Sobre a vida, viver melhor, reflexões, artigos com práticas, etc. Reflexões. Postagens de cunho questionador, existencialista e/ou filosófico. Assuntos normalmente polêmicos ou com muitas perspectivas podem ser incluídos nesta categoria, assim como publicações que realmente levem a pensar e/ou discutir o assunto sob aquele viés que se apresenta.

Anos 90, Elon Musk e a m#rd@ toda

Essa semana, como muita gente, fui ‘surpreendida’ por duas notícias:

Sobre a primeira, não há muito o que dizer:

a finalização bilionária da compra integral do Twitter por parte do Elon Musk e os petelecos do Sr. Orkut nas nossas vidas.

“Homem bilionário faz transação aparentemente extravagante e choca um mundo aparentemente inocente por acreditar que seus objetivos são exatamente o que se vê acima da superfície.”

manchete imaginária do meu jornal mental


Essa semana de 2022: Elon Musk e Orkut

Então, não vou ficar redundando nada aqui, mas espero que você pare logo de ficar: “oh meu Deus mas é muito dinheiro por uma rede social só pode ser porque ele quer criar caos na terra” – se está sendo seu caso.

Não, o cara não é burro (tampouco vilão nem santo) e embora eu acredite que a defesa pública do ato tenha uma porcentagem de verdade, está longe de ser a verdade toda.

Como disse um ex-colega de trabalho, isso não é sobre rede social, é sobre learning machine. E como esse assunto (incrível) não é tema por aqui, te indico demais ver o videozinho do Dácio Alexandrino sobre isso, lá no instagram dele, e também ir atrás do conteúdo maravilhoso do Zero.Ai, do Hyan.

Bom, indicações FREE à parte… O segundo tópico, aí sim, queridos passageiros, bate mais forte nesse peito nostálgico.

Me ridicularizem à vontade, mas a verdade é que, quando vi aquela palavrinha, já remota, surgindo numa conversa de whatsapp, fui arrebatada por lembranças e reflexões que, provavelmente, quem nasceu nos anos 90 vai entender melhor.

De novo, meu ceticismo marca essa circunstância na minha cabeça: nada é exatamente o que parece quando o assunto envolve muitos dados e, claro, dinheiro.

E, sim, se você pensou isso, eu concordo: precisa existir algum interesse para motivar um ‘pronunciamento’ desse. O conto da fênix renascida é bem forte e irresistível, mas a verdade é que, por mais bonito que seja, precisamos admitir que mesmo se o cara estiver completamente bem intencionado (o que eu não acho tão ridículo assim) e decidir fazer uma operação enxuta:

  1. Gerenciar uma rede social com a quantidade de bytes que isso exige, envolve servidores, hospedagem, aluguel na ‘nuvem’ e um monte de coisas que não são exatamente baratas e dificilmente poderiam ser feitas por uma única pessoa.
  2. E aí vai de a gente pensar quem banca ou vai bancar essa parada aí, aparecendo ou não. Porque o Sr. Orkut não vai simplesmente se aposentar e do nada bancar um sonho maluco de tantas pessoas que pediram (de brincadeira, que seja) a volta do Orkut.

Os anos 90

Tá bom, ok, sanado esse trecho supostamente ingênuo das minhas emoções afloradas, vou te levar para onde isso tudo me levou.

assim-passa-charlie-brown-elon-musk-anos-90
uma homenagem

É que coincidentemente, essa noite tive um sonho bizarro e ruim que terminava comigo encolhida dizendo: “chega, chega, chega, chega, chega!” repetidamente. Como num surto psicótico, era como se eu tivesse vivendo um pesadelo acordada.

Com a liberdade onírica e um tanto dramática da história, a verdade é que contando pro meu marido sobre o sonho tive um pequeno vislumbre de uma das tantas possíveis origens e significado dele.

Então, vamos lá, se você nasceu ali entre 1985 e 1992, e teve uma vida um relativamente privilegiada, você vai se lembrar: de ter ido na casa de algum amigo jogar videogame e soprar a fita do nintendão. Ou do discman, do gameboy, de Charlie Brown cantando “Vou te levar” Malhação às 17h30 numa academia ‘de verdade‘, dos brinquedos da Estrela e jogos da Grow, de ir na locadora alugar filme (e levar bronca por não ter devolvido e pagar multa); de Doug, da tesoura da Minnie, do Fantástico Mundo de Bob, Dragonball, do pânico parental com Pokemon, dos questionários em caderno que rodavam por aí na sala de aula… e uma série de outras coisas que você viveu nesse surto coletivo.

Mas outra coisa interessante, é que essa galerinha toda aí, na qual me incluo pacas, viveu uma parada que sempre vou achar bem épica: a gente nasceu e cresceu junto com essa merda boa de tecnologia acessível.

Isso significa, entre outras coisas, que vimos coisas como mIRC e ICQ surgirem, evoluírem (em partes) e dar lugar a coisas como blogger, MSN e Orkut para ‘crescerem’ junto com a gente.

E, cara, me corrijam se eu tiver MUITO errada só que era gostoso pensar como tudo era carregado de uma… inocência.

A gente se achava os malandrão, esperando dar meia-noite pra usar escondido a internet. Colocando frase ou ouvindo uma música de indireta no status do MSN. Andando com a mochila cheia de disquete, mandando ou recebendo depoimento para alguém.

‘Participando’ de alguma comunidade onde tudo se resumia a entrar nela para todos saberem que “Eu acho tudo muito caro” e pensarem em você como um senhor de oitenta anos andando num corredor de supermercado e dizendo que achava tudo muito caro.

sem dúvida alguma, uma das minhas preferidas

Ou, em outros casos, uma maneira de deixar no ar aquela ‘indireta’

um clássico

E até mesmo se sentir um adolescente reizão, donão de si, declarando com coragem um tipo muito estranho de rebeldia (só que nada, porque levava peteleco e pedia desculpa se a vó visse)

tipo isso

Ou o oposto, posando de adolescente-xófen-adulto-intelectual e ainda por cima engraçadão com estilo.

quem nunca se irritou mas desejou essa?

Fora que era uma delícia ficar clicando naquele botão que fazia o MSN alheio se tremer todo e obrigar a outra pessoa a te dar uma resposta, só pra encher o saco – e na mesma linha, usar a cutucada do Orkut. (inclusive, aproveita que Facebook ainda existe, e viaja aqui nessa página cheia de referências como estas)

Mesmo quando a gente já tinha crescido um pouquinho, tinha um quê de malemolência ‘dar um toquezinho’ para aquela menina ou menino com quem a gente vinha empreendendo um jogo juvenil, gostosinho e, hoje, arcaico, de conquista – se é que se pode chamar assim.

Nota: queridos millenials e demais: isso era basicamente um universo onde não existia WhatsApp, a internet era cara e até mesmo um SMS poderia ser bem inviável, então o que fazíamos?! A gente ligava para o número, muitas vezes a cobrar, lógico, e deixava tocar uma vez… ás vezes, ousadamente, até DUAS. Impressionante, não é mesmo?

Sei lá, eu me achava muito coerente quando consegui publicar meu blog de poesia e prosa poética (sim, ele ainda existe como um arquivo público, rs) e conversava com escritores e poetas do Brasil todo – sem fazer a menor ideia se o nome daquelas pessoas era aquele mesmo, mas ainda assim gastando horas da minha vida com aqueles perfis cujo rosto e corpo eu desconhecia – mas cujo fragmento ínfimo da intimidade era tão fácil me identificar.

Um jeito simples de entender o que aconteceu

Fazendo um paralelo bem fácil de metalinguagem, vocês também podem lembrar daquele alerta clássico da balinha contendo droga que era vendida perto das escolas.

Pela ‘mitologia’ popular, existia por todo o Brasil, garotos bem apessoados, que se aproximavam das crianças e davam um balinha num dia, um pirulito no outro… e iam construindo uma generosa amizade com essas crianças que se achavam bem especiais, faturando de graça a dose diária de docinho.

Bom, eu daria vários outros nomes para práticas muito semelhantes que infelizmente acontecem com pequenos ajustes de realidade (afinal os mitos nascem de algum lugar). Mas a verdade é que somos essas crianças.

Dia após dia, mês após mês, ano após ano, fomos sendo atraídos com estilo, vai?!

O mundo foi parecendo mais diferente, colorido e divertido. Tinha corrente e fake news, mas a gente recebia essa parada de gente mais velha e era um troço bem elaborado, com apresentação e .ppt, voz Cid Moreira!

Não era uma parada organizada, estruturada, criminosa. Existiam sim outros meios de manipular informação e ‘politizar’ em manada a sociedade. Mas até então, aquele era nosso escape. Ali era um lugar seguro

Aí… vieram os anúncios. E os nossos CPF’s que eram tão protegidos e cuidadinhos, de repente, passaram a ser solicitados com uma frequência cada vez maior.

Afinal AQUELE volumes de dados, aos olhos de um grupo importante de pessoas, era tipo um bifão no melhor estilo Frajola.

o que nossos dados sempre foram

Essa galera aplaudiu em pé o surgimento dos smartphones, do SMS, das compras gigantes de serviços online que iam se bifurcando e buscando espaço no monopólio que se desdobrava.

Isso tudo enquanto a gente andava pra lá e pra cá meio tenso sobre o que fariam com os números dos nossos documentos – você não pode negar que era até charmosa tanta inocência.

Brincadeiras à parte, enquanto a gente estava pensando se ia vender nosso pão, outra patotinha estava focada não só em dominar as padarias como em transformar tudo em uma multirrede.

Chegamos

E aqui estamos. Onde tudo é anúncio, propaganda, imagem pessoal, gatilho mental, landing page, copy, estratégia, marketing. Não tô dizendo que isso é intrinsecamente ruim. Nem daria pra vilanizar a coisa toda porque a gente se beneficiou disso também. Além do mais, eu sei que tudo passa.

Fato é que eu estaria disposta até a pagar por algo que antes eu tinha de graça e, hoje, me sinto incapaz de conquistar sem dificuldade: minha paz de espírito. Mea-culpa, claro, mas de algo que dissesse por mim: “chega, chega, chega!”.

Que me trouxesse a liberdade de sair de casa sem celular e não se preocupar em responder mensagens. De postar a cada três semanas porque deu vontade sem me sentir culpada ou triste ou envergonhada ou ineficiente por isso. De não estar ganhando dinheiro por algo que deveria ser só uma maneira de nos conectarmos sem limites.

Eu entendo, de verdade que, se eu me sinto assim, a culpa é minha por me permitir – e se você carrega frustrações semelhantes mas não vê dessa maneira, te convido a ler esse artigo incrível do Mark Manson a respeito do tema.

Mas no fim das contas, só estou falando sobre conseguirmos ser humanos sem ter que nos esforçarmos tanto pra lembrar que qualquer coisa que tenhamos criado deveria servir para evoluir nossa consciência, e não em externá-la – a ponto de nos tornar dependentes de coisas bem mais perigosas do que os amigos sem identidade dos fóruns que eu participava.

E você? Vai pagar quanto?

Continue lendoAnos 90, Elon Musk e a m#rd@ toda

6 coisas melhores que Instagram e WhatsApp pra explorar seu tempo

Não é como se eu fosse sócia-proprietária dessa sensação, mas nem por isso ela se torna menos válida: tô cansadona de certas atividades online. Instagram ganhou o Emmy Ranço dessa categoria.

WhatsApp, por outro lado, acaba sim sendo uma mão na roda pro trabalho.

Mas gera uma série de ansiedades que poderiam ser resolvidas de várias outras maneiras – como todas as que nos serviram muitíssimo bem antes de ele existir. Lembra?

Inclusive, eu já estava preparando um artigo trazendo outras opções bem mais legais. E aí, essa segundona, cai instagram, cai facebook, cai whatsapp

Resultado: todo mundo pira, né Mauricio Stycer?

Impossível não escolher esse tweet do Mauricio Stycer como meu favorito da situação


Eu, por outro lado, fiquei mais Edward Snowden: achei um dia abençoado. E me senti aliviada com a declaração dele.

Sim. Muitos vão me odiar. Mas não posso negar: é assim que me sinto. É mais forte que eu. O problema não é você.

Agora, vamos combinar: independente do que você pense a respeito, essa pode ser uma boa oportunidade de avaliar como está usando seu recurso mais valioso.

Por isso preparei 6 coisas bem melhores que o WhatsApp e Instagram pra explorar seu tempo. Confere!


Aprender algo novo

Posso pensar em pelo menos dez coisas novas que podemos aprender dedicando pouco tempo por dia.

Mas, compartilhando minha experiência pessoal, confesso que estou bem feliz em ter usado o tempo (que eu ficava em scroll infinito pelas redes sociais) para aprender algo que sempre me atraiu demais: o francês.

Sim. É verdade: meu marido não me suporta mais praticando (até quando não estou efetivamente estudando).

Porém, sigo satisfeita em sentir que, se eu fosse para Paris já saberia onde e como encontrar livros, pão, vinho, queijo, café, panqueca e cerveja. Sério: quem precisa de mais?

Tenho estudado cerca de 15 minutos por dia. Completamente de graça. Via Duolingo, sim, mas com toda a seriedade que um caderninho enfeitado de ”chattes noirs” pede!

Se idioma não é a sua praia, existem vários cursos free ou baratinhos por aí, como nos sites do Domestika, Udemy, etc. Até a Colab55 lançou uma lista de cursos para aprender fotografia. Escolhe alguma coisa e vai.


Uma voltinha pela web

Se perder num rolê aleatório – ou não tão aleatório assim – pela vida online também pode ser ok quando a gente tá naquela preguiça.

Melhor (é sério, bem melhor) que ficar naquele rolo infinito de vida normalmente plástica.

Pessoalmente, eu recomendo a todo mundo que tenha um canivete suiço pra esse tipo de coisa. Meu perfil curioso sempre me leva para umas viagens muito aleatórias na web.

Ás vezes são boas, mas na maior parte das vezes tendem a ser enlouquecedoras. Então eu tenho esses três canais que gosto muito:

Extraoficial: Eu juro que tenho curtido acompanhar eles por apps próprios. Gamei no Feedly Classic. Literalmente, preto no branco. Experimenta, vai.

Ah! Claro, até o youtube pode ser uma opção. Como gosto muito de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, pingo no Nós da Questão, aprendo uma receita com o Mohamad Hindi, ou vou dar umas risadas com a pureza animada e nerd do Leon no Coisa de Nerd.


Um trabalho manual

Nosso corpo foi feito para se mover. Nossas mãos para construírem coisas. Vilém Flusser, um cara cuja obra e pensamento admiro muito (ainda que polêmico) fala muito sobre essa questão.

Temos, cada vez mais, perdido nossa capacidade de usar nossas mãos para construir coisas. Qualquer coisa. Desenhar , costurar, inventar moda.

Não precisa fazer bem. É só um exercício que pode ser, digamos, criativo. Então, é até melhor que você não saiba fazer bem.

Na boa, tente experimentar algo em que o sucesso não é medido pelo resultado final, mas pelo processo. O sucesso é você parar e fazer isso, com as suas mãos. E depois, claro, você pode olhar para sua própria obra e falar:

Na boa, tente experimentar algo em que o sucesso não é medido pelo resultado final, mas pelo processo. O sucesso é você parar e fazer isso, com as suas mãos. E depois, claro, você pode olhar para sua própria obra e falar:

“Ficou uma merda. E fui eu que fiz. Massa.”

