Indicações, aprendizados, resumos, reflexões que vieram de, a arte da vida, etc. Ou  seja, todo conteúdo estruturado sob a premissa de algum filme, livro, série, autor, etc.

6 lições de Ted Lasso que tornam qualquer pessoa melhor

Ted Lasso, uma série da Appe TV, esbanjou premiações no Emmy. Mas não é sobre as brilhantes atuações ou roteiros que vamos falar aqui.

Eu assisto muitas séries e filmes e o critério principal para escolher meus preferidos é o quão verdadeiros e complexos são os personagens e seus dilemas. Afinal, sou apaixonada pelo que as histórias podem nos ensinar sobre como viver melhor.

Então, desde o lançamento acompanho e fico pensando nas várias abordagens que esta produção carrega. E decidi que a forma mais completa e útil de falar de Ted Lasso é mostrando que qualquer pessoa pode se tornar alguém melhor – profissional ou afetivamente – incorporando alguns comportamentos básicos.

Autenticidade

Ted Lasso se constrói sobre a ideia de um técnico de futebol americano, que, junto com seu parceiro, Beard, vai parar num clube de futebol ‘normal’. Não só isso: na Inglaterra, um país culturalmente cheio de ressalvas com os Estados Unidos, de onde ele vem.

Ted é uma personificação de como a autenticidade é chave nas nossas relações e conquistas. Ele chega sem saber nada sobre futebol, sem conhecer a cultura inglesa, e… sem nenhuma vergonha de assumir isso e ser ele mesmo.

Faz piadas. Esforça-se em ser aceito, querido, valorizado – mas jamais abre mão de ser ele quem é para isso.

Assim como Beard, que faz amigos mesmo sem falar muito. Ou Roy, que tem um carisma pessoal conflitante.

Propósito

Em Ted vemos aqueles homens, que chutam bolas, e suam e fazem cara de maus, e sentem dores, e cospem no chão e xingam, e comemoram jogos, e brigam ás vezes.

Eles amam jogar bola.

Porém, por conta das pressões da vida, da necessidade de apresentar resultados e de exercer o papel que o time espera de cada um, podem esquecer por que estão ali.

Em vários momentos a história nos apresenta essas dicotomias. Mas, até agora, a cena com o novo capitão. Carregando o peso de ser comparado com seu antecessor, que não só era respeitado pelo time como amado pela torcida – começa a desenvolver um comportamento de liderança imperativo.

Ele então é levado para um campo de futebol de ‘rua’. Tenso e com raiva ele é driblado e humilhado – ali ele deixa de ser capitão do time local. Ele é só um cara, apanhando feio.

Cansado e confuso ele é lembrado que antes de ser jogador profissional e ganhar por isso, ele chutava bola com os amigos porque era divertido. Lembrete que faz com que ele volte pro campo mais leve e, claro, dê seu show.

Postura

É muito legal ver e aprender sobre postura em Ted Lasso. Porque, como mencionei, a construção dos personagens é o principal valor da série. E, nela, podemos ver como nossa postura interfere nos resultados que buscamos e que conquistamos quando interagimos com o mundo.

Eu escolheria dois momentos para exemplificar isso. Um, quando Nate, subjulgado e com desejos sempre negligenciados, finalmente passa a adotar para si uma postura firme e decidida para conquistar o que deseja.

Outro, é quando Jamie Tartt tem o aval pra “ser babaca”. Ele carrega o estereótipo do jogador-estrela: egocêntrico, prevalecido, convencido e irritante. Mas depois de um declínio na carreira, é aceito novamente no time desde que ‘se comporte’.

Tudo parece ir bem. Exceto pelo fato de que, ao abandonar totalmente sua natureza agressiva em campo, começa a dar muito espaço para o adversário crescer no jogo.

Então ele finalmente é estimulado a explorar o seu lado mais confiante em momentos oportunos, para desestabilizar o adversário. Essa mudança de postura não só favorece o time, como o desempenho dele em campo.

Vulnerabilidade

Eu sei: você tem ouvido sobre vulnerabilidade sobre aí. Mas é inevitável reconhecer que foi um fio condutor da série. Desde os primeiros episódios vemos como cada personagem interage com este comportamento e os desdobramentos destas escolhas

Embora ficcional, podemos ver vários pessoas que conhecemos ali, e como nós mesmos lidamos com nossas imperfeições e medos.

