Quem te inspira? – mulheres reais

A ficção está cheia de exemplos incríveis de mulheres que inspiram. Mas é preciso olhar para nossa própria história e identificar personagens reais que transformam nossa vida e nosso olhar.

Como sempre, foi devanear um pouco mas continua que você vai entender como a inspiração e as mulheres formam um bloco compacto e firme na minha vida.

Afinal: quem te inspira?

Essa foi a pergunta com que me deparei ao lembrar de preencher um diário para cinco anos que ganhei de presente de mim mesma no final de 2017  (que, inclusive, é algo que recomendo a todos, porque é uma ferramenta deliciosa de autoconhecimento e reflexão).

(ta, tudo bem que eu não respondi no dia certo e mudei desde o início algumas perguntas que não faziam sentido)

Enfim. Lá estava eu. Pensando naquilo que me inspira.

Então lembrei do workshop de Repertório Criativo que participei com dois mestres incríveis – o Diego Piovesan e o Timóteo Farias.

Em um dado momento fomos “desafiados” a definir parâmetros para nossa bagagem criativa. E um destes pilares eram pessoas que nos inspiravam.

Na ocasião, considerando o objetivo da tarefa e o viés artístico considerei escritores e pintores.

E foi legal notar que em todas as minhas fases, praticamente as mesmas coisas me inspiram: escritores, pessoas da minha vida, artistas, a natureza, o silêncio, a música, a água. Mudam-se os nomes, mas não as “coisas”.

Porém, naquele momento, de responder no caderninho, pensando mais introspectivamente sobre essa questão, percebi que ela poderia ser muito mais rica e cotidiana do que eu havia suposto: eu nem precisava ir longe, romper fronteiras, para encontrar inspiração.

Há pessoas inspiradoras muito, muito perto de nós. Se tivermos um olhar atento, fica fácil perceber.

Assim, decidi que este seria o primeiro post sobre o assunto: o que mais me inspira e me importa no mundo, as pessoas, reais, da minha vida.

Beleza.

Só que ao processar quem eram, e percebendo logo de cara que eu não conseguiria falar de todas em um único post, vieram muitas mulheres.

Portanto, estava mais que decidido. Eu já havia homenageado alguns homens inspiradores. Então olhei com gratidão para essa ideia.

Porque, por acaso e sorte, sou rodeada de grandes mulheres. De mulheres inspiradoras. De mulheres reais. 

Das mulheres mais do que da minha vida, mas da vida delas. Mulheres que criaram e pertencem à própria história. 

Porque temos a tendência de avaliar e interpretar tudo com base em uma perspectiva muito limitada – nosso escopo, o momento específico em que surgimos na trajetória de alguém ou de um determinado acontecimento (inclusive já falei sobre isso aqui).

Então, sei lá, tentei cuidar para não subtrair tanto.

Não posso negar que todas exerceram papéis significativos na minha jornada, muitas vezes estereotipados.

Ainda assim, eu gostaria de trazer à luz os seres-humanos por trás de todos estes “personagens”.

Afinal, ter tido a honra de vê-las exercendo determinadas “funções” em minha vida não me dá o direito de limitá-las a isto. 

Então, é verdade. Continua sendo sobre inspiração, mas este se tornou um texto de agradecimento e homenagem.

As pessoas que menciono aqui merecem o mundo.

No entanto, como o mundo está um pouco longe das minhas possibilidades, espero ao menos ser justa com cada uma delas.


MILSINHA

Milsinha. Mamãe. Quem ouve alguém chamando ela assim, sem conhecê-la, está propenso(a) a logo pensar em uma senhora calejada, baixinha, de olhos bondosos e sei la, tricotando numa cadeira de balanço.

Nada contra nenhuma dessas coisas. Justiça seja feita, porém (ainda que, provavelmente, ela não goste da exposição)…

Vou precisar dizer: Milse é durona.

Na família brincam ao chamá-la “general” e, em todos os ambientes profissionais pelo qual já transitou as pessoas sempre a tratam e a respeitam como líder.

Porque ela é firme e parece sempre saber o que fazer em praticamente qualquer situação.

Pode ser mesmo até meio estranho (para os outros) o fato de alguém chamar ela de “mamãe”.

O que poucas pessoas sabem é que esta mulher, também minha mãe, é incrivelmente doce.

