4 comportamentos para se livrar imediatamente

Algumas coisas nos matam (e destroem nossas relaçãoes) devagarinho. A boa notícia é que dá para assumir uma mudança rápida e, quem sabe, recuperar algumas coisas que achávamos ter perdido para sempre.

A gente não precisa esconder nossa preguiça ou indisposição de mudar atrás da máxima de que ninguém é perfeito. Ainda assim, com bastante frequência, é o que acontece.

E claro que ninguém é perfeito, mas cada um interpreta como preferir. Essa interpretação, no entanto, pode mudar ao longo da vida. A síndrome de Gabriela, por exemplo, me acometeu durante a adolescência e parte do início da vida adulta. Até que entendi que não era bem assim que  a vida tocava.

Talvez esse tenha sido ou esteja sendo o seu caso – ou, quem sabe, de alguém que você conheça. Portanto, de um modo ou de outro, espero que esse artigo te ajude a analisar alguns pontos. 

Vou contar (o mais resumidamente possível) como aconteceu comigo e você pode ir destacando os aspectos em que se identifica enquanto adapta para sua própria experiência.

Nota: Como vocês foram bonzinhos e não reclamaram (muito) do tamanho do último post, decidi fazer um menorzinho. Então a leitura é rápida mas importante.  


Nascemos, mudamos, amém.

Impactada pelo processo de autoaceitação, eu fiz bastante coisa errada. Primeiro porque o que eu achava que era autoestima se manifestava apenas como um instinto de defesa – útil durante um período, mas destrutivo a longo prazo.

Saí aos seis anos de uma escola onde meu nível de popularidade era até bastante elevado (se comparado com todo o restante). Na nova escola, segui tratando todos bem, mas era tudo muito diferente.

welcome to the jungle: eu era o cachorro

 

Então, rapidamente entendi que o jeito bonzinho e gentil de ser não ia funcionar naquele ambiente.

Cheguei a me enquadrar durante curtos períodos num contexto aqui, num grupo acolá e depois até fui capaz de fazer excelentes amigos com quem mantenho contato até hoje [obrigada, vocês me salvaram].

Mas fora essa partícula, todo o resto parecia apenas péssimo. Então finalmente “decidi” que eu não precisava de ninguém e f*. O problema disso?

Bem, o problema é que deu incrivelmente certo!

Eu não sentia mais nenhum tipo de carência, dor, rejeição, inadequação: claro, eu passei a viver sob novas regras, as minhas próprias, que funcionavam à medida que eu me mantinha cuidadosamente distante de qualquer tipo de socialização “perigosa”.

Isso significava horas sozinha sob o sol da quadra externa, trancada na sala nos dias mais frios e chuvosos, na biblioteca ou em algum canto escondido que eu encontrava para corroborar meu sucesso total.


Eu era muito feliz. Até que alguém me descobrisse ou eu precisasse interagir com o mundo real. 


Então, para não fazer fiasco, desenvolvi um método ultrapowermegahardcore que envolvia uma mescla de hostilidade, ironia, cinismo e blasesismo (o moderno whateverismo). Ou seja: melhor atirar de cara ou criar uma barreira do que correr riscos.

E logo achei um espaço para mim: eu era a pessoa que não se importava, que respeitava e me dava bem apenas os “freaks” (ou alguns “temidos”), que era ótima com o computador e com as palavras, incrível nas apresentações e trabalhos escolares, útil para resolver coisas ou ajudar amigos em situações de emergência ou necessidade.

Mais ou menos aí entrou o estilo Síndrome de Gabriela de ser. Se eu era boa, e ok, e aceita em algumas coisas…bem, então pareciam motivos o suficiente para suprimir todas as outras em que eu não era. Quem não aceitasse, a porta era serventia da casa.

Esse aglomerado de itens e associações foi um modelo de sobrevivência. E, em partes, funcionou. Em partes, passou. Em partes, deixou seqüelas. Porém, algumas coisas se enraizaram em mim e, até hoje, são difíceis de abandonar.

Isso não foi simples de perceber. Como já disse outras vezes, levei anos, precisei conversar com muita gente; ler muitos livros; analisar e estudar muitos conceitos e comportamentos; buscar terapia – entre outras resoluções.

É bem possível que eu ainda nem tenha descoberto tudo ainda, todos os resquícios desse “modelo de sobrevivência”. Mas a maioria só entrou em evidência quando as pessoas me falaram, e eu pude pensar, ler sobre esses problemas.

Ou seja: quando tive oportunidades mais palpáveis de pensar se aquele era realmente meu caso, se eu realmente fazia aquilo, e então buscar alternativas.

Por isso, optei por compartilhar: talvez algumas coisas sirvam para você, como muitas serviram para mim.

Pra não deixar muito longo (viu?!), decidi escolher aleatoriamente quatro destes itens. Se vocês gostarem e for útil para você ou para alguém que conheça, me avise que eu continuo e falo sobre outros!