Vemos Rebecca gerenciando o medo da rejeição, os entraves sociais e os bloqueios transacionais de carreira e papel na empresa. Mas também vemos Keeley se expondo, ora sofrendo, ora sorrindo, mas sempre disposta a entregar-se a qualquer projeto que deseje.

(e vemos cenas sublimes de vulnerabilidade masculina que não posso contar porque me comprometi a não dar spoiler.


Empatia & Alteridade

Como qualquer situação nova, logo no início da trama, já começamos a escolher nossos preferidos: para amar e detestar. Porém, precisamos lidar com alguns tapas na cara sutis (ou nem tanto) que a série oferece.

Ela vai mostrando que todo mundo tem um passado, uma história. Uma base sob a qual se tornou o que se tornou.

Os personagens não são colocados como vítimas das circunstâncias, mas sim como o resultado de um conjunto de escolhas feitas diante das suas experiências.

E é verdade que nem sempre, nas nossas relações, podemos conhecer o histórico das pessoas, entender porque elas são como são.

Mas a série nos ensina que sempre podemos lembrar: você tem todo direito de não gostar de alguém, mas toda a liberdade para considerar que esta pessoa tem seus próprios calos.

Humildade

A vida é cheia de valentões. E mesmo que você seja ou já tenha sido um, você não está escape. Por isso, é preciso escolher como você quer lidar com isso – sem se tornar parte do problema.

Esse é o dilema de Nate, um garoto tímido e apagado da equipe do Richmond. Ele é constantemente ridicularizado, negligenciado e destratado por outros personagens. Até que a situação muda e ele se sente mais confiante.

Mas ainda existem desafios sociais que o incomodam. Então ele passa a usar sua nova influência como armadura para explorar quem demonstra qualquer sinal de ‘fraqueza’. Fica claro que Nate faz isso como forma de compensar sua própria ‘fraqueza’.

Logo, ele passa a se tornar alguém que não gosta. Quando lhe avisam sobre isso, ele toma algumas atitudes que mostram que é possível ser amado e respeitado sem ser rude e arrogante.


E aí, qual sua lição preferida?

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Talvez eu (e todo mundo) saiba do que você precisa

Sim. Talvez, mesmo que a gente não se conheça, eu saiba exatamente do que você precisa. E, por mais que você possa estar duvidando, garanto que isso é menos prepotente do que parece. Me dê uma chance e vou te mostrar.

Porque uma das coisas mais transformadoras que me aconteceram foi…um livro. Claro.

Depois dele, fui capaz de aprender algumas coisas bem importantes. Conforme ia passando os parágrafos eu também refletia sobre minha própria vida, sobre minhas experiências, sobre coisas que eu havia fixado sem me dar conta.

Como eu já havia mencionado anteriormente, a questão da empatia é bem difícil para mim. Eu nunca entendi direito porquê. Mas depois dessa leitura.

Ela me fez concluir que sim, existe um conceito “fabricado”, complexo, cheio de palavras bonitas e definições longas.

Mas existe uma outra coisa, quando falamos disso e outros termos populares, que negligenciamos o tempo todo. Como as cores, afinal de contas, algumas ideias parecem ganhar novos formatos para agradar o público, para angariar novos seguidores.

Então, uma das coisas mais relevantes que esse livro em especial me disse, sem usar essas palavras, foi algo como:


“Querida, vamos parar de complicar e considerar como “empatia” aquilo que você SABE do que estou falando.”

 

Porque, sinceramente, eu sequer podia apreender o sentido dessa palavra.

Se hoje posso confessar a quem quiser que “eu não sou empática” antes era muito pior: eu era incapaz de tangibilizar “empatia”.

E é por isso que decido compartilhar algumas concepções que fiz a respeito, depois dessa leitura – e de uma porção de vivências, conversas e chororô.

Afinal, eu adoro constatar como as palavras são muito mais inteligentes que nós, que costumamos interpretar tudo ao nosso bel prazer.

Portanto, pensar sobre elas e sobre como elas impactam a nosso comportamento, nossa comunicação e nossa forma de viver é algo que me atrai.

Talvez você simplesmente não goste dessa palavra. Talvez você ache que ela seja apenas uma palavra boba que estão usando adoidado. Eu mesma penso isso ás vezes e talvez ela até seja.

Por isso gostaria de te convidar a discutirmos sobre isso sem medo de sermos julgados ou nos sentirmos inferiores, uns bostas, etc.

Então, acho mesmo que só temos a ganhar aqui.

Caso você use essa palavra, goste dessa palavra, que essa palavra já faça um sentido natural para você…bem, então nem preciso te explicar por que só temos a ganhar aqui.

