Os piores erros que você (não) pode cometer como freela
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Os piores erros que você (não) pode cometer como freela

Se você é freela, prestador de serviço, autônomo: eu sei que você deve estar com várias guias de navegador, uma cassetada de e-mails para ler, e mais mensagens de WhatsApp que o Papai Noel no Natal.

Você quer respeito, reconhecimento, admiração pelo seu trabalho (espero). Você quer poder ser visto(a) como um dos melhores do seu nicho.

Você quer poder cobrar mais para trabalhar com mais qualidade em cada trabalho.

E é desafiante conseguir isso quando você acabou de começar ou trabalha sozinho(a). Certo?

Mas calma. Aqui estão três kamehameha da paz freela para transformar não só como os outros, mas como você vai se ver como profissional.

Então senta aí um pouco, toma uma água, respira. O mundo não vai acabar se você parar para ver o que tenho pra te dizer. Porque olha só, eu sou como você. Eu tenho pressa.

Corri uma maratona pra chegar até aqui. Sério. Minha última década se resumiu num longo e desesperado circuito de experimentos e tentativas para me encontrar profissionalmente.

Eu errei muito. E aprendi muito também.

Você não precisa cometer os mesmos erros que eu. Mas, olhando para os lados, posso dizer que a chance de estar sim, cometendo pelo menos um deles, é bem alta.

Principalmente se está no início dessa jornada.

Então, absorver as ideias que vou trazer aqui podem levar você a ir de um(a) “cara/garota que faz uns jobs” para se tornar um verdadeiro profissional da sua ‘coisa‘, seja ela qual for.

E vou começar com um erro clássico.

Ser um buffet de sorvete

Você pode amar sorvete. Buffet de sorvete então… Mas você tem que concordar que é mais fácil escolher o que botar no potinho quando não tem muitas opções. É o tal paradoxo da escolha (sobre o qual o Barry Scwartz fala muito bem aqui).

Tudo bem, exceto neste caso, onde duas opções já podem complicar bastante | fonte: Paul Drinkwater/NBCU Photo Bank

Por isso, doce freela, não cometa o engano de pensar que seu cliente te paga só pela sua entrega tangível ou pelas suas qualidades técnicas.

Na maior parte das vezes, o cliente só não sabe a resposta certa.

Seu cliente ama o contexto do problema que fez com que ele te procurasse: a casa dele, a empresa dele, a marca dele, o cabelo dele, enfim.

Mas ele, definitivamente, não espera passar muito tempo rondando os sorvetes. Ele já fez ou tentou fazer isso e a experiência não foi boa.

Por isso chegou até você.

Ele só deseja sentar numa mesinha, com a brisa suave no rosto, e provar um sorvete delicioso. Aliás: o melhor sorvete que ele poderia estar provando naquele momento.

Essa é a parte tácita do acordo, na contratação de um profissional. Quando você entrega uma única versão para o seu cliente, você está dizendo para ele:

Eu estudei muito, eu pesquisei muito, eu pensei muito, eu testei muito, e esta é a
melhor opção pelo caminho que achei ser o mais adequado para você.”

Você está dizendo para ele:

“Fica tranquilo, eu já sofri por você no processo de tomada de decisão”.

Sim, de certo modo, o cliente está te pagando para sofrer por ele e resolver o problema.

Exceto se a condição de duas ou dez versões for uma condição imposta pelo cliente — e você não se sentir desconfortável nesta posição, o caminho mais lindo tá dado.

Pergunte muito no início, tire todas as suas dúvidas e, depois: sofra pelo cliente, faça seu melhor, coloque todo seu espírito criativo ali.

Eu entendo que a intenção de apresentar mais de uma versão é boa.

Mas geralmente causa a impressão de que deriva, de algum modo, ou da preguiça, ou da insegurança — ambas relacionadas ao imediatismo. E nenhuma dessas coisas parece realmente boa. Porque:

  • ou você quer adiantar o processo e ‘matar’ a entrega em uma única reunião (buscando evitar o retrabalho);
  • ou você tem receio de que o cliente não vá gostar do que você escolheu porque não se sente seguro (seja pelo seu pouco tempo de experiência, ou porque não perguntou, não estudou ou pesquisou o suficiente).

E tem mais: quando você apresenta duas ou três versões para seu cliente, ao invés de evitar, você está abraçando o retrabalho.

A não ser que você tenha dedicado menos tempo a cada versão (o que é bem ruim), você está trabalhando a mais para fazer todas as versões sem nem saber se isso seria necessário.

É por isso que o processo de briefing precisa ser assertivo e até exaustivo.

Faça perguntas estranhas se for preciso. Não deixe de perguntar, pesquise, e pergunte de novo.

Muita gente erra por achar que o briefing acaba no final de um formulário. Mas o tempo todo é uma oportunidade de retomá-lo. ING, sabe?!

Você coletou tudo mas no meio do caminho cruzou com alguma nova informação, referência, ou ideia que deu uma balançada — e acredita que uma resposta do cliente possa ajudar? Então crie uma pergunta perfeita para ter essa resposta.

Não fazer isso pode cagar sua entrega. E isso nos leva para outro erro que serve para qualquer profissional e qualquer tipo de negócio.

Não cuidar da entrega

Sempre que dou presente para alguém, independente do valor, eu adoro pensar em como vou embalar e como vou entregar aquilo para a pessoa.

Para mim, esse é o momento em que vou estar presenteando.

Você pode comprar um brinco de diamantes de milhares de reais. Mas experimente dá-los em um saquinho brilhante todo colorido e meio gasto pelo tempo, ‘amarrado’ com um fita durex?!

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não importa o sorriso que você veja, por dentro a pessoa presenteada sempre fica meio assim

É claro, uma vez que descubra o valor daquele brinco, a pessoa presenteada ficará bem feliz. Mas num primeiro momento, o valor do presente é menor que ser levado pra tomar um bom espresso.

Não porque o pacote é simples. Mas porque faltou, claramente, capricho. Faltou cuidado, faltou atenção, faltou colocar o máximo de amor naquele pacotinho. Naquela intenção.

Fala sério: você nem precisa gastar num diamante de verdade. Basta que disponha tempo e energia. Escolhendo com carinho, pensando na pessoa e em como ela poderia entender que ali está todo o seu melhor. Não esqueça disso:

Um caro presente mal dado soa como obrigação. Um modesto presente bem dado se torna um detalhe: porque o verdadeiro presente é o que o gesto representa.

Então, entenda de uma vez por todas: mesmo que você seja tecnicamente o melhor profissional do mundo na sua área, não ouse entregar isso em um pacotinho amassado.

Quando você faz sua entrega dessa maneira, você está não só demonstrando pouco apreço pelo problema e pelo cliente em si, como pelo seu próprio tempo e trabalho.

A sua entrega precisa ser valorosa. É você, dizendo ao seu cliente:

“Cara, valeu por ter confiado em mim ter trazido um problema de algo tão
importante pra você. Em troca, coloquei o meu melhor de mim aqui. Foi feito com
muito carinho, espero que você curta.”

Não importa seu nicho, pense na melhor maneira de entregar seus resultados. Se for uma apresentação: que seja a apresentação mais linda, clara, fácil e agradável possível.

Se for um relatório impresso, que seja de ótima qualidade de cores e de resolução, dentro de um pacote personalizado ou escrito à mão.

Se for uma reforma ou obra, que seja agendando um dia com o cliente para mostrar tudo que foi/tem sido/será feito, esclarecendo as dúvidas e finalizando com a devolução de um espaço limpinho.

Isso pode mudar tudo pra você.

Muita gente confunde a hora certa de fazer um cliente se apaixonar. Não é na venda, é na entrega.

E, como freela, é ainda mais crítico, porque cada entrega pode ser decisiva para seu próximo mês.

Agora, por fim, vamos para um “erro” baseado numa controvérsia.

Tornar a razão do cliente inversamente proporcional à sua

Meu pai era “budegueiro” como dizia ele. Isso significa que ele tinha umas “budega”. E ele sempre dizia o que todo empreendor já disse ou já ouviu: “o cliente tem sempre razão”.

A questão é que a galera não entendeu bem esse conceito ainda.

Dizer que o cliente tem sempre razão não necessariamente significa que ele de fato tenha —nem que não tenha. Mas, com certeza, não significa que você deva:

  1. Atender à todas suas vontades;
  2. Atender suas vontades por pura condescendência;
  3. Não atender porra nenhuma das suas vontades e foda-se.

Porque o oposto de “o cliente sempre ter razão” não é um simples “nem sempre o cliente tem razão”, nem o extremo “nunca tem razão”.

O bom é entender que o cliente tem as razões dele, e você tem as suas. Estar atento(a) a entender isso é a premissa básica para que se chegue num acordo.

Seu cliente não gostou do que você mostrou?

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eu sei, rola uma ansiedade

Sem crise, tente entender o porquê. E chegar a um denominador comum. O que não é simplesmente algo que agrade ao cliente. Mas algo que te agrade também.

E com “te agradar” não estou dizendo você, pessoa, cheia de preconceitos, crenças e julgamentos. Mas você profissional.

O cliente curtiu e você, tecnicamente falando, percebe que faz muito sentido? Pronto, aí está o que você busca.

Ah, Luana! Mas o eu pessoa é o eu profissional.

Olha, eu sei, eu demorei a entender o ingrediente dessa parada. Mas como sou uma anja, vou te passar de graça:

Pra conseguir realizar esse fetiche, desligue seu modo consumidor (de informação, de referência, de produto).

Você jamais faria isso no seu banheiro? Você jamais compraria uma calça com modelagem tão justa? Você jamais faria isso no seu site? Você detestaria usar um aplicativo daquela maneira?

Dane-se. Ninguém se importa. Você precisa saber e garantir que aquilo vai funcionar para seu cliente, para as pessoas que irão usufuir daquela solução.

E você só precisa ser tecnicamente bom para identificar se realizou todos os processos, se aplicou todos os métodos e se considerou todos os conceitos adequados para aquele projeto.

Por outro lado, ás vezes você precisa dizer ao cliente que algo não funciona e explicar o porquê.

Sim, isso também é difícil. No início da vida profissional, aceitar ‘mesmo que’ soa coerente.

Mas se você está cobrando por um serviço ou produto, você precisa adotar a postura de quem pode cobrar por um serviço ou produto.

A postura de quem sabe do que está falando.

E você precisa saber do que está falando.

Fuja dos jargões e explique da forma mais rápida, didática e gentil que puder. Mostre ou fale exemplos e referências. Pergunte bastante.

Além disso, apure sua intuição para ler nas entrelinhas, para entender o que o cliente quer e não quis ou não soube dizer.

Esse é seu papel.

Lembre-se que dizer não para o seu cliente é exercer compaixão também. Seria muito fácil simplesmente fazer o que ele pede, mesmo sabendo não ser o melhor caminho.

Mas se ele está te pagando para dizer sim, talvez você não seja o profissional que ele procura.

Ou, talvez, você não seja o profissional que deseja ser.


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O guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

Nada como começar do começo. E final de ano é sempre um incentivo à maioria das pessoas, porque os finais tendem a trazer, junto à vergonha e culpa constantes dos últimos trezentos dias, uma autocrença e determinação instantânea (que aparentemente tiram férias no resto do ano).

As resoluções de final de ano são, por isso mesmo, o clichê que protagoniza piadas e artigos como estes – principalmente entre 20 e 31 de dezembro de qualquer ano.  E eu não tenho absolutamente nada contra elas.

Para ser bem honesta, eu e as listas somos íntimas há anos e, seguindo com a verdade, não tenho a menor pretensão de abandoná-las tão cedo.

Portanto, saiba que não quero também mexer nas suas. Mas tenho aprendido que existe, nessa obstinação toda, coisas que costumamos ignorar.

Como já contei aqui ou aqui houve um período em que eu acreditava que coisas como alta performance, produtividade, desempenho, disciplina, comprometimento e total entrega ao trabalho eram, não somente o único caminho do sucesso, como o único caminho para uma vida minimamente decente.


Sente-se, vou servir uma caneca de ansiedade e um pratinho de angústia

Assim, durante um tempo eu vivia entre a corda bamba da vergonha e do empenho.

Me cobrava o tempo todo e me punia com rigor todas as vezes que eu não cumpria minhas próprias (altíssimas) expectativas.

Isso era bem ruim. Embora o maior problema fosse eu nunca ter reparado a estrutura que constituía aqueles tempos – que, de um modo ou de outro, começaram ali pela sexta ou sétima série e não me abandonaram até um bocado depois do término da faculdade (se é que se vão completamente).

Digo “de um modo ou de outro” porque esse padrão de comportamento assumiu várias facetas.

Uma das primeiras que recordo brotou quando o período escolar começou a complicar e eu não aprendia de forma alguma como fazer uma simples divisão.

Meus pais tentaram de todas as maneiras e, mesmo quando passei a fazer os exercícios sozinha eu não entendia como aquilo funcionava realmente.

Em matemática sempre fui péssima e, pelo menos durante todo o ensino fundamental, me culpei por isso. Porque sempre tive excelentes professores desta disciplina que, hoje, acho fantástica.

Além disso, eu tinha aulas particulares, ia aos plantões do colégio e alguns amigos e colegas sempre se mostraram dispostos a me ensinar – além, é claro, dos meus próprios pais e da minha irmã mais velha.

