ou beber durante o expediente numa empresa moderna. Fazer uma pós-graduação, sei la! Todo mundo ta fazendo isso e você ai perdendo tempo.


 

Ver alguém tentando tirar a paz de outra pessoa sob a alcunha de salvador, de bondoso, de mestre, normalmente me leva a concluir quem precisa mesmo de ajuda.

É verdade: ás vezes a gente ta fazendo burrada, repetindo o erro, ficando descontente com a própria vida dia após dia simplesmente por preguiça ou por outras formas de limitações que colocamos a nós mesmos e não fazem sentido. 

Então, ainda bem, existem pessoas da nossa confiança, que nos conhecem realmente, que têm intimidade e embasamento o suficiente para dizer: “cara, isso não ta legal, eu to vendo que você não ta bem, por que não tenta mudar?”.

Isso é muito bom. Mas na grande maioria das vezes não vem dessas pessoas.

Em outros casos, alguém pode estar lá, na demonizada, subjetiva e relativa “zona de conforto” porque ainda não desenvolveu ou adquiriu todos os recursos que julga necessários para sair “de lá”.

Porque sente que realmente não está preparado(a) emocional, física ou financeiramente. Porque simplesmente ainda não é a hora.


Ao contrário do que dizem alguns, quando chega a hora, a gente sabe, se vira, encara e resolve. A vida é assim. E é linda. E tudo bem. Cada um do seu jeito. No seu ritmo.

Afinal, se você não puder conduzir nem a sua própria vida do jeito que considera mais adequado, não há nada mais que você poderá controlar.


Joga fora no lixo, e ponto.

Liberte-se dessas porcarias. Leia seu romance. Veja aquele filme besta para desligar o cérebro. Vai viajar pelo mundo. Vai fazer sua pós. Marca de ver aquela sua amiga. Fica no scroll do instagram. Enfim! 

Entenda e lembre-se de que sim, você pode ser um adorador da “zona de conforto” e:

  • ter muito sucesso (porque sucesso é você que define);

  • ser realmente muito feliz (porque felicidade não depende do ritmo com que você se move mas se você está se movendo no seu ritmo e respeitando isso);

  • não estar na zona de conforto (porque, afinal, conforto quem define é você);

  • buscar evoluir, se desenvolver e aceitar mudanças (porque evolução é o que acontece dentro de você, e pode acontecer mesmo que para os outros você esteja “parado”).

Em resumo, se eu pudesse te dar uma recomendação seria: entenda quem você é, o que é importante para você, quais são suas prioridades, quais são seus desconfortos e como eles interagem com aquilo que você busca para sua vida.

Descubra quais sacrifícios você está disposto a fazer, que palco te estimula aos bastidores. Busque profissionais qualificados, cerque-se do que complementa não do que intoxica.

Se você é do tipo embaixador: reflita. Nem sempre você está certo, nem sempre é o melhor momento, nem sempre é você a pessoa que deve falar isso. Foque no que é interessante para você e deixe que os outros façam o mesmo.

Isso se aplica a qualquer coisa bonita, “chique”, pronta, impressionante que as pessoas vivem falando por aí. Sabe o que você faz com isso? Investigue. Questione. Dialogue. Assuma os riscos de pensar e se expor.

E se isso realmente não fizer sentido nenhum, não se encaixar na sua vida, na sua realidade, joga fora no lixo.


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Hoje tá fácil. Reflita sobre sua vida e questione se você está realmente abaixo do que deseja (não do que desejam para você), ou se o sentimento de culpa e vergonha vem mais de fora que de dentro. Só. E se realmente estiver incomodado, por você, entenda porquê e trace um plano objetivo. 
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O primeiro passo para você ter uma vida mais calma

Antes, vamos esclarecer algumas coisas.

Primeiro: não, eu não sei qual é a sua realidade. Se você precisa, por exemplo, trabalhar durante o dia, estudar a noite, e trabalhar num segundo turno de madrugada, não viver com pressa é mais difícil. Mas é ainda mais necessário.

Então, como sempre, tudo pode ser adaptado. É questão de ritmo, de prioridade e de escolha. Agora, vamos lá:

 

Ter uma vida mais calma, tranquila e paciente é possível?

a vida passa, mas não precisa ser sempre na correria


Quero crer que sim. Paciência é uma das habilidades mais incríveis. Eu imagino, claro. Porque se tem uma coisa que eu não sou, essa coisa é calma.

Eu tenho pressa. 

E a gente pode até achar lindo isso — quando eu tinha 21 eu achava. Essa fome de mundo, de vida, de experiências, de viagens, de coisas, de dinheiro, de tudo. Mas, na prática, quando se torna uma constante, e não um desejo propulsor de uma fase específica, é bastante desgastante. 