Vamos lá.


Essa tal de Empatia

“e o Roque Enrow minha filha?” / calma aí, Ritinha!


A verdade é que, assim como eu, você também sabe exatamente do que se trata essa tal de empatia que todo mundo fala mas é o caviar daquela música do Zeca Pagodinho: nunca vi, nem comi, só ouço falar. 

É até possível que a falta dela te faça sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.

E é possível também que, grande parte das vezes que você se sente assim e associa a um monte de coisas, por mais que você negue, tenha relação direta com essa palavra bonita, gostosa e quase unicórnica.

E é mais possível ainda, caso as situações anteriores não tenham ocorrido, que você já tenha feito alguém se sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.

Para começar, existe um vídeo que explica bem isso. Se você assistiu, você vai achar milhares de outras palavras para a mesma coisa. Se não assistiu, recomendo.

Em resumo, não parece ser tão difícil verdadeiramente respeitar a dor do outro – como a dor do outro, não a sua.

Não deveria, pelo menos, ser um desafio tão grande, deixar-se a mercê por algum tempo para dedicar-se em aceitar o outro.

Porque, afinal de contas, “aceitar” o outro não é como um ato generoso que você faz pelo outro. É fruto de um ato generoso com você mesmo.


Seu “aceite” ou não em relação a uma pessoa não vai impedi-la de continuar vivendo, sorrindo, sendo feliz, sendo amada, conquistando coisas, tendo sonhos, aprendendo, evoluindo. 


Quando você “não aceita” alguém, posso dizer que só existe uma pessoa que, garantidamente, vai ser privada de qualquer coisa. Não se trata da outra pessoa aqui. Mas eu acho que, sobre isso, não preciso falar muito.

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você.” – F.W. Nietzsche


Mas essa noção é tão difícil que, grande parte das pessoas, quando precisa definir empatia, ainda menciona algo como: “se colocar no lugar do outro” (explanado num dos tópicos desse artig0).

E aqui me refiro a pessoas inteligentes, do bem, interessadas em lidar com a complexidade humana, com todos os vieses não tão agradáveis que resultam disso algumas vezes.

Somos tão naturalmente egocêntricos que até mesmo falar sobre essa ideia é conflituoso. Porque “a tal da empatia” é o exato oposto de se colocar no lugar do outro.

Tem muito mais a ver com deixar-se aberto para que o outro entre em nós (sem piadinhas!). Tem muito mais a ver com deixar-nos suficientemente vulneráveis para que o outro nos acesse realmente.

É por isso, talvez, que seja tão difícil.

Somos programados para sobreviver. E estar vulnerável a este nível é nos pôr em uma situação declaradamente ameaçadora e que rapidamente nos leva a perder o controle.

Ganhar uma discussão usando argumentos lógicos e racionais. Vencer uma batalha utilizando armas. Sair vitorioso de uma luta na porrada. Tudo isso agrada bem mais o paladar prático do nosso instinto mais primitivo.

Mas lidar com as emoções ainda não é algo que dominamos completamente.

Portanto, nos deixarmos vulneráveis, mesmo inconscientemente, nos leva diretamente à uma cena onde estamos na selva e desenhamos um alvo no nosso ponto mais fraco.

Parece um sinal claro ao universo de que desistimos de sobreviver e estamos prontos para sermos dilacerados.

E eu não poderia discordar. Sim: ao fazermos isso ficamos suscetíveis à chantagens emocionais. E nada como uma versão mais sofisticada do olhar de gatinho do Shrek para atrapalhar nossos planos de sermos invencíveis. 

Por outro lado, vencer é tão subjetivo que até dói pensar profundamente a respeito.

Se, de um modo, nosso instinto de sobrevivência nos leva a temer a vulnerabilidade, o mesmo mecanismo fica ecoando a assustadora percepção de que, alguma coisa vai faltar.

Essa relação pode ser entendida também no equilíbrio entre o egoísmo e o altruísmo.

Fato é que, algum lugar, dentro de nós, simplesmente sabe o que já foi profeciado: “Os extremos nos afastam do caminho”.

E então ficamos andando, levando choque a cada contato com um desses lados que, na verdade, podem conviver pacificamente e dar contorno à nossa jornada.  

 

Ta mas e aí, como faz isso?

Ao que tudo indica, temos esse medo absurdo de estarmos vulneráveis porque não sabemos ao certo como seremos recebidos.

“Essa postura será suficiente? Os riscos de ser destruído são compensados com a possibilidade de sentir que faço parte de alguma coisa? De que alguma coisa disso tudo faz sentido?”

