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6 lições de Ted Lasso que tornam qualquer pessoa melhor

Ted Lasso, uma série da Appe TV, esbanjou premiações no Emmy. Mas não é sobre as brilhantes atuações ou roteiros que vamos falar aqui.

Eu assisto muitas séries e filmes e o critério principal para escolher meus preferidos é o quão verdadeiros e complexos são os personagens e seus dilemas. Afinal, sou apaixonada pelo que as histórias podem nos ensinar sobre como viver melhor.

Então, desde o lançamento acompanho e fico pensando nas várias abordagens que esta produção carrega. E decidi que a forma mais completa e útil de falar de Ted Lasso é mostrando que qualquer pessoa pode se tornar alguém melhor – profissional ou afetivamente – incorporando alguns comportamentos básicos.

Autenticidade

Ted Lasso se constrói sobre a ideia de um técnico de futebol americano, que, junto com seu parceiro, Beard, vai parar num clube de futebol ‘normal’. Não só isso: na Inglaterra, um país culturalmente cheio de ressalvas com os Estados Unidos, de onde ele vem.

Ted é uma personificação de como a autenticidade é chave nas nossas relações e conquistas. Ele chega sem saber nada sobre futebol, sem conhecer a cultura inglesa, e… sem nenhuma vergonha de assumir isso e ser ele mesmo.

Faz piadas. Esforça-se em ser aceito, querido, valorizado – mas jamais abre mão de ser ele quem é para isso.

Assim como Beard, que faz amigos mesmo sem falar muito. Ou Roy, que tem um carisma pessoal conflitante.

Propósito

Em Ted vemos aqueles homens, que chutam bolas, e suam e fazem cara de maus, e sentem dores, e cospem no chão e xingam, e comemoram jogos, e brigam ás vezes.

Eles amam jogar bola.

Porém, por conta das pressões da vida, da necessidade de apresentar resultados e de exercer o papel que o time espera de cada um, podem esquecer por que estão ali.

Em vários momentos a história nos apresenta essas dicotomias. Mas, até agora, a cena com o novo capitão. Carregando o peso de ser comparado com seu antecessor, que não só era respeitado pelo time como amado pela torcida – começa a desenvolver um comportamento de liderança imperativo.

Ele então é levado para um campo de futebol de ‘rua’. Tenso e com raiva ele é driblado e humilhado – ali ele deixa de ser capitão do time local. Ele é só um cara, apanhando feio.

Cansado e confuso ele é lembrado que antes de ser jogador profissional e ganhar por isso, ele chutava bola com os amigos porque era divertido. Lembrete que faz com que ele volte pro campo mais leve e, claro, dê seu show.

Postura

É muito legal ver e aprender sobre postura em Ted Lasso. Porque, como mencionei, a construção dos personagens é o principal valor da série. E, nela, podemos ver como nossa postura interfere nos resultados que buscamos e que conquistamos quando interagimos com o mundo.

Eu escolheria dois momentos para exemplificar isso. Um, quando Nate, subjulgado e com desejos sempre negligenciados, finalmente passa a adotar para si uma postura firme e decidida para conquistar o que deseja.

Outro, é quando Jamie Tartt tem o aval pra “ser babaca”. Ele carrega o estereótipo do jogador-estrela: egocêntrico, prevalecido, convencido e irritante. Mas depois de um declínio na carreira, é aceito novamente no time desde que ‘se comporte’.

Tudo parece ir bem. Exceto pelo fato de que, ao abandonar totalmente sua natureza agressiva em campo, começa a dar muito espaço para o adversário crescer no jogo.

Então ele finalmente é estimulado a explorar o seu lado mais confiante em momentos oportunos, para desestabilizar o adversário. Essa mudança de postura não só favorece o time, como o desempenho dele em campo.

Vulnerabilidade

Eu sei: você tem ouvido sobre vulnerabilidade sobre aí. Mas é inevitável reconhecer que foi um fio condutor da série. Desde os primeiros episódios vemos como cada personagem interage com este comportamento e os desdobramentos destas escolhas

Embora ficcional, podemos ver vários pessoas que conhecemos ali, e como nós mesmos lidamos com nossas imperfeições e medos.

Vemos Rebecca gerenciando o medo da rejeição, os entraves sociais e os bloqueios transacionais de carreira e papel na empresa. Mas também vemos Keeley se expondo, ora sofrendo, ora sorrindo, mas sempre disposta a entregar-se a qualquer projeto que deseje.

(e vemos cenas sublimes de vulnerabilidade masculina que não posso contar porque me comprometi a não dar spoiler.


Empatia & Alteridade

Como qualquer situação nova, logo no início da trama, já começamos a escolher nossos preferidos: para amar e detestar. Porém, precisamos lidar com alguns tapas na cara sutis (ou nem tanto) que a série oferece.

Ela vai mostrando que todo mundo tem um passado, uma história. Uma base sob a qual se tornou o que se tornou.

Os personagens não são colocados como vítimas das circunstâncias, mas sim como o resultado de um conjunto de escolhas feitas diante das suas experiências.

E é verdade que nem sempre, nas nossas relações, podemos conhecer o histórico das pessoas, entender porque elas são como são.

Mas a série nos ensina que sempre podemos lembrar: você tem todo direito de não gostar de alguém, mas toda a liberdade para considerar que esta pessoa tem seus próprios calos.

Humildade

A vida é cheia de valentões. E mesmo que você seja ou já tenha sido um, você não está escape. Por isso, é preciso escolher como você quer lidar com isso – sem se tornar parte do problema.

Esse é o dilema de Nate, um garoto tímido e apagado da equipe do Richmond. Ele é constantemente ridicularizado, negligenciado e destratado por outros personagens. Até que a situação muda e ele se sente mais confiante.

Mas ainda existem desafios sociais que o incomodam. Então ele passa a usar sua nova influência como armadura para explorar quem demonstra qualquer sinal de ‘fraqueza’. Fica claro que Nate faz isso como forma de compensar sua própria ‘fraqueza’.

Logo, ele passa a se tornar alguém que não gosta. Quando lhe avisam sobre isso, ele toma algumas atitudes que mostram que é possível ser amado e respeitado sem ser rude e arrogante.


E aí, qual sua lição preferida?

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Talvez eu (e todo mundo) saiba do que você precisa

Sim. Talvez, mesmo que a gente não se conheça, eu saiba exatamente do que você precisa. E, por mais que você possa estar duvidando, garanto que isso é menos prepotente do que parece. Me dê uma chance e vou te mostrar.

Porque uma das coisas mais transformadoras que me aconteceram foi…um livro. Claro.

Depois dele, fui capaz de aprender algumas coisas bem importantes. Conforme ia passando os parágrafos eu também refletia sobre minha própria vida, sobre minhas experiências, sobre coisas que eu havia fixado sem me dar conta.

Como eu já havia mencionado anteriormente, a questão da empatia é bem difícil para mim. Eu nunca entendi direito porquê. Mas depois dessa leitura.

Ela me fez concluir que sim, existe um conceito “fabricado”, complexo, cheio de palavras bonitas e definições longas.

Mas existe uma outra coisa, quando falamos disso e outros termos populares, que negligenciamos o tempo todo. Como as cores, afinal de contas, algumas ideias parecem ganhar novos formatos para agradar o público, para angariar novos seguidores.

Então, uma das coisas mais relevantes que esse livro em especial me disse, sem usar essas palavras, foi algo como:


“Querida, vamos parar de complicar e considerar como “empatia” aquilo que você SABE do que estou falando.”

 

Porque, sinceramente, eu sequer podia apreender o sentido dessa palavra.

Se hoje posso confessar a quem quiser que “eu não sou empática” antes era muito pior: eu era incapaz de tangibilizar “empatia”.

E é por isso que decido compartilhar algumas concepções que fiz a respeito, depois dessa leitura – e de uma porção de vivências, conversas e chororô.

Afinal, eu adoro constatar como as palavras são muito mais inteligentes que nós, que costumamos interpretar tudo ao nosso bel prazer.

Portanto, pensar sobre elas e sobre como elas impactam a nosso comportamento, nossa comunicação e nossa forma de viver é algo que me atrai.

