Sim. Talvez, mesmo que a gente não se conheça, eu saiba exatamente do que você precisa. E, por mais que você possa estar duvidando, garanto que isso é menos prepotente do que parece. Me dê uma chance e vou te mostrar.
Porque uma das coisas mais transformadoras que me aconteceram foi…um livro. Claro.
Depois dele, fui capaz de aprender algumas coisas bem importantes. Conforme ia passando os parágrafos eu também refletia sobre minha própria vida, sobre minhas experiências, sobre coisas que eu havia fixado sem me dar conta.
Como eu já havia mencionado anteriormente, a questão da empatia é bem difícil para mim. Eu nunca entendi direito porquê. Mas depois dessa leitura.
Ela me fez concluir que sim, existe um conceito “fabricado”, complexo, cheio de palavras bonitas e definições longas.
Mas existe uma outra coisa, quando falamos disso e outros termos populares, que negligenciamos o tempo todo. Como as cores, afinal de contas, algumas ideias parecem ganhar novos formatos para agradar o público, para angariar novos seguidores.
Então, uma das coisas mais relevantes que esse livro em especial me disse, sem usar essas palavras, foi algo como:
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“Querida, vamos parar de complicar e considerar como “empatia” aquilo que você SABE do que estou falando.”
Porque, sinceramente, eu sequer podia apreender o sentido dessa palavra.
Se hoje posso confessar a quem quiser que “eu não sou empática” antes era muito pior: eu era incapaz de tangibilizar “empatia”.
E é por isso que decido compartilhar algumas concepções que fiz a respeito, depois dessa leitura – e de uma porção de vivências, conversas e chororô.
Afinal, eu adoro constatar como as palavras são muito mais inteligentes que nós, que costumamos interpretar tudo ao nosso bel prazer.
Portanto, pensar sobre elas e sobre como elas impactam a nosso comportamento, nossa comunicação e nossa forma de viver é algo que me atrai.
Talvez você simplesmente não goste dessa palavra. Talvez você ache que ela seja apenas uma palavra boba que estão usando adoidado. Eu mesma penso isso ás vezes e talvez ela até seja.
Por isso gostaria de te convidar a discutirmos sobre isso sem medo de sermos julgados ou nos sentirmos inferiores, uns bostas, etc.
Então, acho mesmo que só temos a ganhar aqui.
Caso você use essa palavra, goste dessa palavra, que essa palavra já faça um sentido natural para você…bem, então nem preciso te explicar por que só temos a ganhar aqui.
Vamos lá.
Essa tal de Empatia
A verdade é que, assim como eu, você também sabe exatamente do que se trata essa tal de empatia que todo mundo fala mas é o caviar daquela música do Zeca Pagodinho: nunca vi, nem comi, só ouço falar.
É até possível que a falta dela te faça sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.
E é possível também que, grande parte das vezes que você se sente assim e associa a um monte de coisas, por mais que você negue, tenha relação direta com essa palavra bonita, gostosa e quase unicórnica.
E é mais possível ainda, caso as situações anteriores não tenham ocorrido, que você já tenha feito alguém se sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.
Para começar, existe um vídeo que explica bem isso. Se você assistiu, você vai achar milhares de outras palavras para a mesma coisa. Se não assistiu, recomendo.
Em resumo, não parece ser tão difícil verdadeiramente respeitar a dor do outro – como a dor do outro, não a sua.
Não deveria, pelo menos, ser um desafio tão grande, deixar-se a mercê por algum tempo para dedicar-se em aceitar o outro.
Porque, afinal de contas, “aceitar” o outro não é como um ato generoso que você faz pelo outro. É fruto de um ato generoso com você mesmo.
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Seu “aceite” ou não em relação a uma pessoa não vai impedi-la de continuar vivendo, sorrindo, sendo feliz, sendo amada, conquistando coisas, tendo sonhos, aprendendo, evoluindo.