 

1. Jugalmentos precipitados e críticos: ah mas aí…


Algumas pessoas acabam se encaixando no papel de quem resolve as coisas. Não sei exatamente o porquê e provavelmente cada caso é um caso.

De todo modo, normalmente quem está do outro lado é uma pessoa passando por processos de indecisão, dúvida, medo ou angústia.

Quando você é buscado por alguém passando por coisas assim, entende que é necessário pensar rápido, dar opções, ter critérios, analisar e definir. Por isso, é comum que essa assimilação leve a uma postura mais incisiva e firme.

Mas o problema é quando essa reação entra no piloto automático. E aí você se acha no direito de julgar, basicamente, tudo. Como se o mundo REALMENTE precisasse da SUA opinião sobre como resolver todos os problemas. 


Educação, boa vizinhança, maternidade, política, música, cultura: de repente você se convence que é perito em todas e certamente seu posicionamento sobre qualquer tema fará muita diferença. 


Não faz. Óbvio. Primeiro porque quase nunca existe uma verdade absoluta, segundo que, se ela existisse, não seria você (nesse caso, qualquer um de nós), em alguns dias, horas, ou minutos, que seria o agente revelador.

De modo geral, o mundo, a maioria das pessoas, grande parte das situações…estão basicamente cagany pra você, suas suposições, suas manifestações sobre um determinado assunto e lero-lero.

Liberdade de expressão e acesso a informação são ótimos e muito vindos, mas acredito que seja possível poupar muita energia ao escolher as batalhas pelas quais lutar. 


O que eu comecei a fazer:
Admiti o problema e comecei a me rodear de assuntos, pessoas e conteúdos que traziam e estimulavam uma postura diferente (um exemplo foi este canal, que recomendo demais). Assim, pude me sensibilizar sobre o problema, estando mais atenta para perceber quando eu voltava a ele e refletir/lembrar sobre o porquê de eu estar agindo daquela maneira, buscando formas mais saudávei. Nesse caso, pra mim, o silêncio.

 

2. Autosuficiência em excesso: eu não preciso disso

Terapia. Mais horas de sono e descanso. Aquele livro ótimo de auto-ajuda sobre como lidar com suas emoções, sua ansiedade ou a bagunça da vida. Fazer exercícios. Se divertir mais. Assistir aquele documentário ótimo do netflix. Ler aquele artigo importante sobre mindset. Comer direito. Manter as coisas organizadas. Mais generosidade com você mesmo. Tratar os outros melhor. Amor, carinho, afeto, relacionamentos saudáveis. Aprender uma coisa nova e importante fora do seu escopo.

Essas são todas coisas que, frequentemente, as pessoas dizem não precisar. É claro que em muitos casos não precisamos mesmo. Mas costuma fazer uma boa diferença e mudar a vida pra melhor.

Então, quando alguém recomendar algo a você, principalmente alguém com quem você tem uma razoável proximidade, considere. As pessoas não fazem isso a toa. Embora sempre possa existir maldade (como tudo), ainda assim sempre há algo válido a ser aprendido.

O que eu comecei a fazer: Quando você está passa alguns dias doente resolve em casa mesmo, dando um jeitinho aqui e ali, tudo bem. Mas quando você fica doente várias vezes e os sintomas duram muito tempo, levando a outras doenças, você se OBRIGA a ter uma postura mais severa.  Ir ao médico, tomar remédios mais fortes, adotar novos hábitos, etc. Comigo foi assim. Chegou um momento que não dava mais e acabei precisando de uma coisa que todo mundo dizia ser maravilhoso, mas eu achava bobagem, frescura. Eu dizia que não precisava. De repente, lá estava eu, tendo excelentes resultados e resolvendo problemas que talvez nem teriam existido se eu não tivesse sido tão resistente. Então pensei: “bem, se isso funcionou dessa maneira, que outras coisas que eu desconsidero também não poderiam trazer coisas ótimas?

 

3. Acreditar que algo não vai dar certo (antes mesmo de pensar em tentar): não dá.


Expectativas irreais sempre foram um problema para mim. Afinal, desde sempre fantasio diálogos e cenários. Claro: em algum ponto, descobri que isso não era um base muito segura para o desenrolar de coisas reais.

Portanto, na maioria das vezes que alguém me fala de algo que eu não sei fazer, que eu não domino, que eu não conheço, que eu não acredito, que eu desconfio, que eu nunca vi nem comi só ouço falar: não dá (bem, parece que eu não sou muito inovadora).

Algumas coisas, vamos combinar, não dá mesmo, ne pessú…tem umas coisas que nadavê. Mas várias outras viram tipo: “Não creio, era isso? Gentê!”.

Lembrando que é totalmente diferente, do que algumas pessoas consideram pessimismo. Em muitos casos, principalmente em tomadas de decisão da minha vida pessoal, eu me vejo calculando todos os problemas e me preparando para o pior.

No estoicismo, existe até um termo para isso, praemeditatio malorum, um dos conceitos mais importantes dessa escola filosófica.