Muitos acreditam que a força que ela tem – ou a habilidade em demonstrar ter – vem das coisas difíceis que já precisou viver.

Sim: minha mãe viveu coisas muito difíceis que, só de imaginá-la vivendo, penso em como ela conseguiu – e em como eu gostaria de já existir e ser adulta para ajudá-la.

E é claro, embora algumas derivaram de escolhas, outras ninguém pôde prever ou controlar – que são justamente o grupo de coisas que nos põem a prova e testam nossa resiliência.

Tudo foi muito precoce: o desmembramento e mudança de padrão de vida da família, o início da vida adulta – quando ela se mudou aos 16 anos, sozinha, buscando um futuro melhor e sobrevivendo em uma cidade completamente diferente – ou a dor de perder um dos irmãos são só alguns exemplos claros do potencial sobrevivente dela.

Não vou detalhar muito porque não quero quebrar o encanto de descobrir as verdades por detrás dos mistérios que ela guarda tão bem e só vai dosando a quem deseja.

Só posso dizer que ela superou tudo e saiu de cada desafio uma pessoa ainda mais preparada. Como um gato, ela parece cair sempre em pé. Então é natural a crença de que é dai que vem tudo que ela mostra ser.

Mas, para mim, não é.

Quando digo que ela supera tudo, não é porque ela não leva as próprias feridas bem guardadinhas.

É porque ela é capaz de continuar, mesmo depois delas, mesmo com elas. O que nos leva ao mesmo ponto:

Para mim, a força da minha dessa mulher impressionante vem da sensibilidade que ela tem em enxergar a beleza do mundo, em olhar através das coisas, e não só por meio delas.

Em viver apesar dos obstáculos e dos acontecimentos ruins. Minha mãe (em algum momento me senti no direito de encher a boca para falar) sempre consegue fazer isso.

Ela pode até ser caos. Mas também é ordem. Eu não sei se ela sabe disso. Acho que, até esse momento nem eu tinha percebido ainda…que essa é a melhor forma com que ela me inspira.O que significa que existem muitas, muitas outras. Por exemplo: lições importantes sobre como definir as prioridades e fazer bem feito tudo que tiver que fazer.

Ainda assim, não são exatamente por essas razões que ela me inspira.

A Milse, que sim, entre várias outras coisas, também é minha mãe, me faz pensar no tipo de mulher que quero ser – não só no tipo de “mãe”, se um dia eu me tornar uma.

O tipo de mulher que se vira e sempre sabe o que fazer, que não se rebaixa – porém sabe, com inigualável elegância, se submeter aos caprichos da vida.

Que tem habilidade em criar estratégias e resoluções sem deixar de ser incrivelmente amorosa, perceptiva e disponível para quem precisa, na hora certa.

Ela me faz tocar o infinito das probabilidades e das escolhas. Visualizar o que ainda está distante, mas não é inalcançável.

Se você tiver a sorte de estar ao lado dela em uma batalha, saiba que tem as melhores chances de sobreviver: porque ela não se deixa abalar nem para no meio do caminho enquanto as bombas estão sendo lançadas.

Ela dá um jeito. Chorando. Sofrendo. Com dor.

E nesse movimento arrasta, quem precisar, junto com ela, pra longe do perigo.

Pergunte a qualquer um que a conhece e você saberá: uns são caos, uns são ordem, uns são cais. Ela? É água.


A SENHORA ANTONIETA

Antonieta é uma das mulheres mais imponentes aqui. Porque ela não é uma raiz de inspiração. Ela é a própria árvore.

E foi tão difícil dar uma imagem ao tópico, que escolhi uma foto dela mesmo.

Veja: se você procurar por “matriarca”, por exemplo, encontrará talvez a foto de uma senhora frágil e idosa – ou de uma elefante já ferida pelo tempo.

E não é assim que eu a enxergo – embora, obviamente, ela tenha feridas do tempo e seja já frágil e idosa.

Por outro lado, se procuro por “power woman”, me deparo com mulheres de salto fino, maquiadas, cabelos esvoaçantes e talvez até vestidas para encarar o mundo corporativo.

Tentando abrasileirar e buscando por “mulheres fortes” uma infinidade de imagens-citação começam a se apresentar.

Ta, vamos parar de revelar meu perfil, ás vezes vergonhoso, de busca com base nos resultados.