Parece-me que nosso medo de nos mostrarmos, em toda a magnitude, em toda a complexidade, tem muito mais a ver com nossa própria dificuldade de nós mesmos aceitarmos nossa inferioridade poética.

De sermos, muitas vezes, incapazes de dizermos para nós:


“Ei, você foi realmente besta aqui. Mas isso não faz de você alguém detestável. Faz de você humano, e sempre é possível melhorar isso, tudo bem?!”


A forma mais fácil de saber que alguém sofre desse mal, é observar como ela trata as pessoas. O reflexo mais evidente de como lidamos conosco, é analisar o modo como lidamos com o outro.

Aquela pessoa que você detesta, que você simplesmente não suporta lidar ou conviver, provavelmente tem alguma característica sua da qual você se culpa, se envergonha e odeia.

Quem sabe você mantenha essa característica tão bem escondida que nem você a perceba.

Mas, por mais que ás vezes seja desagradável lidar com isso, por mais que nos cubramos de distrações, ainda assim, os fatos estarão lá.

E mesmo que a razão do não bater de santos com alguém seja por alguma característica dessa pessoa que você deseje, ou simplesmente te lembre algo que você não goste de lembrar: existe algo importante aí. E parece difícil discordar:  

“Tudo o que nos irrita nos  outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.” – C.G. Jung

 

Sim. Eu sei.

É geralmente difícil engolir isso. Tem um sabor amargo.

E sei porque, minha primeira reação ao assistir um vídeo a respeito (que eu procurei e não encontrei, mas você pode encontrar coisas similares buscando por “projeção” e “teoria do espelho“) foi algo como:

“Ei, Sra. Dra. Super Psicóloga. Você pode ser incrível e sabichona, e estar apenas parafraseando outros pesquisadores e estudiosos aclamados. Mas isso só pode estar errado.” 

Então: calma. Eu não sou psicóloga, super, doutora nem senhora. Estou apenas parafraseando, só para citar alguns, Jung, Lacan, Freud, Robert Bly e Nietzsche (mesmo que você tenha facilidade em identificar os meandros duvidosos na obra de cada um deles, é insensato simplesmente descartar isso).

Mas, depois de ter acesso a essa afirmação, foi inevitável não avaliar minhas interações com outro olhar.

Fez sentido a afirmação de que “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”.

Foi incômodo perceber que ser intolerante, que não estar disposta a compreender as outras pessoas, enxergar seus contrastes, aceitar suas pequenezas não me fazia superior. Nem inferior.

Era apenas a consequência de eu não aceitar me compreender. Não me perdoar pelas minhas pequenas, por eu mesma ser ridícula e me preocupar com pouco.

Eu não estou tentando justificar meus erros. Estou exercitando a vulnerabilidade: eu sou essa merda. E tudo bem.

Se me falta indulgência ao lidar com as pessoas, é porque mal tenho o suficiente para mim mesma. Essa palavra, que antes eu entendia como permissividade – e que por si ressoa como negativa aos meus ouvidos – seja, talvez, a chave dessa tal de empatia.

 

Não por coincidência, a definição que faz mais sentido para mim agora, é a primeira.

E os opostos (severidade, antipatia, aversão, severidade, crueldade) são justamente o que distribuo para mim e, eventualmente, para quem tem o azar de estar por perto quando estou menos autoconsciente.

Essa outra característica, que antes tinha um conteúdo predominantemente negativo, é o que mais busco me tornar.

E também é o que tem a ver com “essa tal de empatia”, com estar vulnerável, mas consciente.

Assim, dispostos e conscientes – sem que ninguém nos julgue, nos pressione ou nos cobre – conceder a permissão (graças à disposição de perdoar) que o outro nos mostre o mundo sob sua perspectiva e, possibilitando darmos mais consistência à estas conexões.  


Mas um pouco de prudência não vai fazer mal

O problema é que você não vai pensar em desenhar um alvo no seu ponto mais fraco se não confiar plenamente, por algum tipo de inteligência coletiva, de que aquilo vai dar certo.

E, nesse ponto, “dar certo” significa muito mais o que você está disposto a entregar do que a expectativa do que farão com aquilo. 

Porque, mesmo que te destruam ou tentem, você saberá que fez sua parte e confia que saíra mais forte. Isso só acontece, se você se ama o suficiente, se você se ama o suficiente para ser autocomplacente.


Eu concordo: dói amar os outros e não ser amado de volta. Mas nem se compara à dor de não ser capaz de amar a si mesmo.