Caso você seja viciado(a) em produtividade também pode escolher algo com menor risco e maior chance de aproveitar de forma dupla o tempo. Quando preciso de algo assim, cozinhar é minha… coisa.


Descobrir outros caminhos

Acho sensacional existir um conceito próprio para designar ambientes criados para as pessoas se socializarem e estabelecerem conexões, redes, interações.

É aqui o momento onde eu deixo claro: eu não odeio internet nem rede social. Eu só me canso da plasticidade e da falta de conexão que algumas delas têm com minha forma de ver o mundo e dos meus próprios interesses.

Para mim, a maior vantagem de uma rede social sempre foi – e me esforçarei para que continue sendo – uma oportunidade incrível para estabelecer o diálogo.

Diálogo, essa coisa sensacional e rara onde as pessoas genuinamente desejam aprender e evoluir juntas a partir da captação de experiências e perspectivas.

Assim, nos últimos tempos tenho me dedicado a descobrir outras, que apresentem maior sucesso com isso. Por exemplo, eu já usava, vez ou outra o Medium e o Twitter.

Mas recentemente o LinkedIn têm sido um bálsamo para consumo de conteúdo e trocas gostosas. (além de outras duas redes que tenho brincado e pretendo trazer aqui outra hora)


Ler, simplesmente

Eu fiquei na dúvida se deveria trazer esta de forma separada já que ela tem tudo a ver com aprender algo novo, buscar outras perspectivas e descobrir outros caminhos de consumo de conteúdo.

Mas, cara! Sinceramente. Não tinha como não trazer isso aqui. A leitura sempre foi algo muito presente na minha vida e eu realmente acho que têm um Q de liberdade.

Tanto pela possibilidade clichê mas real de explorar e conhecer novas coisas sem sair do lugar, tanto pela ideia de poder acessar novos conhecimentos.

(o que fica muito claro em “A pérola que rompeu a concha” – um dos mais recentes e marcantes que li e recomendo para estômagos mais fortes que o meu!)

Não tem desculpa pra não ler. A não ser que você seja daquele tipo que diz que não gosta mas nem tenta.

Fora isso… pega emprestado, vai na estante de alguma biblioteca ou da tia. Pede pro sobrinho escolher um da escola dele. Baixa baratinho pra ler no kindle ou no celular. Opção não falta.

Aqui, mesma lógica de como tenho aprendido francês: um pouquinho todo dia já significa um avanço enorme depois de uma semana. Cada vez que eu iria pegar o celular por pura bobagem, eu lia.

Gostooooso demais! #vidememe (do Garoto da Caneca que não lembro o nome, me ajudem).


Se presentear

Eu sei que você pode achar irresistível ler isso com a voz de algum vídeo cafona motivacional (e esse papo tá, cada vez, mais pipocando por aí.. então você pode sim querer revirar os olhos).

Mas serião: qual foi a última vez que você se presenteou com tempo? Sabe? Tipo, que você ligou um som e se preocupou só em ouvir aquela música.

Que você só parou na frente da janela e observou as coisas rolando lá fora. Que você olhou pra dentro. Que você se alongou ou deu aqueeela espreguiçada ‘fora de hora’ ?

Nesse mundo maluco que a gente têm mergulhado, nada pode ser melhor que esquecer o desespero por alguns minutos e escolher a si mesmo.

Continue lendo6 coisas melhores que Instagram e WhatsApp pra explorar seu tempo

Quem te inspira? – mulheres reais

Como sempre, foi devanear um pouco mas continua que você vai entender como a inspiração e as mulheres formam um bloco compacto e firme na minha vida.

Afinal: quem te inspira?

Essa foi a pergunta com que me deparei ao lembrar de preencher um diário para cinco anos que ganhei de presente de mim mesma no final de 2017  (que, inclusive, é algo que recomendo a todos, porque é uma ferramenta deliciosa de autoconhecimento e reflexão).

(ta, tudo bem que eu não respondi no dia certo e mudei desde o início algumas perguntas que não faziam sentido)

Enfim. Lá estava eu. Pensando naquilo que me inspira.

Então lembrei do workshop de Repertório Criativo que participei com dois mestres incríveis – o Diego Piovesan e o Timóteo Farias.

Em um dado momento fomos “desafiados” a definir parâmetros para nossa bagagem criativa. E um destes pilares eram pessoas que nos inspiravam.

Na ocasião, considerando o objetivo da tarefa e o viés artístico considerei escritores e pintores.

E foi legal notar que em todas as minhas fases, praticamente as mesmas coisas me inspiram: escritores, pessoas da minha vida, artistas, a natureza, o silêncio, a música, a água. Mudam-se os nomes, mas não as “coisas”.

Porém, naquele momento, de responder no caderninho, pensando mais introspectivamente sobre essa questão, percebi que ela poderia ser muito mais rica e cotidiana do que eu havia suposto: eu nem precisava ir longe, romper fronteiras, para encontrar inspiração.

Há pessoas inspiradoras muito, muito perto de nós. Se tivermos um olhar atento, fica fácil perceber.

Assim, decidi que este seria o primeiro post sobre o assunto: o que mais me inspira e me importa no mundo, as pessoas, reais, da minha vida.

Beleza.

Só que ao processar quem eram, e percebendo logo de cara que eu não conseguiria falar de todas em um único post, vieram muitas mulheres.

Portanto, estava mais que decidido. Eu já havia homenageado alguns homens inspiradores. Então olhei com gratidão para essa ideia.

Porque, por acaso e sorte, sou rodeada de grandes mulheres. De mulheres inspiradoras. De mulheres reais. 

Das mulheres mais do que da minha vida, mas da vida delas. Mulheres que criaram e pertencem à própria história. 

Porque temos a tendência de avaliar e interpretar tudo com base em uma perspectiva muito limitada – nosso escopo, o momento específico em que surgimos na trajetória de alguém ou de um determinado acontecimento (inclusive já falei sobre isso aqui).

Então, sei lá, tentei cuidar para não subtrair tanto.

Não posso negar que todas exerceram papéis significativos na minha jornada, muitas vezes estereotipados.

Ainda assim, eu gostaria de trazer à luz os seres-humanos por trás de todos estes “personagens”.

Afinal, ter tido a honra de vê-las exercendo determinadas “funções” em minha vida não me dá o direito de limitá-las a isto. 

Então, é verdade. Continua sendo sobre inspiração, mas este se tornou um texto de agradecimento e homenagem.

As pessoas que menciono aqui merecem o mundo.

No entanto, como o mundo está um pouco longe das minhas possibilidades, espero ao menos ser justa com cada uma delas.


MILSINHA

Milsinha. Mamãe. Quem ouve alguém chamando ela assim, sem conhecê-la, está propenso(a) a logo pensar em uma senhora calejada, baixinha, de olhos bondosos e sei la, tricotando numa cadeira de balanço.

Nada contra nenhuma dessas coisas. Justiça seja feita, porém (ainda que, provavelmente, ela não goste da exposição)…

Vou precisar dizer: Milse é durona.

Na família brincam ao chamá-la “general” e, em todos os ambientes profissionais pelo qual já transitou as pessoas sempre a tratam e a respeitam como líder.

Porque ela é firme e parece sempre saber o que fazer em praticamente qualquer situação.

Pode ser mesmo até meio estranho (para os outros) o fato de alguém chamar ela de “mamãe”.

O que poucas pessoas sabem é que esta mulher, também minha mãe, é incrivelmente doce.

Muitos acreditam que a força que ela tem – ou a habilidade em demonstrar ter – vem das coisas difíceis que já precisou viver.

Sim: minha mãe viveu coisas muito difíceis que, só de imaginá-la vivendo, penso em como ela conseguiu – e em como eu gostaria de já existir e ser adulta para ajudá-la.

E é claro, embora algumas derivaram de escolhas, outras ninguém pôde prever ou controlar – que são justamente o grupo de coisas que nos põem a prova e testam nossa resiliência.

Tudo foi muito precoce: o desmembramento e mudança de padrão de vida da família, o início da vida adulta – quando ela se mudou aos 16 anos, sozinha, buscando um futuro melhor e sobrevivendo em uma cidade completamente diferente – ou a dor de perder um dos irmãos são só alguns exemplos claros do potencial sobrevivente dela.

Não vou detalhar muito porque não quero quebrar o encanto de descobrir as verdades por detrás dos mistérios que ela guarda tão bem e só vai dosando a quem deseja.

Só posso dizer que ela superou tudo e saiu de cada desafio uma pessoa ainda mais preparada. Como um gato, ela parece cair sempre em pé. Então é natural a crença de que é dai que vem tudo que ela mostra ser.

Mas, para mim, não é.

Quando digo que ela supera tudo, não é porque ela não leva as próprias feridas bem guardadinhas.

É porque ela é capaz de continuar, mesmo depois delas, mesmo com elas. O que nos leva ao mesmo ponto:

Para mim, a força da minha dessa mulher impressionante vem da sensibilidade que ela tem em enxergar a beleza do mundo, em olhar através das coisas, e não só por meio delas.

Em viver apesar dos obstáculos e dos acontecimentos ruins. Minha mãe (em algum momento me senti no direito de encher a boca para falar) sempre consegue fazer isso.

Ela pode até ser caos. Mas também é ordem. Eu não sei se ela sabe disso. Acho que, até esse momento nem eu tinha percebido ainda…que essa é a melhor forma com que ela me inspira.O que significa que existem muitas, muitas outras. Por exemplo: lições importantes sobre como definir as prioridades e fazer bem feito tudo que tiver que fazer.

Ainda assim, não são exatamente por essas razões que ela me inspira.

A Milse, que sim, entre várias outras coisas, também é minha mãe, me faz pensar no tipo de mulher que quero ser – não só no tipo de “mãe”, se um dia eu me tornar uma.

O tipo de mulher que se vira e sempre sabe o que fazer, que não se rebaixa – porém sabe, com inigualável elegância, se submeter aos caprichos da vida.

Que tem habilidade em criar estratégias e resoluções sem deixar de ser incrivelmente amorosa, perceptiva e disponível para quem precisa, na hora certa.

Ela me faz tocar o infinito das probabilidades e das escolhas. Visualizar o que ainda está distante, mas não é inalcançável.

Se você tiver a sorte de estar ao lado dela em uma batalha, saiba que tem as melhores chances de sobreviver: porque ela não se deixa abalar nem para no meio do caminho enquanto as bombas estão sendo lançadas.

Ela dá um jeito. Chorando. Sofrendo. Com dor.

E nesse movimento arrasta, quem precisar, junto com ela, pra longe do perigo.

Pergunte a qualquer um que a conhece e você saberá: uns são caos, uns são ordem, uns são cais. Ela? É água.


A SENHORA ANTONIETA

Antonieta é uma das mulheres mais imponentes aqui. Porque ela não é uma raiz de inspiração. Ela é a própria árvore.

E foi tão difícil dar uma imagem ao tópico, que escolhi uma foto dela mesmo.

Veja: se você procurar por “matriarca”, por exemplo, encontrará talvez a foto de uma senhora frágil e idosa – ou de uma elefante já ferida pelo tempo.

E não é assim que eu a enxergo – embora, obviamente, ela tenha feridas do tempo e seja já frágil e idosa.

Por outro lado, se procuro por “power woman”, me deparo com mulheres de salto fino, maquiadas, cabelos esvoaçantes e talvez até vestidas para encarar o mundo corporativo.

Tentando abrasileirar e buscando por “mulheres fortes” uma infinidade de imagens-citação começam a se apresentar.

Ta, vamos parar de revelar meu perfil, ás vezes vergonhoso, de busca com base nos resultados.

Mas não. Nada disso se encaixa e representa.

Dona Antonieta é a própria Senhora do Destino. Foi o mais perto que encontrei.

Uma mulher, saindo sozinha das suas raízes, de tudo que ela conhecia e sabia como certo, para mudar o rumo não só da sua própria história como daqueles que viriam.

Então, imaginei que não faria muito sentido usar a foto da Suzana Vieira com as criancinhas: minha avó tinha ainda mais criancinhas e uma imagem para lá de real.

Como antes, opto por chamá-la pelo nome porque preciso que vocês entendam: essa mulher não é simplesmente minha avó.

Sim: guardo lembranças deliciosas de suas brincadeiras, gargalhadas e sua presença sempre marcante e amorosa.

Mas tive com ela menos contato ao longo da vida do que gostaria, nos seus anos mais saudáveis.

As características, porém, ela manteve, apesar do tempo: com seus quase 90 anos, é revigorante vê-la contar com precisão detalhada os retalhos essenciais da sua trajetória.

Então, olhando-a como personalidade, admiro cada pedaço da história que teve que viver.

Além do mais, achei muito justo mesmo falar da mãe da minha mãe (não resisto, tipo: ei, ta vendo aquela pessoa foda ali? é minha mãe/vó).

Adendo: Devo dizer que a mãe do meu pai também mereça estar aqui, mas eu, infelizmente, não conheço muito da história dela ainda. De quem ela era e do que viveu antes de ser mãe do meu pai ou minha vó. E acho injusto resumi-la assim, somente do papel de minha avó. 

Talvez, sobre a Senhora Antonieta, não exista nada muito exclusivo. Nada que tantas outras senhoras não passsaram.

Mas isso não tira o mérito de quem ela se tornou.

Nascida em uma família abastada num canto de Minas Gerais, tinha pais e avós donos de uma propriedade digna da extensão territorial de uma pequena cidade.

Ali ela viveu grande parte da “primeira vida”. Vale dizer que, ao contrário de muitas crianças da época, em comparação contextual, ela tinha um relacionamento afetuoso com os pais.

E, vez ou outra ela, irmãos, primos e amigos iam até “a cidade” onde aconteciam quermesses e coisas desse tipo.

Foi lá onde ela conheceu o Célio com quem, alguns meses depois se casou, em uma igreja católica (como “bons católicos” que eram de ambas “boas famílias”) quando ela tinha cerca de 17 anos.

Pouco tempo depois, porém, em um acidente terrível, ela veio a perder o pai – homem pelo qual ela tinha muito apreço e que, mesmo depois de casada, impunha-se como uma figura presente.

Foi um episódio pesado e horrível para todos e ela diz, com olhos brilhantes e marejados, lembrar-se se cada minuto que transcorreu naquele período.

Dando um avançar aqui na história…Depois de algumas provações e do fato de quase ter perdido uma filha optou por doutrinar sua fé sob outra perspectiva religiosa.

O marido “não aprovou” e ela suportou anos de perseguição e abusos de poder dentro daquilo que ela deveria poder chamar de lar, mas que deu lugar a proibições, agressividade e traições das quais ela nunca esqueceu.

Poderia-se até dizer que ele não era de todo o ruim. Tinha seus próprios demônios e fez o melhor que pode. Mas isso, definitivamente, foi longe de ser, pelo menos, suficiente.

Eu gostaria que ela não tivesse que ter passado por tudo isso.

Que ninguém passasse por nem um pouco disso. Todos deveriam poder fazer suas próprias escolhas, sem obstáculos. Mas o mundo, ás vezes, é mais cruel que isso.

E foi como ela lidou com tudo que mudou todo o curso da história de quem veio depois dela. 

Porque poderíamos ser uma família espelho de outras famílias: onde um homem manda e as mulheres obedecem. Onde crianças e mulheres esperam um homem chegar, um homem sentar, um homem comer…para então comerem, viverem, sorrirem – se for dada a “liberdade” para isso.

Onde as manias estranhas de um homem, e seu relógio, cotidiano e biológico, determinam todos os rumos e todas as coisas e, sobretudo, das mulheres ao seu redor.