Talvez você simplesmente não goste dessa palavra. Talvez você ache que ela seja apenas uma palavra boba que estão usando adoidado. Eu mesma penso isso ás vezes e talvez ela até seja.

Por isso gostaria de te convidar a discutirmos sobre isso sem medo de sermos julgados ou nos sentirmos inferiores, uns bostas, etc.

Então, acho mesmo que só temos a ganhar aqui.

Caso você use essa palavra, goste dessa palavra, que essa palavra já faça um sentido natural para você…bem, então nem preciso te explicar por que só temos a ganhar aqui.

Vamos lá.


Essa tal de Empatia

“e o Roque Enrow minha filha?” / calma aí, Ritinha!


A verdade é que, assim como eu, você também sabe exatamente do que se trata essa tal de empatia que todo mundo fala mas é o caviar daquela música do Zeca Pagodinho: nunca vi, nem comi, só ouço falar. 

É até possível que a falta dela te faça sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.

E é possível também que, grande parte das vezes que você se sente assim e associa a um monte de coisas, por mais que você negue, tenha relação direta com essa palavra bonita, gostosa e quase unicórnica.

E é mais possível ainda, caso as situações anteriores não tenham ocorrido, que você já tenha feito alguém se sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.

Para começar, existe um vídeo que explica bem isso. Se você assistiu, você vai achar milhares de outras palavras para a mesma coisa. Se não assistiu, recomendo.

Em resumo, não parece ser tão difícil verdadeiramente respeitar a dor do outro – como a dor do outro, não a sua.

Não deveria, pelo menos, ser um desafio tão grande, deixar-se a mercê por algum tempo para dedicar-se em aceitar o outro.

Porque, afinal de contas, “aceitar” o outro não é como um ato generoso que você faz pelo outro. É fruto de um ato generoso com você mesmo.


Seu “aceite” ou não em relação a uma pessoa não vai impedi-la de continuar vivendo, sorrindo, sendo feliz, sendo amada, conquistando coisas, tendo sonhos, aprendendo, evoluindo. 


Quando você “não aceita” alguém, posso dizer que só existe uma pessoa que, garantidamente, vai ser privada de qualquer coisa. Não se trata da outra pessoa aqui. Mas eu acho que, sobre isso, não preciso falar muito.

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você.” – F.W. Nietzsche


Mas essa noção é tão difícil que, grande parte das pessoas, quando precisa definir empatia, ainda menciona algo como: “se colocar no lugar do outro” (explanado num dos tópicos desse artig0).

E aqui me refiro a pessoas inteligentes, do bem, interessadas em lidar com a complexidade humana, com todos os vieses não tão agradáveis que resultam disso algumas vezes.

Somos tão naturalmente egocêntricos que até mesmo falar sobre essa ideia é conflituoso. Porque “a tal da empatia” é o exato oposto de se colocar no lugar do outro.

Tem muito mais a ver com deixar-se aberto para que o outro entre em nós (sem piadinhas!). Tem muito mais a ver com deixar-nos suficientemente vulneráveis para que o outro nos acesse realmente.

É por isso, talvez, que seja tão difícil.

Somos programados para sobreviver. E estar vulnerável a este nível é nos pôr em uma situação declaradamente ameaçadora e que rapidamente nos leva a perder o controle.

Ganhar uma discussão usando argumentos lógicos e racionais. Vencer uma batalha utilizando armas. Sair vitorioso de uma luta na porrada. Tudo isso agrada bem mais o paladar prático do nosso instinto mais primitivo.

Mas lidar com as emoções ainda não é algo que dominamos completamente.

Portanto, nos deixarmos vulneráveis, mesmo inconscientemente, nos leva diretamente à uma cena onde estamos na selva e desenhamos um alvo no nosso ponto mais fraco.

Parece um sinal claro ao universo de que desistimos de sobreviver e estamos prontos para sermos dilacerados.

E eu não poderia discordar. Sim: ao fazermos isso ficamos suscetíveis à chantagens emocionais. E nada como uma versão mais sofisticada do olhar de gatinho do Shrek para atrapalhar nossos planos de sermos invencíveis. 

Por outro lado, vencer é tão subjetivo que até dói pensar profundamente a respeito.

Se, de um modo, nosso instinto de sobrevivência nos leva a temer a vulnerabilidade, o mesmo mecanismo fica ecoando a assustadora percepção de que, alguma coisa vai faltar.

Essa relação pode ser entendida também no equilíbrio entre o egoísmo e o altruísmo.

Fato é que, algum lugar, dentro de nós, simplesmente sabe o que já foi profeciado: “Os extremos nos afastam do caminho”.

E então ficamos andando, levando choque a cada contato com um desses lados que, na verdade, podem conviver pacificamente e dar contorno à nossa jornada.  

 

Ta mas e aí, como faz isso?

Ao que tudo indica, temos esse medo absurdo de estarmos vulneráveis porque não sabemos ao certo como seremos recebidos.

“Essa postura será suficiente? Os riscos de ser destruído são compensados com a possibilidade de sentir que faço parte de alguma coisa? De que alguma coisa disso tudo faz sentido?”

Parece-me que nosso medo de nos mostrarmos, em toda a magnitude, em toda a complexidade, tem muito mais a ver com nossa própria dificuldade de nós mesmos aceitarmos nossa inferioridade poética.

De sermos, muitas vezes, incapazes de dizermos para nós:


“Ei, você foi realmente besta aqui. Mas isso não faz de você alguém detestável. Faz de você humano, e sempre é possível melhorar isso, tudo bem?!”


A forma mais fácil de saber que alguém sofre desse mal, é observar como ela trata as pessoas. O reflexo mais evidente de como lidamos conosco, é analisar o modo como lidamos com o outro.

Aquela pessoa que você detesta, que você simplesmente não suporta lidar ou conviver, provavelmente tem alguma característica sua da qual você se culpa, se envergonha e odeia.

Quem sabe você mantenha essa característica tão bem escondida que nem você a perceba.

Mas, por mais que ás vezes seja desagradável lidar com isso, por mais que nos cubramos de distrações, ainda assim, os fatos estarão lá.

E mesmo que a razão do não bater de santos com alguém seja por alguma característica dessa pessoa que você deseje, ou simplesmente te lembre algo que você não goste de lembrar: existe algo importante aí. E parece difícil discordar:  

“Tudo o que nos irrita nos  outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.” – C.G. Jung

 

Sim. Eu sei.

É geralmente difícil engolir isso. Tem um sabor amargo.

E sei porque, minha primeira reação ao assistir um vídeo a respeito (que eu procurei e não encontrei, mas você pode encontrar coisas similares buscando por “projeção” e “teoria do espelho“) foi algo como:

“Ei, Sra. Dra. Super Psicóloga. Você pode ser incrível e sabichona, e estar apenas parafraseando outros pesquisadores e estudiosos aclamados. Mas isso só pode estar errado.” 

Então: calma. Eu não sou psicóloga, super, doutora nem senhora. Estou apenas parafraseando, só para citar alguns, Jung, Lacan, Freud, Robert Bly e Nietzsche (mesmo que você tenha facilidade em identificar os meandros duvidosos na obra de cada um deles, é insensato simplesmente descartar isso).

Mas, depois de ter acesso a essa afirmação, foi inevitável não avaliar minhas interações com outro olhar.

Fez sentido a afirmação de que “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”.

Foi incômodo perceber que ser intolerante, que não estar disposta a compreender as outras pessoas, enxergar seus contrastes, aceitar suas pequenezas não me fazia superior. Nem inferior.

Era apenas a consequência de eu não aceitar me compreender. Não me perdoar pelas minhas pequenas, por eu mesma ser ridícula e me preocupar com pouco.

Eu não estou tentando justificar meus erros. Estou exercitando a vulnerabilidade: eu sou essa merda. E tudo bem.

Se me falta indulgência ao lidar com as pessoas, é porque mal tenho o suficiente para mim mesma. Essa palavra, que antes eu entendia como permissividade – e que por si ressoa como negativa aos meus ouvidos – seja, talvez, a chave dessa tal de empatia.

