O guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

A obstinada busca por controle é sempre uma péssima maneira de se orientar. Veja aqui algumas sugestões para deixar de ser um ótimo construtor de listas e simplesmente começar a jogar

Nada como começar do começo. E final de ano é sempre um incentivo à maioria das pessoas, porque os finais tendem a trazer, junto à vergonha e culpa constantes dos últimos trezentos dias, uma autocrença e determinação instantânea (que aparentemente tiram férias no resto do ano).

As resoluções de final de ano são, por isso mesmo, o clichê que protagoniza piadas e artigos como estes – principalmente entre 20 e 31 de dezembro de qualquer ano.  E eu não tenho absolutamente nada contra elas.

Para ser bem honesta, eu e as listas somos íntimas há anos e, seguindo com a verdade, não tenho a menor pretensão de abandoná-las tão cedo.

Portanto, saiba que não quero também mexer nas suas. Mas tenho aprendido que existe, nessa obstinação toda, coisas que costumamos ignorar.

Como já contei aqui ou aqui houve um período em que eu acreditava que coisas como alta performance, produtividade, desempenho, disciplina, comprometimento e total entrega ao trabalho eram, não somente o único caminho do sucesso, como o único caminho para uma vida minimamente decente.


Sente-se, vou servir uma caneca de ansiedade e um pratinho de angústia

Assim, durante um tempo eu vivia entre a corda bamba da vergonha e do empenho.

Me cobrava o tempo todo e me punia com rigor todas as vezes que eu não cumpria minhas próprias (altíssimas) expectativas.

Isso era bem ruim. Embora o maior problema fosse eu nunca ter reparado a estrutura que constituía aqueles tempos – que, de um modo ou de outro, começaram ali pela sexta ou sétima série e não me abandonaram até um bocado depois do término da faculdade (se é que se vão completamente).

Digo “de um modo ou de outro” porque esse padrão de comportamento assumiu várias facetas.

Uma das primeiras que recordo brotou quando o período escolar começou a complicar e eu não aprendia de forma alguma como fazer uma simples divisão.

Meus pais tentaram de todas as maneiras e, mesmo quando passei a fazer os exercícios sozinha eu não entendia como aquilo funcionava realmente.

Em matemática sempre fui péssima e, pelo menos durante todo o ensino fundamental, me culpei por isso. Porque sempre tive excelentes professores desta disciplina que, hoje, acho fantástica.

Além disso, eu tinha aulas particulares, ia aos plantões do colégio e alguns amigos e colegas sempre se mostraram dispostos a me ensinar – além, é claro, dos meus próprios pais e da minha irmã mais velha.

Então, empenhava intensas vias sacras e, depois de tudo eu acreditava que recuperaria a nota.

Fazia as provas certa de que desta vez eu havia superado e ia começar a ascender com os números e fórmulas. Então, eu as recebia de volta com uma pontuação horrível.

Foi difícil fazer com que os outros acreditassem que sim, eu estava me esforçando, eu estava estudando e fazendo as atividades; que sim, eu estava prestando atenção e me dedicando nas aulas particulares.

E depois de um tempo, tornou-se ainda mais difícil: eu simplesmente deixei de fazer aquilo tudo. Afinal, se eu havia me esforçado durante mais de dois anos inteiros sem nenhum resultado, o cinismo parecia a melhor opção e eu comecei a fingir que não me importava.

Nessa época minhas notas – em todas as disciplinas – caíram absurdamente. Eu matava aulas, desrespeitava regras, não cumpria com nenhum acordo nem me dedicava a nada considerado produtivo.

Gastava minhas horas lendo escondida. Escrevendo. Pensando na vida. Andando por aí. Flertando – com pessoas e novas atividades – em uma competição pelo vazio (e, por que não dizer, até roubando um pouco do armário de bebida dos meus pais).

Segui me sentindo profundamente inútil. Eu desejava mudar, mas a culpa, a vergonha e a sensação de que eu não era capaz me prostravam.

Embora algumas pessoas possam dizer – como na época já diziam – que estas eram desculpas para a preguiça, outras que se sentiam e se sentem como eu sabem do que estou falando.