Mas quando aquela realidade se tornou dolorosa demais, esta mulher a quem tenho a honra de ter como avó materna, decidiu dar um basta e entendeu que aquele casamento já havia deixado, faz tempo, seus propósitos de lado.

O Sr. Célio, por sua vez, se resignou em se afastar não só da esposa a quem jurou amar e proteger em quaisquer condições, mas também dos oito filhos – passando a ostentar uma vida que, perto da “primeira família” era quase de luxo, junto à nova mulher e suas filhas.

Não tenho intenção de manchar sua memória, mas estamos falando aqui da mulher mais importante da família – e nenhum filho, sobrinho ou primo irá negar a mesma versão da história. 

Já, “Dona” Antonieta, passou a trabalhar em triplo para dar conta de…tudo.

Com os filhos, mudou de endereço, de casa, de padrão de vida – só não mudou a fé.

Precisou e teve sabedoria e humildade para aceitar a ajuda de familiares – sem absolutamente nunca deixar de ser mãe.

Educou todos os filhos como acreditava ser a melhor maneira e a nenhum deles faltou estudo, roupas, comida, cuidado, proteção e apoio – mas não pôde dar-se ao luxo de comerciais de margarina.

Aos homens da família, que até hoje preservam indestrutível respeito, admiração e reverência, doutrinou o mínimo, que escapa a tantas casas “modernas”: respeitarem as mulheres.

Às mulheres, do melhor jeito que pôde, ensinou a se amarem e se respeitarem acima de tudo.

E é assim até hoje: basta que ela saiba que alguma mulher da família começou a namorar, que cria o momento para chamá-la de canto e fazer a pergunta primordial.

“Ele te trata bem? Ele é bonzinho com você e com os outros? Tem que ser, viu?! Se não for, você me conta que vou dar uma surra nele.”

E não pára aí. Secretamente ela também chama os proponentes para dar um aviso do tipo o-óbvio-precisa-ser-dito:

“Você cuida bem da minha neta/bisneta, viu?! Trata bem ela, hein?!”

Se, por outro lado, algum homem da família apresenta ou menciona a presença de uma nova pessoa em sua vida, ela é resoluta em dar um suave puxão de orelha antes mesmo de qualquer postura inadequada.

As palavras mudam, mas o recado se preserva igual: respeite-a sempre!

No mundo dela, não existiram casais que não fossem homens e mulheres.

Mas eu não tenho a menor dúvida de que, se precisasse, ela “daria uma surra” em qualquer pessoa que não estivesse disposta ao mínimo: tratar bem suas mulheres, como ela deveria ter sido tratada pelo único homem com quem casou.

Isso pode parecer natural e evidente para muitas de nós, hoje (náo tanto quanto gostaríamos).

Pode ser possível (para não dizer urgente) a todas as mulheres. Principalmente solteiras, de classe média, sem filhos ou enormes responsabilidades – exceto aquelas que impomos a nós mesmas.

Mas minha avó está prestes a completar nove décadas. Eu não imagino o quanto isso custou para ela no interior do Brasil de 1974, com oito filhos para criar e muito mais gente que hoje para julgar: ela não buscava destaque; frases de efeito; ideologias.

Não desmereço nada disso, mas o fato de ela simplesmente saber e sentir tem seu mérito: ela não queria provar nada para ninguém, ela só queria ter uma vida minimamente digna.

Ninguém nunca lhe ensinou claramente. Ela nunca leu nada a respeito. Nunca fez uma faculdade. Tinha como livro de cabeceira a bíblia.

Se ela tivesse perguntado às mulheres que conhecia o que deveria fazer, quantas delas teriam lhe dito, naquela época: “Força Antonieta. Dê um basta nisso. Defenda aquilo que acredita e não permita que ninguém fique no seu caminho. Você não precisa disso.”?

Talvez eu não esteja sendo totalmente clara, mas o que quero dizer é que a realidade é quase sempre sem bússola e mapas.

É preciso ter uma imensidão dentro de si para dar grandes passos.

Decisões que os outros nem sempre vão entender, aceitar ou apoiar. Decisões incomuns.

Decisões cujos louros não se espera. Mas cujos resultados nos basta confiar que serão os melhores, um dia.

E para isso, é sempre bom tentar ouvir mais as vozes que, com o som do mundo e dos outros ignoramos, independentemente das suas crenças: do instinto, do coração, de Deus.

Ela me inspira porque me lembra que, ás vezes, aquilo que acreditamos e repassamos pode ser decisivo na história de alguém. Foi na minha. Na da minha mãe e, tenho certeza, em todas as pessoas da nossa família.

Obrigada, Senhora Antonieta do Destino. Você é a melhor inspiração feminina que eu poderia ter. Nenhum discurso, nenhum livro, nenhum textão de facebook, nenhuma citação, foto ousada ou série de TV vai ser melhor do que você para me ensinar o mais importante.

Tomar as próprias decisões, sobretudo as ousadas, é um ato de coragem. Sendo mulher, quase nunca será fácil, raramente haverá apoio. Mas será sempre possível. 


A MARILDA

A Marilda não entrou na minha vida. Ela sempre fez parte dela.

Foi o primeiro grande presente que eu ganhei, antes mesmo de nascer.

E, na minha infância, habilmente alternava entre os papéis de vilã e heroína como, provavelmente, toda boa irmã mais velha.

Capaz de enfrentar até o durão do meu pai, essa paranaense baixinha, brava e generosa, merece ser musa inspiradora sim, Senhora! 

Dona do silêncio mais imponente e ensurdecedor – e dos seus próprios mistérios – não há ninguém que resista ou não deseje sua presença leal e autêntica. 

A Marilda é de poucas palavras, gargalhadas contagiantes e coração enorme.

E ela é de verdade. Quando ela chora, nenhum choro comove tanto. Quando ela ri, o mundo inteiro ri com ela. Quando ela está brava, sem emitir um único som, ela é capaz de esmagar até as paredes.

Se você tem a sorte de ganhar um abraço da Marilda ou de vê-la lacrimejar, você sabe do que ela é capaz de fazer por aqueles que ela decidiu amar. 

Se tem alguém que me lembra um leão enfurecido defendendo algo importante, esse alguém é a Marilda.

Não a provoque. Não ouse ofender os seus. Você entenderia o que quero dizer.

A fúria dela em defender aquelas poucas coisas e pessoas das quais ela não abre mão…é inspiradora.

Ela me inspira me mostrando todo dia que, por este pouco e seleto, pelo qual estamos dispostos a lutar, vale até sair ferido, vale qualquer consequência, qualquer desafio.

De que, defender este pouco e seleto que escolhemos preservar, ainda que esteja na mão de outras pessoas, poderia também estar na mão de ninguém: afinal estará, primordialmente, nas suas.

Pode ter um batalhão ao seu lado, defendendo as mesmas coisas, mas ela, sozinha, encararia a guerra e daria a vida por aquilo.

Ela sabe o momento de calar. E o momento de agir. Porque escolhe bem suas batalhas. E tem uma ferocidade que eu nunca vi, mas que vêm do amor. É impossível não se sentir inspirado(a) por isso.


A LAIZ

Caçula de uma família de três irmãs e um pai babão a Laiz cresceu graciosa como uma princesa moleca de olhos azuis.

Quando criança, despertava sorrisos por onde passava. Impossível dizer não.

Mas não queira estar numa luta contra ela, que é capaz de ameaçar a própria irmã duas vezes seu tamanho com uma tesoura e de se manter firme e forte nos piores momentos.

Essa é a Laiz. Uma pessoa que não se faz de rogada e não se permite ser definida.

Definir a Laiz é como pedir que ela mostre um novo lado: totalmente dela, mas totalmente desconhecido.

É pedir para perceber que a vida é um segredo a ser descoberto, explorado.

Ela pode até não saber, mas dentro dela existe sempre uma peça guardada capaz de mudar o próprio jogo.

Se ela não tá feliz com alguma coisa, o mundo inteiro nota.

E não importa o que o mundo inteiro diga: só ela sabe que cara, que carga, que carta jogar – e a hora certa de fazê-lo.

Quando ela joga, tudo muda. E pessoas que não a conhecem tanto, ficam: “Nossa, quem diria…a ‘Laizinha’, hein?!”.

Se enganam muito. A Laizinha pode ainda não ter chegado a todas as pecinhas secretas, que protege nela mesma, acerca de algumas coisas práticas da vida (ainda). Mas ela sabe se virar sozinha.

Ao contrário do que muitos podem imaginar, ela não é do tipo que senta na calçada quando começa a chover, nem do tipo que se entrega ao tentador e romântico personagem alisando as gotas pela janela.

Embora pense bastante antes, ela é do tipo que atravessa a chuva. E leva todo mundo junto.

Ela não é nenhum anjo. Ela não é princesa. Ela não é criança. Ela pode precisar de um tempo.

Mas quando decide assumir as rédes da situação, sai de baixo.

A Laiz me inspira, definitivamente, pela sua capacidade de auto-superação.

A capacidade de, embora com medo da tempestade, se lançar para fora no meio do temporal.

Por que?!

Porque ela simplesmente pode.

E é claro que isso é inspirador. Porque você pensa:

“Ei! Eu também posso, não é?! Não é porque acreditei durante tanto tempo nisso, que isso é verdade, que agora sou refém disso. Acho que…Acho que…talvez…

eu-também-posso.


MARIA ANGÉLICA

Vou ser diretona ao ponto.

A “Maeca” me inspira por sua incrível e infindável capacidade de amar os outros.

De descobrir novos espaços no seu coração para acomodar mais um – como quem encontra lugar no sofá ou na mesa para alguém (o que ela faz constantemente, porque todo mundo quer estar perto dela).

Eu sei, eu sei. Parece que estou objetificando o papel dela na minha vida, se resumi-la a “Tia Maeca”.

Que o que penso ou sinto sobre ela é apenas a visão de uma sobrinha de olhar limitado.

Mas se você conhecesse ela, você entenderia que “Tia Maeca”, “Maeca” ou “Maria Angélica” tem a mesma característica marcante, não importa o contexto e as pessoas envolvidos.

Meu-Deus. Como essa mulher ama. “Apesar de”, “mesmo com”. Poucos são os limites do seu “coração” para amar.

Na verdade, é difícil dizer se ela inspira pela capacidade de amar, pela humildade ou se ambos não se tratam da mesma coisa.

Essa mulher, que passou por coisas não-ditas, que viu e viveu tanto que não gostaria e não merecia, ainda assim, foi capaz de resistir em sua profunda humildade e amor.

Ela poderia ter se rendido. Se rendido ao rancor ou à mesquinharia. Ou poderia…sabe? Ter se fechado. Ter se tornado uma pessoa inalcançável. Mas não.

No seu íntimo, num lugar e num momento que talvez nem ela tenha se dado conta, ela escolheu amar.

Estar na vida dela é como o cheiro do café recém preparado. Como chegar em casa.

Como achar um lugar quente e confortável para…ficar. Como quando estamos com muita fome e ganhamos um prato de minestra deliciosamente fumegante e perfumada.

Quando nos sentimos horríveis por alguma razão e encontramos tudo que não fomos generosos o suficiente conosco para dizer.

É achar uma porta sempre aberta que nos faz sentir bem.

Amar de verdade as pessoas, com toda a humildade que isso exige, com toda a entrega que isso exige.

Podem dizer que amar assim é um convite aos que alimentam más intenções. Talvez seja.

Amar assim carrega seus próprios riscos. Riscos que quem é Tia Maeca escolhe carregar. 

Porque quem ama asssim não espera algo em troca. Quem ama assim não ama para ganhar algo – se não, não seria amar.

Então, é isso.

Essa mulher, que no silêncio, numa ingenuidade adulta e realista, nos sorrisos gentis, e no olhar duro – que ás vezes distribui sem dó e deixa todo mundo nervoso – me inspira amando, impecavelmente, cada um que cruza seu caminho e se mostra pelo menos um pouquinho disposto a ser amado(a).


PRÁTICA

dá um play numa música que acho que tem muito a ver, e já aproveita para conhecer o belíssimo trabalho da inspiradora Karoline Kroib, artista dona da arte acima 😉

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

É inevitável que a prática de hoje seja essa. Porque adulamos tantos desconhecidos. Fazemos propaganda daquilo que nos inspira. Enquanto, quase sempre, ao nosso redor, fervilha inspiração. Você pode não ter muitas mulheres inspiradoras na sua vida. Mas, se olhar atentamente, encontrará muitas pessoas que te inspiram em algum sentido. Por que, então, não avaliar melhor isso? E, melhor: que tal fazê-las saber? Faça-as saber sempre, o máximo que puder.

Continue lendoQuem te inspira? – mulheres reais

O guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

Nada como começar do começo. E final de ano é sempre um incentivo à maioria das pessoas, porque os finais tendem a trazer, junto à vergonha e culpa constantes dos últimos trezentos dias, uma autocrença e determinação instantânea (que aparentemente tiram férias no resto do ano).

As resoluções de final de ano são, por isso mesmo, o clichê que protagoniza piadas e artigos como estes – principalmente entre 20 e 31 de dezembro de qualquer ano.  E eu não tenho absolutamente nada contra elas.

Para ser bem honesta, eu e as listas somos íntimas há anos e, seguindo com a verdade, não tenho a menor pretensão de abandoná-las tão cedo.

Portanto, saiba que não quero também mexer nas suas. Mas tenho aprendido que existe, nessa obstinação toda, coisas que costumamos ignorar.

Como já contei aqui ou aqui houve um período em que eu acreditava que coisas como alta performance, produtividade, desempenho, disciplina, comprometimento e total entrega ao trabalho eram, não somente o único caminho do sucesso, como o único caminho para uma vida minimamente decente.


Sente-se, vou servir uma caneca de ansiedade e um pratinho de angústia

Assim, durante um tempo eu vivia entre a corda bamba da vergonha e do empenho.

Me cobrava o tempo todo e me punia com rigor todas as vezes que eu não cumpria minhas próprias (altíssimas) expectativas.

Isso era bem ruim. Embora o maior problema fosse eu nunca ter reparado a estrutura que constituía aqueles tempos – que, de um modo ou de outro, começaram ali pela sexta ou sétima série e não me abandonaram até um bocado depois do término da faculdade (se é que se vão completamente).

Digo “de um modo ou de outro” porque esse padrão de comportamento assumiu várias facetas.

Uma das primeiras que recordo brotou quando o período escolar começou a complicar e eu não aprendia de forma alguma como fazer uma simples divisão.

Meus pais tentaram de todas as maneiras e, mesmo quando passei a fazer os exercícios sozinha eu não entendia como aquilo funcionava realmente.

Em matemática sempre fui péssima e, pelo menos durante todo o ensino fundamental, me culpei por isso. Porque sempre tive excelentes professores desta disciplina que, hoje, acho fantástica.

Além disso, eu tinha aulas particulares, ia aos plantões do colégio e alguns amigos e colegas sempre se mostraram dispostos a me ensinar – além, é claro, dos meus próprios pais e da minha irmã mais velha.

Então, empenhava intensas vias sacras e, depois de tudo eu acreditava que recuperaria a nota.

Fazia as provas certa de que desta vez eu havia superado e ia começar a ascender com os números e fórmulas. Então, eu as recebia de volta com uma pontuação horrível.

Foi difícil fazer com que os outros acreditassem que sim, eu estava me esforçando, eu estava estudando e fazendo as atividades; que sim, eu estava prestando atenção e me dedicando nas aulas particulares.