 

Não por coincidência, a definição que faz mais sentido para mim agora, é a primeira.

E os opostos (severidade, antipatia, aversão, severidade, crueldade) são justamente o que distribuo para mim e, eventualmente, para quem tem o azar de estar por perto quando estou menos autoconsciente.

Essa outra característica, que antes tinha um conteúdo predominantemente negativo, é o que mais busco me tornar.

E também é o que tem a ver com “essa tal de empatia”, com estar vulnerável, mas consciente.

Assim, dispostos e conscientes – sem que ninguém nos julgue, nos pressione ou nos cobre – conceder a permissão (graças à disposição de perdoar) que o outro nos mostre o mundo sob sua perspectiva e, possibilitando darmos mais consistência à estas conexões.  


Mas um pouco de prudência não vai fazer mal

O problema é que você não vai pensar em desenhar um alvo no seu ponto mais fraco se não confiar plenamente, por algum tipo de inteligência coletiva, de que aquilo vai dar certo.

E, nesse ponto, “dar certo” significa muito mais o que você está disposto a entregar do que a expectativa do que farão com aquilo. 

Porque, mesmo que te destruam ou tentem, você saberá que fez sua parte e confia que saíra mais forte. Isso só acontece, se você se ama o suficiente, se você se ama o suficiente para ser autocomplacente.


Eu concordo: dói amar os outros e não ser amado de volta. Mas nem se compara à dor de não ser capaz de amar a si mesmo.

Essa condição sim é que nos torna vulnerável de um jeito perigoso.

Amar os outros tem algo a ver com amar tanto a si mesmo, e em confiar tanto nisso, que não importa se tentem usar sua aparente fragilidade contra você.

Não estou falando das pessoas que elogiam a si mesmas. Que gostam de falar dos seus louros. Porque essas pessoas estão bem longe disso.

Estou falando de simplesmente você ser capaz de fazer um high-five individual no ar e falar:

“Cara! Você manda bem! Ás vezes você manda muito mal. Mas você é massa. Segue em frente. Que o que os outros fazem não tem que afetar o teu caminho. Acerta a sua bússola e deixa que cada um acerte a sua”

Essa postura, que foi tão mal-falada e pregada de forma negativa, é o que na verdade nos fortalece como pessoas e, consequentemente, como sociedade.

Quanto mais gente ter essa noção, mais fácil será nos conectarmos. E, sei lá, vai saber se Narciso não foi empurrado. As conspirações estão aí para quem quiser.

Afinal de contas, quem gosta de mitologia sabe que, na representação romana, Narciso é Valentim – nome bastante utilizado em vários países para celebrar a perseverança e vitória do amor, mesmo a partir de contravenções cheias de pureza (não apenas o amor eros, mas o amor fraternal também; frequente, mas erroneamente, desenhado, como Cupido).

Embora digam que ele era arrogante, orgulhoso e desprezível, é um mito. Então, tudo é possível.

Verdade seja dita: a maioria de nós tende a ficar incomodada com quem emana amor-próprio.

Faz muito mais sentido deixar que as pessoas se sintam desprezíveis e precisem desesperadamente da aprovação alheia que fará com que submetam àquilo que, genuinamente, não era do seu interesse.

E é por isso que esse artigo não começa com: amem todas as pessoas.

Além de incoerente, isso também seria muito imprudente. A ideia não soa natural.


Quando a maioria de nós precisa escalar frias montanhas ou mergulhar fundo em mares desconhecidos para preservar o autoamor, dizer para amarmos todas as pessoas parece mais um grito de desespero do que de salvação.


É impossível estar pronto para essa aventura. Ela se torna um ato de suicídio muito antes que de glória ou nobreza.

Então, empatia seja, talvez, um dos benefícios de todo esse processo.

Um resultado entre o equilíbrio sistêmico entre ter amor o suficiente por nós mesmos, para que possamos ter amor de sobra para os outros.

Empatia é o menor dos nossos problemas. Enquanto aquilo que realmente importa for ignorado ela, basicamente, importa muito pouco.  

Então ta.

“All you need is love. Love is all you need”


Mas “amor” é muito complexo também. Então, espero que essa leitura tenha feito algum sentido.

E mesmo que não tenha feito…vamos ver se estamos nos entendendo e falar sobre isso?

O que, pra você, é empatia? Você se considera empático(a)? O que você recomenda ou têm feito para isso?

Que outros artefatos do comportamento podemos utilizar?

Porque, para mim, como eu disse, é apenas um maravilhoso resultado de uma porção de coisas que a gente faz para se sentir vivo, para sentir que fazemos parte de alguma coisa.

Nos conectarmos uns aos outros, não por dependência ou por precisar disso para propriamente viver ou ser feliz, mas para dar outro sentido à nossa perspectiva, parece ser exatamente isso.  



PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Falarmos com respeito e um olhar gentil sob outras perspectivas exige que tenhamos a capacidade de preservar isso conosco. Então, discutirmos sobre qualquer coisa, usando esses atributos e essas regras básicas de convivência positiva, de diálogo sem ofensa e de conversas realmente produtivas, parece ser um ótimo caminho para nos conectarmos. Por isso, a prática de hoje não poderia ser mais metalinguística. Portanto, convido aos interessados que:
1. Percebam qe alimentar esse blog é tremendamente difícil e geralmente desafiante, gasta um temo enorme e, se é útil para você, poderia ser muito bom que eu soubesse disso;
2. Compartilhe com as pessoas com quem você confia e com quem você acha que pode se conectar mais e melhor ao dialogar sobre coisas desse tipo;
3. E comente aqui embaixo! Porque os comentários estão liberados. Desde que se mantenham como um espaço de debate coerente, saudável e construtivo.
Ah! Se tiver alguma sugestão, nos envie um e-mail!

 

Continue lendoTalvez eu (e todo mundo) saiba do que você precisa

As histórias por trás de toda história

Desde o início eu sabia que haveria um tipo específico de artigos onde eu traria reflexões inspiradas ou baseadas em filmes, séries, músicas e livros.

Porque sempre tive a impressão de aprender muito sobre a vida, pessoas e relacionamentos com essas coisas, com personagens, com histórias, com aventuras que eu não havia vivido mas de cujos louros eu poderia usufuir. 

Portanto, eventualmente, vou trazer uma abordagem específica, de alguma coisa que mexeu comigo, me fez ir além. Sabe aquele livro, filme, série que te deixa sem ar? Que acaba e você fica paralisado, atônito, com a cabeça a mil? Ou que você passa a semana toda pensando sobre? Então.

Essas coisas que a gente não consegue descrever, adjetivar com poucoas palavras, digerir em alguns minutos. Essas coisas que dá vontade de conversar a respeito, escrever a respeito. É disso que se trata.

Assim, está oficialmente lançada a série Coisas que São. Adianto que minha pretensão não é tentar ocupar um espaço da crítica de cinema ou literatura. Mas sim usar histórias incríveis para falar daquilo que a fantasia entrega para a realidade. Afinal, dizem que a vida imita a arte, mas em algum ponto, ovo e galinha se tornam pontos de inícios e finais. 

Não é o que você está pensando!

Bem, eu não posso evitar estrear com esta obra confusa e genial, no meu ponto de vista. Preparem-se, porque vou compartilhar uma bolota intragável que consumi há alguns meses.

Uma bolota com nome, elenco, fotografia, produção e uma espécie de…trilha sonora. Posso dizer que foi um filmezinho bem do sem-vergonha, que entrou infiltrado na minha lista interminável. 

Como assim? Acontece que, uma vez, enquanto assistia a um vídeo ou série de trailers (ah! o ócio), apareceu o trailer de um filme que, na ocasião, me despertou atenção.

Tratava-se de uma mulher que tinha o sonho de cantar, mas como o marido não a apoiava ou entendia ela decidiu partir rumo ao sonho. Só que ela não cantava muito bem e o caminho parecia longo.

A partir daí, o que eu fiz foi o que qualquer pessoa faria: anotei e guardei o nome desse filme que me interessou tanto em um lugar impossível de perder.