Até que, depois de algumas tentativas comecei a colher boas coisas. Encontrei coisas com que eu me dava bem e que eram, de modo geral, aprovadas, e me dediquei a elas com afinco. 

Adoeci algumas vezes e só “mais velha” compreendi que a origem era muito mais profunda. Em resumo, as etapas foram mais ou menos assim:

Ilusão
eu achava que era incrível e invencível;

Compreensão
…descobri que não era bem assim e tentei avançar;

Desilusão
mas coisas boas exigem uma constante de sacrifícios e dores com as quais não lidei bem;

Cinismo
então escolhi desistir delas e esconder minha frustração comigo mesma sendo uma imbecil;

Inanição 
quando cansei, finalmente deixei que culpa e a vergonha me consumissem a  ponto de me prostrarem;

Falsa gratificação e entrega total
comecei a descobrir coisas com as quais, após me empenhar, eu obtinha algum sucesso e entregar toda minha energia a elas;

Adoecimento e caos
tudo virou uma bagunça quando eu descobri que nada daquilo poderia realmente estar certo se vinha me fazendo tão mal.


Foi depois da sétima etapa ou, como costuma acontecer, depois do caos, que decidi entender um pouco melhor como eu funcionava e novas formas de operar, sem morrer cedo demais ou ter uma existência miserável dedicada exclusivamente ao nobre grupo de “coisas importantes”.

Então li, conversei, descobri novas metodologias e ferramentas – e, desde então, assumi um permanente estado de teste e aprendizado que têm sido riquíssimo. Por isso, achei justo compartilhar algumas das lições mais relevantes. 

Eu as separei, organizei e ordenei e pude ver claramente como cada uma deles foi transformadora para mim, mas é inevitável destacar que elas trabalham melhor juntas. Espero que você aproveite!

  1. O método não importa
  2. Fazer é o mais importante
  3. Todo recurso é administrável
  4. Significação e autoconhecimento
  5. Procrastinação e perspectiva
  6. O equilíbrio não existe
  7. Falhar é do processo
  8. A única chance

 

1. O método não importa

Não importa se você usa GTD, Bullet Journal, um bloco comercial que ganhou numa feira, aquele aplicativo revolucionário ou um guardanapo.

O método simplesmente não vai resolver se você não resolver antes algumas coisas na sua cabeça. E essa é, com certeza, a parte mais difícil.

Recomendo fortemente parar de gastar tempo com métodos e coisas complexas.

Ler um livro inteiro sobre algum novo método aprovado por celebridades e grandes nomes do empreendedorismo pode sim te trazer uma porção de insights poderosos.

Mas não será útil se você não estiver pronto(a) para entender que não é o fator determinante do seu sucesso numa nova e estupenda ideia de vida plena.

 

2. Simplesmente fazer é mais importante que planejar

O famoso 80/20 é determinante aqui. Eu achava que se planejasse tudo com argúcia e cuidado aos detalhes, as coisas se realizariam perfeitamente.

Eu não chegava a considerar que uma ação era composta de 100% de esforços e realmente acreditava que poderia planejar o máximo possível e realizar o máximo possível. E estava, provavelmente, apenas gastando minha cota de 100% com planejamento.

No fim, restavam apenas aqueles míseros 20%, temperados com um punhado de dúvidas, novas inseguranças e possibilidades.

Tenho tentado pensar menos e fazer mais e os resultados estão sendo menos desastrosos do que eu supunha: porque do chão não se passa e uma coisa louca é só uma coisa depois que você faz.

Isso não significa que estou defendendo a impulsividade. Ainda acho que o raciocínio deve ser usado com parcimônia, preferencialmente em situações de baixo risco. Mas para alguém que pensava demais considero um avanço maravilhoso.

Essa postura me tirou um pouco a pressão de obter resultados perfeitos – agora estou entendendo que chegar constantemente a algum resultado é uma ótima maneira de alcançar algo mais próximo ao que chamam de “perfeição”.


Chegar constantemente a algum resultado é uma maneira interessante de alcançar algo mais próximo do que chamam de perfeição.