Quando você “não aceita” alguém, posso dizer que só existe uma pessoa que, garantidamente, vai ser privada de qualquer coisa. Não se trata da outra pessoa aqui. Mas eu acho que, sobre isso, não preciso falar muito.
“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você.” – F.W. Nietzsche
Mas essa noção é tão difícil que, grande parte das pessoas, quando precisa definir empatia, ainda menciona algo como: “se colocar no lugar do outro” (explanado num dos tópicos desse artig0).
E aqui me refiro a pessoas inteligentes, do bem, interessadas em lidar com a complexidade humana, com todos os vieses não tão agradáveis que resultam disso algumas vezes.
Somos tão naturalmente egocêntricos que até mesmo falar sobre essa ideia é conflituoso. Porque “a tal da empatia” é o exato oposto de se colocar no lugar do outro.
Tem muito mais a ver com deixar-se aberto para que o outro entre em nós (sem piadinhas!). Tem muito mais a ver com deixar-nos suficientemente vulneráveis para que o outro nos acesse realmente.
É por isso, talvez, que seja tão difícil.
Somos programados para sobreviver. E estar vulnerável a este nível é nos pôr em uma situação declaradamente ameaçadora e que rapidamente nos leva a perder o controle.
Ganhar uma discussão usando argumentos lógicos e racionais. Vencer uma batalha utilizando armas. Sair vitorioso de uma luta na porrada. Tudo isso agrada bem mais o paladar prático do nosso instinto mais primitivo.
Mas lidar com as emoções ainda não é algo que dominamos completamente.
Portanto, nos deixarmos vulneráveis, mesmo inconscientemente, nos leva diretamente à uma cena onde estamos na selva e desenhamos um alvo no nosso ponto mais fraco.
Parece um sinal claro ao universo de que desistimos de sobreviver e estamos prontos para sermos dilacerados.
E eu não poderia discordar. Sim: ao fazermos isso ficamos suscetíveis à chantagens emocionais. E nada como uma versão mais sofisticada do olhar de gatinho do Shrek para atrapalhar nossos planos de sermos invencíveis.
Por outro lado, vencer é tão subjetivo que até dói pensar profundamente a respeito.
Se, de um modo, nosso instinto de sobrevivência nos leva a temer a vulnerabilidade, o mesmo mecanismo fica ecoando a assustadora percepção de que, alguma coisa vai faltar.
Essa relação pode ser entendida também no equilíbrio entre o egoísmo e o altruísmo.
Fato é que, algum lugar, dentro de nós, simplesmente sabe o que já foi profeciado: “Os extremos nos afastam do caminho”.
E então ficamos andando, levando choque a cada contato com um desses lados que, na verdade, podem conviver pacificamente e dar contorno à nossa jornada.
Ta mas e aí, como faz isso?
Ao que tudo indica, temos esse medo absurdo de estarmos vulneráveis porque não sabemos ao certo como seremos recebidos.
“Essa postura será suficiente? Os riscos de ser destruído são compensados com a possibilidade de sentir que faço parte de alguma coisa? De que alguma coisa disso tudo faz sentido?”
Parece-me que nosso medo de nos mostrarmos, em toda a magnitude, em toda a complexidade, tem muito mais a ver com nossa própria dificuldade de nós mesmos aceitarmos nossa inferioridade poética.
De sermos, muitas vezes, incapazes de dizermos para nós:
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“Ei, você foi realmente besta aqui. Mas isso não faz de você alguém detestável. Faz de você humano, e sempre é possível melhorar isso, tudo bem?!”
A forma mais fácil de saber que alguém sofre desse mal, é observar como ela trata as pessoas. O reflexo mais evidente de como lidamos conosco, é analisar o modo como lidamos com o outro.
Aquela pessoa que você detesta, que você simplesmente não suporta lidar ou conviver, provavelmente tem alguma característica sua da qual você se culpa, se envergonha e odeia.
Quem sabe você mantenha essa característica tão bem escondida que nem você a perceba.