Essa condição sim é que nos torna vulnerável de um jeito perigoso.

Amar os outros tem algo a ver com amar tanto a si mesmo, e em confiar tanto nisso, que não importa se tentem usar sua aparente fragilidade contra você.

Não estou falando das pessoas que elogiam a si mesmas. Que gostam de falar dos seus louros. Porque essas pessoas estão bem longe disso.

Estou falando de simplesmente você ser capaz de fazer um high-five individual no ar e falar:

“Cara! Você manda bem! Ás vezes você manda muito mal. Mas você é massa. Segue em frente. Que o que os outros fazem não tem que afetar o teu caminho. Acerta a sua bússola e deixa que cada um acerte a sua”

Essa postura, que foi tão mal-falada e pregada de forma negativa, é o que na verdade nos fortalece como pessoas e, consequentemente, como sociedade.

Quanto mais gente ter essa noção, mais fácil será nos conectarmos. E, sei lá, vai saber se Narciso não foi empurrado. As conspirações estão aí para quem quiser.

Afinal de contas, quem gosta de mitologia sabe que, na representação romana, Narciso é Valentim – nome bastante utilizado em vários países para celebrar a perseverança e vitória do amor, mesmo a partir de contravenções cheias de pureza (não apenas o amor eros, mas o amor fraternal também; frequente, mas erroneamente, desenhado, como Cupido).

Embora digam que ele era arrogante, orgulhoso e desprezível, é um mito. Então, tudo é possível.

Verdade seja dita: a maioria de nós tende a ficar incomodada com quem emana amor-próprio.

Faz muito mais sentido deixar que as pessoas se sintam desprezíveis e precisem desesperadamente da aprovação alheia que fará com que submetam àquilo que, genuinamente, não era do seu interesse.

E é por isso que esse artigo não começa com: amem todas as pessoas.

Além de incoerente, isso também seria muito imprudente. A ideia não soa natural.


Quando a maioria de nós precisa escalar frias montanhas ou mergulhar fundo em mares desconhecidos para preservar o autoamor, dizer para amarmos todas as pessoas parece mais um grito de desespero do que de salvação.


É impossível estar pronto para essa aventura. Ela se torna um ato de suicídio muito antes que de glória ou nobreza.

Então, empatia seja, talvez, um dos benefícios de todo esse processo.

Um resultado entre o equilíbrio sistêmico entre ter amor o suficiente por nós mesmos, para que possamos ter amor de sobra para os outros.

Empatia é o menor dos nossos problemas. Enquanto aquilo que realmente importa for ignorado ela, basicamente, importa muito pouco.  

Então ta.

“All you need is love. Love is all you need”


Mas “amor” é muito complexo também. Então, espero que essa leitura tenha feito algum sentido.

E mesmo que não tenha feito…vamos ver se estamos nos entendendo e falar sobre isso?

O que, pra você, é empatia? Você se considera empático(a)? O que você recomenda ou têm feito para isso?

Que outros artefatos do comportamento podemos utilizar?

Porque, para mim, como eu disse, é apenas um maravilhoso resultado de uma porção de coisas que a gente faz para se sentir vivo, para sentir que fazemos parte de alguma coisa.

Nos conectarmos uns aos outros, não por dependência ou por precisar disso para propriamente viver ou ser feliz, mas para dar outro sentido à nossa perspectiva, parece ser exatamente isso.  



PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Falarmos com respeito e um olhar gentil sob outras perspectivas exige que tenhamos a capacidade de preservar isso conosco. Então, discutirmos sobre qualquer coisa, usando esses atributos e essas regras básicas de convivência positiva, de diálogo sem ofensa e de conversas realmente produtivas, parece ser um ótimo caminho para nos conectarmos. Por isso, a prática de hoje não poderia ser mais metalinguística. Portanto, convido aos interessados que:
1. Percebam qe alimentar esse blog é tremendamente difícil e geralmente desafiante, gasta um temo enorme e, se é útil para você, poderia ser muito bom que eu soubesse disso;
2. Compartilhe com as pessoas com quem você confia e com quem você acha que pode se conectar mais e melhor ao dialogar sobre coisas desse tipo;
3. E comente aqui embaixo! Porque os comentários estão liberados. Desde que se mantenham como um espaço de debate coerente, saudável e construtivo.
Ah! Se tiver alguma sugestão, nos envie um e-mail!