Então…este blog não está perfeito, minha dedicação a ele não está perfeita, mas sempre que dedico alguma energia a ele, ela é distribuída mais para a ação do que para o planejamento, e isso é libertador.

Ah! E, na mesma lógica, não faz sentido gastar uma eternidade com planners e ferramentas de papelaria ou tecnologia incríveis, bonitas, “instagráveis”, coloridas.

Você não tem obrigação de “competir” com blogueiras e influenceres do mundo dos “bujos” ou concurseiros. Fica de boa: a personal organizer que você segue não vai descobrir se você não seguir à risca o que foi proposto. 

Aliás, mesmo que você fosse descoberto(a), boas referências sobre o assunto, como a Ana, do EuOrganizado, além de darem ótimas dicas são extremamente coerentes e reconhecem que nada é definitivo e aplicável a todos.

Porque medidas radicais raramente combinam com longo prazo. E tempo, energia e força de vontade são coisas preciosas demais para gastarmos com essa versão adulta e covarde de devanear com sonhos de uma existência perfeita. 

 

3. Todos os recursos são administráveis

Quando se fala em “recursos” normalmente pensamos em algo monetário, talvez por ser uma representação tangível de algo que sabemos que precisamos gerenciar.

Mas quando pensamos no que importa podemos determinar várias outras categorias de recursos indispensáveis.

Por exemplo: nossa saúde; dinheiro; nossa rede de apoio; tempo; nossas fontes de conhecimento e inspiração; nossa energia; nossa disciplina e comprometimento (ou nossa força de vontade); nossas horas de recarga e descanso; nossa paciência e calma, nosso pensamento estratégico, nossa empatia, nossa capacidade de dizer “não” e barganhar…

Todos estes são recursos, que podemos ou não precisar para alcançar objetivos que determinamos como significativos e relevantes.

Um exemplo claro foi um dia em que eu estava cheia de coisas que precisavam ser realizadas naquele tempo chamado “logo” ou “quanto antes”, apelidado carinhosamente também de “pra ontem”.

Meu marido me perguntou como aquela lista tinha crescido tanto e rapidamente.

Eu lhe disse que não queria dizer “não” quando me pediam, pois queria mostrar que dava conta de tudo. Mas que ele não entenderia, porque sempre dava conta de tudo. 

Então ele me informou delicadamente quão equivocada eu estava.

O ponto não é que ele dava conta de tudo. Embora ele tivesse conhecimento das pendências, era justo consigo mesmo e com os outros, deixando claro o que poderia ou não concluir dentro dos prazos estipulados.. 

Parecia fácil, com ele falando. Mas argumentei que, ás vezes, prazos e entregas de tarefas eram inegociáveis e apenas “tinham de ser”. E que me sentia culpada e com raiva de mim quando não era capaz. A resposta, parafraseada, veio como um tiro:

“Não existe isso. Eu sou um só e o tempo é limitado. Então, tem coisas que eu posso fazer e tem coisas que eu não posso. Eu deixo isso claro e, se preciso, peço que priorizem o que é mais importante. Se me dizem que tudo é importante, vou eu mesmo escolher o que acredito ser mais viável.”

Depois dessa conversa apreendi o óbvio: 


Se nem você conhece e administra bem seus próprios recursos e não é capaz de negociar e dizer não a si, não espere que os outros o farão. 


Portanto, tomar ciência dos recursos envolvidos nas tarefas que você precisa executar, e acompanhar como eles vêm sendo empregados, pode fazer uma baita diferença nos resultados que você busca.

 

4. Preocupe-se com significação e autoconhecimento 

Olha só, tenho uma coisa pra te falar…você não é um hamster numa roda meercenária de laboratório nem precisa protagonizar Charlie Chaplin à la Tempos Modernos.

Isso significa que você já tem autorização para pensar, ao invés de fazer por fazer. Mas depois de tantos milênios ainda parece uma honra.

Então vamos lá: que ser produtivo sem significado normalmente não é edificador. Quero dizer que, antes de criar listas, você deveria fazer perguntas:

O que é produtividade para você? O que realmente importa? Quais são suas prioridades?