E, adivinhem?! Eu perdi, lógico.

Até que me deparei com a sinopse de um filme e pensei que só podia ser ele.

Adivinhem, de novo? Não era, claro.


Mesmo assim, algo na sinopse do filme que não era me atraiu. Pensei: “Por que não?! Quem sabe um dia?”. Até que o tal dia chegou. Entre os milhares de itens da minha lista, alguma coisa me levou a descobrir este. E que bom. Meu instinto, mais uma vez, me presenteava com uma excelente oportunidade.

Foi sim aquele tipo de filme. Sabe? Que, quando acaba, deixa a gente boquiaberto, andando meio torto. Peito aberto. Em transe.

Demorei para “acordar” e passei dias pensando. Talvez dei sorte e o filme me pegou no momento certo, talvez simplesmente seja incrível e você precise ver.

Então, vamos falar, SEM SPOILER sobre…

Marguerite!

Para começo de conversa: Tudo em Marguerite não é.

Não era o filme que eu procurava e anotei no papelzinho. Mas gostou desse negócio de me enganar, e continuou não sendo. Marguerite não se trata de uma cantora desafinada na sociedade elitista da Paris dos anos 50. Não se trata de uma mulher rica que compra todos os seus sonhos e caprichos. 

Marguerite, talvez, se trata de um ser-humano cheio de posses que teve o azar de ter um sonho. Se você assistiu o trailer antes (como eu) não se iluda: não temos aqui uma comédia. 

Essa ficção, inspirada na história real da socialite Florence Foster Jenkins, não se trata de coisinha banal. Não dá para pôr na sessão da tarde – ninguém suportaria mais do que Edward Mãos de Tesoura por lá. Aqui, temos uma verdadeira obra-prima da frustração, da crença, da entrega.

Marguerite trata das paixões que não sabemos gerenciar mas sem as quais jamais conseguiríamos viver. Todas elas. Físicas, emocionais, espirituais. Nossas obsessões, nossas crenças, nossas demandas mais urgentes e excruciantes.


Marguerite trata da solidão que encontra fim na fé e na arte. Marguerite, a personagem, por sua vez, não é uma cantora desafinada. Ela é uma idealizadora. Uma artista presa num corpo e numa condição.


Em resumo, não se trata de um romance nem propriamente de uma crítica, mas também não é um drama. Sequer é um drama. Como você vê, é difícil até para mim falar sobre Marguerite.

Mas vou seguir tentando, mencionando alguns tópicos que falam do que Marguerite é – sem simplificar a sua vida. Porque Marguerite é complexo demais, e falar a respeito de forma simples seria, no mínimo, um desperdício.

 

Detalhes, inconstância, não-pertencimento e o encatamento de cada essência – como a vida real!

     

A obra, acima de tudo, conta a história de pessoas que se conectam pela mesma razão: vagam presas, limitadas, condicionadas, ocultando o melhor de si.

Marguerite, o longa, não parece ter a pretensão de colocar em caixas de heróis e bandidos, bons e maus. Não se preocupa, inclusive, com atos catastróficos.

Marguerite se trata dos detalhes. Do olhar que abaixa. Das sobrancelhas que expressam. Do barulho que parece um gato miando, escondido em algum lugar. Das cenas da caça que não teve chance. Do cuidado e da complexidade que só quem vive pode degustar.

Ora ela é louca. Ora ela é adulta. Ora é criança. Ora é ambiciosa e audaz. Ora inocente. Ora profunda, ora superficial. Ora cheia de orgulho, ora sem orgulho nenhum.

Ela é, por fim, humana. Ela é como eu e você. E por isso que se encaixa tão bem. O não-pertencimento é difícil para Marguerite como para todos nós. 

Podemos até dizer, por exemplo, que a abordagem de um casamento fracassado e de fachada é importante na trama. Mas, de novo: é mais que isso. 


É a manifestação da complexidade das relações, do status, das normas sociais subjetivas e como isso afasta ao mesmo tempo que aproxima.

 

Claro que, no olhar ocidental, moderno e evoluído (ainda bem) somos capazes de enxergar em George um cretino egoísta. Mas se realmente nos esforçarmos em nos tornarmos empáticos, veremos também um homem carregado de medos e crenças que, nem assim, impedem de preservar um genuíno carinho pela esposa.

Um carinho, bem verdade, freado pela sua própria incapacidade de se aceitar que, por sua vez, reflete-se na flexibilidade em aceitar aquilo que sua mulher representa: a extravagância dos que seguem autênticos.

Já, em Madelbus, podemos escolher ver um homem misterioso, ora assustador, ora apaixonado, ora obcecado. Ora bondoso e generoso. Ora capaz de fazer o que for necessário para preservar sua protegida.

 

A velha necessidade do julgamento e a urgência atemporal da empatia 

Falamos de George e Maldebus. Mas também Marguerite tem seus excessos.

Como poderia ser diferente? Rica, desde sempre e conduzida apenas a casar e exercer um papel social, seria natural que se buscasse caminhos e caprichos que distraíssem a personagem.

A verdade é que cada um de nós tem suas próprias manias. Precisamos delas, de algum jeito estranho. Apenas adequamos essa necessidade (de ter manias para chamar de nossas) à realidade em que vivemos, buscando um meio de torná-las possíveis.

Criamos estas manifestações de singularidade por diversas razões e ás vezes nem as percebemos. Mas elas não surgem do nada e sempre têm uma construção, um ponto de onde ela se originou e tornou-se indispensável. Inclusive, coicidentemente, falei sobre isso aqui recentemente.

Assim, mesmo quando notamos estes padrões, não os assimilamos como manias. São hábitos, são nosso modo particular de ser no mundo. As do outro sim, facilmente podem ser interpretadas como manias, frescuras, bobagens.

Então: não. Comer apenas comidas brancas não é uma mania para Marguerite. Não é uma frescura. É um objetivo. É a maneira pela qual ela ameniza uma dor latente de não ser tanto quanto sente que pode, que deve, que nasceu para ser.

É um modo, talvez, de sentir que tem algum domínio sobre sua vida: ela não controla o que sai de sua boca, mas este pode ser sua maneira sutil e estranha de decidir o que entra.

Também é possível concordar que é incômodo o esforço em mostrar esse lado doloroso de se ter tanto dinheiro a ponto que ninguém estar disposto a ser honesto. O discurso, embora válido, não faz mais sentido: somos minorias demais.

Mas para garantir que tenha ficado claro: também não se trata disso. Sobre riqueza ou pobreza ou os méritos de cada lado. Se trata de empatia. De seres-humanos. De acreditar tanto nos sonhos que ninguém ousa arrancar isso de você.

Se trata de um homem que se entrega ao amor de uma mulher brilhante e, ao mesmo tempo, vulnerável. De um garoto que não aprendeu a crescer e precisa de fugas. De uma talentosa voz incapaz de lidar com a entrega . Esse é o entorno de Marguerite. 

Sobre ela, interpretada magnificamente por Catherine Frot, há algumas características fixas e fáceis em nossas expectativas: cantora, velha, rica, desafinada.

Mas ingênua, jovem, pura, fresca, leve, solta também são adjetivos que facilmente podemos destilar para Marguerite e que provavelmente são mais adequados à sua essência.


Um exercício de paciência

Além de tudo, Marguerite tem seu ritmo. É um filme lento. Cheio de pausas. Com cenas que a princípio não fazem sentido e com espaços que demoram.

Marguerite é sim um exercício de paciência. Mas não nos vence pelo cansaço. Nos vence pela coragem.

Assim como a própria personagem, que ao contrário das primeiras suposições vai, aos poucos, mostrando que não conquista as pessoas que seguem ao seu lado por causa do dinheiro, mas porque os inspira. Ela os ganha pela pureza e autenticidade sem ser arrogante, boçal, prepotente.

Embora rica, embora profundamente comprometida há anos com sua prática errática, ela escuta. Ela está disposta. Ela ouve. Mas ninguém quer lhe dizer o que ela precisa. E disso ela não tem culpa.