Se for o seu caso, se você sente que tem pressa e está tudo bem com isso, que ótimo: compartilhe! No entanto, se você sente o desconforto da dúvida sobre o ritmo das coisas na sua vida, talvez seja um bom momento para pensar sobre isso.


Você fala muito rápido, gesticula demais, ta sempre “correndo” para alguma coisa? Bom, se for o caso acho que não tem muito o que discutir.

Mas nem sempre vemos os sinais óbvios (estamos com muita pressa para isso) e nem sempre eles são tão óbvios assim. Eu, por exemplo, precisei fazer algumas perguntas para mim mesma:

“Por que escuto tanto ‘calma, tudo no seu tempo’, ‘calma’, ‘respira’, ‘calma’, ‘pára’, ‘calma’. Será que eu sou mesmo apressada? Ou será que tratei de me apressar ao ver a vida passar?”


Olhar para trás para olhar para dentro

Para responder a algumas dessas perguntas, acabei olhando para o ponto mais “atrás” que pude. Foi assim que confirmei como sou apressada.

Descobri que, quando eu era criança, já ficava me imaginando no futuro. Adulta. Um ótimo exemplo disso, talvez o caso mais antigo que me lembre, foi no jardim de infância. 

A professora nos levou para fora e nos convidou a sentar em círculo no gramado, para nos apresentarmos. 

Logo que ela falou o objetivo, comecei a pensar no que iria dizer, como iria dizer — como se houvesse muito a ser dito ou alguma coisa para esconder sobre minha tenra experiência.

E então, assim foi. Tudo correu normalmente e minha ansiedade foi diminuindo à medida que entendi que todos tinham mais ou menos 3 ou 4 anos, falavam só o primeiro nome e era no máximo o segundo ano “escolar” de todos.

Até que o Bruno se levantou e disse: “Oi. Eu sou o Bruno e tenho 7 anos.

chocado


Meu olhar, naquele momento, deve ter se iluminado. Estava ali um ser-humano de sete, SETE anos. Em instantes, Bruno se tornara meu objeto de admiração e respeito. 

Comecei a me imaginar com incríveis SETE anos. Como eu seria? O que eu estaria fazendo? Eu seria tão alta quanto ele? Eu teria sardas como ele? 

Eram minhas perguntas naquele momento. 

Mas não foi o que a professora havia perguntado, provavelmente mais de uma vez, já que todos estavam me olhando. E eu percebi que tinha esquecido o que eu precisava falar. 


Então este é o passo #1: Pare de tentar ludibriar sua Realidade.

Porque ás vezes, é assim. A gente fantasia com o futuro e com tudo que vai acontecer nele. E obviamente existem inúmeros problemas nisso. Mas vou citar estes:

  • Dona Realidade precisa: A gente acorda com a realidade batendo na sua porta, esperando que você execute coisas para as quais esqueceu-se de preparar-se, levando você a tentar resolver tudo antes que seja tarde.

  • Dona Realidade desiste: Ás vezes simplesmente é tarde. Corremos o risco de acordar para a realidade do presente quando ele já se tornou passado e não há mais nada para fazer.

Pelo menos comigo, acabo indo para o futuro justamente com medo de chegar num ponto onde eu não possa mais corrigir minha história — ou uma parte dela.

É o pretinho básico da minha vida: errar por medo de errar.


Dona Realidade precisa

Esse problema passou a ser mais perceptível no início da vida adulta, quando me via tendo que fazer algumas coisas ás pressas. Não estou nem me referindo a imprevistos, a momentos em que parece que tudo acontece ao mesmo tempo e são específicos. 

Estou me referindo a funções regulares. 

A tarefas frequentes e relativamente fáceis de realizar, uma vez que eu sabia como, já tinha feito e sabia que viriam, antecipadamente: trabalhos de faculdade, estudar para a prova, escrever um texto, arrumar a mala, etc. 

Essas tarefas se tornavam urgentes a medida que o tempo passava enquanto eu estava preocupada com outras coisas, que não eram urgentes ou sequer existiam. E aí eu não conseguia fazer mais nada. 

Não conseguia apreciar ou dar atenção ao que estava acontecendo ao redor de mim. Porque eu precisava estar naquele ritmo que precisava dispensar qualquer outra distração.

O cachorro latindo na rua me incomodava mais do que deveria; as pessoas falando indevidamente comigo quando notavelmente eu estava precisando concluir algo me irritavam; o barulho do telefone martelava na minha cabeça.


Dona Realidade desiste

Aí entra o segundo caso, quando a Dona Realidade “desiste”. Não precisa estar à beira da morte para passar por isso. Podem ser momentos simples. Coisas que simplesmente perdemos por não estarmos suficientemente atentos. 

A Realidade está continuamente esperando que executemos algo, ou nos dando oportunidade de executar algo: ao nos encontrar tão ocupados, ela tende a procurar outra pessoa. 