Mas não. Nada disso se encaixa e representa.

Dona Antonieta é a própria Senhora do Destino. Foi o mais perto que encontrei.

Uma mulher, saindo sozinha das suas raízes, de tudo que ela conhecia e sabia como certo, para mudar o rumo não só da sua própria história como daqueles que viriam.

Então, imaginei que não faria muito sentido usar a foto da Suzana Vieira com as criancinhas: minha avó tinha ainda mais criancinhas e uma imagem para lá de real.

Como antes, opto por chamá-la pelo nome porque preciso que vocês entendam: essa mulher não é simplesmente minha avó.

Sim: guardo lembranças deliciosas de suas brincadeiras, gargalhadas e sua presença sempre marcante e amorosa.

Mas tive com ela menos contato ao longo da vida do que gostaria, nos seus anos mais saudáveis.

As características, porém, ela manteve, apesar do tempo: com seus quase 90 anos, é revigorante vê-la contar com precisão detalhada os retalhos essenciais da sua trajetória.

Então, olhando-a como personalidade, admiro cada pedaço da história que teve que viver.

Além do mais, achei muito justo mesmo falar da mãe da minha mãe (não resisto, tipo: ei, ta vendo aquela pessoa foda ali? é minha mãe/vó).

Adendo: Devo dizer que a mãe do meu pai também mereça estar aqui, mas eu, infelizmente, não conheço muito da história dela ainda. De quem ela era e do que viveu antes de ser mãe do meu pai ou minha vó. E acho injusto resumi-la assim, somente do papel de minha avó. 

Talvez, sobre a Senhora Antonieta, não exista nada muito exclusivo. Nada que tantas outras senhoras não passsaram.

Mas isso não tira o mérito de quem ela se tornou.

Nascida em uma família abastada num canto de Minas Gerais, tinha pais e avós donos de uma propriedade digna da extensão territorial de uma pequena cidade.

Ali ela viveu grande parte da “primeira vida”. Vale dizer que, ao contrário de muitas crianças da época, em comparação contextual, ela tinha um relacionamento afetuoso com os pais.

E, vez ou outra ela, irmãos, primos e amigos iam até “a cidade” onde aconteciam quermesses e coisas desse tipo.

Foi lá onde ela conheceu o Célio com quem, alguns meses depois se casou, em uma igreja católica (como “bons católicos” que eram de ambas “boas famílias”) quando ela tinha cerca de 17 anos.

Pouco tempo depois, porém, em um acidente terrível, ela veio a perder o pai – homem pelo qual ela tinha muito apreço e que, mesmo depois de casada, impunha-se como uma figura presente.

Foi um episódio pesado e horrível para todos e ela diz, com olhos brilhantes e marejados, lembrar-se se cada minuto que transcorreu naquele período.

Dando um avançar aqui na história…Depois de algumas provações e do fato de quase ter perdido uma filha optou por doutrinar sua fé sob outra perspectiva religiosa.

O marido “não aprovou” e ela suportou anos de perseguição e abusos de poder dentro daquilo que ela deveria poder chamar de lar, mas que deu lugar a proibições, agressividade e traições das quais ela nunca esqueceu.

Poderia-se até dizer que ele não era de todo o ruim. Tinha seus próprios demônios e fez o melhor que pode. Mas isso, definitivamente, foi longe de ser, pelo menos, suficiente.

Eu gostaria que ela não tivesse que ter passado por tudo isso.

Que ninguém passasse por nem um pouco disso. Todos deveriam poder fazer suas próprias escolhas, sem obstáculos. Mas o mundo, ás vezes, é mais cruel que isso.

E foi como ela lidou com tudo que mudou todo o curso da história de quem veio depois dela. 

Porque poderíamos ser uma família espelho de outras famílias: onde um homem manda e as mulheres obedecem. Onde crianças e mulheres esperam um homem chegar, um homem sentar, um homem comer…para então comerem, viverem, sorrirem – se for dada a “liberdade” para isso.

Onde as manias estranhas de um homem, e seu relógio, cotidiano e biológico, determinam todos os rumos e todas as coisas e, sobretudo, das mulheres ao seu redor.

Mas quando aquela realidade se tornou dolorosa demais, esta mulher a quem tenho a honra de ter como avó materna, decidiu dar um basta e entendeu que aquele casamento já havia deixado, faz tempo, seus propósitos de lado.