Marguerite, com toda essa paciência, me impactou. Me ensinou coisas para as quais eu não estava totalmente preparada. Algo em Marguerite parece um soco em algum lugar no esôfago.

Depois de engenhosamente construída como mito, como rainha, como musa inspiradora.

Manipulada de forma mais cruel que personagens de um livro, que ganham sua própria vida aqui, ainda deixa um poderoso alerta: cuidado para não estar vivendo o sonho de outra pessoa. Afinal, para Marguerite isso nunca foi tão verdade.

Entregou olhares, e chegadas que nunca vieram. Driblou meu senso precipitado e falho de julgamento e me mostrou que há muito mais quando estamos dispostos a ver as matizes. Lembrou de como cada um é, do seu modo, essencial para toda história. E me fez pensar nas inúmeras histórias escondidas atrás de cada um.

Por isso tudo, pela primeira vez, um filme exigiu de mim paciência, sem me irritar.

 

O que podemos aprender

Como eu disse, é possível extrair muito aprendizado de praticamente tudo que vivemos, vemos, sentimos. E a ficção tem um enorme potencial de fazer issso. Portanto, as coisas mais importantes que Marguerite me trouxe foi a lembrança, não necessariamente nessa ordem, de que:

  • Nós somos os únicos responsáveis por acreditar nos nossos sonhos.
  • Alguns sonhos são maiores que nós. Outros, não são sonhos. 
  • É importante descobrir o que, de verdade, nos transcende e o que é fuga, válvula de escape. 
  • Autoestima é ótimo, mas  o ego e a vaidade podem cegar e nos confudir.  
  • Quando olhamos para alguém, só vemos a superfície, sempre há mais. Muito mais. 
  • As razões do outro são facilmente convertidas em manias, as nossas, em particularidades. 
  • Sinceridade é importante, mas deve ser aplicada com gentileza. 
  • O bakcground de cada um pode ser surpreendente, mas descobri-lo exige cuidado.
  • Seres-humanos são complexos e, na grande maioria das vezes, só estão tentando fazer o melhor que podem
  • A intuição e sensibilidade aos detalhes podem ser cruciais na tomada de decisões.
  • Ingenuidade, vulnerabilidade e fé são agentes eficazes em conectar pessoas. 

Bom, imagino que, se eu assistir novamente, a lista aumentaria. Mas acho que está de bom tamanho. 


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Bom, temos e não temos algo complexo para a prática de hoje. Afinal, depois da geléia mental do meu cérebro, não poderia encerrar diferente. Então, vamos lá.
1. Que mentiras você tá contando para si mesmo? Escreva em uma folha tudo aquilo que vêm à sua mente, avalie cada tópico, selecione um mais alarmante, e guarde.
2. Analise como você informa às pessoas sobre suas expectativas e sentimentos e reflita sobre como interage com a sinceridade: Você tem medo de falar a verdade? Ou fala verdades demais? Como isso afeta as pessoas ao seu redor? E a você?
3. Agora, investigue as duas respostas e trace uma meta que melhore sua relação de verdade com o outro. 
Ah! Se tiver alguma sugestão, nos envie um e-mail!

 

Continue lendoAs histórias por trás de toda história

Você realmente sabe de onde (isso) vem?

Como costuma acontecer, sem identificar com clareza o gatilho, me peguei pensando em um aspecto que somente a partir daquele momento, passou a soar curioso: a base sob a qual construímos nossas percepções.

Veja, temos a tendência de pensar na vida apenas no espectro em que passamos a existir nela. Ignoramos, sem querer mesmo, o que aconteceu antes de nascermos, antes de sequer sermos cogitados. 

Não. Não só antes de nós, mas antes dos nossos pais, antes dos nossos avós, muito além, inclusive, nessa régua antecessora. 

Então, a partir dessa percepção de curtíssimo prazo, avaliamos as pessoas e as situações.


De onde isso vem?

Colocamos rapidamente as pessoas, os acontecimentos, tudo, em caixinhas na nossa mente. Mas, de onde isso vem?

Acredito ser um impulso primitivo de sobrevivência: precisamos saber o grau de interação que podemos ter com aquilo que chega até nós.

Quando nos deparávamos com mamutes furiosos e famintos não era natural pensarmos:

“Oi, mamute! Sei que agora você está furioso e faminto, mas por favor, me conte sua história.” 

Ou então:

 “Cara. Você já parou para se perguntar por que você é um mamute?”

e ainda:

“Que atitudes, como mamute, você poderia mudar para ser um mamute mais feliz?”.


Simplesmente não se tratava disso.

Mas continuar avaliando os fatos do presente com base em um passado distante enraizado em nós perde bastante o sentido quando lembramos que não somos nem mamutes nem homens corcundas, mudos, cobertos de pêlo que precisam aniquilar o próximo para sobreviver. 

Evoluímos e, em quase todos os aspectos que posso me lembrar, não consigo pensar em um que valorizamos tanto quanto aqueles capazes de justificar nossas falhas de pensamento e ação.

 

Vamos testar

Se eu lhe perguntasse agora, por exemplo, seu nome, sua idade, o ano em que nasceu, ou a cidade em que nasceu é muito provável que você saiba responder. 

Talvez até tenha conhecimento do que acontecia no seu país, a idade da sua mãe ou do seu pai quando se tornaram sua mãe e seu pai. 

Mas você saberia dizer com precisão estes dados do seu colega de trabalho? Como foi a infância dos seus pais ou de alguém que você simplesmente não consegue entender? 

Você pode, sem esforço algum, pensar nas pessoas que te trouxeram ao mundo, te criaram e fizeram parte do seu desenvolvimento – sua tia, seu filho, seu professor – como pessoas “comuns”, sem associá-los aos papéis que exercem ou exerceram em sua vida?

Talvez eu esteja errada. Mas não conheço pessoas que responderiam positivamente a todas estas perguntas .

E aqui, é claro que a metalinguagem parece estar presente também:


minha realidade me levou a construir uma determinada percepção sobre um assunto, guiou meu raciocínio e me levou a crer que esta, talvez, seja uma verdade. 


E assim seguimos nos pregando peças mentais. 

Pode ser, pode não ser. Mas a base sob a qual ela foi construída é relativamente fraca, baseada apenas no que vivi ou vi e ouvi daqueles que convivem comigo.

bolha social escopo

Nós acabamos, invariavelmente, avaliando pessoas e situações com base em pessoas e situações do nosso círculo. Da nossa realidade. O termo “bolha” tem sido comumente utilizado para se referir a este comportamento.

Embora ele faça muito sentido, também pode ser bem variável, uma vez que se estenda para a parte técnica da internet em si.

Para reforçar a idéia, existe outra teoria bastante conhecida que pode tranquilamente ser utilizada aqui, em uma licença científica para lá de poética: o paradoxo do Gato de Schrödinger.

Salvo complexidades físicoquânticas próprias do estudo, e resumindo bastante, o experimento mental proposto em 1935 pelo austríaco Erwin informa que um gato é colocado em uma caixa completamente fechada.

Na caixa há um frasco de veneno e um átomo radiativo com 50% de chances de se desintegrar dentro de uma hora. Se isso acontecer, uma espécie de sensor acionará um mecanismo que quebrará o frasco do veneno, levando o gato à morte.

Isso significa dizer que haverá um espaço de tempo em que o gato estará ao mesmo tempo vivo como morto – até que, como propôs o físico Niels Bohr na solução conhecida como interpretação de Copenhague, se abra a caixa para verificar. 

Quando damos voltas ao redor das nossas próprias percepções estamos cegos sobre o que de fato está acontecendo na caixa. Nossa perspectiva é limitada àquilo que está facilmente visível aos nossos olhos e sentidos. Para estendê-la e conhecer algumas realidades, é preciso abrir a caixa – ou, sair da bolha, se você preferir.

Nessa mesma linha (e igualmente licenciada) não podemos deixar de mencionar a concepção do mito da caverna, de Platão, onde a verdade só seria conhecida por aqueles que saíssem da caverna, descobrindo que o que mais despertava o medo, era fruto de um jogo de luzes. 