E depois de um tempo, tornou-se ainda mais difícil: eu simplesmente deixei de fazer aquilo tudo. Afinal, se eu havia me esforçado durante mais de dois anos inteiros sem nenhum resultado, o cinismo parecia a melhor opção e eu comecei a fingir que não me importava.

Nessa época minhas notas – em todas as disciplinas – caíram absurdamente. Eu matava aulas, desrespeitava regras, não cumpria com nenhum acordo nem me dedicava a nada considerado produtivo.

Gastava minhas horas lendo escondida. Escrevendo. Pensando na vida. Andando por aí. Flertando – com pessoas e novas atividades – em uma competição pelo vazio (e, por que não dizer, até roubando um pouco do armário de bebida dos meus pais).

Segui me sentindo profundamente inútil. Eu desejava mudar, mas a culpa, a vergonha e a sensação de que eu não era capaz me prostravam.

Embora algumas pessoas possam dizer – como na época já diziam – que estas eram desculpas para a preguiça, outras que se sentiam e se sentem como eu sabem do que estou falando.

Até que, depois de algumas tentativas comecei a colher boas coisas. Encontrei coisas com que eu me dava bem e que eram, de modo geral, aprovadas, e me dediquei a elas com afinco. 

Adoeci algumas vezes e só “mais velha” compreendi que a origem era muito mais profunda. Em resumo, as etapas foram mais ou menos assim:

Ilusão
eu achava que era incrível e invencível;

Compreensão
…descobri que não era bem assim e tentei avançar;

Desilusão
mas coisas boas exigem uma constante de sacrifícios e dores com as quais não lidei bem;

Cinismo
então escolhi desistir delas e esconder minha frustração comigo mesma sendo uma imbecil;

Inanição 
quando cansei, finalmente deixei que culpa e a vergonha me consumissem a  ponto de me prostrarem;

Falsa gratificação e entrega total
comecei a descobrir coisas com as quais, após me empenhar, eu obtinha algum sucesso e entregar toda minha energia a elas;

Adoecimento e caos
tudo virou uma bagunça quando eu descobri que nada daquilo poderia realmente estar certo se vinha me fazendo tão mal.


Foi depois da sétima etapa ou, como costuma acontecer, depois do caos, que decidi entender um pouco melhor como eu funcionava e novas formas de operar, sem morrer cedo demais ou ter uma existência miserável dedicada exclusivamente ao nobre grupo de “coisas importantes”.

Então li, conversei, descobri novas metodologias e ferramentas – e, desde então, assumi um permanente estado de teste e aprendizado que têm sido riquíssimo. Por isso, achei justo compartilhar algumas das lições mais relevantes. 

Eu as separei, organizei e ordenei e pude ver claramente como cada uma deles foi transformadora para mim, mas é inevitável destacar que elas trabalham melhor juntas. Espero que você aproveite!

  1. O método não importa
  2. Fazer é o mais importante
  3. Todo recurso é administrável
  4. Significação e autoconhecimento
  5. Procrastinação e perspectiva
  6. O equilíbrio não existe
  7. Falhar é do processo
  8. A única chance

 

1. O método não importa

Não importa se você usa GTD, Bullet Journal, um bloco comercial que ganhou numa feira, aquele aplicativo revolucionário ou um guardanapo.

O método simplesmente não vai resolver se você não resolver antes algumas coisas na sua cabeça. E essa é, com certeza, a parte mais difícil.

Recomendo fortemente parar de gastar tempo com métodos e coisas complexas.

Ler um livro inteiro sobre algum novo método aprovado por celebridades e grandes nomes do empreendedorismo pode sim te trazer uma porção de insights poderosos.

Mas não será útil se você não estiver pronto(a) para entender que não é o fator determinante do seu sucesso numa nova e estupenda ideia de vida plena.

 

2. Simplesmente fazer é mais importante que planejar

O famoso 80/20 é determinante aqui. Eu achava que se planejasse tudo com argúcia e cuidado aos detalhes, as coisas se realizariam perfeitamente.

Eu não chegava a considerar que uma ação era composta de 100% de esforços e realmente acreditava que poderia planejar o máximo possível e realizar o máximo possível. E estava, provavelmente, apenas gastando minha cota de 100% com planejamento.

No fim, restavam apenas aqueles míseros 20%, temperados com um punhado de dúvidas, novas inseguranças e possibilidades.

Tenho tentado pensar menos e fazer mais e os resultados estão sendo menos desastrosos do que eu supunha: porque do chão não se passa e uma coisa louca é só uma coisa depois que você faz.

Isso não significa que estou defendendo a impulsividade. Ainda acho que o raciocínio deve ser usado com parcimônia, preferencialmente em situações de baixo risco. Mas para alguém que pensava demais considero um avanço maravilhoso.

Essa postura me tirou um pouco a pressão de obter resultados perfeitos – agora estou entendendo que chegar constantemente a algum resultado é uma ótima maneira de alcançar algo mais próximo ao que chamam de “perfeição”.


Chegar constantemente a algum resultado é uma maneira interessante de alcançar algo mais próximo do que chamam de perfeição.


Então…este blog não está perfeito, minha dedicação a ele não está perfeita, mas sempre que dedico alguma energia a ele, ela é distribuída mais para a ação do que para o planejamento, e isso é libertador.

Ah! E, na mesma lógica, não faz sentido gastar uma eternidade com planners e ferramentas de papelaria ou tecnologia incríveis, bonitas, “instagráveis”, coloridas.

Você não tem obrigação de “competir” com blogueiras e influenceres do mundo dos “bujos” ou concurseiros. Fica de boa: a personal organizer que você segue não vai descobrir se você não seguir à risca o que foi proposto. 

Aliás, mesmo que você fosse descoberto(a), boas referências sobre o assunto, como a Ana, do EuOrganizado, além de darem ótimas dicas são extremamente coerentes e reconhecem que nada é definitivo e aplicável a todos.

Porque medidas radicais raramente combinam com longo prazo. E tempo, energia e força de vontade são coisas preciosas demais para gastarmos com essa versão adulta e covarde de devanear com sonhos de uma existência perfeita. 

 

3. Todos os recursos são administráveis

Quando se fala em “recursos” normalmente pensamos em algo monetário, talvez por ser uma representação tangível de algo que sabemos que precisamos gerenciar.

Mas quando pensamos no que importa podemos determinar várias outras categorias de recursos indispensáveis.

Por exemplo: nossa saúde; dinheiro; nossa rede de apoio; tempo; nossas fontes de conhecimento e inspiração; nossa energia; nossa disciplina e comprometimento (ou nossa força de vontade); nossas horas de recarga e descanso; nossa paciência e calma, nosso pensamento estratégico, nossa empatia, nossa capacidade de dizer “não” e barganhar…

Todos estes são recursos, que podemos ou não precisar para alcançar objetivos que determinamos como significativos e relevantes.

Um exemplo claro foi um dia em que eu estava cheia de coisas que precisavam ser realizadas naquele tempo chamado “logo” ou “quanto antes”, apelidado carinhosamente também de “pra ontem”.

Meu marido me perguntou como aquela lista tinha crescido tanto e rapidamente.

Eu lhe disse que não queria dizer “não” quando me pediam, pois queria mostrar que dava conta de tudo. Mas que ele não entenderia, porque sempre dava conta de tudo. 

Então ele me informou delicadamente quão equivocada eu estava.

O ponto não é que ele dava conta de tudo. Embora ele tivesse conhecimento das pendências, era justo consigo mesmo e com os outros, deixando claro o que poderia ou não concluir dentro dos prazos estipulados.. 

Parecia fácil, com ele falando. Mas argumentei que, ás vezes, prazos e entregas de tarefas eram inegociáveis e apenas “tinham de ser”. E que me sentia culpada e com raiva de mim quando não era capaz. A resposta, parafraseada, veio como um tiro:

“Não existe isso. Eu sou um só e o tempo é limitado. Então, tem coisas que eu posso fazer e tem coisas que eu não posso. Eu deixo isso claro e, se preciso, peço que priorizem o que é mais importante. Se me dizem que tudo é importante, vou eu mesmo escolher o que acredito ser mais viável.”

Depois dessa conversa apreendi o óbvio: 


Se nem você conhece e administra bem seus próprios recursos e não é capaz de negociar e dizer não a si, não espere que os outros o farão. 


Portanto, tomar ciência dos recursos envolvidos nas tarefas que você precisa executar, e acompanhar como eles vêm sendo empregados, pode fazer uma baita diferença nos resultados que você busca.

 

4. Preocupe-se com significação e autoconhecimento 

Olha só, tenho uma coisa pra te falar…você não é um hamster numa roda meercenária de laboratório nem precisa protagonizar Charlie Chaplin à la Tempos Modernos.

Isso significa que você já tem autorização para pensar, ao invés de fazer por fazer. Mas depois de tantos milênios ainda parece uma honra.

Então vamos lá: que ser produtivo sem significado normalmente não é edificador. Quero dizer que, antes de criar listas, você deveria fazer perguntas:

O que é produtividade para você? O que realmente importa? Quais são suas prioridades?

Por que estas são suas prioridades? Por que você deseja ser produtivo(a)? Por que faz listas, usa aplicativos e outras ferramentas, porque busca ter um alto desempenho?

Qual o significado de tudo isso? Onde está a raiz da sua preocupação e dos seus objetivos? Que objetivos e preocupações são esses, de onde vêm? São seus ou de outras pessoas? São verdadeiros?

No final, que resultados você espera? Como você se vê convivendo e vivendo estes resultados? Todas essas coisas convergem ou são mera fantasia?

Entenda o que é realmente importante, e dê significado a isso.  

Quando você descobre estas respostas, fica mais fácil designar os caminhos pelos quais poderá exercê-las.

Você pode otimizar melhor seus recursos ao evitar contextos onde sua força de vontade (esse tópico mereceria um artigo inteiro, mas se quiser adiantar-se recomendo a leitura do livro “A única coisa”) será exigida para realizar aquilo com que não concorda ou não entende como importantes.

Por exemplo: se você gosta de ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade sócio-econômica e esta é uma vertical indispensável na sua vida, trabalhar em uma empresa sem este valor pode te desgastar bastante.

Enquanto trabalhar rodeado de quem se preocupa com as mesmas coisas (e busca caminhos para realizá-las) te deixa mais próximo do seu objetivo, mesmo que você seja marceneiro e trabalhe em um estúdio fotográfico.

Ou seja, se seu objetivo é ajudar as pessoas, podem existir diferentes maneiras de fazer isso, sem comprometer muito seu estoque de recursos.  

 

5. O ato de procrastinar não é inimigo e perspectiva ajuda muito

Cada um tem os próprios gatilhos para procrastinar e o seu jeito preferido de fazer isso.

E a pobre procrastinação acaba caindo na vala comum do desprezo: mas procrastinar ou não é uma escolha de cada um, e numa sentença a culpa quase sempre é do sujeito. 

Ainda assim, desejamos evitar o verbo. Porque normalmente, quando retornamos dessas (quase sempre não merecidas) férias, sentimos (de novo:) uma profunda culpa e vergonha.

Mas, depois de pararmos para avaliar os porquês e como evitá-los, ainda nos resta considerar o que rolou no período de procrastinação. 

Às vezes, é apenas o ócio criativo entrando em ação e isso ajudará a entender como seu modus operandis pode funcionar de forma mais fluída e gerar resultados melhores.

Mas olha só, nada de tentar se convencer de que aquelas longas horas que você passa “rolando” em alguma rede social, “atualizando” grupos de conversa ou de entorpecendo de nada são o exemplo perfeito do que to querendo dizer, ta bem?

Ás vezes, é verdade, procrastinamos por procrastinar. Porque estamos com preguiça, cansados, aborrecidos ou rebeldes. Ok, ok. Tudo bem. Faz parte. Depois a gente se acerta com o destino e com as consequências. 

Mas, algumas vezes, a forma com que fugimos de algo que decidimos não querer fazer pode revelar muito.

Eu, por exemplo, gostava de desenhar, refletir, ler e escrever – para não estudar. 

Primeiro porque eu havia concebido que estudar era algo detestável em que se juntava livros, lia-se muito, sentia-se sono, seguia-se o protocolo do que iria cair nas provas e não seria possível fazê-lo de outra maneira que não aquela.

Ou seja, era algo que eu devia evitar a todo custo…estudando. A perspectiva que eu tinha do ato de estudar era horrorosa.

É como a passagem criada por Mark Twain, do lendário Tom Sawyer – mencionado por Mihaly Csikszentmihalyi e Daniel Pink neste livro (que também recomendo muito). 

Ali pelo capítulo II das Aventuras de Tom Sawyer, o garoto é incubido de pintar toda a cerca da casa e tenta jogar o trabalho para outra pessoa, liberando-se assim para as atividades divertidas que deseja executar naquele dia ensolarado.

Sem sucesso ele têm uma ideia brilhante e passa a fazer a coisa com afinco e deleite quase artísticos transformando, aos olhos de quem passa, aquela tarefa maravilhosamente atrativa e irrecusável.

Dispensando a lógica malandra da cena e desconsiderando o fato de que era puro fingimento, não é tão difícil imaginar em como podemos usar isso no cotidiano.

Se quisermos, podemos nos convencer dos benefícios que uma determinada função pode nos trazer. 

Eu achava que “estudar” era algo chato que eu deveria fazer de um jeito chato para agradar aos adultos chatos e fazê-los parar de me chatear com coisas chatas da vida chata que queriam que eu levasse quando havia um mundo de coisas legais a espera de serem vividas.

Desde o início eu poderia ter facilitado muito minha vida se mudasse minha perspectiva sobre como aprender a estudar, gostar de estudar e estudar direito traria benefícios a mim, e somente a mim. Que tola. 

Por fim, depois, descobri que ler e escrever resumos poderia ser uma ótima maneira de estudar. Que refletir me ajudava a planejar apresentações melhores e defesas argumentativas relevantes.

E que desenhar era uma maneira fundamental de finalmente compreender a lógica por trás das fórmulas matemáticas que tentavam me ensinar.

A mesma coisa aconteceu com meu sobrinho, quando passei a ajudá-lo nas disciplinas que tinha dificuldade.

Ele sempre foi agitado e imaginativo. Quando tentava estudar pegávamos ele olhando para o nada, brincando com os lápis, livros e borrachas: procrastinando.

Mas e se, em algum lugar de sua mente, o modo como ele fugia daquilo que considerava execrável fosse exatamente a maneira pela qual poderíamos transformar aquilo em algo melhor? 

Portanto, quando passamos a usar objetos próximos da mesa de estudos, interpretar personagens e cenas históricas como quem brinca e rir muito com isso suas notas melhoraram bastante!

Aplicando a mesma lógica podemos descobrir uma infinidade de verdades no porquê e como procrastinamos e, talvez, ainda acharmos ali uma maneira menos desagradável de realizar coisas que simplesmente precisam ser feitas. 

Se, por exemplo, você costuma ser competitivo, pode usar isso a seu favor ao lidar com aquilo que não deseja mas precisa terminar logo. 

Ao transformar coisas chatas mas importantes em algo vantajoso você pode acabar descobrindo que pintar cercas é uma atividade na qual pode se dar muito melhor.


6. Equilíbrio não existe

Esta lição veio como uma pluma em um livro cuja indicação me marcou tanto quanto a obra, chamado “A única coisa”, do Gary Keller e Jay Papasan.

Embora eu tenha fugido um pouco da proposta dos autores, foi depois deles que eu finalmente pensei sobre a questão do equilíbrio e porque ele é uma ilusão.