O Sr. Célio, por sua vez, se resignou em se afastar não só da esposa a quem jurou amar e proteger em quaisquer condições, mas também dos oito filhos – passando a ostentar uma vida que, perto da “primeira família” era quase de luxo, junto à nova mulher e suas filhas.

Não tenho intenção de manchar sua memória, mas estamos falando aqui da mulher mais importante da família – e nenhum filho, sobrinho ou primo irá negar a mesma versão da história. 

Já, “Dona” Antonieta, passou a trabalhar em triplo para dar conta de…tudo.

Com os filhos, mudou de endereço, de casa, de padrão de vida – só não mudou a fé.

Precisou e teve sabedoria e humildade para aceitar a ajuda de familiares – sem absolutamente nunca deixar de ser mãe.

Educou todos os filhos como acreditava ser a melhor maneira e a nenhum deles faltou estudo, roupas, comida, cuidado, proteção e apoio – mas não pôde dar-se ao luxo de comerciais de margarina.

Aos homens da família, que até hoje preservam indestrutível respeito, admiração e reverência, doutrinou o mínimo, que escapa a tantas casas “modernas”: respeitarem as mulheres.

Às mulheres, do melhor jeito que pôde, ensinou a se amarem e se respeitarem acima de tudo.

E é assim até hoje: basta que ela saiba que alguma mulher da família começou a namorar, que cria o momento para chamá-la de canto e fazer a pergunta primordial.

“Ele te trata bem? Ele é bonzinho com você e com os outros? Tem que ser, viu?! Se não for, você me conta que vou dar uma surra nele.”

E não pára aí. Secretamente ela também chama os proponentes para dar um aviso do tipo o-óbvio-precisa-ser-dito:

“Você cuida bem da minha neta/bisneta, viu?! Trata bem ela, hein?!”

Se, por outro lado, algum homem da família apresenta ou menciona a presença de uma nova pessoa em sua vida, ela é resoluta em dar um suave puxão de orelha antes mesmo de qualquer postura inadequada.

As palavras mudam, mas o recado se preserva igual: respeite-a sempre!

No mundo dela, não existiram casais que não fossem homens e mulheres.

Mas eu não tenho a menor dúvida de que, se precisasse, ela “daria uma surra” em qualquer pessoa que não estivesse disposta ao mínimo: tratar bem suas mulheres, como ela deveria ter sido tratada pelo único homem com quem casou.

Isso pode parecer natural e evidente para muitas de nós, hoje (náo tanto quanto gostaríamos).

Pode ser possível (para não dizer urgente) a todas as mulheres. Principalmente solteiras, de classe média, sem filhos ou enormes responsabilidades – exceto aquelas que impomos a nós mesmas.

Mas minha avó está prestes a completar nove décadas. Eu não imagino o quanto isso custou para ela no interior do Brasil de 1974, com oito filhos para criar e muito mais gente que hoje para julgar: ela não buscava destaque; frases de efeito; ideologias.

Não desmereço nada disso, mas o fato de ela simplesmente saber e sentir tem seu mérito: ela não queria provar nada para ninguém, ela só queria ter uma vida minimamente digna.

Ninguém nunca lhe ensinou claramente. Ela nunca leu nada a respeito. Nunca fez uma faculdade. Tinha como livro de cabeceira a bíblia.

Se ela tivesse perguntado às mulheres que conhecia o que deveria fazer, quantas delas teriam lhe dito, naquela época: “Força Antonieta. Dê um basta nisso. Defenda aquilo que acredita e não permita que ninguém fique no seu caminho. Você não precisa disso.”?

Talvez eu não esteja sendo totalmente clara, mas o que quero dizer é que a realidade é quase sempre sem bússola e mapas.

É preciso ter uma imensidão dentro de si para dar grandes passos.

Decisões que os outros nem sempre vão entender, aceitar ou apoiar. Decisões incomuns.

Decisões cujos louros não se espera. Mas cujos resultados nos basta confiar que serão os melhores, um dia.

E para isso, é sempre bom tentar ouvir mais as vozes que, com o som do mundo e dos outros ignoramos, independentemente das suas crenças: do instinto, do coração, de Deus.

Ela me inspira porque me lembra que, ás vezes, aquilo que acreditamos e repassamos pode ser decisivo na história de alguém. Foi na minha. Na da minha mãe e, tenho certeza, em todas as pessoas da nossa família.