Por que estas são suas prioridades? Por que você deseja ser produtivo(a)? Por que faz listas, usa aplicativos e outras ferramentas, porque busca ter um alto desempenho?

Qual o significado de tudo isso? Onde está a raiz da sua preocupação e dos seus objetivos? Que objetivos e preocupações são esses, de onde vêm? São seus ou de outras pessoas? São verdadeiros?

No final, que resultados você espera? Como você se vê convivendo e vivendo estes resultados? Todas essas coisas convergem ou são mera fantasia?

Entenda o que é realmente importante, e dê significado a isso.  

Quando você descobre estas respostas, fica mais fácil designar os caminhos pelos quais poderá exercê-las.

Você pode otimizar melhor seus recursos ao evitar contextos onde sua força de vontade (esse tópico mereceria um artigo inteiro, mas se quiser adiantar-se recomendo a leitura do livro “A única coisa”) será exigida para realizar aquilo com que não concorda ou não entende como importantes.

Por exemplo: se você gosta de ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade sócio-econômica e esta é uma vertical indispensável na sua vida, trabalhar em uma empresa sem este valor pode te desgastar bastante.

Enquanto trabalhar rodeado de quem se preocupa com as mesmas coisas (e busca caminhos para realizá-las) te deixa mais próximo do seu objetivo, mesmo que você seja marceneiro e trabalhe em um estúdio fotográfico.

Ou seja, se seu objetivo é ajudar as pessoas, podem existir diferentes maneiras de fazer isso, sem comprometer muito seu estoque de recursos.  

 

5. O ato de procrastinar não é inimigo e perspectiva ajuda muito

Cada um tem os próprios gatilhos para procrastinar e o seu jeito preferido de fazer isso.

E a pobre procrastinação acaba caindo na vala comum do desprezo: mas procrastinar ou não é uma escolha de cada um, e numa sentença a culpa quase sempre é do sujeito. 

Ainda assim, desejamos evitar o verbo. Porque normalmente, quando retornamos dessas (quase sempre não merecidas) férias, sentimos (de novo:) uma profunda culpa e vergonha.

Mas, depois de pararmos para avaliar os porquês e como evitá-los, ainda nos resta considerar o que rolou no período de procrastinação. 

Às vezes, é apenas o ócio criativo entrando em ação e isso ajudará a entender como seu modus operandis pode funcionar de forma mais fluída e gerar resultados melhores.

Mas olha só, nada de tentar se convencer de que aquelas longas horas que você passa “rolando” em alguma rede social, “atualizando” grupos de conversa ou de entorpecendo de nada são o exemplo perfeito do que to querendo dizer, ta bem?

Ás vezes, é verdade, procrastinamos por procrastinar. Porque estamos com preguiça, cansados, aborrecidos ou rebeldes. Ok, ok. Tudo bem. Faz parte. Depois a gente se acerta com o destino e com as consequências. 

Mas, algumas vezes, a forma com que fugimos de algo que decidimos não querer fazer pode revelar muito.

Eu, por exemplo, gostava de desenhar, refletir, ler e escrever – para não estudar. 

Primeiro porque eu havia concebido que estudar era algo detestável em que se juntava livros, lia-se muito, sentia-se sono, seguia-se o protocolo do que iria cair nas provas e não seria possível fazê-lo de outra maneira que não aquela.

Ou seja, era algo que eu devia evitar a todo custo…estudando. A perspectiva que eu tinha do ato de estudar era horrorosa.

É como a passagem criada por Mark Twain, do lendário Tom Sawyer – mencionado por Mihaly Csikszentmihalyi e Daniel Pink neste livro (que também recomendo muito). 

Ali pelo capítulo II das Aventuras de Tom Sawyer, o garoto é incubido de pintar toda a cerca da casa e tenta jogar o trabalho para outra pessoa, liberando-se assim para as atividades divertidas que deseja executar naquele dia ensolarado.

Sem sucesso ele têm uma ideia brilhante e passa a fazer a coisa com afinco e deleite quase artísticos transformando, aos olhos de quem passa, aquela tarefa maravilhosamente atrativa e irrecusável.