Gosto de todos esses. Ainda assim existe, para mim, uma ideia que define isso de um jeito bem mais fácil: consideramos as coisas com base naquilo que estã dentro do nosso escopo. Existem diversas definições de escopo, mas a que mais gosto é aquela utilizada no meio tecnológico:

Na ciência da computação escopo é um contexto delimitante aos quais valores e expressões estão associados. O tipo de escopo vai determinar quais tipos de entidades este pode conter e como estas são afetadas, em outras palavras, a sua semântica.


Assim, o que existe atrás da cerca não é somente desconhecido. É ignorado completamente, como se não existisse e, portanto, irrelevante para qualquer entendimento.


A realidade (ou não) dos escopos

Para mim, esse conceito é incrível porque mostra como nossas verdades se constroem. Nós não vemos além do nosso escopo (além da cerca), porque além do nosso escopo não existe.



Mas existe, e interfere, inclusive, naquilo que está dentro do nosso escopo e não sabemos de onde vem

Por exemplo, quando alguém age de forma rude conosco, a percepção de que essa pessoa é ou está rude, é ou está mal-humorada, está dentro do nosso escopo.

Mas essa forma de agir pode ter inúmeras variáveis e perspectivas, pode ter uma história, um acontecimento do passado que formou tal personalidade ou um acontecimento recente que levou a essa reação.

E esta história, seja ela recente ou de muito tempo atrás, normalmente está fora do nosso escopo.

Ao ficarmos apenas com a percepção do que está dentro do nosso escopo e analisarmos as coisas sob este aspecto, podemos dizer que nossa base é fraca. O mesmo acontece ao interagirmos com alguém novo. 

 


quando conhecemos uma nova pessoa —  ao contrário do que nossos instintos tentam nos ensinar  —  ela não se resume ao que optou (ainda que inconscientemente) mostrar de si naquele dia, naquela ocasião. 

 

É estranhamente óbvio e igualmente necessário lembrar, no entanto, que cada pessoa, cuja existência passou a ser percebida por nós (e não se resume ao que nós percebemos dela), tem uma história, um passado, sonhos que foram deixados de lado, sonhos que ainda o serão.

Nossa tendência, contudo, é vermos tudo sob um escopo cujas fronteiras são visíveis somente a partir do momento que passamos a existir nele. 

Um dos maiores problemas disso acontece quando, mesmo que não estejamos realmente num determinado escopo, um pedacinho dele escapa perto da gente. Algumas circunstâncias ou pessoas respingam nas proximidades do nosso escopo, vemos uma porção daquilo, e então acreditamos que é o suficiente para interpretamos, com base naquela percepção fracionada e muito limitada.

Afinal, existem diversos fatores que influenciam na construção do comportamento e modelo mental das pessoas ou no desenrolar das situações. Alguns podem, por exemplo: 

a. estar muito no fim,
b. estar muito no começo
c. não estar indo muito bem ou num bom dia
d. estar atravessando um período muito bom ou um período pra lá de ruim.

E então, tomamos decisões a respeito de coisas que, por mero acaso, aconteceram ao nosso redor. Mas cuja estensão ou complexidade nos escapa completamente. 

Assim, algumas decisões são tomadas a partir desses subsídios bastante superficiais, que geralmente nos trazem à luz mais informações sobre nós mesmos do que propriamente àquilo que nos propomos analisar — ou que precisamos fazê-lo por alguma razão. 

A partir daí, desse exato momento, baseando-nos em um minúsculo fragmento de espaço-tempo que favoreceu (ou desfavoreceu) aquela ocasião, decidimos o que pensar a respeito destas interações universais.

O que perdemos 

Ok. Mas afinal, para onde vamos com essa lenga-lenga? É que estive pensando nisso por um longo tempo, e então parei para fazer uma rápida revisão de todas as conseqüências.



Quantas pessoas incríveis deixei de conhecer? Que profundezas da complexidade humana eu perdi? Quantas histórias surpreendentes eu não ouvi ou li? Como esses fragmentos perdidos, da existência de algo que eu só vi um pedaço, me afetaram? 


Até que ponto me construí com base na construção fragmentada do que chegou até mim?

Quem sou, é fruto mais de relações e análises profundas, ou mais de percepções fragmentadas da vida – da vida em que não existi, mas existiu muito antes de mim e seguirá existindo mesmo que sem mim?

Estou cheia da existência das outras coisas ou das minhas próprias coisas?

Na dúvida, decidi revisitar episódios mais antigos e me deparei com tudo que não sei e provavelmente nunca saberei. 

Não doeu, mas fiquei pensando qual o grau de importância isso precisa ter nas microdecisões diárias que tomamos todos os dias. Se tivesse que ser diferente, o que deveria mudar?

Bem, já entendemos e aceitamos (espero) que não somos nem mamutes nem homens primitivos incapazes de articular emoções e buscar caminhos melhores para vivermos em conjunto. 

Embora enxergar o problema (da falta de empatia, da agressividade na comunicação, da força do ego, do impulso do julgamento, etc)  seja o primeiro passo, a sequência é muito mais desafiante.

 


———

Como resolver?

 

Não sei.

Eu também sou horrível e freqüentemente observo como a empatia é algo difícil para mim. Mas, considerando as circunstâncias, acredito que temos algumas opções.

Afinal, nada pode ser pior que agir com base no que vimos ou estamos vendo. Assim, listei, para mim mesma, algumas alternativas, que compartilho abaixo:

 

  1. Deixar o julgamento para o mais depois possível, até que ele deixe de existir
    Comecei a, simplesmente, me punir mentalmente sempre que o julgamento automático vinha á minha cabeça.
    Por mais positivo que fosse, por mais complexo que fosse. Porque julgamentos superficiais negativos são mais fáceis de perceber e controlar.

    Mas acredito que quando fazemos julgamentos positivos imediatos, por melhor que isso seja, em algum lugar na nossa cabeça é como se disséssemos: “Bem, tudo bem julgar. Estou julgando, e é algo bom. Então julgar pode ser algo bom.”

    Pode ser bobagem, mas tenho preferido não arriscar por enquanto.

    Deixo momentos assim apenas quando meu julgamento possa e deva ser prudente e ponderado, como tomar alguma decisão que impacte na minha vida. Ou que impacte realmente na de outras pessoas.

 

  1. Lembrar-se sempre da história que não estamos vendo

     
    Quando alguém for ou parecer ruim, tenho tentado pensar no pano de fundo daquilo. No que alguns chamam de background.

    E penso que isso seja válido mesmo com pessoas próximas a nós, com as quais temos intimidade e conhecemos há muito tempo: temos a tendência de supor que conhecemos nossos amigos.

    Até acredito que seja verdade. Sabemos o que precisamos saber deles, sabemos o suficiente para tê-los tornado nossos amigos. Pessoas que sabem da nossa vida, conhecem ou até convivem com a nossa família. Mas em alguns casos, esses backgrounds, essas histórias, sequer são conhecidas ou lembradas por eles.

    Em outros casos, pode ser tão difícil lidar ou gerenciar, que a opção mais acertada é ocultar aquele pedaço de nós e podemos até ser pegos de surpresa diante de uma reação aparentemente desproporcional de um amigo.

    Não há motivo para chateação prolongada. Afinal, se pararmos para pensar, todos nós já prefirmos deixar escondido algum aspecto da nossa vida ou personalidade. E tudo bem. Não precisamos ser um livro aberto o tempo todo.

    Nossas histórias pertencem a nós e mostramos ao mundo aquilo que estamos prontos para mostrar. Isso parece algo muito óbvio e fácil de entender e respeitar até que aconteça conosco e tal habilidade é posta em teste – e eu espero que você não precise descobrir isso por experiência própria, como foi o meu caso.



  1. Quando possível, demonstrar genuíno interesse nestas histórias
    Essa já dei spoiler mas vou relembrar. Lembra do mamute? Então. Você não é mais das cavernas, e não convive (imagino) com mamutes. Por isso, você pode tentar fazer perguntas de genuíno interesse.

    É claro que você precisa realmente estar aberto ao mundo de outra pessoa e realmente estar interessado na sua história, no seu pano de fundo.