Então, empenhava intensas vias sacras e, depois de tudo eu acreditava que recuperaria a nota.

Fazia as provas certa de que desta vez eu havia superado e ia começar a ascender com os números e fórmulas. Então, eu as recebia de volta com uma pontuação horrível.

Foi difícil fazer com que os outros acreditassem que sim, eu estava me esforçando, eu estava estudando e fazendo as atividades; que sim, eu estava prestando atenção e me dedicando nas aulas particulares.

E depois de um tempo, tornou-se ainda mais difícil: eu simplesmente deixei de fazer aquilo tudo. Afinal, se eu havia me esforçado durante mais de dois anos inteiros sem nenhum resultado, o cinismo parecia a melhor opção e eu comecei a fingir que não me importava.

Nessa época minhas notas – em todas as disciplinas – caíram absurdamente. Eu matava aulas, desrespeitava regras, não cumpria com nenhum acordo nem me dedicava a nada considerado produtivo.

Gastava minhas horas lendo escondida. Escrevendo. Pensando na vida. Andando por aí. Flertando – com pessoas e novas atividades – em uma competição pelo vazio (e, por que não dizer, até roubando um pouco do armário de bebida dos meus pais).

Segui me sentindo profundamente inútil. Eu desejava mudar, mas a culpa, a vergonha e a sensação de que eu não era capaz me prostravam.

Embora algumas pessoas possam dizer – como na época já diziam – que estas eram desculpas para a preguiça, outras que se sentiam e se sentem como eu sabem do que estou falando.

Até que, depois de algumas tentativas comecei a colher boas coisas. Encontrei coisas com que eu me dava bem e que eram, de modo geral, aprovadas, e me dediquei a elas com afinco. 

Adoeci algumas vezes e só “mais velha” compreendi que a origem era muito mais profunda. Em resumo, as etapas foram mais ou menos assim:

Ilusão
eu achava que era incrível e invencível;

Compreensão
…descobri que não era bem assim e tentei avançar;

Desilusão
mas coisas boas exigem uma constante de sacrifícios e dores com as quais não lidei bem;

Cinismo
então escolhi desistir delas e esconder minha frustração comigo mesma sendo uma imbecil;

Inanição 
quando cansei, finalmente deixei que culpa e a vergonha me consumissem a  ponto de me prostrarem;

Falsa gratificação e entrega total
comecei a descobrir coisas com as quais, após me empenhar, eu obtinha algum sucesso e entregar toda minha energia a elas;

Adoecimento e caos
tudo virou uma bagunça quando eu descobri que nada daquilo poderia realmente estar certo se vinha me fazendo tão mal.


Foi depois da sétima etapa ou, como costuma acontecer, depois do caos, que decidi entender um pouco melhor como eu funcionava e novas formas de operar, sem morrer cedo demais ou ter uma existência miserável dedicada exclusivamente ao nobre grupo de “coisas importantes”.

Então li, conversei, descobri novas metodologias e ferramentas – e, desde então, assumi um permanente estado de teste e aprendizado que têm sido riquíssimo. Por isso, achei justo compartilhar algumas das lições mais relevantes. 

Eu as separei, organizei e ordenei e pude ver claramente como cada uma deles foi transformadora para mim, mas é inevitável destacar que elas trabalham melhor juntas. Espero que você aproveite!

  1. O método não importa
  2. Fazer é o mais importante
  3. Todo recurso é administrável
  4. Significação e autoconhecimento
  5. Procrastinação e perspectiva
  6. O equilíbrio não existe
  7. Falhar é do processo
  8. A única chance

 

1. O método não importa

Não importa se você usa GTD, Bullet Journal, um bloco comercial que ganhou numa feira, aquele aplicativo revolucionário ou um guardanapo.

O método simplesmente não vai resolver se você não resolver antes algumas coisas na sua cabeça. E essa é, com certeza, a parte mais difícil.

Recomendo fortemente parar de gastar tempo com métodos e coisas complexas.

Ler um livro inteiro sobre algum novo método aprovado por celebridades e grandes nomes do empreendedorismo pode sim te trazer uma porção de insights poderosos.

Mas não será útil se você não estiver pronto(a) para entender que não é o fator determinante do seu sucesso numa nova e estupenda ideia de vida plena.

 

2. Simplesmente fazer é mais importante que planejar

O famoso 80/20 é determinante aqui. Eu achava que se planejasse tudo com argúcia e cuidado aos detalhes, as coisas se realizariam perfeitamente.

Eu não chegava a considerar que uma ação era composta de 100% de esforços e realmente acreditava que poderia planejar o máximo possível e realizar o máximo possível. E estava, provavelmente, apenas gastando minha cota de 100% com planejamento.

No fim, restavam apenas aqueles míseros 20%, temperados com um punhado de dúvidas, novas inseguranças e possibilidades.

Tenho tentado pensar menos e fazer mais e os resultados estão sendo menos desastrosos do que eu supunha: porque do chão não se passa e uma coisa louca é só uma coisa depois que você faz.

Isso não significa que estou defendendo a impulsividade. Ainda acho que o raciocínio deve ser usado com parcimônia, preferencialmente em situações de baixo risco. Mas para alguém que pensava demais considero um avanço maravilhoso.

Essa postura me tirou um pouco a pressão de obter resultados perfeitos – agora estou entendendo que chegar constantemente a algum resultado é uma ótima maneira de alcançar algo mais próximo ao que chamam de “perfeição”.


Chegar constantemente a algum resultado é uma maneira interessante de alcançar algo mais próximo do que chamam de perfeição.


Então…este blog não está perfeito, minha dedicação a ele não está perfeita, mas sempre que dedico alguma energia a ele, ela é distribuída mais para a ação do que para o planejamento, e isso é libertador.

Ah! E, na mesma lógica, não faz sentido gastar uma eternidade com planners e ferramentas de papelaria ou tecnologia incríveis, bonitas, “instagráveis”, coloridas.

Você não tem obrigação de “competir” com blogueiras e influenceres do mundo dos “bujos” ou concurseiros. Fica de boa: a personal organizer que você segue não vai descobrir se você não seguir à risca o que foi proposto. 

Aliás, mesmo que você fosse descoberto(a), boas referências sobre o assunto, como a Ana, do EuOrganizado, além de darem ótimas dicas são extremamente coerentes e reconhecem que nada é definitivo e aplicável a todos.

Porque medidas radicais raramente combinam com longo prazo. E tempo, energia e força de vontade são coisas preciosas demais para gastarmos com essa versão adulta e covarde de devanear com sonhos de uma existência perfeita. 

 

3. Todos os recursos são administráveis

Quando se fala em “recursos” normalmente pensamos em algo monetário, talvez por ser uma representação tangível de algo que sabemos que precisamos gerenciar.

Mas quando pensamos no que importa podemos determinar várias outras categorias de recursos indispensáveis.

Por exemplo: nossa saúde; dinheiro; nossa rede de apoio; tempo; nossas fontes de conhecimento e inspiração; nossa energia; nossa disciplina e comprometimento (ou nossa força de vontade); nossas horas de recarga e descanso; nossa paciência e calma, nosso pensamento estratégico, nossa empatia, nossa capacidade de dizer “não” e barganhar…

Todos estes são recursos, que podemos ou não precisar para alcançar objetivos que determinamos como significativos e relevantes.

Um exemplo claro foi um dia em que eu estava cheia de coisas que precisavam ser realizadas naquele tempo chamado “logo” ou “quanto antes”, apelidado carinhosamente também de “pra ontem”.

Meu marido me perguntou como aquela lista tinha crescido tanto e rapidamente.

Eu lhe disse que não queria dizer “não” quando me pediam, pois queria mostrar que dava conta de tudo. Mas que ele não entenderia, porque sempre dava conta de tudo. 

Então ele me informou delicadamente quão equivocada eu estava.

O ponto não é que ele dava conta de tudo. Embora ele tivesse conhecimento das pendências, era justo consigo mesmo e com os outros, deixando claro o que poderia ou não concluir dentro dos prazos estipulados.. 

Parecia fácil, com ele falando. Mas argumentei que, ás vezes, prazos e entregas de tarefas eram inegociáveis e apenas “tinham de ser”. E que me sentia culpada e com raiva de mim quando não era capaz. A resposta, parafraseada, veio como um tiro:

“Não existe isso. Eu sou um só e o tempo é limitado. Então, tem coisas que eu posso fazer e tem coisas que eu não posso. Eu deixo isso claro e, se preciso, peço que priorizem o que é mais importante. Se me dizem que tudo é importante, vou eu mesmo escolher o que acredito ser mais viável.”

Depois dessa conversa apreendi o óbvio: 


Se nem você conhece e administra bem seus próprios recursos e não é capaz de negociar e dizer não a si, não espere que os outros o farão. 


Portanto, tomar ciência dos recursos envolvidos nas tarefas que você precisa executar, e acompanhar como eles vêm sendo empregados, pode fazer uma baita diferença nos resultados que você busca.

 

4. Preocupe-se com significação e autoconhecimento 

Olha só, tenho uma coisa pra te falar…você não é um hamster numa roda meercenária de laboratório nem precisa protagonizar Charlie Chaplin à la Tempos Modernos.

Isso significa que você já tem autorização para pensar, ao invés de fazer por fazer. Mas depois de tantos milênios ainda parece uma honra.

Então vamos lá: que ser produtivo sem significado normalmente não é edificador. Quero dizer que, antes de criar listas, você deveria fazer perguntas:

O que é produtividade para você? O que realmente importa? Quais são suas prioridades?

Por que estas são suas prioridades? Por que você deseja ser produtivo(a)? Por que faz listas, usa aplicativos e outras ferramentas, porque busca ter um alto desempenho?

Qual o significado de tudo isso? Onde está a raiz da sua preocupação e dos seus objetivos? Que objetivos e preocupações são esses, de onde vêm? São seus ou de outras pessoas? São verdadeiros?

No final, que resultados você espera? Como você se vê convivendo e vivendo estes resultados? Todas essas coisas convergem ou são mera fantasia?

Entenda o que é realmente importante, e dê significado a isso.  

Quando você descobre estas respostas, fica mais fácil designar os caminhos pelos quais poderá exercê-las.

Você pode otimizar melhor seus recursos ao evitar contextos onde sua força de vontade (esse tópico mereceria um artigo inteiro, mas se quiser adiantar-se recomendo a leitura do livro “A única coisa”) será exigida para realizar aquilo com que não concorda ou não entende como importantes.

Por exemplo: se você gosta de ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade sócio-econômica e esta é uma vertical indispensável na sua vida, trabalhar em uma empresa sem este valor pode te desgastar bastante.

Enquanto trabalhar rodeado de quem se preocupa com as mesmas coisas (e busca caminhos para realizá-las) te deixa mais próximo do seu objetivo, mesmo que você seja marceneiro e trabalhe em um estúdio fotográfico.

Ou seja, se seu objetivo é ajudar as pessoas, podem existir diferentes maneiras de fazer isso, sem comprometer muito seu estoque de recursos.  

 

5. O ato de procrastinar não é inimigo e perspectiva ajuda muito

Cada um tem os próprios gatilhos para procrastinar e o seu jeito preferido de fazer isso.

E a pobre procrastinação acaba caindo na vala comum do desprezo: mas procrastinar ou não é uma escolha de cada um, e numa sentença a culpa quase sempre é do sujeito. 

Ainda assim, desejamos evitar o verbo. Porque normalmente, quando retornamos dessas (quase sempre não merecidas) férias, sentimos (de novo:) uma profunda culpa e vergonha.

Mas, depois de pararmos para avaliar os porquês e como evitá-los, ainda nos resta considerar o que rolou no período de procrastinação. 

Às vezes, é apenas o ócio criativo entrando em ação e isso ajudará a entender como seu modus operandis pode funcionar de forma mais fluída e gerar resultados melhores.

Mas olha só, nada de tentar se convencer de que aquelas longas horas que você passa “rolando” em alguma rede social, “atualizando” grupos de conversa ou de entorpecendo de nada são o exemplo perfeito do que to querendo dizer, ta bem?

Ás vezes, é verdade, procrastinamos por procrastinar. Porque estamos com preguiça, cansados, aborrecidos ou rebeldes. Ok, ok. Tudo bem. Faz parte. Depois a gente se acerta com o destino e com as consequências. 

Mas, algumas vezes, a forma com que fugimos de algo que decidimos não querer fazer pode revelar muito.

Eu, por exemplo, gostava de desenhar, refletir, ler e escrever – para não estudar. 

Primeiro porque eu havia concebido que estudar era algo detestável em que se juntava livros, lia-se muito, sentia-se sono, seguia-se o protocolo do que iria cair nas provas e não seria possível fazê-lo de outra maneira que não aquela.

Ou seja, era algo que eu devia evitar a todo custo…estudando. A perspectiva que eu tinha do ato de estudar era horrorosa.

É como a passagem criada por Mark Twain, do lendário Tom Sawyer – mencionado por Mihaly Csikszentmihalyi e Daniel Pink neste livro (que também recomendo muito). 

Ali pelo capítulo II das Aventuras de Tom Sawyer, o garoto é incubido de pintar toda a cerca da casa e tenta jogar o trabalho para outra pessoa, liberando-se assim para as atividades divertidas que deseja executar naquele dia ensolarado.