Dispensando a lógica malandra da cena e desconsiderando o fato de que era puro fingimento, não é tão difícil imaginar em como podemos usar isso no cotidiano.

Se quisermos, podemos nos convencer dos benefícios que uma determinada função pode nos trazer. 

Eu achava que “estudar” era algo chato que eu deveria fazer de um jeito chato para agradar aos adultos chatos e fazê-los parar de me chatear com coisas chatas da vida chata que queriam que eu levasse quando havia um mundo de coisas legais a espera de serem vividas.

Desde o início eu poderia ter facilitado muito minha vida se mudasse minha perspectiva sobre como aprender a estudar, gostar de estudar e estudar direito traria benefícios a mim, e somente a mim. Que tola. 

Por fim, depois, descobri que ler e escrever resumos poderia ser uma ótima maneira de estudar. Que refletir me ajudava a planejar apresentações melhores e defesas argumentativas relevantes.

E que desenhar era uma maneira fundamental de finalmente compreender a lógica por trás das fórmulas matemáticas que tentavam me ensinar.

A mesma coisa aconteceu com meu sobrinho, quando passei a ajudá-lo nas disciplinas que tinha dificuldade.

Ele sempre foi agitado e imaginativo. Quando tentava estudar pegávamos ele olhando para o nada, brincando com os lápis, livros e borrachas: procrastinando.

Mas e se, em algum lugar de sua mente, o modo como ele fugia daquilo que considerava execrável fosse exatamente a maneira pela qual poderíamos transformar aquilo em algo melhor? 

Portanto, quando passamos a usar objetos próximos da mesa de estudos, interpretar personagens e cenas históricas como quem brinca e rir muito com isso suas notas melhoraram bastante!

Aplicando a mesma lógica podemos descobrir uma infinidade de verdades no porquê e como procrastinamos e, talvez, ainda acharmos ali uma maneira menos desagradável de realizar coisas que simplesmente precisam ser feitas. 

Se, por exemplo, você costuma ser competitivo, pode usar isso a seu favor ao lidar com aquilo que não deseja mas precisa terminar logo. 

Ao transformar coisas chatas mas importantes em algo vantajoso você pode acabar descobrindo que pintar cercas é uma atividade na qual pode se dar muito melhor.


6. Equilíbrio não existe

Esta lição veio como uma pluma em um livro cuja indicação me marcou tanto quanto a obra, chamado “A única coisa”, do Gary Keller e Jay Papasan.

Embora eu tenha fugido um pouco da proposta dos autores, foi depois deles que eu finalmente pensei sobre a questão do equilíbrio e porque ele é uma ilusão.

Como sermos excepcionais em casa, quando dedicamos tanto tempo em sermos profissionais disputados e bem pagos para mantermos nossa família quando acreditamos ser nosso dever? 

Como ser pai ou mãe incríveis se desejamos tanto conquistar um cargo de liderança e grandes responsabilidades? 

Quando tentamos ser impecáveis em casa e estarmos presentes com mais frequência, simultaneamente não podemos fazer tantas horas extras quando julgamos necessário para ascender. 

Quando um pai ou mãe sai da apresentação do filho para atender a uma ligação importante da empresa não poderá ser atender a ambas as demandas com a mesma qualidade. 

Então é claro que precisamos escolher os extremos se quisermos ter sucesso.

Mas quais extremos escolher, em que momentos e por quanto tempo ficar por lá parece ser uma chave difícil de encontrar no palheiro da vida moderna, essa terra prometida onde tudo deve ser possível. 

Porque quando estendemos demais esses extremos, os espaços entre eles se tornam maiores, ficamos mais tempo entre eles.

Automaticamente, as outras coisas que estão fora desses espaços também são deixadas de lado por mais tempo e podem causar uma grande confusão quando voltamos a elas e percebemos que tudo se acumulou e se complicou à beça naquela borda.

Se, repetidamente, não voltarmos a tempo para as coisas, elas podem se tornar coisas mais importantes do que eram antes, exigir mais força de vontade e mais tempo. Criando um círculo vicioso.