E ter pressa me levava a não prestar atenção e viver as coisas na hora certa. Eu deixava para depois as coisas “chatas” fantasiando com coisas “legais” que poderiam acontecer. 

 

Mas as coisas chatas são aquelas que a Dona Realidade nos cobra. Enquanto as coisas legais que idealizamos são aquilo ela nos oferece — mas só entrega quando prestamos atenção.

 

procrastinação e a realidade


Portanto, ao fazer as coisas com pressa, fui perdendo oportunidades de aproveitar com totalidade o que a Realidade tinha para me oferecer. Ter pressa me impedia de viver as coisas na hora certa, explorar as experiências e colheitas. 


Eu não estava prestando atenção, eu estava ocupada demais fazendo as coisas com pressa

Então eu passava a ficar apenas com as coisas que a realidade PRECISAVA que eu fizesse, do único jeito possível: com pressa. E o ciclo tornava a se repetir. Para mim, esse se tornou o pior problema. 

A sensação de que eu era um hamster, e a vida era o cientista me observando com curiosidade e dizendo aos seus colegas: incrível, ela realmente ainda não entendeu.

Quando estamos fazendo as coisas com pressa, até as coisas que poderiam ser boas e agradáveis, nos irritam. E as coisas que são desagradáveis e irritantes por si, nos levam mais rapidamente ao colapso nervoso. 

Estava na hora de fazer as pazes

Era a minha realidade.

E aquilo, claramente, não estava me fazendo bem. Estava na hora de pôr novas regras no relacionamento abusivo que eu vinha tendo com esta senhora impecável chamada Realidade.

Precisávamos de um alinhamento. Ela estava precisando ou me oferecendo coisas que eu não estava sendo capaz de entregar. 

Embora eu sempre tenha sido comprometida com metas, prazos, e em dar meu máximo para que cada coisa ficasse boa o bastante, estava pagando caro pelas minhas escolhas. 

Assim, olhar para trás, me preparou melhor para mastigar bem mastigadinho o papo passivo-agressivo da Dona Realidade. 

Identifiquei algumas percepções construídas que limitavam minhas possibilidades, analisei a origem do problema. E pude ver as coisas sob outro ângulo.

Viver tranquilamente era possível, e só dependia de mim. Foi minha vez de impôr limites. Assim, essa foi uma importante resolução tomada entre o final de 2016 e início de 2017 e que se aperfeiçoou a cada novo aprendizado:

Fazer as coisas com menos pressa

uma vida mais calma

Simples. Ao mesmo tempo dificílimo. Porque envolve hábitos, e hábitos não são como decorar uma fórmula, mas sobre entender e praticar o problema. Ou melhor, a solução.

No meu caso, precisei de alguns critérios que serviram como base e talvez te ajudem bastante. Este, este, este e mais este artigo, inclusive, falam sobre isso. Mas, basicamente, as regras principais que adotei, tiveram muito resultado e por isso indico foram:

  1. Conhecer-se: seu ritmo, prioridades, sacrifícios que está disposto a fazer;
  2. Manter as coisas arrumadas diariamente;
  3. Focar no horário que precisa SAIR, não no horário do compromisso;
  4. Ter um dresscode básico e versátil;
  5. Dizer não para coisas que não são prioridade; 
  6. Fazer coisas rápidas e urgentes primeiro;
  7. Calcular rotas antecipadamente;
  8. Criar rotinas para tarefas padrão;
  9. Anotar tudo e fazer listas mais direcionadas;
  10. Pedir ajuda e ser honesto.

 

É claro que incorporar consistência e não falhar nunca é uma equação que ainda não domino. Mas tenho entendido um pouco melhor e gostado bastante dos resultados: passei a me conectar mais facilmente com as coisas, entender melhor outras, e ser mais generosa – comigo e com os outros.

Esta é uma mudança que recomendo a todos. Ela não acontece de uma hora para outra. Depende de pequenos passos, é verdade. E é sempre incrível, porque, a cada passo que você dá, fica mais longe de onde esteve.  Pode ver novas coisas a melhorar que te levarão ao próximo degrau.

Então…que tal tentar e ver como você sente?

 

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Por isso, gostaria de propor algo bem simples que, mesmo você estando com muita pressa, pode fazer.
1. Escreva em uma folha a pergunta: Por que eu tenho pressa?
2. Deixe-a visível, como em uma parede, ou em um local que você acessa frequentemente, como o banheiro uma agenda ou diário;

3. Não tenha pressa em responder imediatamente, nem pare na primeira resposta, mas anote na folha seus pensamentos. Faça isso por um tempo significativo (que tal um mês, no máximo?) até que tenha um conjunto razoável de respostas que parecem fazer sentido e servirão de subsídio para que você saiba o que pode fazer;
4. Depois, trace e se comprometa com uma ação prática e possível para adotar no seu dia-a-dia.
Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

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