Sem sucesso ele têm uma ideia brilhante e passa a fazer a coisa com afinco e deleite quase artísticos transformando, aos olhos de quem passa, aquela tarefa maravilhosamente atrativa e irrecusável.

Dispensando a lógica malandra da cena e desconsiderando o fato de que era puro fingimento, não é tão difícil imaginar em como podemos usar isso no cotidiano.

Se quisermos, podemos nos convencer dos benefícios que uma determinada função pode nos trazer. 

Eu achava que “estudar” era algo chato que eu deveria fazer de um jeito chato para agradar aos adultos chatos e fazê-los parar de me chatear com coisas chatas da vida chata que queriam que eu levasse quando havia um mundo de coisas legais a espera de serem vividas.

Desde o início eu poderia ter facilitado muito minha vida se mudasse minha perspectiva sobre como aprender a estudar, gostar de estudar e estudar direito traria benefícios a mim, e somente a mim. Que tola. 

Por fim, depois, descobri que ler e escrever resumos poderia ser uma ótima maneira de estudar. Que refletir me ajudava a planejar apresentações melhores e defesas argumentativas relevantes.

E que desenhar era uma maneira fundamental de finalmente compreender a lógica por trás das fórmulas matemáticas que tentavam me ensinar.

A mesma coisa aconteceu com meu sobrinho, quando passei a ajudá-lo nas disciplinas que tinha dificuldade.

Ele sempre foi agitado e imaginativo. Quando tentava estudar pegávamos ele olhando para o nada, brincando com os lápis, livros e borrachas: procrastinando.

Mas e se, em algum lugar de sua mente, o modo como ele fugia daquilo que considerava execrável fosse exatamente a maneira pela qual poderíamos transformar aquilo em algo melhor? 

Portanto, quando passamos a usar objetos próximos da mesa de estudos, interpretar personagens e cenas históricas como quem brinca e rir muito com isso suas notas melhoraram bastante!

Aplicando a mesma lógica podemos descobrir uma infinidade de verdades no porquê e como procrastinamos e, talvez, ainda acharmos ali uma maneira menos desagradável de realizar coisas que simplesmente precisam ser feitas. 

Se, por exemplo, você costuma ser competitivo, pode usar isso a seu favor ao lidar com aquilo que não deseja mas precisa terminar logo. 

Ao transformar coisas chatas mas importantes em algo vantajoso você pode acabar descobrindo que pintar cercas é uma atividade na qual pode se dar muito melhor.


6. Equilíbrio não existe

Esta lição veio como uma pluma em um livro cuja indicação me marcou tanto quanto a obra, chamado “A única coisa”, do Gary Keller e Jay Papasan.

Embora eu tenha fugido um pouco da proposta dos autores, foi depois deles que eu finalmente pensei sobre a questão do equilíbrio e porque ele é uma ilusão.

Como sermos excepcionais em casa, quando dedicamos tanto tempo em sermos profissionais disputados e bem pagos para mantermos nossa família quando acreditamos ser nosso dever? 

Como ser pai ou mãe incríveis se desejamos tanto conquistar um cargo de liderança e grandes responsabilidades? 

Quando tentamos ser impecáveis em casa e estarmos presentes com mais frequência, simultaneamente não podemos fazer tantas horas extras quando julgamos necessário para ascender. 

Quando um pai ou mãe sai da apresentação do filho para atender a uma ligação importante da empresa não poderá ser atender a ambas as demandas com a mesma qualidade. 

Então é claro que precisamos escolher os extremos se quisermos ter sucesso.

Mas quais extremos escolher, em que momentos e por quanto tempo ficar por lá parece ser uma chave difícil de encontrar no palheiro da vida moderna, essa terra prometida onde tudo deve ser possível. 

Porque quando estendemos demais esses extremos, os espaços entre eles se tornam maiores, ficamos mais tempo entre eles.

Automaticamente, as outras coisas que estão fora desses espaços também são deixadas de lado por mais tempo e podem causar uma grande confusão quando voltamos a elas e percebemos que tudo se acumulou e se complicou à beça naquela borda.

Se, repetidamente, não voltarmos a tempo para as coisas, elas podem se tornar coisas mais importantes do que eram antes, exigir mais força de vontade e mais tempo. Criando um círculo vicioso.

Parece poesia quando lemos Keller e Papasan falarem sobre o equilíbrio:

“O ato de viver uma vida completa dando tempo ao que importa é um ato de equilíbrio. (…) O tempo gasto com uma coisa significa tempo perdido para outra. (…) Saber quando buscar o centro e quando buscar os extremos é, em essência, o verdadeiro princípio da sabedoria. Resultados extraordinário são alcançados por essa negociação com nosso tempo.”

Mas “ter uma vida equilibrada” é uma ilusão porque nada vem de graça. Não é possível conquistar o equilíbrio. Mas é possível tentar equilibrar-se na maior parte do tempo e do melhor jeito possível.

Entendi que é tão incoerente determinar o equilíbrio como objetivo, quanto estipular como meta ter um casamento integralmente apaixonado e feliz ou um trabalho satisfatório o tempo todo ou dinheiro e sucesso sem sacríficios.


Todas essas miragens se resumem em acreditar que haverá eterna colheira sem eterno plantio.

Equilíbrio é uma questão de sabedoria, paciência, comprometimento e disciplina – é uma questão de escolher quais batalhas lutar e fazer o seu melhor.

Você não poderá ter uma vida equilibrada o tempo todo entre sua vida profissional e pessoal – basicamente, não sem ser um pouco medíocre em alguma coisa, ou em todas.

Foi difícil para mim aceitar essa noção. Mas também inevitável. Porque é claro que “a mágica não acontece no centro, acontece nas bordas” como mencionam.

Mas como alcançar estes extremos quando existem tantos outros? 

Bem, a resposta é valiosa mas, relembrando a leitura, já ajuda lembrar que talvez o caminho seja simplesmente não esperar um equilíbrio perfeito, mas um balanceamento baseado no melhor possível

 

8. Falhar faz parte do processo

Eu sei que isso já está bastante disseminado por aí e eu prometo não citar a “historinha” do Thomas Edison. Mas não custa lembrar e reforçar, porque eu precisei ler e ser lembrada disso muitas e muitas vezes até finalmente assimilar.

Falhar é uma porcaria. Mas você pode simplesmente chutar isso para lá, disfarçar, sentar na calçada da vida e ficar chorando, martirizar-se e sentir-se um(a) bosta ou (mesmo depois de tudo isso) você pode se levantar e dizer: foda-se.

Quando eu falhava eu gastava muitos recursos sentindo raiva e pena de mim mesma.

Ok, para sermos bem francos eu ainda faço isso. Mas a proporção diminuiu e, quando eu consigo, imediatamente, transformar a experiência em aprendizado, me sinto muito mais forte e preparada para o que virá.

Na realidade, eu acredito que isso sempre acaba acontecendo, porque uma hora ou outra aquele monte de falhas vai se reverter em um olhar lânguido e apaixonado para trás, onde pensamos:


Uau! Como eu era trouxa antes. E como sou melhor agora graças a tudo que aconteceu.


Mas quanto menos adiarmos esse momento e pularmos a parte “dramática” da coisa, mais temos a ganhar.

Porque podemos voltar ao jogo mais rápido, lutar mais vezes e, quem sabe, degustar da vitória um dia.

Foi demitido? Beleza. Aprenda com os erros, considere o que faz ou não faz sentido para você e para o que você busca, avalie o que ganhou, agradeça internamente a tudo e segue o baile.

Terminou um relacionamento? Chore, fique triste, abrace o turbilhão de emoções. Faz parte da vida e é uma pena. Mas se doeu, é porque também valeu.

Perdeu alguém importante? Isto é horrível. Viva com imensidão cada etapa do luto. Mas chegará uma hora em que será necessário voltar a sorrir e lembrar de tudo que foi bom – porque sempre tem algo bom.

Acredita em mim. Eu falho bastante e, portanto, entendo disso. Embora eu não me orgulhe, sou ótima em falhar. 

Falhar me fez perder empregos. Amigos (muitos e dos melhores). Amores. Falhar me faz perder a oportunidade de me relacionar melhor com gente incrível perto de mim ou de viver coisas extraordinárias a partir de situações desagradáveis.

Falhar como amiga foi doloroso. Todas as vezes. Mas me fez entender e valorizar mais os poucos amigos que restaram.

Enquanto ter falhado como companheira me fez avaliar erros que não desejo cometer novamente e com os quais devo me policiar constantemente.

Já, falhar como filha, me faz lembrar que ainda posso ser melhor e refletir sobre meu papel na mudança das dinâmicas familiares.

E falhar como profissional sempre me mostrou um novo caminho, um caminho mais…meu.

Não estou falando que o certo é sair falhando por aí sem medo e mergulhar em uma onda de imbatível positividade: isso é chato pra cacete e todo mundo nota quando não é verdadeiro (mesmo que menos você).

O que estou dizendo, e demorei tanto para entender é que, sim a vida é uma merda quase sempre, e nem por isso deixa de ser incrível.

Realmente acredito que vivê-la, em todos os seus contrastes, é o que confere a paleta de cores única da nossa existência – que não precisamos ficar esfregando na cara de todo mundo nem exigir que o universo enxergue ou entenda.

Mas que podemos sempre segurar com carinho e ter orgulho do que fizemos – mesmo quando não pudermos fazer nada.   

 

8. A vida não dá segundas chances e páginas em branco

Essa é a seção final e também uma boa coisa para se colocar como aprendizado.

Porque embora falhar faça parte do processo, a vida simplesmente não costuma nos dar novas chances, páginas em branco, toda essa baboseira. 

Tudo que fazemos fica registrado, tem consquências e deixa uma mala muitas vezes pesada que arrastamos por aí, ás vezes só porque queremos e, ás vezes, porque ainda não descobrimos o que fazer com aquilo tudo. 

Por mais que gostemos de nos enganar, a existência é uma trama feita de uma linha só

Podemos descobrir novas formas de alinhavar cada ponto, de apresentar nosso melhor ou nosso pior.

Mas o que costuramos até aquela altura fica lá, pendurado em algum lugar. Ora mais acessível por nós, ora somente para os outros – porque por mais que desejemos esquecer, alguém nunca esquece

Raramente fica claro se o que estamos fazendo é realmente bom e certo e significativo. Não dá para saber essas coisas totalmente.

Então espero que o que aprendi e compartilhei contribua para o seu processo de resoluções de final de ano. Ou melhor…de vida mesmo.

E que elas sejam algo mais verdadeiro e factível, algo mais possível e realizável e, acima de tudo, algo que represente aquilo que é significativo e importante para você.

Porque, ao contrário do que algumas pessoas afirmam, eu não acho que um novo ano seja um conjunto de novas chances – assim como um novo-qualquer-coisa. 

É claro que um novo lar pode representar dias mais gostosos. Mas não vai excluir dos registros da sua vida os dias horrorosos de um lar antigo – e muito menos eliminar os riscos de outros dias ruins. 

Se você se dedicar a arrumar um novo emprego, talvez você se sinta melhor lá ao ser reconhecido(a). Mas seus defeitos profissionais, comportamentais e técnicos não vão desaparecer. E, por mais que você tenha novos amigos, as pessoas que você marcou não vão esquecer. 

Eu penso que todos os dias significam isso, e que a passagem de ano é apenas uma representação simbólica que nos lembra que nossos objetivos não deveriam ser limitados aos 365 dias do ano, como se fossem páginas novas e em branco de um novo livro.

Mas optando pelo clichê das metáforas e figuras de linguagem, bem…

Nossa vida é um livro só e quanto mais coerência os capítulos tenham entre si, mais fácil será escrevê-los e mais gostoso será relê-los sempre que você precisar se lembrar de quem é e porque deseja estar aqui – porque essa pode ser a coisa mais próxima do porque você está.

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Vou fazer a única coisa que consigo pensar agora. Tente pensar em uma única coisa que você realmente deseja para esse ano. Aquela única coisa para a qual você realmente deseja se dedicar. Aquela coisa que, não importam os sacrifícios que terá que fazer, você está diposto(a) a realizar. Depois determine o que precisa fazer e dedique-se a esta única coisa – se possível aplicando o que viu aqui!

 

Continue lendoO guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

O universo perverso e nosso digno merecimento

Sem aviso prévio de 30 dias, somos finalmente capazes de perceber. É, então, impossível negar que nossa mãe tava certa em parafrasear: tudo passa.

As estações mudam. Os cabelos caem, as unhas se tornam quebradiças quando uma unha nova se força a nascer.

A pele do pé, aquela contra a qual você insiste em lutar para afinar e amaciar em sessões caseiras de embelezamento, se desfaz.

Trocamos de carro, trocamos de meios de locomoção, surgem novas tecnologias. O que era barato se torna caro, o que era caro se torna barato.

O que era feio se torna bonito e o que era bonito se torna motivo de vergonha quando olhamos para as fotos do passado.

Aquela saia que era cafona e há dez anos atrás você usava se tivesse o sádico interesse em ser chamada de maria-mijona, se torna elegante e sai na Vogue. O tênis, antes prova de desleixo e desinteresse, agora é cool.