Parece poesia quando lemos Keller e Papasan falarem sobre o equilíbrio:

“O ato de viver uma vida completa dando tempo ao que importa é um ato de equilíbrio. (…) O tempo gasto com uma coisa significa tempo perdido para outra. (…) Saber quando buscar o centro e quando buscar os extremos é, em essência, o verdadeiro princípio da sabedoria. Resultados extraordinário são alcançados por essa negociação com nosso tempo.”

Mas “ter uma vida equilibrada” é uma ilusão porque nada vem de graça. Não é possível conquistar o equilíbrio. Mas é possível tentar equilibrar-se na maior parte do tempo e do melhor jeito possível.

Entendi que é tão incoerente determinar o equilíbrio como objetivo, quanto estipular como meta ter um casamento integralmente apaixonado e feliz ou um trabalho satisfatório o tempo todo ou dinheiro e sucesso sem sacríficios.


Todas essas miragens se resumem em acreditar que haverá eterna colheira sem eterno plantio.

Equilíbrio é uma questão de sabedoria, paciência, comprometimento e disciplina – é uma questão de escolher quais batalhas lutar e fazer o seu melhor.

Você não poderá ter uma vida equilibrada o tempo todo entre sua vida profissional e pessoal – basicamente, não sem ser um pouco medíocre em alguma coisa, ou em todas.

Foi difícil para mim aceitar essa noção. Mas também inevitável. Porque é claro que “a mágica não acontece no centro, acontece nas bordas” como mencionam.

Mas como alcançar estes extremos quando existem tantos outros? 

Bem, a resposta é valiosa mas, relembrando a leitura, já ajuda lembrar que talvez o caminho seja simplesmente não esperar um equilíbrio perfeito, mas um balanceamento baseado no melhor possível

 

8. Falhar faz parte do processo

Eu sei que isso já está bastante disseminado por aí e eu prometo não citar a “historinha” do Thomas Edison. Mas não custa lembrar e reforçar, porque eu precisei ler e ser lembrada disso muitas e muitas vezes até finalmente assimilar.

Falhar é uma porcaria. Mas você pode simplesmente chutar isso para lá, disfarçar, sentar na calçada da vida e ficar chorando, martirizar-se e sentir-se um(a) bosta ou (mesmo depois de tudo isso) você pode se levantar e dizer: foda-se.

Quando eu falhava eu gastava muitos recursos sentindo raiva e pena de mim mesma.

Ok, para sermos bem francos eu ainda faço isso. Mas a proporção diminuiu e, quando eu consigo, imediatamente, transformar a experiência em aprendizado, me sinto muito mais forte e preparada para o que virá.

Na realidade, eu acredito que isso sempre acaba acontecendo, porque uma hora ou outra aquele monte de falhas vai se reverter em um olhar lânguido e apaixonado para trás, onde pensamos:


Uau! Como eu era trouxa antes. E como sou melhor agora graças a tudo que aconteceu.


Mas quanto menos adiarmos esse momento e pularmos a parte “dramática” da coisa, mais temos a ganhar.

Porque podemos voltar ao jogo mais rápido, lutar mais vezes e, quem sabe, degustar da vitória um dia.

Foi demitido? Beleza. Aprenda com os erros, considere o que faz ou não faz sentido para você e para o que você busca, avalie o que ganhou, agradeça internamente a tudo e segue o baile.

Terminou um relacionamento? Chore, fique triste, abrace o turbilhão de emoções. Faz parte da vida e é uma pena. Mas se doeu, é porque também valeu.

Perdeu alguém importante? Isto é horrível. Viva com imensidão cada etapa do luto. Mas chegará uma hora em que será necessário voltar a sorrir e lembrar de tudo que foi bom – porque sempre tem algo bom.

Acredita em mim. Eu falho bastante e, portanto, entendo disso. Embora eu não me orgulhe, sou ótima em falhar. 

Falhar me fez perder empregos. Amigos (muitos e dos melhores). Amores. Falhar me faz perder a oportunidade de me relacionar melhor com gente incrível perto de mim ou de viver coisas extraordinárias a partir de situações desagradáveis.