Obrigada, Senhora Antonieta do Destino. Você é a melhor inspiração feminina que eu poderia ter. Nenhum discurso, nenhum livro, nenhum textão de facebook, nenhuma citação, foto ousada ou série de TV vai ser melhor do que você para me ensinar o mais importante.

Tomar as próprias decisões, sobretudo as ousadas, é um ato de coragem. Sendo mulher, quase nunca será fácil, raramente haverá apoio. Mas será sempre possível. 


A MARILDA

A Marilda não entrou na minha vida. Ela sempre fez parte dela.

Foi o primeiro grande presente que eu ganhei, antes mesmo de nascer.

E, na minha infância, habilmente alternava entre os papéis de vilã e heroína como, provavelmente, toda boa irmã mais velha.

Capaz de enfrentar até o durão do meu pai, essa paranaense baixinha, brava e generosa, merece ser musa inspiradora sim, Senhora! 

Dona do silêncio mais imponente e ensurdecedor – e dos seus próprios mistérios – não há ninguém que resista ou não deseje sua presença leal e autêntica. 

A Marilda é de poucas palavras, gargalhadas contagiantes e coração enorme.

E ela é de verdade. Quando ela chora, nenhum choro comove tanto. Quando ela ri, o mundo inteiro ri com ela. Quando ela está brava, sem emitir um único som, ela é capaz de esmagar até as paredes.

Se você tem a sorte de ganhar um abraço da Marilda ou de vê-la lacrimejar, você sabe do que ela é capaz de fazer por aqueles que ela decidiu amar. 

Se tem alguém que me lembra um leão enfurecido defendendo algo importante, esse alguém é a Marilda.

Não a provoque. Não ouse ofender os seus. Você entenderia o que quero dizer.

A fúria dela em defender aquelas poucas coisas e pessoas das quais ela não abre mão…é inspiradora.

Ela me inspira me mostrando todo dia que, por este pouco e seleto, pelo qual estamos dispostos a lutar, vale até sair ferido, vale qualquer consequência, qualquer desafio.

De que, defender este pouco e seleto que escolhemos preservar, ainda que esteja na mão de outras pessoas, poderia também estar na mão de ninguém: afinal estará, primordialmente, nas suas.

Pode ter um batalhão ao seu lado, defendendo as mesmas coisas, mas ela, sozinha, encararia a guerra e daria a vida por aquilo.

Ela sabe o momento de calar. E o momento de agir. Porque escolhe bem suas batalhas. E tem uma ferocidade que eu nunca vi, mas que vêm do amor. É impossível não se sentir inspirado(a) por isso.


A LAIZ

Caçula de uma família de três irmãs e um pai babão a Laiz cresceu graciosa como uma princesa moleca de olhos azuis.

Quando criança, despertava sorrisos por onde passava. Impossível dizer não.

Mas não queira estar numa luta contra ela, que é capaz de ameaçar a própria irmã duas vezes seu tamanho com uma tesoura e de se manter firme e forte nos piores momentos.

Essa é a Laiz. Uma pessoa que não se faz de rogada e não se permite ser definida.

Definir a Laiz é como pedir que ela mostre um novo lado: totalmente dela, mas totalmente desconhecido.

É pedir para perceber que a vida é um segredo a ser descoberto, explorado.

Ela pode até não saber, mas dentro dela existe sempre uma peça guardada capaz de mudar o próprio jogo.

Se ela não tá feliz com alguma coisa, o mundo inteiro nota.

E não importa o que o mundo inteiro diga: só ela sabe que cara, que carga, que carta jogar – e a hora certa de fazê-lo.

Quando ela joga, tudo muda. E pessoas que não a conhecem tanto, ficam: “Nossa, quem diria…a ‘Laizinha’, hein?!”.

Se enganam muito. A Laizinha pode ainda não ter chegado a todas as pecinhas secretas, que protege nela mesma, acerca de algumas coisas práticas da vida (ainda). Mas ela sabe se virar sozinha.

Ao contrário do que muitos podem imaginar, ela não é do tipo que senta na calçada quando começa a chover, nem do tipo que se entrega ao tentador e romântico personagem alisando as gotas pela janela.

Embora pense bastante antes, ela é do tipo que atravessa a chuva. E leva todo mundo junto.