As plantas precisam ser podadas para dar lugar a folhas melhores. As árvores secam…e dão flores. O chão antes infértil ganha terra nova e adubo para dar lugar a novas árvores.

As pessoas partem. Ou deixam de fazer parte da sua vida para serem parte da sua história. Mudamos de casa. De rotina. De trabalho. De mentalidade.

As roupas que antes gostávamos já não parecem dizer nada sobre quem somos hoje e aquele cabelo parece nos incomodar.

As preocupações deixam de ser aquelas para serem outras. O que tanto nos atormentava antes parece, agora, bobagem. Nosso choro ganha motivos mais duros.

Os bebês, rapidamente crescem. Aquele pezinho vermelho e inchado do recém nascido se torna um artefato firme da sustentação que permitirá que, finalmente, ele ou ela explore o mundo no seu próprio ritmo: quem você só poderia carregar no colo, agora quer correr o mundo todo debaixo dos pés.

A rede de apoio com a qual antes você contava se dissolve. E, do contrário, também pode se refazer e ganhar um novo sentido mediante o inesperado.

Nós sabemos de tudo isso. Quando as mudanças (principalmente não tão boas) não acontecem conosco, chega até… ser bonito dizer, ler, ouvir falar.

Nós sabemos de tudo isso. Mas saber é tão diferente de sentir! Sob uma perspectiva racional somos capazes de perceber e entender que nada é permanente.

E, ainda assim, ficamos esperando que a vida ocorra exatamente do jeito que esperamos: céu azul (ou, no caso de alguns, nublado), sol, flores e sorrisos.

Esse foi o modo mais adequado que processamos para lidar com a valorização do sofrimento da era vitoriana, das guerras, da fome, das pestes, das crises financeiras que abalam o mundo: a ilusão.

Comerciais de margarina, barbies, o “American Way of Life” que germinou nos meados da década de 40…tudo pareceu uma ótima saída para a crise de 29 e outras porcarias que se pudesse imaginar. 

 

Mas,   ás vezes, o cadarço simplesmente é vermelho

baby-cry
sim, até você se comporta assim

Afinal se, por um lado, a vida pode ser muito difícil, por outro, deve ser apenas uma preparação para nos tornarmos tudo aquilo que acreditamos que precisamos e gostaríamos de nos tornar. Mas não.

Uma pessoa que respeito, gosto e admiro muito me ensinou uma frase pela qual sou apaixonada até hoje (Sim, Ste! Estou te devendo um quadro rs) e que busco compartilhar sempre que considero pertinente. Afinal, há sempre a possibilidade de ser s vida dizendo:


“Não te dou o que você quer, porque não é o que você precisa.”


Então, flertando obsenamente com o achismo, talvez uma das razões pelas quais não sabemos lidar com a transitoriedade seja pelo fato de que transitoriedade significa que o que está bom, deixará de ficar – mesmo que também signifique que o que está ruim, dará lugar ao que você escolher tornar.

Outra razão é que demoramos muito mais tempo do que imaginamos para deixarmos de ser aquela criança que chora porque o cadarço do sapato não é azul – ou seja lá as razões estranhas pelas quais você chorava quando era criança.

Hoje estas razões parecerão bestas pra você. Porque, sob o olhar de quem já viveu e superou outras coisas, elas passam a ser.

Mas experimente se tornar o maior inimigo de uma criança ao debochar de sua dor e dizer a ela que aquilo é bobagem.

Obviamente, existem dores que uma criança experimenta que perduram na vida adulta. Eu arriscaria dizer que muitas dores e frustrações que carregamos na vida adulta, vêm justamente dessa fase

Só que estou falando daquelas situações em que realmente parecia que estávamos sendo espancados ou passando fome porque sua vó/pai/tia decidiu dizer “não” no supermercado.

Então, tente se lembrar disso: existem coisas que te perturbam hoje que parecerão ridículas no futuro. E existem coisas que te perturbarão por muito tempo.

Quanto às primeiras, se eu pudesse, sugeriria analisá-las com frieza e observar quanto de energia você está gastando com isso, no lugar de qualquer outra coisa melhor. 

Em relação às segundas, considere-as como parte, mas não ressignifique sua vida e suas decisões por causa delas.

 

Dos cadarços aos chinelos

nem sempre a vida cabe em um comercial, na verdade, geralmente não cabe mesmo

Bem, e tem uma outra coisa que precisamos admitir: nossa incrível incapacidade de sermos humildes.

De aceitarmos e entendermos que nem tudo podemos controlar e, com o restante, nos resta fazer o melhor que pudermos – mas que os resultados dependem unicamente de nós.

Então, quando sentimos a impotência de não controlarmos nada, culpamos. Os astros, Deus, as pessoas, Newton, o funcionamento do universo, seu amigo impertinente, Lavoisier.

E aquela pequena parcela de coisas que talvez possamos transformar em algo é compreendida apenas como martírio: afinal, você está cansado demais da vida para lidar com isso, certo?!


Mas lidar com essas poucas coisas que podemos transformar em algo é justamente do que se trata a vida.

Esta é a vida real. As dificuldades e como podemos aprender a sorrir e viver mesmo com a consciência de que elas estão ali.

É claro que, em alguns momentos, a vida parece estar tirando uma onda com a nossa cara. O universo parece estar conspirando especificamente contra nós.

É mais cômodo pensarmos dessa maneira ou adotar o cinismo como melhor companheiro, do que questionarmos nosso comportamento, nossas escolhas, nossos próprios obstáculos internos em evoluirmos: “o que estou precisando aprender?”

Questionar verdadeiramente, se perguntar o que aquilo significa e o que você PODE fazer com isso é, sem dúvidas, mais desafiante do que lamentar tudo aquilo com o qual você NÃO PODE fazer absolutamente nada.

Uma grande lição que este livro me ensinou – ou melhor, uma noção que foi reforçada a partir dele – é justamente isso: ser positivo não tem nada a ver com ignorar as merdas da vida. Tem a ver em considerá-las como parte da existência.

“Sentir-se confortável com o fracasso”, como sugere Mark Manson, parece uma boa ideia para o sucesso, afinal de contas.

Inclusive, vou deixar que Mark fale por si:

“A cultura em que vivemos hoje nutre obsessivamente expecativas pouco realistas. Ser mais feliz. Ser mais saudável. Ser o melhor, superior aos outros. Ser mais inteligente. Mais popular, mais produtivo, mais invejado e cagar pepitas de ouro de doze quilates antes de beijar uma esposa impecável e dois filhos perfeitos no café da manhã, depois ir de helicóptero para seu emprego extremamente gratificante onde você passa os dias fazendo um trabalho importantíssimo que um dia ainda vai salvar o planeta.”

Percebe como é isso que, no fim das contas, bem lá no fundinho, esperamos? E como é aburdamente, ridiculamente, próximo de um roteiro de filme de ação do Tom Cruise, do 007, do Indiana Jones ou de um punhado de super-heróis?

 

Surpresa!

“Oi, eu sou a vida real”

Tenho uma novidade pra você: você não é um super-herói (ou uma super-heroína) e provavelmente seu trabalho não vai salvar o planeta.

Você não viajará o mundo perseguindo vilões nem acordará no cume de uma montanha na Índia. Dificilmente você terá descoberto a maravilhosa Atlantis.

Muitas vezes seu trabalho – mesmo que você o ame – será simplesmente maçante e exigirá grande força propulsora, disciplina e comprometimento.

Com sorte, você encontrará um parceiro ou uma parceira de vida especial que, como todo ser-humano, carrega suas próprias dores e manias.

Mas não, este relacionamento não será perfeito, regado a sexo, jantares, viagens e sorrisos. Na maior parte das vezes será…normal. Porque a vida é, na maior parte das vezes, normal. E tudo bem.

Então, esta pessoa, que você escolheu para estar ao seu lado, fará coisas absurdas em muitos momentos.

Talvez ela bagunce o armário que você levou um dia inteiro para arrumar. Ou tenha problemas motores em repousar a toalha molhada no lugar certo.

Você ainda pode correr o risco de esta pessoa comer o resto do feijão e esquecer de deixar um pouco para você de vez em quando, ou ter o azar nada romântico do seu parceiro ou parceira ter um gênio ruim. 

Existe a chance de esta pessoa esquecer, dia-após-dia, de deixar os sapatos no lugar certo, ou que tenha a intolerável mania de guardar até o caldinho da carne e do tomate.

Caso você decida ter filhos, esqueça aquelas cenas de novela onde tudo é bonito, leve e maravilhoso. Há chances bem grandes de ser simplesmente doloroso, dificil, caótico, perturbador.

O parto não serão aqueles 60 segundos da Carolina Dickman maquiada de sofrência enquanto empurra o bebê. Acostume-se a ideia de que será irritante e que os gritos podem durar umas quatorze horas.

Ah! E aceite o fato de que eles serão criaturinhas que farão coisas estranhas, capazes de produzir coisas fedorentas e despertar uma fúria inexplicável em você.

Há enormes chances de um dia ele ou ela soltar um pum na sua cara, limpar o salão bem na hora daquela foto de família que tinha tudo pra ficar perfeita ou o mais velho fazer chifrinho na mais nova.

Quem sabe você terá uma filha “bunda-mole” como você disse que jamais admitiria, ou seu filho seja chorão de um jeito que você nunca imaginou.

Se você acha que, então, está tudo certo porque você já decidiu não ter filhos, você também está para lá de iludido(a)!

Não será essa simples decisão que tornará sua vida digna de clipe de hip-hop ou comercial de shampoo, desodorante, gillete.

Você não estará o tempo inteiro com pessoas lindamente esculpidas ao seu redor.

Seus amigos seguirão tendo suas próprias vidas, e as merdas não vão dizer: “Volta, volta gente, deu ruim. Esse aqui se deu bem e decidiu não ter filhos nem se casar.” ou: “Risca aí da nossa lista, essa aí tá proibido atormentar!”.

Não duvide: você também vai passar por uma porção de perrengues que julgará detestáveis ou até insuportáveis. E, ás vezes, sentirá a mesma solidão da sua amiga, casada e com filhos. 

Ah! Não: a probabilidade também não está ao seu lado em relação à moradia. Tão cedo você não estará morando na casa dos seus sonhos, talvez, nem um pouquinho.

Pode ser um apartamento no centro barulhento da cidade ou uma casinha bem simplesinha cheia de coisas para consertar.

Se for, tudo bem: paciência. Analise suas prioridades, trace uma estratégia e execute um plano de ação para mudar isto. Mas não espere pela mudança de casa para mudar de perspectiva.

O que quero dizer é que você, provavelmente, passará a maior parte da sua existência por situações difíceis – que se tornam ainda mais difíceis mediante as expectativas cheias de fantasia que colocamos nas coisas.

E esperar viver, sorrir e estar bem só depois que essas situações passarem é loucura e, por que não dizer, um dos maiores erro que poderíamos cometer.

Condicionamos todo nosso bem-estar nos contos da Disney. E envolvemos todas as pessoas e coisas no nosso devaneio. O mais bizarro é que, quanto mais fatores que fogem do nosso controle, mais possível aquilo tudo parece.

 


Por outro lado, quando entendemos que estar bem não tem muita relação com as condições ideais e nos libertamos da culpa de não termos sido capazes de realizá-las, a vida fica mais leve.


Você aceita, por exemplo, que pode ter vontade de esganar alguns membros da sua família de vez em quando, mas que é maravilhoso tê-los por perto.

Que a pessoa com quem você está construindo uma história é realmente incrível e estar com ela te tornou muito melhor.

Que você ainda não conseguiu fazer aquela viagem, mas que vai ser muito gostoso encontrar seus amigos no próximo final de semana.

Que você não tem o corpo que gostaria de ter, mas tem um coração quentinho e que, por enquanto, isso deve bastar.

Que, talvez, você gostaria de não ter tido filhos se soubesse o quão desafiante era. Mas você teve – e se não tivesse, sua vida teria dificuldades proporcionais à sua realidade.

Voltando ao Manson escritor (não o assassino): “O segredo para uma vida melhor não é precisar de mais, é se importar com menos e apenas com o que é verdadeiro, imediato e importante”

 

A lei do esforço invertido

Seja esse cachorro. Tô brincando – mas cê entendeu, né?!

Tudo isso parece ter muito a ver com o que descobri, mais tarde, se chamar também de “A Lei do Esforço Invertido”, do Alan Watts, que se resume assim: 

“O desejo de ter mais experiências positivas é, em si, uma experiência negativa. E, paradoxalmente, a aceitação da experiencia negativa é, em si, uma experiência positiva.” 

Há séculos passados essa ideia foi a base do Budismo. Tempos depois, foi um dos pilares do Estoicismo.

Provavelmente seria possível escrever umas vinte páginas sobre os inúmeros teoremas e conceitos relacionados, em diversos credos e culturas.

Mas pouco importaria: nenhum nome, teoria ou artigo poderá representar a totalidade e a complexidade individual das nossas experiências.

Sua dor é a sua dor e ninguém será capaz de compreendê-la completamente. 

Só nós sabemos o que carregamos, o que aquilo nos causa e o quão difícil é nos livrarmos de algumas malas pesadas que mal sabemos explicar como vieram parar no nosso carrinho. 

Mas, volto a falar: VAI passar. Não há como evitar isso. Nada é fixo. Não importam as suas escolhas, tudo vai estar passando, o planeta vai estar girando.