 

Continue lendoTalvez eu (e todo mundo) saiba do que você precisa

As histórias por trás de toda história

Desde o início eu sabia que haveria um tipo específico de artigos onde eu traria reflexões inspiradas ou baseadas em filmes, séries, músicas e livros.

Porque sempre tive a impressão de aprender muito sobre a vida, pessoas e relacionamentos com essas coisas, com personagens, com histórias, com aventuras que eu não havia vivido mas de cujos louros eu poderia usufuir. 

Portanto, eventualmente, vou trazer uma abordagem específica, de alguma coisa que mexeu comigo, me fez ir além. Sabe aquele livro, filme, série que te deixa sem ar? Que acaba e você fica paralisado, atônito, com a cabeça a mil? Ou que você passa a semana toda pensando sobre? Então.

Essas coisas que a gente não consegue descrever, adjetivar com poucoas palavras, digerir em alguns minutos. Essas coisas que dá vontade de conversar a respeito, escrever a respeito. É disso que se trata.

Assim, está oficialmente lançada a série Coisas que São. Adianto que minha pretensão não é tentar ocupar um espaço da crítica de cinema ou literatura. Mas sim usar histórias incríveis para falar daquilo que a fantasia entrega para a realidade. Afinal, dizem que a vida imita a arte, mas em algum ponto, ovo e galinha se tornam pontos de inícios e finais. 

Não é o que você está pensando!

Bem, eu não posso evitar estrear com esta obra confusa e genial, no meu ponto de vista. Preparem-se, porque vou compartilhar uma bolota intragável que consumi há alguns meses.

Uma bolota com nome, elenco, fotografia, produção e uma espécie de…trilha sonora. Posso dizer que foi um filmezinho bem do sem-vergonha, que entrou infiltrado na minha lista interminável. 

Como assim? Acontece que, uma vez, enquanto assistia a um vídeo ou série de trailers (ah! o ócio), apareceu o trailer de um filme que, na ocasião, me despertou atenção.

Tratava-se de uma mulher que tinha o sonho de cantar, mas como o marido não a apoiava ou entendia ela decidiu partir rumo ao sonho. Só que ela não cantava muito bem e o caminho parecia longo.

A partir daí, o que eu fiz foi o que qualquer pessoa faria: anotei e guardei o nome desse filme que me interessou tanto em um lugar impossível de perder.

E, adivinhem?! Eu perdi, lógico.

Até que me deparei com a sinopse de um filme e pensei que só podia ser ele.

Adivinhem, de novo? Não era, claro.


Mesmo assim, algo na sinopse do filme que não era me atraiu. Pensei: “Por que não?! Quem sabe um dia?”. Até que o tal dia chegou. Entre os milhares de itens da minha lista, alguma coisa me levou a descobrir este. E que bom. Meu instinto, mais uma vez, me presenteava com uma excelente oportunidade.

Foi sim aquele tipo de filme. Sabe? Que, quando acaba, deixa a gente boquiaberto, andando meio torto. Peito aberto. Em transe.

Demorei para “acordar” e passei dias pensando. Talvez dei sorte e o filme me pegou no momento certo, talvez simplesmente seja incrível e você precise ver.

Então, vamos falar, SEM SPOILER sobre…

Marguerite!

Para começo de conversa: Tudo em Marguerite não é.

Não era o filme que eu procurava e anotei no papelzinho. Mas gostou desse negócio de me enganar, e continuou não sendo. Marguerite não se trata de uma cantora desafinada na sociedade elitista da Paris dos anos 50. Não se trata de uma mulher rica que compra todos os seus sonhos e caprichos. 

Marguerite, talvez, se trata de um ser-humano cheio de posses que teve o azar de ter um sonho. Se você assistiu o trailer antes (como eu) não se iluda: não temos aqui uma comédia. 

Essa ficção, inspirada na história real da socialite Florence Foster Jenkins, não se trata de coisinha banal. Não dá para pôr na sessão da tarde – ninguém suportaria mais do que Edward Mãos de Tesoura por lá. Aqui, temos uma verdadeira obra-prima da frustração, da crença, da entrega.

Marguerite trata das paixões que não sabemos gerenciar mas sem as quais jamais conseguiríamos viver. Todas elas. Físicas, emocionais, espirituais. Nossas obsessões, nossas crenças, nossas demandas mais urgentes e excruciantes.


Marguerite trata da solidão que encontra fim na fé e na arte. Marguerite, a personagem, por sua vez, não é uma cantora desafinada. Ela é uma idealizadora. Uma artista presa num corpo e numa condição.