Mas, por mais que ás vezes seja desagradável lidar com isso, por mais que nos cubramos de distrações, ainda assim, os fatos estarão lá.
E mesmo que a razão do não bater de santos com alguém seja por alguma característica dessa pessoa que você deseje, ou simplesmente te lembre algo que você não goste de lembrar: existe algo importante aí. E parece difícil discordar:
“Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.” – C.G. Jung
Sim. Eu sei.
É geralmente difícil engolir isso. Tem um sabor amargo.
E sei porque, minha primeira reação ao assistir um vídeo a respeito (que eu procurei e não encontrei, mas você pode encontrar coisas similares buscando por “projeção” e “teoria do espelho“) foi algo como:
“Ei, Sra. Dra. Super Psicóloga. Você pode ser incrível e sabichona, e estar apenas parafraseando outros pesquisadores e estudiosos aclamados. Mas isso só pode estar errado.”
Então: calma. Eu não sou psicóloga, super, doutora nem senhora. Estou apenas parafraseando, só para citar alguns, Jung, Lacan, Freud, Robert Bly e Nietzsche (mesmo que você tenha facilidade em identificar os meandros duvidosos na obra de cada um deles, é insensato simplesmente descartar isso).
Mas, depois de ter acesso a essa afirmação, foi inevitável não avaliar minhas interações com outro olhar.
Fez sentido a afirmação de que “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”.
Foi incômodo perceber que ser intolerante, que não estar disposta a compreender as outras pessoas, enxergar seus contrastes, aceitar suas pequenezas não me fazia superior. Nem inferior.
Era apenas a consequência de eu não aceitar me compreender. Não me perdoar pelas minhas pequenas, por eu mesma ser ridícula e me preocupar com pouco.
Eu não estou tentando justificar meus erros. Estou exercitando a vulnerabilidade: eu sou essa merda. E tudo bem.
Se me falta indulgência ao lidar com as pessoas, é porque mal tenho o suficiente para mim mesma. Essa palavra, que antes eu entendia como permissividade – e que por si ressoa como negativa aos meus ouvidos – seja, talvez, a chave dessa tal de empatia.
Não por coincidência, a definição que faz mais sentido para mim agora, é a primeira.
E os opostos (severidade, antipatia, aversão, severidade, crueldade) são justamente o que distribuo para mim e, eventualmente, para quem tem o azar de estar por perto quando estou menos autoconsciente.
Essa outra característica, que antes tinha um conteúdo predominantemente negativo, é o que mais busco me tornar.
E também é o que tem a ver com “essa tal de empatia”, com estar vulnerável, mas consciente.
Assim, dispostos e conscientes – sem que ninguém nos julgue, nos pressione ou nos cobre – conceder a permissão (graças à disposição de perdoar) que o outro nos mostre o mundo sob sua perspectiva e, possibilitando darmos mais consistência à estas conexões.
Mas um pouco de prudência não vai fazer mal
O problema é que você não vai pensar em desenhar um alvo no seu ponto mais fraco se não confiar plenamente, por algum tipo de inteligência coletiva, de que aquilo vai dar certo.
E, nesse ponto, “dar certo” significa muito mais o que você está disposto a entregar do que a expectativa do que farão com aquilo.
Porque, mesmo que te destruam ou tentem, você saberá que fez sua parte e confia que saíra mais forte. Isso só acontece, se você se ama o suficiente, se você se ama o suficiente para ser autocomplacente.
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Eu concordo: dói amar os outros e não ser amado de volta. Mas nem se compara à dor de não ser capaz de amar a si mesmo.
Essa condição sim é que nos torna vulnerável de um jeito perigoso.
Amar os outros tem algo a ver com amar tanto a si mesmo, e em confiar tanto nisso, que não importa se tentem usar sua aparente fragilidade contra você.
Não estou falando das pessoas que elogiam a si mesmas. Que gostam de falar dos seus louros. Porque essas pessoas estão bem longe disso.