Não, não. Não é disso que estou falando. Me refiro a coisas que simplesmente digo que não dá. Não prevejo problemas e tento preparar medidas preventivas para eles. A própria coisa É o problema. Porque não dá.

O que eu comecei a fazer: Embora eu não seja perita em nenhum dos itens dessa coletânea (e pra falar a verdade estou bem longe disso), posso afirmar, seguramente, que este é um dos mais difíceis para mim. Não sei explicar. Mas além de ouvir mais as pessoas, também comecei a me “forçar” a fazer determinadas coisas. E descobri que, quando a gente faz, uma coisa louca vira só uma coisa. A única coisa que separa algumas coisas da realidade possível, é nosso próprio evitamento. Descobri isso de um jeito bem besta, quando simplesmente decidi pegar a bicicleta e ir sozinha para outra cidade, mesmo que, na época, eu mal tivesse vencido 15km.  

 

4. Tentar resolver problemas ao invés de escutar e oferecer um ombro amigo: ah! e se você…



Várias pessoas muito importantes para mim me alertaram, de um jeito ou de outro, sobre esse problema. E isso aconteceu justamente quando a idéia de empatia passou a ganhar mais popularidade e entendimento.

É claro que eu não entendia coisa nenhuma do conceito. E mesmo depois que entendi a teoria, ainda tinha muita dificuldade em visualizá-lo na prática. Por isso que digo, digo, sem nenhum orgulho, que não sou uma pessoa empática. Mas não acho que isso seja bobagem e tenho me esforçado para ser.

Porque até bem pouco tempo atrás, eu era quem resolvia coisas. Eu era útil em determinados casos (ou achava que era). Essa, inclusive, foi a forma com que eu lidei comigo mesma, durante muito tempo.

Eu não me permitia sentar no meio fio da loucura emocional e chorar copiosamente. Eu pensava:


Nada disso, fofa. Limpe suas lágrimas, respira fundo e resolve isso. Nada de nhenhenhé, que a vida não espera e ninguém tem a responsabilidade de te ajudar com esse pepino.

Então eu diria que, no ranking, este item e o anterior competem pelo primeiro lugar. Para mim ainda é muito difícil simplesmente apenas ouvir atentamente, de coração aberto, e nada mais.

Ás vezes, confesso, corro o risco de sentir que a pessoa está perdendo tempo enquanto poderíamos, juntas, estar resolvendo. E é normalmente desafiante para mim, na hora, entender que AQUELE é justamente um caminho para resolver. É uma etapa do processo. Desabafar.

O que eu comecei a fazer: As oportunidades de praticar uma forma diferente de lidar com essa situação ficaram cada vez mais escassas, afinal ninguém quer compartilhar seus maiores problemas, angústias e dilemas com alguém que notavelmente não esta OUVINDO de verdade. Mas tento sempre me policiar. Ao conversar com amigos que não estão bem, tento lembrar de tudo que li aqui. Na minha cabeça, é sempre um emoji de “desespero, é agora, o que eu faço?”. Então, simplesmente, lembro: “Não faça nada, mostre apenas aquilo que você já é – amiga. Ela(e) é perfeitamente capaz de resolver seus problemas, mas se está aqui falando é porque busca apoio, carinho, conforto, compreensão”. Se você é como eu e também tem dificuldade mas deseja melhorar, eu recomendo muitíssimo esse livro e esse vídeo. E se tiver outras sugestões que ajudem, por favor, compartilhem


Enfim,

como eu disse, não me considero nem um pouco especialista em nenhum dos tópicos, mas sinto que evoluí bastante ao reconhecer estes comportamentos nocivos e tentar técnicas de desenvolvimento. E claro, sigo aberta à sugestões e recomendações! E também, caso você queira compartilhar outros comportamentos que julga válido mencionar nos outros posts dessa série, compartilhe!

E você? Se identifica com estes comportamentos? Já passou por isso ou conhece alguém que os executa? 

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Você realmente não precisa disso. Mas é possível que essa prática facilite algumas coisas para você, mesmo que você não tenha se identificado com as experiências ou comportamentos mencionados.
1. Anote em uma folha pelo menos cinco coisas que diferentes pessoas te dizem para mudar ou indicam que precisa ser melhorado (mesmo que você não concorde). Você também pode escrever o que já observou em si mesmo e te incomoda.
2. Avalie-os honestamente e escolha dois para considerar. Aqueles que você acredita que fazem realmente sentido ou mesmo que você vem sentindo consequências mais evidentes.

3. Ao lado de cada um, coloque possíveis razões para aquele comportamento. Vá na raiz. Investigue, faça um brainstorming com você mesmo.
4. Depois, defina uma rota alternativa sempre que esses gatilhos surgirem. Você pode definir, por exemplo, que a cada julgamento precipitado, fará um elogio sincero a alguém próximo ou subsutituirá por um pensamento positivo em relação aquela situação ou pessoa.
5.  Mantenha isso em mente constantemente e observe os resultados, mudando as rotas alternativas sempre que surgir necessidade e até mesmo acrescentando novos comportamentos nocivos. 
Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

 

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