E as coisas não vão parar um pouquinho de acontecer porque deu uma boa complicada.


A vida não será paciente e não esperará você se recompor. Ela acontece enquanto e porque você se recompõe.



Para dar contorno ao que quero dizer, compartilho esse excelente trecho do longa Paddleton (2019) onde o personagem, brilhantemente interpretado por Ray Romano interpreta um outro personagem (ta, não importa, ne?). {ah! Se você tem Netflix, recomendo ver na versão legendada, ali pelos 32 minutos}


Em resumo: quando chegarmos ao último minuto, não haverá “misericórdia”. Você pedirá por mais tempo, desejará voltar atrás, viver todos aqueles problemas que, na época, te atormentaram tanto.

Mas adivinha só? Isso não vai acontecer. 

 

Então aproveite o segundo tempo

Apenas isso. O óbvio. O clichê do clichê. 

O que resta da sua vida está descortinando bem na sua frente e, enquanto o espetáculo acontece, você está preocupado porque a cadeira não está confortável o suficiente.

Não estou dizendo que, por isso, você deva sentir culpa. Por reclamar, por se queixar, por se cansar, por achar a vida uma senhora bem desagradável de vez em quando. 

Estou sugerindo que experimente uma existência onde isso não seja capaz de definir seu estado de espírito, ou pelo menos não prioritariamente. 

Porque, se nem todo mundo tem o privilégio da fé sobre para onde iremos depois da morte, qualquer um pode saber exatamente o que deseja fazer com todos os outros dias que restam. 


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Hoje a prática é bem simples, e não precisará ser executada por uma vida perfeita. Na verdade, seria até recomendável que se fizesse meio ao caos. Como alguns já sabem, eu amo listas. Portanto…
1. Trace três colunas. Em uma, faça uma lista de grandes amigos,  digo, de tudo aquilo que mais tem te incomodado ultimamente.
2.Na outra, force-se a visualizar o que poderia fazer de bom e produtivo com aquilo: como cada um destes incômodos poderiam ser uma oportunidade de aprender ou fazer algo? Não se preocupe…você não precisa achar uma coisa boa para cada coisa ruim, afinal, ãs vezes as coisas ruins podem ser simplesmente ruins.
3. Na terceira, faça um cruzamento das informações de ambas as colunas e de suas próprias percepções ao longo do exercício, e conclua considerando uma ação prática e cotidiana que você pode adotar para lidar de uma forma diferente com os problemas.
4. Uma sugestão extra é, depois, considerar pelo menos 3 coisas pelas quais você é sinceramente grato. Pode parecer uma tremenda bobagem mas esse simples ato foi cientificamente comprovado como um método eficaz de aumentar a satisfação e bem-estar quando feito diariamente. E sabe o melhor de tudo? É de graça. Na pior das hipóteses você ainda pode encher a boca para sair falando por aí que não funciona e que é tudo balela. Mas antes, concentre-se em tentar e realmente se entregar ao ato em si. 
Ah! Se quiser compartilhar ou tirar dúvidas, ficaremos felizes em conversar. E se estiver disposto(a) a diálogos construtivos, comente abaixo o que achou do post e da prática…concorda, não concorda? 

 

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9 obstáculos na busca pelo nosso caminho

Uma das minhas coisas mais latentes é que, desde criança, gosto de tentar entender quem sou.

Qual o meu caminho. Porque estou aqui. O que eu deveria fazer. 

Se isso ficou claro o início não foi à toa. Essa é uma questão que toma conta da maior parte dos meus pensamentos.

Para mim, isso sempre foi fundamental, porque um dos meus maiores medos é chegar no fim da vida, olhar pra trás e rolar um grande facepalm: fiz tudo errado. 

Mesmo assim, demorei muito, muito tempo mesmo, para finalmente aceitar as respostas que tive ao longo da vida. 

É possível que eu pensasse tanto nisso, que me afastasse do meu objetivo?

Pode até ser, mas não posso dizer com certeza.

Por outro lado, reconheço facilmente razões que foram mais eficientes em me afastar do processo. 

Afinal, a gente tem que fazer escolhas o tempo todo. Nem sempre são certas ou erradas – quando existe essa dicotomia.

No entanto, por mais projeções que façamos, os resultados rais só conhecemos depois. E nisso a gente se perde. Algumas vezes/sempre. 

Imagino que com você já tenha acontecido.

Aquele momento em que você olha para toda sua vida, para o momento exato em que você está, e se pergunta: 

será? 

O ponto positivo é que estamos em um cenário onde o questionamento e a descontrução voltaram ao palco e lutam lado a lado das certezas e convicções.

Portanto, os caminhos e escolhas rumo à felicidade são cada vez mais mencionados. Discutidos de uma forma transparente.

E tenho aproveitado para ler, ouvir e conversar a respeito destes assuntos. 

Você mesmo, inclusive, pode até já ter visto ou ouvido de várias outras pessoas o que tenho a compartilhar. 

Ainda assim, gostaria de aproveitar a oportunidade de te falar sob meu olhar.

Quem sabe, exatamente agora, você precise ler esse texto. A vida é uma incógnita . 

Talvez você encontre algo que te ajude na sua trajetória .

Afinal, são coisas que, certamente, teriam me ajudado na minha. Não se ofenda, sei que só há uma cópia de você no mundo. 

Mas acredito que, embora cada um carregue sua própria história, os dilemas da humanidade seguem uma curva semelhante. 

Ah! Adianto que decidi ser boazinha de novo (rere) e dar uma encurtada (obrigada, David).

Porque gostaria que você pudesse realmente processar a respeito de cada uma delas.

Então, decidi dividí-las em três partes e mencioná-las sob a abordagem de “erros”. 

Também não há nenhuma ordem “estratégica” dos tópicos: estão exatamente conforme surgiram na minha memória.

Então, vamos lá, conhecer 3 dos 9 obstáculos ou erros que você ( ou alguém que precise desse artigo)  pode estar vivenciando na procura de si mesmo. 


1. Pressa, impaciência, intransigência

a pressa como obstáculo

Eu já falei sobre essa questão da pressa e como isso foi/é problemático pra mim (e uma porção de gente).

Mas aqui estou falando de um outro tipo de pressa.

Entenda como quiser. Mas você sabe do que estou falando. 

Daquele nosso jeitinho super especial de querer as coisas naquela hora. 

Eu entendo: não evoluímos tão rápido quanto imaginamos.


Sempre preservarmos um resquício do estilo egocêntrico e mimado, típico das crianças. 

Antes de nos permitirmos pensar nas perguntas, queremos respostas

E, quando elas não vêm, nos frustramos e desistimos de esperar por elas.

Ficamos de mal com o mundo, com Deus, com o universo, com o cosmos, com os astros.

Com o movimento das marés, com a mudança da lua e com aquele amigo cheio de sabedoria que se nega a responder como você queria: mastigadinho.

Até tentamos de outros jeitos. Perguntamos pra nossa mãe, pro vô, pra vizinha.

E terminamos putos quando cada um deles parece fazer parte de um acordo conspiratório para responder daquele jeito passivo-bundamolizado: 

“tudo no seu tempo.”

Ou então aquele outro clássico:

“as coisas acontecem como têm que acontecer”

“Que tudo no seu tempo o quê! Tudo no meu tempo” — pensamos (ás vezes, falamos também, nem que seja para as paredes). 

“Não tem nada disso das ‘coisas’ acontecerem ‘como têm que acontecer’. Que as ‘coisas’ não têm que ter é vontade ne-nhu-ma. As ‘coisas’ estão na minha vida. Minha vida, minhas regras!”

E assim a gente fica certão de que pode fazer tudo sozinho.

Que temos o controle remoto do mundo e de todas as coisas na palma da mãozinha. Só chora, bebê.

Enquanto você não entender isso, o cosmos, o universo, Deus, os astros, seu amigo sabiozão, sua tia, seu vizinho…vão seguir dando a mesma resposta, no máximo com suaves variações. 

Você aprende, depois você ganha. Sempre foi assim, ué minha gente. 


2. Distrações da vida e coisas mal-resolvidas

as distrações da vida nos impedem de encontrar nossa bússola interna

Mesmo que alimentemos dúvidas e questionamentos dentro de nós.

Mesmo quando aprendemos que desvendamos a vida aos poucos: o buraco é sempre mais embaixo. 

Porque essa vidinha curta, é comprida o bastante para deixar rolar um monte de águas entre o momento que a gente nasce e morre.

Esse ‘e’ pequeninho ali é o grande barato – que pode sair caro.

Nesse espaço-tempo, passamos por uma porção de fases.

Descobrimos novos gostos e preferências, redefinimos prioridades, postura e estilo de vida.

Encontramos outras atividades prazerosas e pessoas com as quais queremos passar mais tempo. 

Tudo isso é muito bom e merece ser aproveitado.

Mas precisamos saber voltar para ficar a sós com a gente mesmo. 



Eu sei que você não quer dialogar com seus demônios mais assustadores. E que sentar a buzanfinha no sofá, para ver aquela nova animação do Netflix, é bem mais gostosinho. 


Afinal, essas distrações, que fazem parte da vida e são maravilhosas, também são armadilhas muito eficazes. 

E, como se as distrações naturais não fossem suficientes, decidimos criar mais algumas (ora, por que não?).  

Por exemplo: de repente, podemos começar a “sentir” que “precisamos” trabalhar mais, dormir mais e ver mais séries .

Embora eu concorde que nenhuma delas é intrinsecamente nociva, é preciso cautela.

Todas são bem legais, desde que nas devidas proporções e no momento certo.

Então a sugestão é: pergunte-se constantemente sobre a natureza das suas distrações, e o quanto tem se lambuzado nelas.

Você pode descobrir que tá meio demais, e que talvez elas estejam sendo uma ótima muleta—ou uma deliciosa forma de fugir de algo mal-resolvido.

 

3. Absorção de projeções externas

um obstáculo do processo é deixar que os outros projetem em nós sua visão de mundo

Sempre tem alguém com quem você cruza no meio do caminho e fala, usando palavras diferentes:

“Não, não é por aí não. Vem na minha, que dá boa. Eu sei um caminho bem melhor.”.

Porque uma coisa é certa: o mundo está cheio de pessoas dispostas a te dizer o que você deve ou não fazer.

Inclusive está muito relacionado ao primeiro dos comportamentos nocivos que mencionei.

Portanto, eu não tenho dúvidas que, em grande parte, essa é uma postura bem-intencionada.

Mas quem acordará ao lado das suas escolhas todos os dias é você. 

Nunca se esqueça disso. 

Costumamos, desde crianças, absorver o que vemos e ouvimos .

E mesmo quando nem é direcionado a nós ou sequer percebemos, algumas coisas penetram na nossa mente e ficam ecoando. Inclusive já falei sobre isso aqui.

Talvez seja nosso instinto primitivo de sobrevivência. Ansioso para aprender sobre a vida, sobre o mundo, sobre como existir nele. 


Mas muitas destas coisas, quando internalizadas, podem afastar você do seu caminho. 


É assim que as crenças limitantes começam:

“Você precisa ser forte; deixa de ser bunda-mole; isso é ridículo; é importante ter sucesso; você precisa entender que é um adulto e não pode mais ficar gastando tempo com essas coisas” — entre outras.

Só existe um colete salva-vidas. Como dizem, é preciso ser filtro, não esponja.

Eu sei: dificílimo, mas fundamental. 

 

 

[…]

Bom por hoje é só (que coisa de radialista né?!). Mas à medida que for interessante, compartilho o restante.

Enquanto isso…E você? Já cometeu algum desses erros? Qual seu palpite dos próximos? 

Se gostou, não deixe de compartilhar com aqueles que poderão se beneficiar! 

Ainda estou refletindo sobre os comentários. Mas, pufavozinho! Me fala lá pelo instagram, por aqui, manda uma carta, um sinal de fumaça. 

Me conta se isso fez sentido para você ou recomende outros “erros” que poderiam ser mencionados.

Ah! E se puder, me diz também se as práticas têm feito diferença ou se você sentiu falta delas em algum artigo.  😉

 

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Quatro coisas que me salvaram

Constantemente lembro-me de como eu era um ser-humano mais bosta até poucos anos atrás. E como isso parece ter diminuído gradativamente conforme os anos, experiências, pessoas, conhecimentos e leituras (boas/bons e ruins) foram se passando.

Não estou dizendo que alguém com características semelhantes seja bosta (como as que mencionei aqui), nem que eu acredite realmente que deixei de ser meibosta.

Mas, olhando para quem sou agora e para tudo que concluí até então, só posso me sentir mais bosta mesmo, quando penso na minha eu de antes.

Como já falei muitas vezes, não posso garantir quando foi o momento estopim, se é que houve algum. Um momento exato da mudança, a única coisa, pessoa ou leitura que me tocou.

Mas se tem algo que eu posso fazer, é listar certas decisões que foram…hm, decisivas?! Não só na mudança de comportamento como um todo, mas também em relação à adoção de determinadas práticas extremamente importantes para que eu tivesse uma vida melhor, dentro daquilo que descobri como meus padrões.

É claro que, nesse sentido, eu teria muito mais pra falar, porque existe uma porção de coisas que me ajudaram/me ajudam. Mas nesse post vou me referir especificamente a coisas mesmo. Objetos, coisas palpáveis, sabe?