Estou falando de simplesmente você ser capaz de fazer um high-five individual no ar e falar:
“Cara! Você manda bem! Ás vezes você manda muito mal. Mas você é massa. Segue em frente. Que o que os outros fazem não tem que afetar o teu caminho. Acerta a sua bússola e deixa que cada um acerte a sua”
Essa postura, que foi tão mal-falada e pregada de forma negativa, é o que na verdade nos fortalece como pessoas e, consequentemente, como sociedade.
Quanto mais gente ter essa noção, mais fácil será nos conectarmos. E, sei lá, vai saber se Narciso não foi empurrado. As conspirações estão aí para quem quiser.
Afinal de contas, quem gosta de mitologia sabe que, na representação romana, Narciso é Valentim – nome bastante utilizado em vários países para celebrar a perseverança e vitória do amor, mesmo a partir de contravenções cheias de pureza (não apenas o amor eros, mas o amor fraternal também; frequente, mas erroneamente, desenhado, como Cupido).
Embora digam que ele era arrogante, orgulhoso e desprezível, é um mito. Então, tudo é possível.
Verdade seja dita: a maioria de nós tende a ficar incomodada com quem emana amor-próprio.
Faz muito mais sentido deixar que as pessoas se sintam desprezíveis e precisem desesperadamente da aprovação alheia que fará com que submetam àquilo que, genuinamente, não era do seu interesse.
E é por isso que esse artigo não começa com: amem todas as pessoas.
Além de incoerente, isso também seria muito imprudente. A ideia não soa natural.
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Quando a maioria de nós precisa escalar frias montanhas ou mergulhar fundo em mares desconhecidos para preservar o autoamor, dizer para amarmos todas as pessoas parece mais um grito de desespero do que de salvação.
É impossível estar pronto para essa aventura. Ela se torna um ato de suicídio muito antes que de glória ou nobreza.
Então, empatia seja, talvez, um dos benefícios de todo esse processo.
Um resultado entre o equilíbrio sistêmico entre ter amor o suficiente por nós mesmos, para que possamos ter amor de sobra para os outros.
Empatia é o menor dos nossos problemas. Enquanto aquilo que realmente importa for ignorado ela, basicamente, importa muito pouco.
Então ta.
Mas “amor” é muito complexo também. Então, espero que essa leitura tenha feito algum sentido.
E mesmo que não tenha feito…vamos ver se estamos nos entendendo e falar sobre isso?
O que, pra você, é empatia? Você se considera empático(a)? O que você recomenda ou têm feito para isso?
Que outros artefatos do comportamento podemos utilizar?
Porque, para mim, como eu disse, é apenas um maravilhoso resultado de uma porção de coisas que a gente faz para se sentir vivo, para sentir que fazemos parte de alguma coisa.
Nos conectarmos uns aos outros, não por dependência ou por precisar disso para propriamente viver ou ser feliz, mas para dar outro sentido à nossa perspectiva, parece ser exatamente isso.
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PRÁTICA
Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.
Falarmos com respeito e um olhar gentil sob outras perspectivas exige que tenhamos a capacidade de preservar isso conosco. Então, discutirmos sobre qualquer coisa, usando esses atributos e essas regras básicas de convivência positiva, de diálogo sem ofensa e de conversas realmente produtivas, parece ser um ótimo caminho para nos conectarmos. Por isso, a prática de hoje não poderia ser mais metalinguística. Portanto, convido aos interessados que:
1. Percebam qe alimentar esse blog é tremendamente difícil e geralmente desafiante, gasta um temo enorme e, se é útil para você, poderia ser muito bom que eu soubesse disso;
2. Compartilhe com as pessoas com quem você confia e com quem você acha que pode se conectar mais e melhor ao dialogar sobre coisas desse tipo;
3. E comente aqui embaixo! Porque os comentários estão liberados. Desde que se mantenham como um espaço de debate coerente, saudável e construtivo.
Ah! Se tiver alguma sugestão, nos envie um e-mail!