Como sermos excepcionais em casa, quando dedicamos tanto tempo em sermos profissionais disputados e bem pagos para mantermos nossa família quando acreditamos ser nosso dever? 

Como ser pai ou mãe incríveis se desejamos tanto conquistar um cargo de liderança e grandes responsabilidades? 

Quando tentamos ser impecáveis em casa e estarmos presentes com mais frequência, simultaneamente não podemos fazer tantas horas extras quando julgamos necessário para ascender. 

Quando um pai ou mãe sai da apresentação do filho para atender a uma ligação importante da empresa não poderá ser atender a ambas as demandas com a mesma qualidade. 

Então é claro que precisamos escolher os extremos se quisermos ter sucesso.

Mas quais extremos escolher, em que momentos e por quanto tempo ficar por lá parece ser uma chave difícil de encontrar no palheiro da vida moderna, essa terra prometida onde tudo deve ser possível. 

Porque quando estendemos demais esses extremos, os espaços entre eles se tornam maiores, ficamos mais tempo entre eles.

Automaticamente, as outras coisas que estão fora desses espaços também são deixadas de lado por mais tempo e podem causar uma grande confusão quando voltamos a elas e percebemos que tudo se acumulou e se complicou à beça naquela borda.

Se, repetidamente, não voltarmos a tempo para as coisas, elas podem se tornar coisas mais importantes do que eram antes, exigir mais força de vontade e mais tempo. Criando um círculo vicioso.

Parece poesia quando lemos Keller e Papasan falarem sobre o equilíbrio:

“O ato de viver uma vida completa dando tempo ao que importa é um ato de equilíbrio. (…) O tempo gasto com uma coisa significa tempo perdido para outra. (…) Saber quando buscar o centro e quando buscar os extremos é, em essência, o verdadeiro princípio da sabedoria. Resultados extraordinário são alcançados por essa negociação com nosso tempo.”

Mas “ter uma vida equilibrada” é uma ilusão porque nada vem de graça. Não é possível conquistar o equilíbrio. Mas é possível tentar equilibrar-se na maior parte do tempo e do melhor jeito possível.

Entendi que é tão incoerente determinar o equilíbrio como objetivo, quanto estipular como meta ter um casamento integralmente apaixonado e feliz ou um trabalho satisfatório o tempo todo ou dinheiro e sucesso sem sacríficios.


Todas essas miragens se resumem em acreditar que haverá eterna colheira sem eterno plantio.

Equilíbrio é uma questão de sabedoria, paciência, comprometimento e disciplina – é uma questão de escolher quais batalhas lutar e fazer o seu melhor.

Você não poderá ter uma vida equilibrada o tempo todo entre sua vida profissional e pessoal – basicamente, não sem ser um pouco medíocre em alguma coisa, ou em todas.

Foi difícil para mim aceitar essa noção. Mas também inevitável. Porque é claro que “a mágica não acontece no centro, acontece nas bordas” como mencionam.

Mas como alcançar estes extremos quando existem tantos outros? 

Bem, a resposta é valiosa mas, relembrando a leitura, já ajuda lembrar que talvez o caminho seja simplesmente não esperar um equilíbrio perfeito, mas um balanceamento baseado no melhor possível

 

8. Falhar faz parte do processo

Eu sei que isso já está bastante disseminado por aí e eu prometo não citar a “historinha” do Thomas Edison. Mas não custa lembrar e reforçar, porque eu precisei ler e ser lembrada disso muitas e muitas vezes até finalmente assimilar.

Falhar é uma porcaria. Mas você pode simplesmente chutar isso para lá, disfarçar, sentar na calçada da vida e ficar chorando, martirizar-se e sentir-se um(a) bosta ou (mesmo depois de tudo isso) você pode se levantar e dizer: foda-se.

Quando eu falhava eu gastava muitos recursos sentindo raiva e pena de mim mesma.

Ok, para sermos bem francos eu ainda faço isso. Mas a proporção diminuiu e, quando eu consigo, imediatamente, transformar a experiência em aprendizado, me sinto muito mais forte e preparada para o que virá.

Na realidade, eu acredito que isso sempre acaba acontecendo, porque uma hora ou outra aquele monte de falhas vai se reverter em um olhar lânguido e apaixonado para trás, onde pensamos:


Uau! Como eu era trouxa antes. E como sou melhor agora graças a tudo que aconteceu.


Mas quanto menos adiarmos esse momento e pularmos a parte “dramática” da coisa, mais temos a ganhar.

Porque podemos voltar ao jogo mais rápido, lutar mais vezes e, quem sabe, degustar da vitória um dia.

Foi demitido? Beleza. Aprenda com os erros, considere o que faz ou não faz sentido para você e para o que você busca, avalie o que ganhou, agradeça internamente a tudo e segue o baile.

Terminou um relacionamento? Chore, fique triste, abrace o turbilhão de emoções. Faz parte da vida e é uma pena. Mas se doeu, é porque também valeu.

Perdeu alguém importante? Isto é horrível. Viva com imensidão cada etapa do luto. Mas chegará uma hora em que será necessário voltar a sorrir e lembrar de tudo que foi bom – porque sempre tem algo bom.

Acredita em mim. Eu falho bastante e, portanto, entendo disso. Embora eu não me orgulhe, sou ótima em falhar. 

Falhar me fez perder empregos. Amigos (muitos e dos melhores). Amores. Falhar me faz perder a oportunidade de me relacionar melhor com gente incrível perto de mim ou de viver coisas extraordinárias a partir de situações desagradáveis.

Falhar como amiga foi doloroso. Todas as vezes. Mas me fez entender e valorizar mais os poucos amigos que restaram.

Enquanto ter falhado como companheira me fez avaliar erros que não desejo cometer novamente e com os quais devo me policiar constantemente.

Já, falhar como filha, me faz lembrar que ainda posso ser melhor e refletir sobre meu papel na mudança das dinâmicas familiares.

E falhar como profissional sempre me mostrou um novo caminho, um caminho mais…meu.

Não estou falando que o certo é sair falhando por aí sem medo e mergulhar em uma onda de imbatível positividade: isso é chato pra cacete e todo mundo nota quando não é verdadeiro (mesmo que menos você).

O que estou dizendo, e demorei tanto para entender é que, sim a vida é uma merda quase sempre, e nem por isso deixa de ser incrível.

Realmente acredito que vivê-la, em todos os seus contrastes, é o que confere a paleta de cores única da nossa existência – que não precisamos ficar esfregando na cara de todo mundo nem exigir que o universo enxergue ou entenda.

Mas que podemos sempre segurar com carinho e ter orgulho do que fizemos – mesmo quando não pudermos fazer nada.   

 

8. A vida não dá segundas chances e páginas em branco

Essa é a seção final e também uma boa coisa para se colocar como aprendizado.

Porque embora falhar faça parte do processo, a vida simplesmente não costuma nos dar novas chances, páginas em branco, toda essa baboseira. 

Tudo que fazemos fica registrado, tem consquências e deixa uma mala muitas vezes pesada que arrastamos por aí, ás vezes só porque queremos e, ás vezes, porque ainda não descobrimos o que fazer com aquilo tudo. 

Por mais que gostemos de nos enganar, a existência é uma trama feita de uma linha só

Podemos descobrir novas formas de alinhavar cada ponto, de apresentar nosso melhor ou nosso pior.

Mas o que costuramos até aquela altura fica lá, pendurado em algum lugar. Ora mais acessível por nós, ora somente para os outros – porque por mais que desejemos esquecer, alguém nunca esquece

Raramente fica claro se o que estamos fazendo é realmente bom e certo e significativo. Não dá para saber essas coisas totalmente.

Então espero que o que aprendi e compartilhei contribua para o seu processo de resoluções de final de ano. Ou melhor…de vida mesmo.

E que elas sejam algo mais verdadeiro e factível, algo mais possível e realizável e, acima de tudo, algo que represente aquilo que é significativo e importante para você.

Porque, ao contrário do que algumas pessoas afirmam, eu não acho que um novo ano seja um conjunto de novas chances – assim como um novo-qualquer-coisa. 

É claro que um novo lar pode representar dias mais gostosos. Mas não vai excluir dos registros da sua vida os dias horrorosos de um lar antigo – e muito menos eliminar os riscos de outros dias ruins. 

Se você se dedicar a arrumar um novo emprego, talvez você se sinta melhor lá ao ser reconhecido(a). Mas seus defeitos profissionais, comportamentais e técnicos não vão desaparecer. E, por mais que você tenha novos amigos, as pessoas que você marcou não vão esquecer. 

Eu penso que todos os dias significam isso, e que a passagem de ano é apenas uma representação simbólica que nos lembra que nossos objetivos não deveriam ser limitados aos 365 dias do ano, como se fossem páginas novas e em branco de um novo livro.

Mas optando pelo clichê das metáforas e figuras de linguagem, bem…

Nossa vida é um livro só e quanto mais coerência os capítulos tenham entre si, mais fácil será escrevê-los e mais gostoso será relê-los sempre que você precisar se lembrar de quem é e porque deseja estar aqui – porque essa pode ser a coisa mais próxima do porque você está.

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Vou fazer a única coisa que consigo pensar agora. Tente pensar em uma única coisa que você realmente deseja para esse ano. Aquela única coisa para a qual você realmente deseja se dedicar. Aquela coisa que, não importam os sacrifícios que terá que fazer, você está diposto(a) a realizar. Depois determine o que precisa fazer e dedique-se a esta única coisa – se possível aplicando o que viu aqui!

 

Continue lendoO guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

O universo perverso e nosso digno merecimento

Sem aviso prévio de 30 dias, somos finalmente capazes de perceber. É, então, impossível negar que nossa mãe tava certa em parafrasear: tudo passa.

As estações mudam. Os cabelos caem, as unhas se tornam quebradiças quando uma unha nova se força a nascer.

A pele do pé, aquela contra a qual você insiste em lutar para afinar e amaciar em sessões caseiras de embelezamento, se desfaz.

Trocamos de carro, trocamos de meios de locomoção, surgem novas tecnologias. O que era barato se torna caro, o que era caro se torna barato.

O que era feio se torna bonito e o que era bonito se torna motivo de vergonha quando olhamos para as fotos do passado.

Aquela saia que era cafona e há dez anos atrás você usava se tivesse o sádico interesse em ser chamada de maria-mijona, se torna elegante e sai na Vogue. O tênis, antes prova de desleixo e desinteresse, agora é cool.

As plantas precisam ser podadas para dar lugar a folhas melhores. As árvores secam…e dão flores. O chão antes infértil ganha terra nova e adubo para dar lugar a novas árvores.

As pessoas partem. Ou deixam de fazer parte da sua vida para serem parte da sua história. Mudamos de casa. De rotina. De trabalho. De mentalidade.

As roupas que antes gostávamos já não parecem dizer nada sobre quem somos hoje e aquele cabelo parece nos incomodar.

As preocupações deixam de ser aquelas para serem outras. O que tanto nos atormentava antes parece, agora, bobagem. Nosso choro ganha motivos mais duros.

Os bebês, rapidamente crescem. Aquele pezinho vermelho e inchado do recém nascido se torna um artefato firme da sustentação que permitirá que, finalmente, ele ou ela explore o mundo no seu próprio ritmo: quem você só poderia carregar no colo, agora quer correr o mundo todo debaixo dos pés.

A rede de apoio com a qual antes você contava se dissolve. E, do contrário, também pode se refazer e ganhar um novo sentido mediante o inesperado.

Nós sabemos de tudo isso. Quando as mudanças (principalmente não tão boas) não acontecem conosco, chega até… ser bonito dizer, ler, ouvir falar.

Nós sabemos de tudo isso. Mas saber é tão diferente de sentir! Sob uma perspectiva racional somos capazes de perceber e entender que nada é permanente.

E, ainda assim, ficamos esperando que a vida ocorra exatamente do jeito que esperamos: céu azul (ou, no caso de alguns, nublado), sol, flores e sorrisos.

Esse foi o modo mais adequado que processamos para lidar com a valorização do sofrimento da era vitoriana, das guerras, da fome, das pestes, das crises financeiras que abalam o mundo: a ilusão.

Comerciais de margarina, barbies, o “American Way of Life” que germinou nos meados da década de 40…tudo pareceu uma ótima saída para a crise de 29 e outras porcarias que se pudesse imaginar. 

 

Mas,   ás vezes, o cadarço simplesmente é vermelho

baby-cry
sim, até você se comporta assim

Afinal se, por um lado, a vida pode ser muito difícil, por outro, deve ser apenas uma preparação para nos tornarmos tudo aquilo que acreditamos que precisamos e gostaríamos de nos tornar. Mas não.

Uma pessoa que respeito, gosto e admiro muito me ensinou uma frase pela qual sou apaixonada até hoje (Sim, Ste! Estou te devendo um quadro rs) e que busco compartilhar sempre que considero pertinente. Afinal, há sempre a possibilidade de ser s vida dizendo:


“Não te dou o que você quer, porque não é o que você precisa.”


Então, flertando obsenamente com o achismo, talvez uma das razões pelas quais não sabemos lidar com a transitoriedade seja pelo fato de que transitoriedade significa que o que está bom, deixará de ficar – mesmo que também signifique que o que está ruim, dará lugar ao que você escolher tornar.

Outra razão é que demoramos muito mais tempo do que imaginamos para deixarmos de ser aquela criança que chora porque o cadarço do sapato não é azul – ou seja lá as razões estranhas pelas quais você chorava quando era criança.

Hoje estas razões parecerão bestas pra você. Porque, sob o olhar de quem já viveu e superou outras coisas, elas passam a ser.

Mas experimente se tornar o maior inimigo de uma criança ao debochar de sua dor e dizer a ela que aquilo é bobagem.

Obviamente, existem dores que uma criança experimenta que perduram na vida adulta. Eu arriscaria dizer que muitas dores e frustrações que carregamos na vida adulta, vêm justamente dessa fase

Só que estou falando daquelas situações em que realmente parecia que estávamos sendo espancados ou passando fome porque sua vó/pai/tia decidiu dizer “não” no supermercado.

Então, tente se lembrar disso: existem coisas que te perturbam hoje que parecerão ridículas no futuro. E existem coisas que te perturbarão por muito tempo.

Quanto às primeiras, se eu pudesse, sugeriria analisá-las com frieza e observar quanto de energia você está gastando com isso, no lugar de qualquer outra coisa melhor. 

Em relação às segundas, considere-as como parte, mas não ressignifique sua vida e suas decisões por causa delas.

 

Dos cadarços aos chinelos

nem sempre a vida cabe em um comercial, na verdade, geralmente não cabe mesmo

Bem, e tem uma outra coisa que precisamos admitir: nossa incrível incapacidade de sermos humildes.

De aceitarmos e entendermos que nem tudo podemos controlar e, com o restante, nos resta fazer o melhor que pudermos – mas que os resultados dependem unicamente de nós.

Então, quando sentimos a impotência de não controlarmos nada, culpamos. Os astros, Deus, as pessoas, Newton, o funcionamento do universo, seu amigo impertinente, Lavoisier.

E aquela pequena parcela de coisas que talvez possamos transformar em algo é compreendida apenas como martírio: afinal, você está cansado demais da vida para lidar com isso, certo?!


Mas lidar com essas poucas coisas que podemos transformar em algo é justamente do que se trata a vida.

Esta é a vida real. As dificuldades e como podemos aprender a sorrir e viver mesmo com a consciência de que elas estão ali.

É claro que, em alguns momentos, a vida parece estar tirando uma onda com a nossa cara. O universo parece estar conspirando especificamente contra nós.