Em resumo, não se trata de um romance nem propriamente de uma crítica, mas também não é um drama. Sequer é um drama. Como você vê, é difícil até para mim falar sobre Marguerite.

Mas vou seguir tentando, mencionando alguns tópicos que falam do que Marguerite é – sem simplificar a sua vida. Porque Marguerite é complexo demais, e falar a respeito de forma simples seria, no mínimo, um desperdício.

 

Detalhes, inconstância, não-pertencimento e o encatamento de cada essência – como a vida real!

     

A obra, acima de tudo, conta a história de pessoas que se conectam pela mesma razão: vagam presas, limitadas, condicionadas, ocultando o melhor de si.

Marguerite, o longa, não parece ter a pretensão de colocar em caixas de heróis e bandidos, bons e maus. Não se preocupa, inclusive, com atos catastróficos.

Marguerite se trata dos detalhes. Do olhar que abaixa. Das sobrancelhas que expressam. Do barulho que parece um gato miando, escondido em algum lugar. Das cenas da caça que não teve chance. Do cuidado e da complexidade que só quem vive pode degustar.

Ora ela é louca. Ora ela é adulta. Ora é criança. Ora é ambiciosa e audaz. Ora inocente. Ora profunda, ora superficial. Ora cheia de orgulho, ora sem orgulho nenhum.

Ela é, por fim, humana. Ela é como eu e você. E por isso que se encaixa tão bem. O não-pertencimento é difícil para Marguerite como para todos nós. 

Podemos até dizer, por exemplo, que a abordagem de um casamento fracassado e de fachada é importante na trama. Mas, de novo: é mais que isso. 


É a manifestação da complexidade das relações, do status, das normas sociais subjetivas e como isso afasta ao mesmo tempo que aproxima.

 

Claro que, no olhar ocidental, moderno e evoluído (ainda bem) somos capazes de enxergar em George um cretino egoísta. Mas se realmente nos esforçarmos em nos tornarmos empáticos, veremos também um homem carregado de medos e crenças que, nem assim, impedem de preservar um genuíno carinho pela esposa.

Um carinho, bem verdade, freado pela sua própria incapacidade de se aceitar que, por sua vez, reflete-se na flexibilidade em aceitar aquilo que sua mulher representa: a extravagância dos que seguem autênticos.

Já, em Madelbus, podemos escolher ver um homem misterioso, ora assustador, ora apaixonado, ora obcecado. Ora bondoso e generoso. Ora capaz de fazer o que for necessário para preservar sua protegida.

 

A velha necessidade do julgamento e a urgência atemporal da empatia 

Falamos de George e Maldebus. Mas também Marguerite tem seus excessos.

Como poderia ser diferente? Rica, desde sempre e conduzida apenas a casar e exercer um papel social, seria natural que se buscasse caminhos e caprichos que distraíssem a personagem.

A verdade é que cada um de nós tem suas próprias manias. Precisamos delas, de algum jeito estranho. Apenas adequamos essa necessidade (de ter manias para chamar de nossas) à realidade em que vivemos, buscando um meio de torná-las possíveis.

Criamos estas manifestações de singularidade por diversas razões e ás vezes nem as percebemos. Mas elas não surgem do nada e sempre têm uma construção, um ponto de onde ela se originou e tornou-se indispensável. Inclusive, coicidentemente, falei sobre isso aqui recentemente.

Assim, mesmo quando notamos estes padrões, não os assimilamos como manias. São hábitos, são nosso modo particular de ser no mundo. As do outro sim, facilmente podem ser interpretadas como manias, frescuras, bobagens.

Então: não. Comer apenas comidas brancas não é uma mania para Marguerite. Não é uma frescura. É um objetivo. É a maneira pela qual ela ameniza uma dor latente de não ser tanto quanto sente que pode, que deve, que nasceu para ser.

É um modo, talvez, de sentir que tem algum domínio sobre sua vida: ela não controla o que sai de sua boca, mas este pode ser sua maneira sutil e estranha de decidir o que entra.

Também é possível concordar que é incômodo o esforço em mostrar esse lado doloroso de se ter tanto dinheiro a ponto que ninguém estar disposto a ser honesto. O discurso, embora válido, não faz mais sentido: somos minorias demais.

Mas para garantir que tenha ficado claro: também não se trata disso. Sobre riqueza ou pobreza ou os méritos de cada lado. Se trata de empatia. De seres-humanos. De acreditar tanto nos sonhos que ninguém ousa arrancar isso de você.