Ah! Elas acabaram, sem querer, vindo exatamente na ordem em que aconceram. Eu gostei da ideia e mantive assim. Então, vamos lá.

 

1. O violão

Ter começado a aprender um instrumento me trouxe benefícios pelos quais sempre serei gratas. O violão entrou num momento nada original da minha vida: a terrível adolescência.

Então, como muitos adolescentes, aos 14 anos eu havia me tornado incontrolável. Para mim e para os outros. Em suma, eu era uma adolescente completa.

Tinha crises imensas de choro, tristeza, raiva. E não só me sentia sozinha: eu era sozinha. Não tinha amigos (e juro que não foi falta de esforço) e, para fingir que tava tudo bem, costumava dizer a mim mesma que não precisava de ninguém.

Meu pai, que sempre foi meu herói e reduto de consolo, já não lidava tão bem com aquela menina histérica, dramática, teimosa e desobediente.

Eu não era mais a garotinha de cachinhos, olhar bondoso e parceira de todas as horas. Assim, cada “não” que vinha dele, era uma razão a mais para dificultar sua vida e torná-lo meu inimigo.

Eu quebrava coisas, batia portas (e algumas também quebraram um pouco, tamanha a força), dava socos na parede (antes mesmo de saber que as pessoas faziam isso nos filmes, como uma manifestação apaixonada e problemática da raiva), gritava com os outros sempre que algo dava errado e não sabia lidar com as dificuldades normais da vida.

Portanto, também seria quase dispensável dizer que eu passava muito tempo ouvindo Legião Urbana, Pink Floyd, Guns Roses, Metallica e Ramones no meu quarto, o tempo todo, já que:

  1. eu não tinha amigos;
  2. internet só depois da meia-noite, escondida (sim, amigos mais jovens);
  3. e escrever durante muito tempo dava dor nos dedos.

Então pensei: bem, quem sabe aprender a tocar violão pode propiciar uma nova atividade individual agradável para colocar no menu.

E a mudança foi rápida para mim. Aprender (ou tentar) a tocar violão me trouxe disciplina, dedicação séria a algo, comprometimento e principalmente, concentração.

Quem já tentou aprender um novo instrumento sabe que é impossível fazer sem concentrar-se. É preciso tocar muito agilmente as notas, mesmo nas músicas mais lentas ou “fáceis”, e trocar notas geralmente envolve um conjunto complexo de formação dos dedos, respiração, e contagem instantânea.

Só ali eu vi que aquele modo agitado e intempestivo de ser era prejudicial. Não só para alcançar meu objetivo de conseguir tocar pelo menos uma música inteira sem errar, como para todos os aspectos da minha vida.


A partir de então, foi mais possível entender porque meus pais faziam aquela expressão de que estavam prestes a me esganar (embora eu não admitisse para eles, claro).


Além disso, essa época também foi deliciosamente temperada por pessoas que, de certo modo, eram meus amigos. Nós ríamos juntos e ousávamos compartilhar uns com os outros fragmentos de nossos medos e preocupações.

Por mais curta que tenha sido aquela amizade, não posso dizer que não foi verdadeira. Éramos honestos e confiávamos uns nos outros, não tínhamos vergonha e, acima de tudo, buscávamos genuinamente ajudar-nos.

Precisei admitir que eu queria mais daquilo sim: ter amigos, pessoas com quem houvesse identificação de valores e com quem eu pudesse dividir um pedaço da vida.

Obs.: E…sim. Eu consegui tocar pelo menos uma música inteira, sem errar. rs e de vez em quanto brinco com outras!

 

2. O diário

Foi mais ou menos nessa mesma época, depois de ter percebido algumas coisas sobre mim mesma, que decidi retomar a ideia do diário (iniciada de uma forma bem grostesca, na infância, com letras e desenhos incompreensíveis).

Embora eu lamente ter abandonado a prática, tive diário por uns quatro anos seguidos. E foi transformador de várias maneiras.

A primeira delas é que eu notei que, ao falar livremente sobre meus sentimentos sem ser julgada, eu ficava muito mais tranqüila. Era como se um peso enorme saísse de mim.

Normalmente fazemos isso com os amigos, mas como eu não tinha muitos disponíveis (para não falar o óbvio), era uma opção bem interessante!


Eu escrevia realmente todos os dias. Podia esquecer de escovar os dentes ou decidir tomar banho só no outro dia, mas escrever no diário era um hábito tão automático como tomar água quando estamos com sede.


É claro que, antes dos diários eu já escrevia muito: poesia, textos em prosa, desabafos juvenis espalhados, entre outros tipos de conteúdo. Então, na ocasião, eu já tinha acumulado vários cadernos e folhas soltas, devidamente guardadas em uma caixa.

Porém, a escrita do diário, era totalmente diferente. Não eram como arrombos inspiracionais que duravam dias e madrugadas adentro, cheios de paixão, intensidade, furor, fluidez, velocidade e mãos tentando acompanhar pensamentos — que cessavam tempos depois.

Não. Eram geralmente serenos, estáveis, práticos. É inegável que havia toda a tragédia e perspectiva dramática de uma adolescente passando pelas transformações e frustrações naturais.

Mas ainda assim era uma atividade de cunho prático e funcional. Era perene e constante. Era como fazer um relatório minucioso para um professor exigente.

A segunda razão pela qual foi transformador é que, ao escrever, eu também acabava refletindo sobre os acontecimentos que estava relatando, sobre o que eu estava sentindo e de onde vinha.

Essas coisas não apareciam se eu apenas ficava pensando sobre elas. Pelo contrário, ficavam ainda mais confusas  e assustadoras.

Mas escrever sempre deixava as coisas mais claras, para mim e para os outros (sobretudo meus pais, que acabaram sofrendo com alguns “recadinhos” nada elogiosos meus).

Por fim, o terceiro modo com que isso me transformou é que…cara! Ler aquilo era sempre positivo. Seja porque eu dava muita risada (como quando eu lia coisas mais antigas, de meses ou anos anteriores), seja porque me permitia refletir a respeito, lembrar de alguns dilemas, dúvidas e inseguranças, pensar em novas perspectivas.

Não à toa, até hoje tenho esses diários e guardo eles com muito carinho. Ali está parte de quem fui, e muito da minha transformação ao longo dessa fase de “sobrevivência”.

Passei a abandonar a prática quando comecei a trabalhar e fazer um curso a noite. Depois veio a faculdade conciliada com o trabalho. Como costuma acontecer, outras coisas ganharam prioridade e “roubaram” aquele espaço importante do dia.

Como eu disse, sinto um pouco de arrependimento de ter deixado de fazê-lo porque, desde que parei, aconteceram tantas coisas na minha vida, que eu gostaria mesmo de tê-las relatado adequadamente, para lembrar, para me revisitar. Sabe?

Então, uma resolução bem recente foi tentar voltar a prática. Até adquiri um exemplar resumido (365 perguntas, por cinco anos), que é bem gostoso de responder e útil (já vejo as diferenças de um ano para o outro, por exemplo). Mas pretendo usar também o modelo raiz: todo dia, páginas livres.

Inclusive estou pensando em criar um modelo para facilitar alguns gatilhos que acho válidos registrar, como a questão de saúde, hábitos, dores e afins (sabe como é ne, a gente vai ficando veio e sentindo necessidade de resolver mais e melhor essas coisas).

Se você tiver interesse em ser avisado quando isso acontecer, informe abaixo seu e-mail! 


Também já testei um modelo para lá de prático e resumido, que achei muito interessante mas por alguma razão não funcionou muito bem comigo, porque acabo sendo bem genérica e acho legal algo menos restritivo.

Mas fica a dica para quem é mais objetivo: esse artigo explica bem direitinho e o método é super simples e barato.

 

3. A bicicleta

Cara. Minha relação com as magrelas começou bem turbulenta. Ganhei uma linda dos meus padrinhos amados, no aniversário de sete anos.

Mas só comecei a andar sem rodinhas depois de muito tempo (e de várias bicicletas adultas que meus pais tinham que comprar e colocar a rodinha, afinal eu era muito alta para as infantis).

Então, imagine você a cena. Eu e a galera da rua (ou seja, minha prima e os amigos dela, gentilmente compartilhados comigo) dando rolezão.

Eles andando sem uma das mãos, sem NENHUMA das mãos, subindo e descendo de degraus e meio fios, e eu. Super maneira. Na minha super bike adulta. De rodinhas. Eu achava ok. Mas ficava tentada a experimentar aquela sensação. Assim, todos tentaram me ajudar.

Meu pai, coitado, todo dia sugeria algo novo. Minha mãe incentivava com sorrisos e olhares confiantes. Minha irmã mais velha dava todas as instruções, didaticamente. Nada resolvia.

Eu estava determinada: “tudo bem, vou andar para sempre de bicicleta de rodinha oras, qual o problema?”. Veja, eu já estava com uns 13 anos.

Todo mundo que eu conhecia tinha começado a andar de bicicleta (sem rodinha claro, porque a rodinha nem era considerada como andar de bicicleta) no máximo, aos sete.

Quem andava de bicicleta, impreterivelmente tinha começado nessa idade e a rodinha sequer era mencionada. Basicamente, quem não tinha começado a pedalar aos sete, era quem não tinha interesse em pedalar.

Mas eu tinha. Eu gostava de pedalar. De rodinha. Óbvio. Chegou ao ponto de eu repelir a ideia de andar numa bicicleta sem rodinha. Até que um dia minha prima conseguiu. E eu sempre vou agradecê-la por isso.

Ela fez o que meu pai, minha mãe ou minha irmã não tinham coragem de fazer. Afinal, ela também era uma criança, mas ela era melhor que eu nisso: ela não tinha medo.

Se ela era capaz de botar barro e areia nos meus ferimentos com sangue, para “estancar” porque era “meio médica” e sabia o que tava fazendo, ela CERTAMENTE seria capaz de me dizer:

“Olha só, vou te jogar desse morro aqui e você faz tudo que eu te ensinei, ta bom? É fácil, tu vai conseguir” – Foi mais ou menos o que ela fez.


Provavelmente inspirada pelos vários exemplos (bons e maus sucedidos) de filmes e por alguma das propagandas da Caloi, ela tinha muita certeza de que aquilo iria funcionar.

Nem mesmo ficou pensativa quando sugeri que aquela rua, cheia de paralelepípedos irregulares e buracos, talvez não fosse a melhor opção.

Porque além de eu cair (como várias vezes já tinha acontecido) e me machucar pela queda em si, eu me machucaria ainda mais ao cair no meio daquelas pedras. Não. Para ela não tinha crise. Ia dar certo.

“Deixa de ser medrosa, já te ensinei tudo que você precisa, acredite em você, você consegue.” Por obra do destino, pelo meu apurado instinto de sobrevivência, e pelo fato de não ter muita escolha, deu. 

De alguma forma, fiquei naquela geringonça por incríveis trinta segundos! Cai logo depois, mas tudo bem. Foi com estilo e consideramos a empreitada bem sucedida. Fiquei tão confiante por aqueles segundos convictos que depois ficou fácil.

No entanto, após algum tempo, ela precisou se mudar para o Rio e, com isso, todos os “meus” amigos bicicletados também deixaram de fazer parte da minha vida. Cheguei a pedalar durante alguns verões, mas era uma atividade sazonal, embora agradabilíssima.

Até que, já crescida, e tendo abandonado até mesmo a sazonalidade da pedalação (afinal, no verão, para uma jovem, surgem várias outras atividades bem mais interessantes), voltei a pensar nisso. Mas não ao acaso.

Eu tinha recém saído de 1. um trabalho que me deixava ansiosa; 2. de uma experiência traumática e 3. de um estilo de vida irregular, sedentário e gastronomicamente tóxico (era normal almoçar coxinha de frango com muito azeite de oliva, ou pizza da padaria com muito azeite de oliva; e repetir essas riquíssimas refeições também no lanche, e ás vezes a noite).

Então, depois de passar por uma fase magra, alta, morena, atleta, corredora, bonita e sensual eu estava me sentindo um saco de banha, inútil, gordurento, com a pele horrível, com o cabelo opaco, com olheiras, cansada.

Muito pior do que quando eu só era gordinha por conta dos remédios que tinha que tomar por conta de um quadro alérgico.

Enfim. Por sorte, logo chegou o verão, e aproveitei para relembrar a estação mais quente do ano sob duas rodas, já que na época a maioria dos amigos que eu tinha feito estavam vivendo em outros lugares, tinham feito outros amigos, tendo outras vidas.


Foi um período maravilhoso, inteiramente meu. Andava por todos os lugares, via as pessoas, parava para fazer um lanche saudável na beira-mar, curtindo o sol e o vento, o peso da lua e das estrelas. Senti que era livre.

 

E chegava feliz em casa, sem nenhuma vontade de comer por impulso. Mas quando voltei para a “cidade” e para o meu novo emprego, cada dia que passava me dava mais saudade daquilo.

Eu tinha rapidamente voltado para um estilo de vida ansioso e nocivo, comendo muito, me exercitando nada, dormindo pouco e mal, ficando estressada com o trânsito e com a correria de tudo.