    Podemos, por exemplo, diante de uma pessoa ou uma situação difícil, dizer:
  • Desculpe, vejo que você não está muito bem. Quer conversar?
  • Sinto que está acontecendo alguma coisa, quer conversar?
  • Você não parece bem. Por que não me conta o que está acontecendo?

    Essa, ainda, é a mais difícil para mim! Nem sempre estou bem, e em muitos casos eu sou um mamute furioso e faminto. Mas mantenho isso em alerta no meu radar, e manifesto interesse genuíno sempre que estou pronta para ouvir de forma genuína.

    Aqui faz-se, respeitando o espaçamento de uma estrutura de tópicos, um ou dois parágrafos de finalização, contornando o post e encerrando da melhor forma possível, sem pontas soltas. Uma coisa que é bacana é finalizar com uma pergunta que pode levar a reflexão ou,  futuramente aos comentários



    Então…qual outra sugestão você teria? Já passou por alguma situação onde estas coisas ocorreram? Conte mais sobre suas experiências e perspectivas aqui ou aqui

 

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Dentro ou fora do seu escopo, faça uma rápida análise visual. Para isto recomendo:
1. Desenhar um círculo em uma folha e escrever nela todas as suas crenças. 
2. Ao redor, você pode desenhar círculos menores ou escrever ideias, percepções, situações ou pessoas que te incomodam. 

3. Depois avalie estas coisas fora do seu escopo e pense, uma-a-uma, como você poderia reagir e lidar com elas como um ser-humano evoluído 🙂

Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

 

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4 comportamentos para se livrar imediatamente

A gente não precisa esconder nossa preguiça ou indisposição de mudar atrás da máxima de que ninguém é perfeito. Ainda assim, com bastante frequência, é o que acontece.

E claro que ninguém é perfeito, mas cada um interpreta como preferir. Essa interpretação, no entanto, pode mudar ao longo da vida. A síndrome de Gabriela, por exemplo, me acometeu durante a adolescência e parte do início da vida adulta. Até que entendi que não era bem assim que  a vida tocava.

Talvez esse tenha sido ou esteja sendo o seu caso – ou, quem sabe, de alguém que você conheça. Portanto, de um modo ou de outro, espero que esse artigo te ajude a analisar alguns pontos. 

Vou contar (o mais resumidamente possível) como aconteceu comigo e você pode ir destacando os aspectos em que se identifica enquanto adapta para sua própria experiência.

Nota: Como vocês foram bonzinhos e não reclamaram (muito) do tamanho do último post, decidi fazer um menorzinho. Então a leitura é rápida mas importante.  


Nascemos, mudamos, amém.

Impactada pelo processo de autoaceitação, eu fiz bastante coisa errada. Primeiro porque o que eu achava que era autoestima se manifestava apenas como um instinto de defesa – útil durante um período, mas destrutivo a longo prazo.

Saí aos seis anos de uma escola onde meu nível de popularidade era até bastante elevado (se comparado com todo o restante). Na nova escola, segui tratando todos bem, mas era tudo muito diferente.

welcome to the jungle: eu era o cachorro

 

Então, rapidamente entendi que o jeito bonzinho e gentil de ser não ia funcionar naquele ambiente.

Cheguei a me enquadrar durante curtos períodos num contexto aqui, num grupo acolá e depois até fui capaz de fazer excelentes amigos com quem mantenho contato até hoje [obrigada, vocês me salvaram].

Mas fora essa partícula, todo o resto parecia apenas péssimo. Então finalmente “decidi” que eu não precisava de ninguém e f*. O problema disso?

Bem, o problema é que deu incrivelmente certo!

Eu não sentia mais nenhum tipo de carência, dor, rejeição, inadequação: claro, eu passei a viver sob novas regras, as minhas próprias, que funcionavam à medida que eu me mantinha cuidadosamente distante de qualquer tipo de socialização “perigosa”.

Isso significava horas sozinha sob o sol da quadra externa, trancada na sala nos dias mais frios e chuvosos, na biblioteca ou em algum canto escondido que eu encontrava para corroborar meu sucesso total.


Eu era muito feliz. Até que alguém me descobrisse ou eu precisasse interagir com o mundo real. 


Então, para não fazer fiasco, desenvolvi um método ultrapowermegahardcore que envolvia uma mescla de hostilidade, ironia, cinismo e blasesismo (o moderno whateverismo). Ou seja: melhor atirar de cara ou criar uma barreira do que correr riscos.

E logo achei um espaço para mim: eu era a pessoa que não se importava, que respeitava e me dava bem apenas os “freaks” (ou alguns “temidos”), que era ótima com o computador e com as palavras, incrível nas apresentações e trabalhos escolares, útil para resolver coisas ou ajudar amigos em situações de emergência ou necessidade.

Mais ou menos aí entrou o estilo Síndrome de Gabriela de ser. Se eu era boa, e ok, e aceita em algumas coisas…bem, então pareciam motivos o suficiente para suprimir todas as outras em que eu não era. Quem não aceitasse, a porta era serventia da casa.

Esse aglomerado de itens e associações foi um modelo de sobrevivência. E, em partes, funcionou. Em partes, passou. Em partes, deixou seqüelas. Porém, algumas coisas se enraizaram em mim e, até hoje, são difíceis de abandonar.

Isso não foi simples de perceber. Como já disse outras vezes, levei anos, precisei conversar com muita gente; ler muitos livros; analisar e estudar muitos conceitos e comportamentos; buscar terapia – entre outras resoluções.

É bem possível que eu ainda nem tenha descoberto tudo ainda, todos os resquícios desse “modelo de sobrevivência”. Mas a maioria só entrou em evidência quando as pessoas me falaram, e eu pude pensar, ler sobre esses problemas.

Ou seja: quando tive oportunidades mais palpáveis de pensar se aquele era realmente meu caso, se eu realmente fazia aquilo, e então buscar alternativas.

Por isso, optei por compartilhar: talvez algumas coisas sirvam para você, como muitas serviram para mim.

Pra não deixar muito longo (viu?!), decidi escolher aleatoriamente quatro destes itens. Se vocês gostarem e for útil para você ou para alguém que conheça, me avise que eu continuo e falo sobre outros!

 

1. Jugalmentos precipitados e críticos: ah mas aí…


Algumas pessoas acabam se encaixando no papel de quem resolve as coisas. Não sei exatamente o porquê e provavelmente cada caso é um caso.

De todo modo, normalmente quem está do outro lado é uma pessoa passando por processos de indecisão, dúvida, medo ou angústia.

Quando você é buscado por alguém passando por coisas assim, entende que é necessário pensar rápido, dar opções, ter critérios, analisar e definir. Por isso, é comum que essa assimilação leve a uma postura mais incisiva e firme.

Mas o problema é quando essa reação entra no piloto automático. E aí você se acha no direito de julgar, basicamente, tudo. Como se o mundo REALMENTE precisasse da SUA opinião sobre como resolver todos os problemas. 


Educação, boa vizinhança, maternidade, política, música, cultura: de repente você se convence que é perito em todas e certamente seu posicionamento sobre qualquer tema fará muita diferença. 


Não faz. Óbvio. Primeiro porque quase nunca existe uma verdade absoluta, segundo que, se ela existisse, não seria você (nesse caso, qualquer um de nós), em alguns dias, horas, ou minutos, que seria o agente revelador.

De modo geral, o mundo, a maioria das pessoas, grande parte das situações…estão basicamente cagany pra você, suas suposições, suas manifestações sobre um determinado assunto e lero-lero.

Liberdade de expressão e acesso a informação são ótimos e muito vindos, mas acredito que seja possível poupar muita energia ao escolher as batalhas pelas quais lutar. 


O que eu comecei a fazer:
Admiti o problema e comecei a me rodear de assuntos, pessoas e conteúdos que traziam e estimulavam uma postura diferente (um exemplo foi este canal, que recomendo demais). Assim, pude me sensibilizar sobre o problema, estando mais atenta para perceber quando eu voltava a ele e refletir/lembrar sobre o porquê de eu estar agindo daquela maneira, buscando formas mais saudávei. Nesse caso, pra mim, o silêncio.