Se trata de um homem que se entrega ao amor de uma mulher brilhante e, ao mesmo tempo, vulnerável. De um garoto que não aprendeu a crescer e precisa de fugas. De uma talentosa voz incapaz de lidar com a entrega . Esse é o entorno de Marguerite. 

Sobre ela, interpretada magnificamente por Catherine Frot, há algumas características fixas e fáceis em nossas expectativas: cantora, velha, rica, desafinada.

Mas ingênua, jovem, pura, fresca, leve, solta também são adjetivos que facilmente podemos destilar para Marguerite e que provavelmente são mais adequados à sua essência.


Um exercício de paciência

Além de tudo, Marguerite tem seu ritmo. É um filme lento. Cheio de pausas. Com cenas que a princípio não fazem sentido e com espaços que demoram.

Marguerite é sim um exercício de paciência. Mas não nos vence pelo cansaço. Nos vence pela coragem.

Assim como a própria personagem, que ao contrário das primeiras suposições vai, aos poucos, mostrando que não conquista as pessoas que seguem ao seu lado por causa do dinheiro, mas porque os inspira. Ela os ganha pela pureza e autenticidade sem ser arrogante, boçal, prepotente.

Embora rica, embora profundamente comprometida há anos com sua prática errática, ela escuta. Ela está disposta. Ela ouve. Mas ninguém quer lhe dizer o que ela precisa. E disso ela não tem culpa.

Marguerite, com toda essa paciência, me impactou. Me ensinou coisas para as quais eu não estava totalmente preparada. Algo em Marguerite parece um soco em algum lugar no esôfago.

Depois de engenhosamente construída como mito, como rainha, como musa inspiradora.

Manipulada de forma mais cruel que personagens de um livro, que ganham sua própria vida aqui, ainda deixa um poderoso alerta: cuidado para não estar vivendo o sonho de outra pessoa. Afinal, para Marguerite isso nunca foi tão verdade.

Entregou olhares, e chegadas que nunca vieram. Driblou meu senso precipitado e falho de julgamento e me mostrou que há muito mais quando estamos dispostos a ver as matizes. Lembrou de como cada um é, do seu modo, essencial para toda história. E me fez pensar nas inúmeras histórias escondidas atrás de cada um.

Por isso tudo, pela primeira vez, um filme exigiu de mim paciência, sem me irritar.

 

O que podemos aprender

Como eu disse, é possível extrair muito aprendizado de praticamente tudo que vivemos, vemos, sentimos. E a ficção tem um enorme potencial de fazer issso. Portanto, as coisas mais importantes que Marguerite me trouxe foi a lembrança, não necessariamente nessa ordem, de que:

  • Nós somos os únicos responsáveis por acreditar nos nossos sonhos.
  • Alguns sonhos são maiores que nós. Outros, não são sonhos. 
  • É importante descobrir o que, de verdade, nos transcende e o que é fuga, válvula de escape. 
  • Autoestima é ótimo, mas  o ego e a vaidade podem cegar e nos confudir.  
  • Quando olhamos para alguém, só vemos a superfície, sempre há mais. Muito mais. 
  • As razões do outro são facilmente convertidas em manias, as nossas, em particularidades. 
  • Sinceridade é importante, mas deve ser aplicada com gentileza. 
  • O bakcground de cada um pode ser surpreendente, mas descobri-lo exige cuidado.
  • Seres-humanos são complexos e, na grande maioria das vezes, só estão tentando fazer o melhor que podem
  • A intuição e sensibilidade aos detalhes podem ser cruciais na tomada de decisões.
  • Ingenuidade, vulnerabilidade e fé são agentes eficazes em conectar pessoas. 

Bom, imagino que, se eu assistir novamente, a lista aumentaria. Mas acho que está de bom tamanho. 


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Bom, temos e não temos algo complexo para a prática de hoje. Afinal, depois da geléia mental do meu cérebro, não poderia encerrar diferente. Então, vamos lá.
1. Que mentiras você tá contando para si mesmo? Escreva em uma folha tudo aquilo que vêm à sua mente, avalie cada tópico, selecione um mais alarmante, e guarde.
2. Analise como você informa às pessoas sobre suas expectativas e sentimentos e reflita sobre como interage com a sinceridade: Você tem medo de falar a verdade? Ou fala verdades demais? Como isso afeta as pessoas ao seu redor? E a você?
3. Agora, investigue as duas respostas e trace uma meta que melhore sua relação de verdade com o outro. 
Ah! Se tiver alguma sugestão, nos envie um e-mail!

 

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