Então tomei algumas resoluções. Uma delas é que eu compraria uma bicicleta, e eu usaria ela para me locomover. E ponto. Não teria mimimi de morro. De movimento de carros. De falta de acostamento. Ia andar SIM de bicicleta.

No início meus pais não botaram muita fé e tinham certeza que duraria pouco, que eu não agüentaria o tranco (porque sempre fui preguiçosa mesmo rs). Mas, ainda bem, surpreendi a eles e a mim. Minha vida mudou COM-PLE-TA-MENTE. Sério.

Continuava acordando sonolenta e me arrumando rapidamente. Mas ao invés de entrar no carro e dirigir rumo ao insuportável tráfego, eu pegava a bicicleta e ia surfando pelo asfalto.

Desviava de obstáculos, acelerava ou parava, passava entre vãos, subia e descia níveis. Quando chegava no trabalho estava disposta, acordada, com energia.

Passei a me importar cada vez menos com a trabalheira de trocar de roupa, secar o suor, me arrumar de novo para estar num nível minimamente razoável para o ambiente “corporativo”.

O mesmo aconteceu com os olhares atravessados, com a risadinhas e deboches do corredor de gente desocupada, com a encheção de saco de alguns motoristas mal-educados e grosseiros, com o preconceito, com a incompreensão de alguns, etc.

Além da alegria de estar me sentindo “no comando”, vieram outros benefícios como conseqüência. Por exemplo: descobri que aquele era meu estilo de vida, e instantaneamente a sensação de liberdade se tornou indispensável.

Isso fez com que eu repensasse sobre minhas roupas também. Afinal, eu deveria estar confortável se quisesse andar de bicicleta. Portanto também precisava desempenhar atividades profissionais que permitissem isso.

O próximo passo foi decidir que eu buscaria oportunidades futuras de trabalhar em um local que fosse mais flexível quanto ao dresscode e eu pudesse me sentir mais eu mesma. 

 

4. Os tênis

Com isso, vieram outras resoluções: eu usaria tênis. Procuraria tênis bonitos e confortáveis que eu pudesse usar para pedalar, ir ao cinema, trabalhar ou caminhar no parque.

Se você é homem e as mulheres da sua vida são perfeitas damas que se dão bem nos sapatinhos lindos e tipicamente femininos, talvez esse tópico não faça sentido para você. Mas, se você é mulher, e nunca se adaptou muito bem nos tais calçados, sabe do que estou falando.


Eu não submeteria mais os meus pés ou o meu corpo ao sofrimento das sapatilhas e outros calçados desconfortáveis que fingimos ser confortáveis para ficarmos mais a altura do que esperam de nós.

 

É claro que isso foi fortemente impulsionado por um problema de joelho que eu tinha há anos e só depois percebi piorar conforme o sapato que eu usava. Mas foi igualmente libertador.

Confesso que no início foi estranho e difícil. Até hoje tenho que pensar em alguns looks para determinados eventos, de tênis.

Pesquisei bastante, salvei uma porção de referências no pinterest ecomecei a imaginar como isso poderia funcionar sem que eu me sentisse mal, deslocada ou desrespeitada.

Não foi nada absurdo. Eu já tinha bastante clareza sobre o estilo de roupa que combinava comigo. Então, bastaram alguns poucos ajustes e achar os tênis ideais, que tudo se acertou.

É claro, para determinados eventos e ocasiões ainda me obrigo a usar um sapato diferente. Mas não mais salto ou sapatilhas.

Escolho sapatos preferencialmente de couro, duráveveis e confortáveis que combinem comigo, com meu estilo e que eu não precise fingir ser quem não sou.

Nesse mesmo viés veio o desapego do jeans. Continuo usando calça jeans, afinal elas são práticas e praticidade é algo que tem tudo a ver comigo.

Mas dou sempre preferência para aquelas que tenham bastante elastano, sem zíperes ou botões e cintura alta. Essas, por sua vez, perdem para as de alfaiataria que consegui achar no meio do processo.

E o mais legal é ver como o mercado está cada vez mais preparado para atender a demanda. Tenho visto váras marcas e referências femininas assumindo de vez os tênis, fruto de todo o trabalho relacionado ao empoderamento feminino e movimento girl power.

Não estamos mais aceitando esmagar nossos lindos pezinhos em qualquer sapatinho de cristal não. Queremos e merecemos conforto, em todas as ocasiões.

Sem dúvida, vez ou outra ainda rola aquele olhar 43 de reprovação, um desconforto de alguém ao ver uma mulher usando tênis fora da academia ou do piquenique no clube.

Mas isso é normal e a gente vai tirando de letra a medida que entende que é um incômodo completamente irrelevante perto da delícia que é poder andar entre nuvens e não ter que esperar chegar em casa para sentir aquele alívio, relatado e vivido durante tanto tempo.

 

Finalizando: experimente.

Decidi compartilhar com vocês porque realmente essas coisas me salvaram, cada uma no seu tempo e do seu jeito. Elas foram instrumentos essenciais para me levar para um outro degrau. Descobri intuitivamente, meio “sem-querer”.

Ou sej: eu não te conheço, ou a sua realidade. Não sei quem você é, ou os problemas que encara. Mas eu poderia, ainda assim, recomendar que tente algumas dessas atividades. 

Na pior das hipóteses, você terá aprendido algo sobre você e, quem sabe, descubra outras “ferramentas” que funcionem melhor para o seu caso. 

E, por favor, se puderem, compartilhem suas próprias listas. 

 

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

  clique para ouvir a música recomendada para essa prática

A prática de hoje é simples e dispensa tópicos: não importa se você está triste, feliz, neutro. Descubra algo novo, tente uma atividade diferente. Sério. É sempre muito bom! E também muito fácil. Ligar o som alto e dançar sozinho(a) em casa já ta valendo. Se possível, tente registrar isso de algum modo. Crie seus botes salva-vidas, porque é algo seu, cujo uso e proveito depende apenas de você mesmo.   
Se quiser, divida sua própria lista, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa, ou nos envie um e-mail! 
 

Continue lendoQuatro coisas que me salvaram

O que nos impede de ser mais feliz?

Desculpe. Eu me desautorizei expressamente de responder perguntas genéricas desse tipo para a sua vida. Porque, infelizmente (será?) eu não te conheço. Mas, para tentar ajudar no caminho tortuoso rumos aos tesouros do autoconhecimento, vou compartilhar minhas descobertas. 

O descontrole da Dolores, do Eufrades e outras coisas aí

Sabe quando sua mãe, qualquer adulto ou seu primo mais velho que se achava o sabichão, dizia que você não era todo mundo? Poisé, nesse caso, você é sim.

Porque todo mundo, até vocêzíssimo, acumula coisas ao longo da vida que vão dando forma a sua existência. Então a gente vai seguindo morreba abaixo, morreba acima, e na retona da vida. E nisso a gente vai catando coisinhas no caminho.

Aqui nem estou falando de coisas propriamente materiais. Estou falando exatamente do que é intangível, mas perene ao longo de todo esse caminho. Vamos chamar essa bolinha — esse emaranhado de coisas confusas que remoemos ao longo da vida, de Dolores

as coisas que acumulamos ao longo da vida costumam direcionar para onde seguimos ou podemos seguir
não entenda mal, o nome não é para ser sugestivo…amo minha Dolores, e espero que você ame a sua também!


Assim, conforme o tempo vai passando, nossas Dolores também se transformam. Aumentam, diminuem, desaparecem e se adequam a momentos e distrações que as levam para longe.

Ainda que a Dolores de cada um deva ser respeitada, até eu sou obrigada a concordar que ás vezes deixamos que ela passe dos limites, principalmente quando se junta com Eufrades, um competente radar-auto-falante-esponjoso.

Pelo menos é assim que eu vejo esses dois amores.

Vamos falar desse romance

Eu sempre fui muito perceptiva a tudo ao meu redor que, por qualquer razão, me interesasse. Então minha Dolores ficou grande e forte rapidinho, assim como eu. 

No entanto, manter o foco nunca foi muito uma habilidade minha. Sempre fui mais acumuladora do que propriamente uma agente de mudança.

tem horas que a gente se surpreende com a gente mesmo


Então eu só ia engordando a Dolores, sem nunca pôr aquela massa de coisas a trabalhar. Mesmo assim (ou talvez por isso), vez ou outra a Dolores ficava tão distante que eu não conseguia ver e a vida parecia mais simples.

Mas meu radar continuava ligado e eu não deixava de ser esponja, absorvendo tudo que via, lia, escutava — reverberando essa “riqueza” de conteúdo dentro de mim. 

Esse competente radar-auto-falante-esponjoso é a quem chamo de Eufrades

Nunca importaram as circunstâncias: Eufrades se comportava sempre um dedicado trabalhador, repetindo continuamente tudo que eu precisava fazer: estudar para ter um bom emprego; emagrecer para ser saudável, aceita e feliz; socializar mais e gastar menos tempo na biblioteca com medo do mundo. 

E não posso dizer que ele estava totalmente errado. 

No entanto, ás vezes, ele ficava sem controle e achava muito coerente me lembrar que eu precisava, urgentemente, planejar toda a minha vida, pois iria ficar para trás. “Já está ficando”, ele dizia ás vezes. Ou: “Não adianta nada ficar olhando pro horizonte…como você vai chegar lá?”.


Então, comecei a traçar planos e sonhos reais

E, com mais ou menos treze anos, resolvi tudo, torcendo para o Eufrades fechar aquela matraca. Decidi, por exemplo, que ter meu próprio apartamento e carro aos 23 – no máximo 24 (porque ne, eu era muito realista) – e trabalhar em um lugar com chão de vidro transparente.

Lá, eu andaria fazendo um toc-toc ritmado e sutil com meu salto; desfilaria com meu conjunto de alfaiataria cinza grafite, meu cabelo bem arrumado e uma pasta de couro elegante e feminina nos braços.

a expectativa e a realidade dos nossos sonhos e a nossa verdasdeira felicidade
até a poderosa Jéssica Pearson estava aquém da minha imaginação, mas digamos que era mais ou menos assim


Quando eu passasse, as pessoas me olhariam com admiração e respeito sem que eu me sentisse constrangida: porque eu simplesmente saberia que era merecedora daquilo, e aí tudo bem.

De manhã eu iria acordar e minha assistente pessoal estaria me aguardando com uma mesa de café da manhã simples e deliciosa, composta de geleias e suco natural; croissant, queijos e frios, ovos cozidos no ponto que eu gosto.

Eu tomaria o café já perfeitamente arrumada, sem um fio saindo do penteado. Maquiagem no ponto. Sairia de casa assim, impecável.

Do mesmo modo, chegaria ao meu posto de trabalho, onde exerceria algum ofício de excelente rendimento, com a competência e alto desempenho que me garantiriam crescer absurdamente e ganhar ainda mais.

Só que não

Nem preciso dizer que, nessa fantasia, quase tudo mudou. Até porque o despertador tocou e a vida real começou a chamar.

No meio do caminho, assim que tive a primeira oportunidade de começar a me tornar aquela pessoa, achei que simplesmente não tinha amadurecido o suficiente e não era digna desse papel ainda

Depois, mais velha, blindada e madura…bem, eu seguia me sentindo igual: com aquele peso incongruente de assumir o conjunto de alfaiataria cinza, salto alto, maquiagem diária, e roupas elegantes de todo dia (e eu sequer sentia que era merecedora de respeito ou admiração).

Algo estava errado (e ficou ainda mais)

Foi o que comecei a perceber, sem me dar conta do quão urgente era eu descobrir. Até que entendi, aos poucos, com um passo de cada vez, as batalhas pelas quais precisava lutar.

O primeiro estopim da guerra que travei dentro de mim foi quando perdi meu pai de uma forma dolorosamente inesperada.

Não quero usar de drama para conquistar mas é inevitável falar da minha trajetória/dos meus grilos e preocupações, sem falar daquele momento: porque eu realmente achei que não poderia suportar.

Mas, como humana obediente e sem a devida inteligência emocional, segui com esmero cada etapa do luto: odiei a vida, o mundo, as pessoas. Tinha raiva. 

Uma sensação insuportável de impotência e “desnecessidade” do existir tomou conta de mim. E é claro: eu não estava disposta a ouvir nada, embora muita gente tivesse tentado me dizer coisas importantíssimas.

Nesse processo, as conversas, o apoio e a troca de idéias que encontrei num grande amigo meu foi fundamental. Voltei a questionar alguns parâmetros, fazer perguntas sobre o mundo, sobre mim mesma.

Sobre a vida. Sobre como realmente não somos e não controlamos nada e como digerir e digerir tudo.

Hoje entendo que tudo realmente acontece por uma razão — além disso, era uma forma de tentar dar algum sentido à  “despessoalidade” daquele homem que eu supunha ser forte o suficiente para ser eterno. 


O primeiro checkpoint é a dúvida

Se existe uma palavra especial para nossos saltos no idioma francês, talvez o impulso para esses pulos também mereça nossa atenção. Você já passou por momentos assim? Um episódio marcante na sua vida?

Se já, é possível que tenha se deparado com dúvidas originárias, e poderia identificar pelo menos uma engrenagem, dentro de você, que passou a funcionar diferente.

Caso esteja passando por algo semelhante, a pessoa que você será depois que tudo se resolver, já não será a mesma. Se você não passou, um dia vai passar. Espero que lembre-se do que vou dizer. 