É mais cômodo pensarmos dessa maneira ou adotar o cinismo como melhor companheiro, do que questionarmos nosso comportamento, nossas escolhas, nossos próprios obstáculos internos em evoluirmos: “o que estou precisando aprender?”

Questionar verdadeiramente, se perguntar o que aquilo significa e o que você PODE fazer com isso é, sem dúvidas, mais desafiante do que lamentar tudo aquilo com o qual você NÃO PODE fazer absolutamente nada.

Uma grande lição que este livro me ensinou – ou melhor, uma noção que foi reforçada a partir dele – é justamente isso: ser positivo não tem nada a ver com ignorar as merdas da vida. Tem a ver em considerá-las como parte da existência.

“Sentir-se confortável com o fracasso”, como sugere Mark Manson, parece uma boa ideia para o sucesso, afinal de contas.

Inclusive, vou deixar que Mark fale por si:

“A cultura em que vivemos hoje nutre obsessivamente expecativas pouco realistas. Ser mais feliz. Ser mais saudável. Ser o melhor, superior aos outros. Ser mais inteligente. Mais popular, mais produtivo, mais invejado e cagar pepitas de ouro de doze quilates antes de beijar uma esposa impecável e dois filhos perfeitos no café da manhã, depois ir de helicóptero para seu emprego extremamente gratificante onde você passa os dias fazendo um trabalho importantíssimo que um dia ainda vai salvar o planeta.”

Percebe como é isso que, no fim das contas, bem lá no fundinho, esperamos? E como é aburdamente, ridiculamente, próximo de um roteiro de filme de ação do Tom Cruise, do 007, do Indiana Jones ou de um punhado de super-heróis?

 

Surpresa!

“Oi, eu sou a vida real”

Tenho uma novidade pra você: você não é um super-herói (ou uma super-heroína) e provavelmente seu trabalho não vai salvar o planeta.

Você não viajará o mundo perseguindo vilões nem acordará no cume de uma montanha na Índia. Dificilmente você terá descoberto a maravilhosa Atlantis.

Muitas vezes seu trabalho – mesmo que você o ame – será simplesmente maçante e exigirá grande força propulsora, disciplina e comprometimento.

Com sorte, você encontrará um parceiro ou uma parceira de vida especial que, como todo ser-humano, carrega suas próprias dores e manias.

Mas não, este relacionamento não será perfeito, regado a sexo, jantares, viagens e sorrisos. Na maior parte das vezes será…normal. Porque a vida é, na maior parte das vezes, normal. E tudo bem.

Então, esta pessoa, que você escolheu para estar ao seu lado, fará coisas absurdas em muitos momentos.

Talvez ela bagunce o armário que você levou um dia inteiro para arrumar. Ou tenha problemas motores em repousar a toalha molhada no lugar certo.

Você ainda pode correr o risco de esta pessoa comer o resto do feijão e esquecer de deixar um pouco para você de vez em quando, ou ter o azar nada romântico do seu parceiro ou parceira ter um gênio ruim. 

Existe a chance de esta pessoa esquecer, dia-após-dia, de deixar os sapatos no lugar certo, ou que tenha a intolerável mania de guardar até o caldinho da carne e do tomate.

Caso você decida ter filhos, esqueça aquelas cenas de novela onde tudo é bonito, leve e maravilhoso. Há chances bem grandes de ser simplesmente doloroso, dificil, caótico, perturbador.

O parto não serão aqueles 60 segundos da Carolina Dickman maquiada de sofrência enquanto empurra o bebê. Acostume-se a ideia de que será irritante e que os gritos podem durar umas quatorze horas.

Ah! E aceite o fato de que eles serão criaturinhas que farão coisas estranhas, capazes de produzir coisas fedorentas e despertar uma fúria inexplicável em você.

Há enormes chances de um dia ele ou ela soltar um pum na sua cara, limpar o salão bem na hora daquela foto de família que tinha tudo pra ficar perfeita ou o mais velho fazer chifrinho na mais nova.

Quem sabe você terá uma filha “bunda-mole” como você disse que jamais admitiria, ou seu filho seja chorão de um jeito que você nunca imaginou.

Se você acha que, então, está tudo certo porque você já decidiu não ter filhos, você também está para lá de iludido(a)!

Não será essa simples decisão que tornará sua vida digna de clipe de hip-hop ou comercial de shampoo, desodorante, gillete.

Você não estará o tempo inteiro com pessoas lindamente esculpidas ao seu redor.

Seus amigos seguirão tendo suas próprias vidas, e as merdas não vão dizer: “Volta, volta gente, deu ruim. Esse aqui se deu bem e decidiu não ter filhos nem se casar.” ou: “Risca aí da nossa lista, essa aí tá proibido atormentar!”.

Não duvide: você também vai passar por uma porção de perrengues que julgará detestáveis ou até insuportáveis. E, ás vezes, sentirá a mesma solidão da sua amiga, casada e com filhos. 

Ah! Não: a probabilidade também não está ao seu lado em relação à moradia. Tão cedo você não estará morando na casa dos seus sonhos, talvez, nem um pouquinho.

Pode ser um apartamento no centro barulhento da cidade ou uma casinha bem simplesinha cheia de coisas para consertar.

Se for, tudo bem: paciência. Analise suas prioridades, trace uma estratégia e execute um plano de ação para mudar isto. Mas não espere pela mudança de casa para mudar de perspectiva.

O que quero dizer é que você, provavelmente, passará a maior parte da sua existência por situações difíceis – que se tornam ainda mais difíceis mediante as expectativas cheias de fantasia que colocamos nas coisas.

E esperar viver, sorrir e estar bem só depois que essas situações passarem é loucura e, por que não dizer, um dos maiores erro que poderíamos cometer.

Condicionamos todo nosso bem-estar nos contos da Disney. E envolvemos todas as pessoas e coisas no nosso devaneio. O mais bizarro é que, quanto mais fatores que fogem do nosso controle, mais possível aquilo tudo parece.

 


Por outro lado, quando entendemos que estar bem não tem muita relação com as condições ideais e nos libertamos da culpa de não termos sido capazes de realizá-las, a vida fica mais leve.


Você aceita, por exemplo, que pode ter vontade de esganar alguns membros da sua família de vez em quando, mas que é maravilhoso tê-los por perto.

Que a pessoa com quem você está construindo uma história é realmente incrível e estar com ela te tornou muito melhor.

Que você ainda não conseguiu fazer aquela viagem, mas que vai ser muito gostoso encontrar seus amigos no próximo final de semana.

Que você não tem o corpo que gostaria de ter, mas tem um coração quentinho e que, por enquanto, isso deve bastar.

Que, talvez, você gostaria de não ter tido filhos se soubesse o quão desafiante era. Mas você teve – e se não tivesse, sua vida teria dificuldades proporcionais à sua realidade.

Voltando ao Manson escritor (não o assassino): “O segredo para uma vida melhor não é precisar de mais, é se importar com menos e apenas com o que é verdadeiro, imediato e importante”

 

A lei do esforço invertido

Seja esse cachorro. Tô brincando – mas cê entendeu, né?!

Tudo isso parece ter muito a ver com o que descobri, mais tarde, se chamar também de “A Lei do Esforço Invertido”, do Alan Watts, que se resume assim: 

“O desejo de ter mais experiências positivas é, em si, uma experiência negativa. E, paradoxalmente, a aceitação da experiencia negativa é, em si, uma experiência positiva.” 

Há séculos passados essa ideia foi a base do Budismo. Tempos depois, foi um dos pilares do Estoicismo.

Provavelmente seria possível escrever umas vinte páginas sobre os inúmeros teoremas e conceitos relacionados, em diversos credos e culturas.

Mas pouco importaria: nenhum nome, teoria ou artigo poderá representar a totalidade e a complexidade individual das nossas experiências.

Sua dor é a sua dor e ninguém será capaz de compreendê-la completamente. 

Só nós sabemos o que carregamos, o que aquilo nos causa e o quão difícil é nos livrarmos de algumas malas pesadas que mal sabemos explicar como vieram parar no nosso carrinho. 

Mas, volto a falar: VAI passar. Não há como evitar isso. Nada é fixo. Não importam as suas escolhas, tudo vai estar passando, o planeta vai estar girando.

E as coisas não vão parar um pouquinho de acontecer porque deu uma boa complicada.


A vida não será paciente e não esperará você se recompor. Ela acontece enquanto e porque você se recompõe.



Para dar contorno ao que quero dizer, compartilho esse excelente trecho do longa Paddleton (2019) onde o personagem, brilhantemente interpretado por Ray Romano interpreta um outro personagem (ta, não importa, ne?). {ah! Se você tem Netflix, recomendo ver na versão legendada, ali pelos 32 minutos}


Em resumo: quando chegarmos ao último minuto, não haverá “misericórdia”. Você pedirá por mais tempo, desejará voltar atrás, viver todos aqueles problemas que, na época, te atormentaram tanto.

Mas adivinha só? Isso não vai acontecer. 

 

Então aproveite o segundo tempo

Apenas isso. O óbvio. O clichê do clichê. 

O que resta da sua vida está descortinando bem na sua frente e, enquanto o espetáculo acontece, você está preocupado porque a cadeira não está confortável o suficiente.

Não estou dizendo que, por isso, você deva sentir culpa. Por reclamar, por se queixar, por se cansar, por achar a vida uma senhora bem desagradável de vez em quando. 

Estou sugerindo que experimente uma existência onde isso não seja capaz de definir seu estado de espírito, ou pelo menos não prioritariamente. 

Porque, se nem todo mundo tem o privilégio da fé sobre para onde iremos depois da morte, qualquer um pode saber exatamente o que deseja fazer com todos os outros dias que restam. 


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Hoje a prática é bem simples, e não precisará ser executada por uma vida perfeita. Na verdade, seria até recomendável que se fizesse meio ao caos. Como alguns já sabem, eu amo listas. Portanto…
1. Trace três colunas. Em uma, faça uma lista de grandes amigos,  digo, de tudo aquilo que mais tem te incomodado ultimamente.
2.Na outra, force-se a visualizar o que poderia fazer de bom e produtivo com aquilo: como cada um destes incômodos poderiam ser uma oportunidade de aprender ou fazer algo? Não se preocupe…você não precisa achar uma coisa boa para cada coisa ruim, afinal, ãs vezes as coisas ruins podem ser simplesmente ruins.
3. Na terceira, faça um cruzamento das informações de ambas as colunas e de suas próprias percepções ao longo do exercício, e conclua considerando uma ação prática e cotidiana que você pode adotar para lidar de uma forma diferente com os problemas.
4. Uma sugestão extra é, depois, considerar pelo menos 3 coisas pelas quais você é sinceramente grato. Pode parecer uma tremenda bobagem mas esse simples ato foi cientificamente comprovado como um método eficaz de aumentar a satisfação e bem-estar quando feito diariamente. E sabe o melhor de tudo? É de graça. Na pior das hipóteses você ainda pode encher a boca para sair falando por aí que não funciona e que é tudo balela. Mas antes, concentre-se em tentar e realmente se entregar ao ato em si. 
Ah! Se quiser compartilhar ou tirar dúvidas, ficaremos felizes em conversar. E se estiver disposto(a) a diálogos construtivos, comente abaixo o que achou do post e da prática…concorda, não concorda? 

 

Continue lendoO universo perverso e nosso digno merecimento

9 obstáculos na busca pelo nosso caminho

Uma das minhas coisas mais latentes é que, desde criança, gosto de tentar entender quem sou.

Qual o meu caminho. Porque estou aqui. O que eu deveria fazer. 

Se isso ficou claro o início não foi à toa. Essa é uma questão que toma conta da maior parte dos meus pensamentos.

Para mim, isso sempre foi fundamental, porque um dos meus maiores medos é chegar no fim da vida, olhar pra trás e rolar um grande facepalm: fiz tudo errado. 

Mesmo assim, demorei muito, muito tempo mesmo, para finalmente aceitar as respostas que tive ao longo da vida. 

É possível que eu pensasse tanto nisso, que me afastasse do meu objetivo?

Pode até ser, mas não posso dizer com certeza.

Por outro lado, reconheço facilmente razões que foram mais eficientes em me afastar do processo. 

Afinal, a gente tem que fazer escolhas o tempo todo. Nem sempre são certas ou erradas – quando existe essa dicotomia.

No entanto, por mais projeções que façamos, os resultados rais só conhecemos depois. E nisso a gente se perde. Algumas vezes/sempre. 

Imagino que com você já tenha acontecido.

Aquele momento em que você olha para toda sua vida, para o momento exato em que você está, e se pergunta: 

será? 

O ponto positivo é que estamos em um cenário onde o questionamento e a descontrução voltaram ao palco e lutam lado a lado das certezas e convicções.

Portanto, os caminhos e escolhas rumo à felicidade são cada vez mais mencionados. Discutidos de uma forma transparente.

E tenho aproveitado para ler, ouvir e conversar a respeito destes assuntos. 

Você mesmo, inclusive, pode até já ter visto ou ouvido de várias outras pessoas o que tenho a compartilhar. 

Ainda assim, gostaria de aproveitar a oportunidade de te falar sob meu olhar.

Quem sabe, exatamente agora, você precise ler esse texto. A vida é uma incógnita . 

Talvez você encontre algo que te ajude na sua trajetória .

Afinal, são coisas que, certamente, teriam me ajudado na minha. Não se ofenda, sei que só há uma cópia de você no mundo. 

Mas acredito que, embora cada um carregue sua própria história, os dilemas da humanidade seguem uma curva semelhante. 

Ah! Adianto que decidi ser boazinha de novo (rere) e dar uma encurtada (obrigada, David).

Porque gostaria que você pudesse realmente processar a respeito de cada uma delas.

Então, decidi dividí-las em três partes e mencioná-las sob a abordagem de “erros”. 

Também não há nenhuma ordem “estratégica” dos tópicos: estão exatamente conforme surgiram na minha memória.

Então, vamos lá, conhecer 3 dos 9 obstáculos ou erros que você ( ou alguém que precise desse artigo)  pode estar vivenciando na procura de si mesmo. 


1. Pressa, impaciência, intransigência

a pressa como obstáculo

Eu já falei sobre essa questão da pressa e como isso foi/é problemático pra mim (e uma porção de gente).

Mas aqui estou falando de um outro tipo de pressa.

Entenda como quiser. Mas você sabe do que estou falando. 

Daquele nosso jeitinho super especial de querer as coisas naquela hora. 

Eu entendo: não evoluímos tão rápido quanto imaginamos.


Sempre preservarmos um resquício do estilo egocêntrico e mimado, típico das crianças. 

Antes de nos permitirmos pensar nas perguntas, queremos respostas

E, quando elas não vêm, nos frustramos e desistimos de esperar por elas.

Ficamos de mal com o mundo, com Deus, com o universo, com o cosmos, com os astros.

Com o movimento das marés, com a mudança da lua e com aquele amigo cheio de sabedoria que se nega a responder como você queria: mastigadinho.

Até tentamos de outros jeitos. Perguntamos pra nossa mãe, pro vô, pra vizinha.

E terminamos putos quando cada um deles parece fazer parte de um acordo conspiratório para responder daquele jeito passivo-bundamolizado: 

“tudo no seu tempo.”

Ou então aquele outro clássico:

“as coisas acontecem como têm que acontecer”

“Que tudo no seu tempo o quê! Tudo no meu tempo” — pensamos (ás vezes, falamos também, nem que seja para as paredes). 