Ela não é nenhum anjo. Ela não é princesa. Ela não é criança. Ela pode precisar de um tempo.

Mas quando decide assumir as rédes da situação, sai de baixo.

A Laiz me inspira, definitivamente, pela sua capacidade de auto-superação.

A capacidade de, embora com medo da tempestade, se lançar para fora no meio do temporal.

Por que?!

Porque ela simplesmente pode.

E é claro que isso é inspirador. Porque você pensa:

“Ei! Eu também posso, não é?! Não é porque acreditei durante tanto tempo nisso, que isso é verdade, que agora sou refém disso. Acho que…Acho que…talvez…

eu-também-posso.


MARIA ANGÉLICA

Vou ser diretona ao ponto.

A “Maeca” me inspira por sua incrível e infindável capacidade de amar os outros.

De descobrir novos espaços no seu coração para acomodar mais um – como quem encontra lugar no sofá ou na mesa para alguém (o que ela faz constantemente, porque todo mundo quer estar perto dela).

Eu sei, eu sei. Parece que estou objetificando o papel dela na minha vida, se resumi-la a “Tia Maeca”.

Que o que penso ou sinto sobre ela é apenas a visão de uma sobrinha de olhar limitado.

Mas se você conhecesse ela, você entenderia que “Tia Maeca”, “Maeca” ou “Maria Angélica” tem a mesma característica marcante, não importa o contexto e as pessoas envolvidos.

Meu-Deus. Como essa mulher ama. “Apesar de”, “mesmo com”. Poucos são os limites do seu “coração” para amar.

Na verdade, é difícil dizer se ela inspira pela capacidade de amar, pela humildade ou se ambos não se tratam da mesma coisa.

Essa mulher, que passou por coisas não-ditas, que viu e viveu tanto que não gostaria e não merecia, ainda assim, foi capaz de resistir em sua profunda humildade e amor.

Ela poderia ter se rendido. Se rendido ao rancor ou à mesquinharia. Ou poderia…sabe? Ter se fechado. Ter se tornado uma pessoa inalcançável. Mas não.

No seu íntimo, num lugar e num momento que talvez nem ela tenha se dado conta, ela escolheu amar.

Estar na vida dela é como o cheiro do café recém preparado. Como chegar em casa.

Como achar um lugar quente e confortável para…ficar. Como quando estamos com muita fome e ganhamos um prato de minestra deliciosamente fumegante e perfumada.

Quando nos sentimos horríveis por alguma razão e encontramos tudo que não fomos generosos o suficiente conosco para dizer.

É achar uma porta sempre aberta que nos faz sentir bem.

Amar de verdade as pessoas, com toda a humildade que isso exige, com toda a entrega que isso exige.

Podem dizer que amar assim é um convite aos que alimentam más intenções. Talvez seja.

Amar assim carrega seus próprios riscos. Riscos que quem é Tia Maeca escolhe carregar. 

Porque quem ama asssim não espera algo em troca. Quem ama assim não ama para ganhar algo – se não, não seria amar.

Então, é isso.

Essa mulher, que no silêncio, numa ingenuidade adulta e realista, nos sorrisos gentis, e no olhar duro – que ás vezes distribui sem dó e deixa todo mundo nervoso – me inspira amando, impecavelmente, cada um que cruza seu caminho e se mostra pelo menos um pouquinho disposto a ser amado(a).


PRÁTICA

dá um play numa música que acho que tem muito a ver, e já aproveita para conhecer o belíssimo trabalho da inspiradora Karoline Kroib, artista dona da arte acima 😉

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

É inevitável que a prática de hoje seja essa. Porque adulamos tantos desconhecidos. Fazemos propaganda daquilo que nos inspira. Enquanto, quase sempre, ao nosso redor, fervilha inspiração. Você pode não ter muitas mulheres inspiradoras na sua vida. Mas, se olhar atentamente, encontrará muitas pessoas que te inspiram em algum sentido. Por que, então, não avaliar melhor isso? E, melhor: que tal fazê-las saber? Faça-as saber sempre, o máximo que puder.

GOSTOU? compartilhe o texto

assimpassa.com.br ⚡ perspectivas a base de bagunça // todos os direitos reservados

assimpassa.com.br // luana conti ⚡ perspectivas a base de bagunça // todos os direitos reservados.