Falhar como amiga foi doloroso. Todas as vezes. Mas me fez entender e valorizar mais os poucos amigos que restaram.

Enquanto ter falhado como companheira me fez avaliar erros que não desejo cometer novamente e com os quais devo me policiar constantemente.

Já, falhar como filha, me faz lembrar que ainda posso ser melhor e refletir sobre meu papel na mudança das dinâmicas familiares.

E falhar como profissional sempre me mostrou um novo caminho, um caminho mais…meu.

Não estou falando que o certo é sair falhando por aí sem medo e mergulhar em uma onda de imbatível positividade: isso é chato pra cacete e todo mundo nota quando não é verdadeiro (mesmo que menos você).

O que estou dizendo, e demorei tanto para entender é que, sim a vida é uma merda quase sempre, e nem por isso deixa de ser incrível.

Realmente acredito que vivê-la, em todos os seus contrastes, é o que confere a paleta de cores única da nossa existência – que não precisamos ficar esfregando na cara de todo mundo nem exigir que o universo enxergue ou entenda.

Mas que podemos sempre segurar com carinho e ter orgulho do que fizemos – mesmo quando não pudermos fazer nada.   

 

8. A vida não dá segundas chances e páginas em branco

Essa é a seção final e também uma boa coisa para se colocar como aprendizado.

Porque embora falhar faça parte do processo, a vida simplesmente não costuma nos dar novas chances, páginas em branco, toda essa baboseira. 

Tudo que fazemos fica registrado, tem consquências e deixa uma mala muitas vezes pesada que arrastamos por aí, ás vezes só porque queremos e, ás vezes, porque ainda não descobrimos o que fazer com aquilo tudo. 

Por mais que gostemos de nos enganar, a existência é uma trama feita de uma linha só

Podemos descobrir novas formas de alinhavar cada ponto, de apresentar nosso melhor ou nosso pior.

Mas o que costuramos até aquela altura fica lá, pendurado em algum lugar. Ora mais acessível por nós, ora somente para os outros – porque por mais que desejemos esquecer, alguém nunca esquece

Raramente fica claro se o que estamos fazendo é realmente bom e certo e significativo. Não dá para saber essas coisas totalmente.

Então espero que o que aprendi e compartilhei contribua para o seu processo de resoluções de final de ano. Ou melhor…de vida mesmo.

E que elas sejam algo mais verdadeiro e factível, algo mais possível e realizável e, acima de tudo, algo que represente aquilo que é significativo e importante para você.

Porque, ao contrário do que algumas pessoas afirmam, eu não acho que um novo ano seja um conjunto de novas chances – assim como um novo-qualquer-coisa. 

É claro que um novo lar pode representar dias mais gostosos. Mas não vai excluir dos registros da sua vida os dias horrorosos de um lar antigo – e muito menos eliminar os riscos de outros dias ruins. 

Se você se dedicar a arrumar um novo emprego, talvez você se sinta melhor lá ao ser reconhecido(a). Mas seus defeitos profissionais, comportamentais e técnicos não vão desaparecer. E, por mais que você tenha novos amigos, as pessoas que você marcou não vão esquecer. 

Eu penso que todos os dias significam isso, e que a passagem de ano é apenas uma representação simbólica que nos lembra que nossos objetivos não deveriam ser limitados aos 365 dias do ano, como se fossem páginas novas e em branco de um novo livro.

Mas optando pelo clichê das metáforas e figuras de linguagem, bem…

Nossa vida é um livro só e quanto mais coerência os capítulos tenham entre si, mais fácil será escrevê-los e mais gostoso será relê-los sempre que você precisar se lembrar de quem é e porque deseja estar aqui – porque essa pode ser a coisa mais próxima do porque você está.

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Vou fazer a única coisa que consigo pensar agora. Tente pensar em uma única coisa que você realmente deseja para esse ano. Aquela única coisa para a qual você realmente deseja se dedicar. Aquela coisa que, não importam os sacrifícios que terá que fazer, você está diposto(a) a realizar. Depois determine o que precisa fazer e dedique-se a esta única coisa – se possível aplicando o que viu aqui!

 

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