“Não tem nada disso das ‘coisas’ acontecerem ‘como têm que acontecer’. Que as ‘coisas’ não têm que ter é vontade ne-nhu-ma. As ‘coisas’ estão na minha vida. Minha vida, minhas regras!”

E assim a gente fica certão de que pode fazer tudo sozinho.

Que temos o controle remoto do mundo e de todas as coisas na palma da mãozinha. Só chora, bebê.

Enquanto você não entender isso, o cosmos, o universo, Deus, os astros, seu amigo sabiozão, sua tia, seu vizinho…vão seguir dando a mesma resposta, no máximo com suaves variações. 

Você aprende, depois você ganha. Sempre foi assim, ué minha gente. 


2. Distrações da vida e coisas mal-resolvidas

as distrações da vida nos impedem de encontrar nossa bússola interna

Mesmo que alimentemos dúvidas e questionamentos dentro de nós.

Mesmo quando aprendemos que desvendamos a vida aos poucos: o buraco é sempre mais embaixo. 

Porque essa vidinha curta, é comprida o bastante para deixar rolar um monte de águas entre o momento que a gente nasce e morre.

Esse ‘e’ pequeninho ali é o grande barato – que pode sair caro.

Nesse espaço-tempo, passamos por uma porção de fases.

Descobrimos novos gostos e preferências, redefinimos prioridades, postura e estilo de vida.

Encontramos outras atividades prazerosas e pessoas com as quais queremos passar mais tempo. 

Tudo isso é muito bom e merece ser aproveitado.

Mas precisamos saber voltar para ficar a sós com a gente mesmo. 



Eu sei que você não quer dialogar com seus demônios mais assustadores. E que sentar a buzanfinha no sofá, para ver aquela nova animação do Netflix, é bem mais gostosinho. 


Afinal, essas distrações, que fazem parte da vida e são maravilhosas, também são armadilhas muito eficazes. 

E, como se as distrações naturais não fossem suficientes, decidimos criar mais algumas (ora, por que não?).  

Por exemplo: de repente, podemos começar a “sentir” que “precisamos” trabalhar mais, dormir mais e ver mais séries .

Embora eu concorde que nenhuma delas é intrinsecamente nociva, é preciso cautela.

Todas são bem legais, desde que nas devidas proporções e no momento certo.

Então a sugestão é: pergunte-se constantemente sobre a natureza das suas distrações, e o quanto tem se lambuzado nelas.

Você pode descobrir que tá meio demais, e que talvez elas estejam sendo uma ótima muleta—ou uma deliciosa forma de fugir de algo mal-resolvido.

 

3. Absorção de projeções externas

um obstáculo do processo é deixar que os outros projetem em nós sua visão de mundo

Sempre tem alguém com quem você cruza no meio do caminho e fala, usando palavras diferentes:

“Não, não é por aí não. Vem na minha, que dá boa. Eu sei um caminho bem melhor.”.

Porque uma coisa é certa: o mundo está cheio de pessoas dispostas a te dizer o que você deve ou não fazer.

Inclusive está muito relacionado ao primeiro dos comportamentos nocivos que mencionei.

Portanto, eu não tenho dúvidas que, em grande parte, essa é uma postura bem-intencionada.

Mas quem acordará ao lado das suas escolhas todos os dias é você. 

Nunca se esqueça disso. 

Costumamos, desde crianças, absorver o que vemos e ouvimos .

E mesmo quando nem é direcionado a nós ou sequer percebemos, algumas coisas penetram na nossa mente e ficam ecoando. Inclusive já falei sobre isso aqui.

Talvez seja nosso instinto primitivo de sobrevivência. Ansioso para aprender sobre a vida, sobre o mundo, sobre como existir nele. 


Mas muitas destas coisas, quando internalizadas, podem afastar você do seu caminho. 


É assim que as crenças limitantes começam:

“Você precisa ser forte; deixa de ser bunda-mole; isso é ridículo; é importante ter sucesso; você precisa entender que é um adulto e não pode mais ficar gastando tempo com essas coisas” — entre outras.

Só existe um colete salva-vidas. Como dizem, é preciso ser filtro, não esponja.

Eu sei: dificílimo, mas fundamental. 

 

 

[…]

Bom por hoje é só (que coisa de radialista né?!). Mas à medida que for interessante, compartilho o restante.

Enquanto isso…E você? Já cometeu algum desses erros? Qual seu palpite dos próximos? 

Se gostou, não deixe de compartilhar com aqueles que poderão se beneficiar! 

Ainda estou refletindo sobre os comentários. Mas, pufavozinho! Me fala lá pelo instagram, por aqui, manda uma carta, um sinal de fumaça. 

Me conta se isso fez sentido para você ou recomende outros “erros” que poderiam ser mencionados.

Ah! E se puder, me diz também se as práticas têm feito diferença ou se você sentiu falta delas em algum artigo.  😉

 

Continue lendo9 obstáculos na busca pelo nosso caminho

6 homens que ensinam como ser incrível – e um plus indispensável

Agosto costuma ser um monte de coisas e tem até gente que diz que é mês do desgosto ou associa a coisas negativas. Mas eu só tenho coisas boas a dizer sobre agosto.

Pessoas maravilhosas da minha vida nasceram nessa época, e algumas pessoas nasceram na minha vida nesse mês, que tem agradável tendência de me reservar coisas boas. 

Bem, parece que alguém mais viu uma bela oportunidade nessa lacuna do calendário comercial e nasceu o dia dos pais.

Eu sou totalmente favorável à noção de que, dia dos pais, mães, mulheres, crianças, homens, avós, papagaio (e tudo aquilo que se fala, se vê e se prega nessas datas) é a gente quem faz, não precisa ter data ou presente.

Mas também sou totalmente favorável a todas as desculpas que surgem para comemorarmos ao lado das pessoas que amamos.

Afinal é sempre gostoso lembrarmos das que representam determinados papéis na nossa jornada, refletirmos sobre suas importâncias e reconhecê-las como fundamentais. E agora é a vez dos pais.

Só que tem muita gente que não tem um pai presente ou vivo. Que não tem um pai. Ou não vê sentido nessa data por qualquer outra razão.

E, embora eu reconheça que “figura parterna” não necessariamente deva ser exercida por um homem, nem reflita uma vida afetiva incompleta, eu optei por ser mais tradicional. 

Portanto, esse ano decidi “comemorar o “Dia dos Pais”  de uma forma diferente: homenageando os homens que mais influenciaram/influenciam a minha formação, meu desenvolvimento como ser-humano, independente do aspecto parental. Afinal:

  1. A figura paterna não necessariamente é tão “paterna” assim;
  2. Homens representativos nem sempre precisam ser reais.

Estes homens incríveis foram ordenados de forma crescente (ou seja, começando com aquele que exerceu menor “poder”).

E nesta lista você vai encontrar os seis que não consigo deixar de lembrar com um sorriso no rosto e um brilho no olhar.

São homens que despertam em mim uma profunda admiração, respeito, inspiração. Que representam o que eu posso ou quero me tornar quando “crescer”.

Eles me ensinaram ou seguem ensinando algo de muito valoroso de que raramente abro mão. 

Esses homens provam que não precisa ser pai ou herói para ser “homem”.

Eles estão aqui justamente porque foram capazes de serem “de verdade” e estarem sempre dispostos a buscar sua melhor versão.

De enxergar o outro, de enxergarem a si mesmos. De pedir desculpas. De valorizar as pessoas. De dizer “eu te amo”. De serem sensíveis, e também falhos. De chorar.

E nunca deixar de serem extremamente fortes e seguir a luta. Enfim: humanos. Humanos incríveis. Em toda sua beleza e complexidade. 

 

1. Roland de Gilead (Deschain)

Homens Incríveis - Roland o pistoleiro
resiliência, equilíbrio, o peso das projeções, foco, frieza tática, análise e conscientização dos problemas

O melhor pistoleiro das galáxias e dos mundos transversais é também um dos homens mais sensíveis, resilientes e inspiradores que já conheci. 

Eu poderia, facilmente, traçar uma série de metáforas e comparações entre minha vida e a dele, minha busca e a dele.

Porque Roland guarda dentro de si memórias inteiras desde sua primeira infância, os infortúnios e as interpretações que fez de tudo que já aconteceu com ele ou perto dele. 

E, enquanto cresce, projeta uma busca ideal. Uma coisa que, caso ele conquiste, poderá dizer que cumpriu sua missão.

Ele não sabe exatamente como fazer issso, nem o que de fato isso representa.

Roland raramente questiona sua busca: ele simplesmente sente que é isso, e faz tudo que pode para chegar

Obstinado e solitário dedica anos de sua existência a atravessar mundos e tempos, sobrevivendo a cada um dos problemas que aparecem, mesmo quando tudo indica que aquela é a linha de chegada para ele. 

Roland também é constantemente surpreendido por difíceis decisões entre sua busca objetiva e suas necessidades emocionais e subjetivas.

A vida lhe ensinou que é preciso serenidade emocional, respeito a si mesmo e aos outros, foco e frieza tática para conseguirmos resolver problemas de forma assertiva.

Tanto que evoca a isso com um mantra clássico da aventura:

“Eu não miro com a mão. Aquele que mira com a mão esqueceu o rosto de seu pai. Eu miro com o olho. / Eu não atiro com a mão. Aquele que atira com a mão esqueceu o rosto de seu pai. Eu atiro com a mente. / Eu não mato com a arma. Aquele que mata com a arma esqueceu o rosto de seu pai. Eu mato com o coração.”


Mas se tem algo admirável sobre ele, é que não há ponto sem nó: ele não abre mão de nada que lhe é realmente importante, apenas sabe quando aquele não é o momento, e inclui a pendência em sua lista. 

Em um momento parece difícil a ele entender que as pessoas não são simples passos convenientes para seus objetivos e que conexões emocionais não são como manivelas.

Em outro, ele é capaz de olhar para trás e perceber como poderia ter ido mais rápido, melhor, mais feliz, se tivesse feito diferente.

Se tivesse priorizado mais aqueles sem os quais não há vitória. 

Um dos conceitos mais perenes em toda a saga é prova disso. Afinal, esse Indiana Jones do multiverso foi o responsável por reforçar uma ideia primordial: a relevância que as pessoas têm na nossa jornada, sob o termo Ka e Ka-tet.

Ka…a palavra que vocês pensam como ‘destino’, Eddie. Embora o verdadeiro sentido seja muito mais complexo e difícil de definir. E tet, que quer dizer um grupo de pessoas com os mesmos interesses e metas. Ka-tet é o lugar onde muitas vidas são reunidas pelo destino”


Se por um lado ele é humilde, digno e honrado, por outro, demora a entender que nada é conquistado sozinho – pois chegar sozinho, depois que se conhece algumas pessoas, parece a verdadeira derrota. 

 

2. Pedro Bandeira

Homens incríveis - O escritor Pedro Bandeira
transgressão, desenvolvimento, superação, força e resiliência, coragem, gentileza, respeito


Posso dizer sem nenhum medo de parecer tola ou exagerada, que este homem foi um dos que salvou a transição entre minha infância e adolescência.

Conheci o Pedro Bandeira nas andanças bibliotecárias das fichas de leitura. 

Ali pela quinta-série, um dos livros disponíveis chamou minha atenção pela capa: um moleque de tênis, uma poça, um cenário bem urbano e “marginal”. 

Eu li, foi ótimo, mas nem se compara ao tesouro que vivia bem perto dele nas estantes.

Só quando fui devolver na biblioteca, é que o encontrei, em um dos livros mais marcantes daquele período (o que é bem relevante se considerar que eu lia dois a três por semana).

Quando vi o título não pensei duas vezes: A droga da obediência. Uma palavra odiada pelos adultos, outra odiada por nós, adolescentes. 

Li sem nenhuma pretensão e embora possamos imaginar que foi esse o segredo, ao ler o segundo do mesmo autor, me encantei ainda mais: O Anjo da Morte.

Daria até para brincar que considero Pedro Bandeira o Stephen King brasileiro dos adolescentes. 

Depois desses dois, li muitos outros dele, e passei meses encantada com cada novo personagem.

Mas, em todos, este homem incrível que eu considero pacas (em vários sentidos) era sempre o primeiro a tentar ensinar uma lição.

Uma lição que a vida nunca cansa de pôr em prova: tudo passa. Um momento pode parecer horroroso, sem fim, sem solução, o ponto final.

Mas é só um momento, e somos nós quem damos o devido peso a ele. Somos nós que o interpretamos e resolvemos de modo a dar sequência a uma série de resultados. 

Somos colocados constantemente diante de desafios, mas não podemos desistir.

Ás vezes sequer parecemos a pessoa certa para aquilo, não estamos preparados. Mas estar preparado é uma questão de perspectiva. 

O Pedro Bandeira me ensinou uma porção de coisas sobre ser adolescente, sobre reijeição, sobre dizer não e se impor, sobre autoaceitação.

Em diversos momentos foi como se ele sentasse ao meu lado na cadeira da biblioteca, colocasse a mão no meu ombro e dissesse: 



“Ei. Tudo bem se você não se encaixa. Ás vezes, não ser aceito, é a maior prova de que você está no caminho certo, o seu.”.


Fora isso – que já seria para lá de suficiente para uma recém-iniciada adolescente, rebelde, sem amigos, que ainda gostava de jogar bola e peão, gordinha e com uma alergia de pele que diziam ser contagiosa – eu ganhei amigos.

Eram fictícios, mas era agradável passar horas com eles, rindo e chorando com seus problemas que, ás vezes, eram meus também.

Sou muito grata ao homem de mente genial, gentil e imaginativa que os criou, e que me ajudou a criar parte do que sou também. 

 

3. Walter Bishop

Homens incríveis Walter Bishop de Fringe
convicção, autenticidade, humildade, escolhas decisivas, equilíbrio, a importância das pessoas


Se tem alguém que foge do estereótipo de “figura paterna” é esse cara. Ao mesmo tempo, desde que o conheci, não encontrei maneiras de não amá-lo.

Mesmo depois de eu “não ter mais notícias dele”, nunca deixou de fazer parte da minha vida.

E realmente carrego comigo seus sorrisos, reflito sobre suas dores e relembro de tudo que aprendi.

Convicto de seus ideais e mais fiel a eles do que às suas conexões interpessoais, Walter Bishop mostra-se uma pessoa. Não um pai.



Afinal, embora normalmente nos esqueçamos, um pai é um homem, uma pessoa, muito antes de ser um pai.

Tem falhas absurdas, traços inconcebíveis, sofre para adaptar-se às expectativas e frustra-se, quase como uma criança, quando sente-se pressionado a abrir mão de algo.

Curiosamente ele precisa, constantemente, escolher entre as duas coisas que mais importam para ele. 

E a vida testa quase cruelmente sua capacidade de decidir “certo”.

A ciência – associada à vaidade que quase todos nós temos, de nos imprimir no mundo, de fazer alguma diferença, de ter e seguir um propósito. E um filho.

Algo que Bishop não necessariamente idealizou, fantasiou e planejou – tal como suas aventuras científicas – mas que lhe despertou sentimentos nunca imaginados.

E esse duelo respinga em diversos momentos decisivos de sua jornada.

Como cientista, ele é imbatível, icônico, divertido, bem-humorado, impulsivo, apaixonado, incoerente e brilhante: sempre sabe o que está fazendo e como resolver quando as coisas não saem como esperado. 

Como homem e pai…bem, ele talvez seja um homem e pai comum: cheio de imperfeições, erros em cima de erros – alguns, pode-se dizer, dignos de serem considerados imperdoáveis por uma grande maioria. 