São os momentos de queda que antecedem o salto. Acredite: por mais difícil que seja, a dor tem um potencial enorme de nos transformar.

E acho que isso ocorre porque normalmente ela nos coloca em dúvida. Cria perguntas que não existiam e reverbera outras que decidimos simplesmente deixar de lado e fingir que nunca existiram – até aquele ponto.

Bom, embora esse não tenha sido o primeiro quatervois da minha vida, certamente foi o primeiro mais doloroso: questionei tudo, duvidei de tudo e, a partir daí, fui reconfigurada

Não entendam errado: não acho que a dor seja o único caminho. Pelo contrário, penso que não deve ser. Mas diante do inevitável da vida, pode ser uma ótima (embora cruel) propulsora da dúvida.

Afinal, duvidar é um dos sinais mais sublimes da nossa evolução: é um momento excelente para dar espaço a outras possibilidades.

Foi assim que uma possibilidade alternativa começou a se desenhar na minha cabeça: um contexto mais ameno, que já tinha permeado minha imaginação em outras ocasiões, voltou para disputar com aquela fantasia urbana de comercial de banco dos anos 90.


Fez-se luz: uma nova imagem começava a se formar

Nela, eu levava uma vida simples, vestia roupas confortáveis, estava de cara limpa, com o cabelo no máximo preso num coque. 

Sentada em uma mesa, eu podia sair de vez em quando para ver o verde, o céu, ouvir os pássaros; observar o mar ou alguma extensão de água e voltar ao trabalho, com um sorriso tranquilo.

Mesmo assim, por mais alívio que essa construção me trouxesse, vi como uma opção bastante ponderada dividir tais circunstâncias: poderia trabalhar na cidade, e depois chegar em casa, num lugar tranquilo e em paz.

Nem preciso explicar como isso estava errado. Mas ainda levei tempo para perceber que essa fenomenal flexibilidade era, na verdade, uma dualidade inviável e frustrante. 

Primeiro porque descobri que nunca estaria pronta para a projeção cosmopolita e urbana: aquele papel não me pertencia, seria só isso, um personagem.

Segundo porque comecei a entender algo que, para mim, hoje, faz muito sentido: não dá para ser metade autêntico e se dividir assim torna tudo ainda mais difícil.


Somos um só. E insistir em ir para dois caminhos tão opostos pode nos dividir tanto, a ponto de perdermos um pedaço da gente.

sobre autenticidade - trecho Lucifer S04E06 - sábia Dra. Linda
 sábia Dra. Linda


Era hora de dar uma esticada na Dolores

Então, quando notei que precisaria decidir, mas realmente não enxergava a opção “certa”, escolhi revisar meio sem-querer mesmo, mesmo no automático, tudo que eu era.

Peguei Dolores com carinho. Primeiro achei a pontinha mais recente e fui desenrolando todo o resto até achar a ponta mais antiga. 

Queria olhar meu passado com a nova perspectiva, descobrir de onde eu tinha tirado tantas ideias sobre quem eu seria ou deveria ser, na tentativa de finalmente encontrar meu pedaço mais importante.

Até que, passeando pelos nós firmes da Dolores e andando pela cidade, pensei em como eu detestava concreto, prédio, barulho, buzina, cinza. Por outro lado, olhava para o céu e me sentia livre. 

Foi mais ou menos assim que passei a descobrir a vida e a cidade de outros jeitos, me deslocando de bicicleta na maior parte das vezes. O vento no rosto, a fluidez de tudo, o mundo me pertencendo por um segundo. Eu, só eu, fazendo o caminho que quisesse, na velocidade que escolhesse.

E, finalmente, tive certeza: aquela primeira fantasia nunca foi real, nunca foi minha.  [imagine um mindblow agora].

Pode ter vindo de algum filme, novela. Devo ter visto alguma mulher poderosa que eu admirava — porque mulheres poderosas sempre fizeram parte da minha vida.

Talvez, por acaso, ela usava como armadura o terninho cinza, a maquiagem e o salto alto, me levando a associar as duas coisas; poder e estilo de vida cosmopolita. Poder e sucesso. Sucesso e felicidade.

Ou, quem sabe, nem tenha sido assim a construção desse formato de vida ideal. Vai saber. Não posso dizer de onde veio a noção de que aquelas coisas eram as minhas coisas, as coisas que eu desejava. Nem importa mais, porque depois eu soube.

E descobri que o caminho seria difícil de qualquer jeito. Mas poderia ser um pouco menos pesado. Decidi seguir tentando superar os percalços certos: ilusão por ilusão, escolho a minha. 

Recapitulando…

 

tire os entulhos do seu caminho que te impedem de ser mais feliz

 

Embora essa seja uma representação precisa da minha jornada, ao longo das conversas e leituras percebi que existe sim uma ocorrência predominante nos fatores que nos levam a ser menos felizes e na sequência de checkpoints que acontece no processo que vai do ponto A (completa ilusão e piloto automático) ao ponto B (entendimento, aceitação e ação consciente).

Fatores que nos afastam do que buscamos

  • acúmulo de resquícios mal resolvidas que constrem nosso sistema de crenças;
  • projeção superestimada do instinto de defesa que nos leva a autosabotagem;
  • resistência em confrontar e aceitar verdades sobre nossa vida;
  • construção de fantasia projetada como ideal, segundo expectativas de terceiros.

Sequência de checkpoints

  1. o processo de dor e dúvida vivido sem distrações;
  2. a interpretação dos problemas como campo fértil de oportunidades;
  3. risco de regredir com tentativas de esquemas de negociação com a realidade;
  4. aceitação do que podemos e não podemos controlar e a reação diante do inevitável;
  5. reconfiguração do nosso sistema de crenças e das verdadeiras possibilidades.

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

clique para ouvir a música recomendada para essa prática
Por isso, gostaria de propor algo nem seu Eufrades mais atento ou sua Dolores mais enloquecida poderia negar. Ah! Se tiver postits talvez eles sejam úteis. 
1. Pegue uma folha e divida em três partes/colunas. Em uma escreva Felicidade (1) Dolores (2) e Eufrades (3) – ou seu próprio nome para cada um deles. (ou baixe o arquivo prontinho, disponível no final da página)

2. Na primeira coluna responda à pergunta: “O que realmente é felicidade pra mim?”. Na segunda coluna escreva tudo aquilo que te deixa desconfortável, fruto de episódios anteriores que não foram devidamente processadas e resolvidos (coisas que as pessoas te disseram, que você viu, que sentiu, etc). Na última coluna escreva seus pensamentos mais persistentes (tanto os que te incomodam quanto os que não são um problema aparente para você) e que, na grande parte das vezes, guia suas decisões, seus objetivos, etc.  

3. Analise cada um dos elementos das colunas e veja se existe algum tipo de relação entre eles. Se puder ou quiser, você também pode compartilhar com alguém de sua confiança, com quem poderá falar a respeito e facilitar no processo de insight.

4. Com bastante honestidade, defina pelo menos um e no máximo três elementos que estão sendo obstáculos no caminho do tipo de felicidade que você busca e definiu na primeira coluna. Observação importante: pode ser, que nesse momento, você até perceba que precise alterar o que escreveu na coluna 1: tudo bem. O importante é buscar a verdade. 

5. Deixe esse material guardado em algum lugar que você possa revisitar com alguma frequência e faça os ajustes que considerar necessário ao longo da sua evolução.
Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

Continue lendoO que nos impede de ser mais feliz?

O elemento imutável da vida

É verdade. Mais um ano se passou. E sigo acreditando nisso.

Agora faz exatamente vinte e nove anos e vinte dias desde que saí da barriga da minha mãezinha, naquele dia bonito, feliz e ao mesmo tempo triste, de três de junho. 

Isso significa que desde que estou aqui, a Terra já deu mais de vinte voltas completas ao redor do sol. Mas, para eu chegar até ali, muita coisa precisou acontecer.

Se pudesse escolher, certamente faria alguns ajustes capazes de tornar tudo mais leve. Mesmo assim, diferente do que eu dizia no passado, eu gosto de ter vindo.

Porque, é claro, eu poderia ter escolhido outro dia. Eu poderia ter vindo antes. Eu poderia ter vindo depois. Eu poderia nem ter vindo.

Mas não. E, talvez tenha acontecido do jeito que tinha que acontecer. As coisas poderiam ter sido diferentes, e minha mãe poderia gritar outro nome quando fosse brigar comigo.


Mas não.

Era para eu me chamar Eslim.

Ainda bem, naquela noite, a Lua decidiu ser tão linda, mas tão linda, que minha mãe decidiu que iria me dividir não só com o meu pai, mas com algo que, até hoje, me acalma.

E, assim, passei a me chamar Luana, nascida da Lua.

É preciso dizer que ninguém se chamava Luana e eu precisava ficar repetindo toda vez que me apresentava – o que não adiantava muito, porque logo eu escutava alguém falando Luciana, Luane, Luísa, Lúcia e até Bruna ou Camila.

Então eu não gostava do meu nome, até bem pouco tempo atrás. Só que até bem pouco tempo atrás eu não entendia uma porção de coisas (e a maioria delas segue assim mesmo).


Por outro lado, entendi outras

foi mais ou menos assim, ou o inverso


Entendi que a vida é mesmo feita de ciclos, que tudo passa, e que tudo que acontece, quando a gente aprende a respeitar e processar, acontece por alguma razão.

A partir daí existem pelo menos duas opções: acreditar nisso sem nenhum embasamento adicional (hoje sou capaz de reconhecer que nem tudo precisa de explicação) ou não acreditar tão facilmente.

Se você e o ceticismo são íntimos – e não duvide que este não deixa de ser o meu caso – há um outro viés pelo qual olhar, e você nem precisa seguir uma religião ou ser espiritualizado. Basta que você imagine o seguinte:



pode ser que a razãde as coisas “serem” somos nós que criamos a partir da interpretação que damos ao que acontece.


Basicamente, não importa no que você acredita: basta que você aceite que não pode controlar tudo. Portanto, gerenciar os acontecimentos é a única opção disponível. Fazemos isso o tempo todo. Mas o modo como fazemos dá toda a diferença.

E é assim que passa

tudo é uma questão de perspectiva


Do jeito que você escolhe olhar para cada coisa. Porque vai passar. E existe um campo fértil de possibilidades para cada uma dessas coisas.

Coisas boas, coisas ruins. Coisas neutras que ás vezes deixamos de dar atenção mas fazem uma diferença danada quando são juntadas num punhado de tempo, de anos, de experiências.

Eu precisei de tudo isso: anos, experiências, feridas abertas prejudicando minha vida, fugas e desencontros de mim mesma. Muita negação ruindo.

Foi um longo processo onde mudanças imprescindíveis aconteceram. Até que cheguei aqui: a lugar nenhum importante para alguém, mas fundamental para mim.

Porque nenhuma das minhas mudanças mudou no mais gostoso de ser eu.

 

Mudando sem mudar


Mudei muito desde aquele 1990, mas a minha essência permaneceu lá dentro, esse tempo todo, intacta.

Trocou de forma. De tamanho. Se escondeu. Aborreceu-se, omitiu-se. Hora ou outra dava um sorriso e saía dançando, mas logo se amuava num canto, cansada de ser ignorada mais uma vez.

Só quando eu senti minha falta e descobri que precisava dela para me achar, decidi encontrá-la. E descobri que eu não sou o que eu imaginava que seria aos 29.

Se teve uma coisa que eu não me tornei, foi a Luana adulta que eu imaginava quando criança. Essa “Luana de 29 anos” não chega nem perto daquela projetada pela mente da Luana de quatro, doze, dezesseis.

Ainda bem.

Eu gosto muito mais dessa versão.

Nela eu aprendi uma porção de coisas que nem minha idealização infantil mais bonita seria capaz de supor. A maioria delas não são coisas fáceis de explicar, tangibilizar, ensinar.


Mas eu vou tentar. É por isso que estou aqui.

Então, prometo ser sempre honesta. Porque você precisa saber algo sobre mim: não consigo dizer algo em que eu realmente não acredite com toda minha força.

Por outro lado, como você pode ter notado, acredito que mudar de opinião, de ideia, de sonhos, faz parte de crescer – foi assim comigo, e se você está presente é ou será com você também.

Portanto, esteja ciente: estou muito longe de ter respostas – inclusive, faz tempo, elas deixaram de ser objeto de desejo. Porém, sigo curiosa.

Metamorfose Ambulante - Raul Seixas
“Prefiro ser essa metamorfose ambulante. Mas sou inevitável e tô vivão, seus bosta.”


Assim, espero que você entenda e lembre que nada do que trago são paridas como verdades absolutas. São percepções que decidi compartilhar por entender que podem ser construtivas em algum ponto da SUA jornada, como foram ou têm sido da minha.

Também não tenho intenção de agradar você.

Mas sou ousada o suficiente para sonhar que um dia, você entenderá algo novo sobre você mesmo enquanto estiver lendo algo por aqui, algo que te ajude a ser de um jeito que te deixe mais feliz.

Então, eu espero, do fundo do meu coração, te ajudar a encontrar suas peças e montar pelo menos um pedacinho do seu quebra-cabeças, enquanto quebro a cabeça buscando caminhos para decifrar o meu.

Sinta-se em casa. Senta aí e fica a vontade.


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