 

2. Autosuficiência em excesso: eu não preciso disso

Terapia. Mais horas de sono e descanso. Aquele livro ótimo de auto-ajuda sobre como lidar com suas emoções, sua ansiedade ou a bagunça da vida. Fazer exercícios. Se divertir mais. Assistir aquele documentário ótimo do netflix. Ler aquele artigo importante sobre mindset. Comer direito. Manter as coisas organizadas. Mais generosidade com você mesmo. Tratar os outros melhor. Amor, carinho, afeto, relacionamentos saudáveis. Aprender uma coisa nova e importante fora do seu escopo.

Essas são todas coisas que, frequentemente, as pessoas dizem não precisar. É claro que em muitos casos não precisamos mesmo. Mas costuma fazer uma boa diferença e mudar a vida pra melhor.

Então, quando alguém recomendar algo a você, principalmente alguém com quem você tem uma razoável proximidade, considere. As pessoas não fazem isso a toa. Embora sempre possa existir maldade (como tudo), ainda assim sempre há algo válido a ser aprendido.

O que eu comecei a fazer: Quando você está passa alguns dias doente resolve em casa mesmo, dando um jeitinho aqui e ali, tudo bem. Mas quando você fica doente várias vezes e os sintomas duram muito tempo, levando a outras doenças, você se OBRIGA a ter uma postura mais severa.  Ir ao médico, tomar remédios mais fortes, adotar novos hábitos, etc. Comigo foi assim. Chegou um momento que não dava mais e acabei precisando de uma coisa que todo mundo dizia ser maravilhoso, mas eu achava bobagem, frescura. Eu dizia que não precisava. De repente, lá estava eu, tendo excelentes resultados e resolvendo problemas que talvez nem teriam existido se eu não tivesse sido tão resistente. Então pensei: “bem, se isso funcionou dessa maneira, que outras coisas que eu desconsidero também não poderiam trazer coisas ótimas?

 

3. Acreditar que algo não vai dar certo (antes mesmo de pensar em tentar): não dá.


Expectativas irreais sempre foram um problema para mim. Afinal, desde sempre fantasio diálogos e cenários. Claro: em algum ponto, descobri que isso não era um base muito segura para o desenrolar de coisas reais.

Portanto, na maioria das vezes que alguém me fala de algo que eu não sei fazer, que eu não domino, que eu não conheço, que eu não acredito, que eu desconfio, que eu nunca vi nem comi só ouço falar: não dá (bem, parece que eu não sou muito inovadora).

Algumas coisas, vamos combinar, não dá mesmo, ne pessú…tem umas coisas que nadavê. Mas várias outras viram tipo: “Não creio, era isso? Gentê!”.

Lembrando que é totalmente diferente, do que algumas pessoas consideram pessimismo. Em muitos casos, principalmente em tomadas de decisão da minha vida pessoal, eu me vejo calculando todos os problemas e me preparando para o pior.

No estoicismo, existe até um termo para isso, praemeditatio malorum, um dos conceitos mais importantes dessa escola filosófica.

Não, não. Não é disso que estou falando. Me refiro a coisas que simplesmente digo que não dá. Não prevejo problemas e tento preparar medidas preventivas para eles. A própria coisa É o problema. Porque não dá.

O que eu comecei a fazer: Embora eu não seja perita em nenhum dos itens dessa coletânea (e pra falar a verdade estou bem longe disso), posso afirmar, seguramente, que este é um dos mais difíceis para mim. Não sei explicar. Mas além de ouvir mais as pessoas, também comecei a me “forçar” a fazer determinadas coisas. E descobri que, quando a gente faz, uma coisa louca vira só uma coisa. A única coisa que separa algumas coisas da realidade possível, é nosso próprio evitamento. Descobri isso de um jeito bem besta, quando simplesmente decidi pegar a bicicleta e ir sozinha para outra cidade, mesmo que, na época, eu mal tivesse vencido 15km.  

 

4. Tentar resolver problemas ao invés de escutar e oferecer um ombro amigo: ah! e se você…



Várias pessoas muito importantes para mim me alertaram, de um jeito ou de outro, sobre esse problema. E isso aconteceu justamente quando a idéia de empatia passou a ganhar mais popularidade e entendimento.

É claro que eu não entendia coisa nenhuma do conceito. E mesmo depois que entendi a teoria, ainda tinha muita dificuldade em visualizá-lo na prática. Por isso que digo, digo, sem nenhum orgulho, que não sou uma pessoa empática. Mas não acho que isso seja bobagem e tenho me esforçado para ser.

Porque até bem pouco tempo atrás, eu era quem resolvia coisas. Eu era útil em determinados casos (ou achava que era). Essa, inclusive, foi a forma com que eu lidei comigo mesma, durante muito tempo.

Eu não me permitia sentar no meio fio da loucura emocional e chorar copiosamente. Eu pensava:


Nada disso, fofa. Limpe suas lágrimas, respira fundo e resolve isso. Nada de nhenhenhé, que a vida não espera e ninguém tem a responsabilidade de te ajudar com esse pepino.

Então eu diria que, no ranking, este item e o anterior competem pelo primeiro lugar. Para mim ainda é muito difícil simplesmente apenas ouvir atentamente, de coração aberto, e nada mais.

Ás vezes, confesso, corro o risco de sentir que a pessoa está perdendo tempo enquanto poderíamos, juntas, estar resolvendo. E é normalmente desafiante para mim, na hora, entender que AQUELE é justamente um caminho para resolver. É uma etapa do processo. Desabafar.

O que eu comecei a fazer: As oportunidades de praticar uma forma diferente de lidar com essa situação ficaram cada vez mais escassas, afinal ninguém quer compartilhar seus maiores problemas, angústias e dilemas com alguém que notavelmente não esta OUVINDO de verdade. Mas tento sempre me policiar. Ao conversar com amigos que não estão bem, tento lembrar de tudo que li aqui. Na minha cabeça, é sempre um emoji de “desespero, é agora, o que eu faço?”. Então, simplesmente, lembro: “Não faça nada, mostre apenas aquilo que você já é – amiga. Ela(e) é perfeitamente capaz de resolver seus problemas, mas se está aqui falando é porque busca apoio, carinho, conforto, compreensão”. Se você é como eu e também tem dificuldade mas deseja melhorar, eu recomendo muitíssimo esse livro e esse vídeo. E se tiver outras sugestões que ajudem, por favor, compartilhem


Enfim,

como eu disse, não me considero nem um pouco especialista em nenhum dos tópicos, mas sinto que evoluí bastante ao reconhecer estes comportamentos nocivos e tentar técnicas de desenvolvimento. E claro, sigo aberta à sugestões e recomendações! E também, caso você queira compartilhar outros comportamentos que julga válido mencionar nos outros posts dessa série, compartilhe!

E você? Se identifica com estes comportamentos? Já passou por isso ou conhece alguém que os executa? 

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Você realmente não precisa disso. Mas é possível que essa prática facilite algumas coisas para você, mesmo que você não tenha se identificado com as experiências ou comportamentos mencionados.
1. Anote em uma folha pelo menos cinco coisas que diferentes pessoas te dizem para mudar ou indicam que precisa ser melhorado (mesmo que você não concorde). Você também pode escrever o que já observou em si mesmo e te incomoda.
2. Avalie-os honestamente e escolha dois para considerar. Aqueles que você acredita que fazem realmente sentido ou mesmo que você vem sentindo consequências mais evidentes.

3. Ao lado de cada um, coloque possíveis razões para aquele comportamento. Vá na raiz. Investigue, faça um brainstorming com você mesmo.
4. Depois, defina uma rota alternativa sempre que esses gatilhos surgirem. Você pode definir, por exemplo, que a cada julgamento precipitado, fará um elogio sincero a alguém próximo ou subsutituirá por um pensamento positivo em relação aquela situação ou pessoa.
5.  Mantenha isso em mente constantemente e observe os resultados, mudando as rotas alternativas sempre que surgir necessidade e até mesmo acrescentando novos comportamentos nocivos. 
Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

 

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