Mas este cientista incrível, esse homem ingênuo de personalidade maluca, esse pai terrivelmente falho é também absurdamente humano e humilde.

Com ele, aprendi a importância de assumir nossos erros e de não desistir de se responsabilizar para consertá-los. 

Isso envolve mostrar-se fraco. Imperfeito. Frágil. Incompetente. Incapaz. Vulnerável. 

E, o mais importante: ele me lembrou porque e como sermos autênticos é fundamental para encontrarmos aquilo que buscamos.

Me lembrou que ser diferente não é um problema. Que a extravagância, a ingenuidade, a espontaneidade não são defeitos.

Nos mantermos verdadeiros sobre quem somos é, ao mesmo tempo que um ato de lealdade conosco mesmo, um desafio de convivência com os demais e uma forma de nos conectarmos com quem realmente interessa e faz a diferença. 

 

4. Carlos Ruiz Zafón

 

Homens incríveis - O escritor Carlos Ruiz Zafon


Falar sobre homens que me impactaram profundamente, sem falar deste, seria incoerente.

Como já disse, livros, séries, filmes e músicas contribuíram muito para a minha formação.

É inevitável, portanto, que outro escritor figure por aqui, nessa lista seleta.

Então, a exemplo do Pedro Bandeira, conheci o Zafón em um momento particularmente doloroso da minha vida: um homem saía dela, enquanto outro ia se aproximando, carregando mais um (ou vários), em forma de livro, embaixo dos braços.

Com ele, o autor do tal livro – ou melhor, por meio dele – eu chorei, dei risada, fiz novos amigos, tive novas perspectivas, e comecei a entender e aceitar a impermanência das coisas.

Aprendi que nossa vida, tão curta e ao mesmo tempo tão imensa, é composta de fases que carregam um pouco de nós.

Em alguns aspectos, deixamos no passado coisas que não nos servem mais, e em outros, buscamos novas roupagens para nosso eu.

Mas, no meio de tudo, podemos conhecer universos fantásticos e pessoas incríveis.

Mudar para sempre a nossa vida e a vida daqueles que temos a chance de conhecer – positiva ou negativamente, mas nunca sem a devida resposta do universo. 

Por ele fui lembrada também, várias vezes, que o tempo passa muito rápido.

Que as escolhas mudam tudo. Mas que sempre é possível respirar fundo e começar de novo

Que o orgulho e a vaidade são nossos piores inimigos mas chegam das maneiras mais inusitadas e, ás vezes, imperceptíveis. 

E, sobretudo: que a vida é mesmo complexa, difícil e mesmo assim, impecável, magnânima e linda. 

 

5. O homem que a vida trouxe

Homens incríveis - Os presentes que a vida da
pureza, lealdade, generosidade, simplicidade, ética, calma, frieza tática, gregário, bondoso, generoso, humildade

Como essa é uma lista de homens incríveis – posso garantir que, conhecer o Caciano foi uma tremenda sorte. 

Claro que a intimidade traz a vantagem de poder ver em alguém mais do que ela mostra à maioria.

Mas mesmo antes de eu cogitá-lo como meu companheiro de vida, eu já o admirava e respeitava. 

Então, isolando o papel social que ele representa na minha vida, se eu tivesse oportunidade de saber sobre ele tudo que sei hoje, mesmo que como somente amiga, ele estaria nessa lista. 

Primeiro porque ele é real. Segundo porque…ele me aguenta TODO DIA. Ou seja, um verdadeiro herói.

Mas pulando a parte humorístico-depreciativa, é realmente um privilégio conviver com alguém assim, realmente puro, verdadeiro, sereno, generoso e completamente ético.

O Caciano é do tipo de pessoa que sempre busca fazer o que é certo. Ao longo de todos esses anos, nunca vi ele falar de mal de alguém pelas costas, denegrir o outro.

Em todos os ambientes que transita, em todos os grupos que integra, em todos os momentos, com todas as pessoas: ele é o mesmo

E eu não poderia esperar outra coisa: o mais velho dos quatro filhos de um casal silencioso mas amoroso, passava o dia inteiro andando por aí, no sítio dos avós, no meio do mato e dos bichos, voltando cheio de lama e fome.

Lembro até hoje quando ele me contou das suas lembranças e como aquilo me tocou de um jeito novo.

A forma com que seus olhos brilhavam ao falar do avô e das suas aventuras, com nomes de plantas e animais dos quais eu nunca tinha ouvido falar.

Ou do dia que ele plantou o bambu que está, até hoje, nos fundos da casa dos pais.

E de como aquela fala macia, alegre e calma transmitia a essência de uma alma leve impossível de não se amar. 

O Caciano compartilhou, desde o início, o universo fantástico daqueles que se desenvolvem longe das maldades, regras, exigências, expectativas e protocolos sem sentido da sociedade “urbana” e me lembrou que existe um modo bem melhor de viver.

Por coisas assim ele me inspira a buscar a melhor versão de mim sem falar nada, apenas sendo ele. E é sempre difícil falar sem parecer declaração de amor eros, cego.

Então: é claro que, ainda bem, ele tem defeitos. Mas mesmo esses defeitos são compatíveis com as coisas boas que ele guarda. 

É delicioso olhar para trás e ver como eu mudei por causa da tranquilidade perene que ele transmite, do modo cuidadoso, sistemático e frio com que resolve os problemas.

Ou mesmo pela forma elegante, sutil e firme com que se desvia daquilo que não lhe agrega.

Que poupa energia e esbanja sabedoria ao abrir mão de tentar controlar coisas que estão fora do seu alcance.

E de como dedica-se em manter todos os seus vínculos saudáveis. Porque algumas pessoas preferem perder o amigo a perder a piada, ou ter razão a ser feliz.

O Caciano, por sua vez, faz muitas piadas, principalmente com amigos, mas jamais colocaria em risco uma amizade ou qualquer tipo de relação positiva por orgulho, vaidade ou teimosia. 

Ele é, definitivamente, como aquela música, o tipo de pessoa que chega de mansinho, sem avisar, sem fazer alarde, e vai ficando até ficar.

Surpreede todos aqueles que lhe dão a chance de mostrar que ele será o amigo mais leal, confiável, justo e amoroso (do seu modo sutil e cuidadoso). 

Ele não mente. Se esforça sempre para ser melhor para todos e para ele mesmo.

Está sempre disposto a ouvir. É verdadeiramente compreensivo, tolerante e amigável – mesmo com aqueles mais diferentes dele.

Não tem medo de chorar. Nunca fala ou faz aquilo que não acredita ou sente realmente.

Fica feliz com as coisas mais simples. É uma das pessoas mais humildes que eu conheço (talvez a MAIS humilde).

Portanto, ele merece estar aqui. Não como marido. Mas como homem, como ser-humano incrível que sempre foi e nunca deixará de ser: comigo ou “sem-migo”  

 

6. O homem que a vida deixou

Pai incrível
o homem por trás do pai, abnegação, amor incondicional, sabedoria, coragem de ser ele mesmo, autenticidade, a imprtancia das pessoas, bondoso, conectado a natureza


Cara. É claro que deixei propositalmente pro final, fechando com chave de ouro.

Não dá pra terminar um artigo sobre homens incríveis sem falar desse em particular.

Dentre todas as figuras parentais disponíveis no mundo, a minha é a mais óbvia.

Porque, se de um modo ele foi levado, de outras tantas ele ficou e mostrou que o legado é mais forte que a matéria.

Infelizmente, não tive a experiência de tomar cerveja com ele. De mostrar a ele minhas descobertas ás vezes divertidas, ás vezes dolorosas sobre a vida. 

Não pude levar ele para passear, ouvir novos conselhos, nem compartilhar com ele meus conflitos – tão parecidos com os dele. Não pude me tornar adulta, realmente, e tê-lo fisicamente ao meu lado.

Talvez, inclusive, eu teria demorado muito mais para me tornar uma, e mesmo na sua partida, houve uma lição.

Nem pude ser mais sua amiga e menos sua filha – coisa que costuma acontecer quando crescemos o suficiente para entender algumas coisas.

Mas isso é algo que como adulta, posso fazer com ele. Porque uma das coisas mais gostosas de se tornar adulto é poder revisar tais “personagens” da nossa vida com outro olhar. 

Com a perspectiva de que ali há uma pessoa, uma trajetória única, um universo inteiro, um conjunto de dores e glórias que sustentam a construção toda. 

Então, eu poderia mencionar milhares de coisas sobre meu pai: como o fato de ele ser imensamente afetuoso ou de não pensar duas vezes ao tirar a comida do seu prato para dar para nós – em quaisquer circunstâncias.

Eu também poderia citar os relatos de como ele passava horas nos segurando, sem movimentar um dedo para não nos acordar.

Ou como era capaz de comprar briga com minha mãe (se vocês conhecessem minha mãe, saberiam como ela é maravilhosa e doce, mas também entenderiam o tamanho da coragem dele) para nos defender.

Ele dizia o tempo todo o quanto nos amava. Como éramos tudo para ele e ele não seria nada sem nós. Como, tudo que ele fazia, era para e por nós.

E nos carregava no colo ou nos ombros mesmo quando já éramos muito grandes; nos colocava para dormir mesmo quando não merecíamos. 

Mas, novamente, muito antes de ser meu pai, este homem também era um ser-humano; caçula e único filho homem de uma família com cinco irmãs.

Minha avó era descendente de uma mistura entre negros e portugueses e, partindo do lado mais pobre, passou por uma série de dificuldades e mudanças bruscas. 

Meu avô, por sua vez, era um descendente de italianos quase austríacos.

Os dois, como muitas famílias antigas, constituíam uma base trabalhadora, forte, silenciosa, rigorosa e exigente. 

Portanto, como tantos garotos daquela geração, o Calinho ou simplesmente Cau (denominação que, só depois, descobri não ser seu verdadeiro nome) passava a maior parte do dia pela cidade, chutando pedra e bola de meia, andando pelos trilhos de trem, jogando peão e bolinha de gude. 

Dono de um coração enorme, também se apropriava de uma personalidade forte: apanhava de relho, saía correndo, se escondia debaixo da mesa e falava palavrão.

Então, acho que desde sempre, lidar com ele não era exatamente fácil. Mas estava longe de ser extremamente difícil. 

O mesmo garoto que foi expulso de várias escolas, desobedecia e zombava professores, fugia da escola – perdendo excelentes oportunidades, como homem, na época, de seguir com os estudos – também defendia os amigos a ferro e fogo, e tinha uma enorme reverência e carinho pelos pais.

O contato com eles, ainda assim, era limitado a funções como ajudar a mãe com o galinheiro e comprar coisas na mercearia para a casa, com o dinheiro suado que entrava dos trabalhos de construção do pai – o qual, vez ou outra, acompanhava para ajudar.

Assim, todas as desculpas para se passar um tempo a mais juntos eram devidamente aproveitadas por todos.

Não havia cuidados extras, atenções desmedidas, preocupações delicadas: a vida precisava ser prática. É claro que meus avós amaram incondicionalmente meu pai, assim como a todos os filhos.

Mas a manifestação desse amor era restrita a gestos de sobrevivência: dar comida, roupa, casa, cama e alguns afagos e sorrisos esporádicos. 

Costumava contar que, um dia, meu avô encheu os olhos de lágrimas ao observar seu modo de ser pai.

Havia, de certa maneira, um saudosismo de tudo que não existiu naquela relação, e uma vontade de viver aquilo que, talvez, aconteceu incontáveis vezes em sua imaginação.

Correndo risco de parecer epílogo para lápide (mas muito longe disso), ele foi um profissional eficaz, trabalhador e empático.

Um amigo leal e generoso. Um filho dedicado e amoroso. Inclusive, sobre isso: ele amava demais as pessoas.

Tanto é que, mais de uma vez, disse que o que mais gostava do comércio era conversar com pessoas diferentes, trocar ideia, conhecer o mundo através daqueles que sentavam no balcão da sorveteria. 

Bem verdade que, talvez, nem sempre nós conseguíamos retribuir na mesma medida, o que lhe deixava melancólico e frustrado várias vezes. 

Mas ele nunca deixava de amar, de usar todo seu arsenal possível. E seus gestos puros dispensavam autopromoção. 

Comportamento cujos louros se estenderam, mesmo depois de “partir”, já que continuamos a ouvir declarações que sempre nos surpreendem e nos trazem alegria.

Minha mãe me contou por exemplo, que essa semana mesmo, em uma visita, descobriu que ele levava sorvete à uma vizinha idosa e passava um tempo com ela, sentado na varanda, conversando, rindo e fazendo-lhe companhia.  

Ela me perguntou: “tu sabia disso?”. Eu não sabia, papai, mas quem te conhecia, sabia que isso era a sua cara

Outro fator é que, embora ele não tivesse graduação – em partes pela sua indisciplina e inquietude, já mencionadas – lia muito e era assustadoramente inteligente e sagaz, com percepções aguçadas sobre alguns assuntos.

Bastante gregário, se dava bem com todos os tipos de pessoa e, inclusive, confiava demais – talvez por isso tenha repetido várias vezes que não devemos confiar em absolutamente ninguém

Este homem também era uma pessoa muito nervosa. Rapidamente ficava irritado e era constantemente movido por impulsos.

Mas, da mesma maneira que acreditava na sua intuição e nas suas crenças, era extremamente autêntico.

Eu não sei bem se preservei algumas de suas características como forma de mantê-lo por perto, se sempre tive semelhanças claras com ele, ou se fruto do que sou hoje é do que aprendi na convivência. 

De qualquer maneira, algumas coisas que meu pai sempre dizia nunca vou esquecer.

São coisas que eu levo comigo e repassei ao meu sobrinho. Coisas que eu contarei, caso um dia eu tenha, aos meus filhos, sobre o avô que eles não conheceram.

Por exemplo, este homem incrível, me ensinou que: 

  • É bom cumprimentar as pessoas na rua. Mesmo quem a gente não conhece. É um gesto de cuidado, educação e gentileza que não custa nada e deixa todo mundo mais feliz e conectado. 

  • “Tem duas coisas que não aguento: calça curta e sapato sujo.” 

  • Poupar é fundamental, e uma questão de hábito, disciplina, otimização e inteligência: deixar de gastar com aquilo que não importa possibilita viver melhor o que importa e alcançar qualquer objetivo. 

  • O conhecimento é o tesouro mais importante a ser adquirido, ninguém pode roubá-lo de você e sempre é possível transformá-lo em algo ainda melhor e valioso. 

  • Uma pessoa não precisa ser rica ou andar com roupas e sapatos caros, ela precisa ter dignidade, ser honesta, e se esforçar pelas coisas boas; é isso que a torna uma pessoa “de valor”. 

  • Nem todo mundo teve as mesmas oportunidades que você, então seja paciente e tolerante. 

  • É nossa responsabilidade cuidar do meio ambiente, nos comprometer a fazer o melhor por ele, fazer o possível para preservar as coisas boas da natureza. 

  • A tempestade é uma das coisas mais terríveis e belas do mundo. Assim como o mar, com o qual é preciso lidar com um cuidado extra: admirar, aproveitar mas sempre respeitar. 

  • Ás vezes é melhor pagar mais caro por coisas duráveis do que desperdiçar dinheiro comprando coisas baratas que estragam logo. 

  • Nem sempre as coisas são o que parecem, muito cuidado: “um sorriso largo, ás vezes, é pior que um soco forte no saco” (ele sabia que eu não tinha saco e, pra mim, dizia outras variações, mas eu já ouvi ele falando essa, e parece mais com ele).

  • A vida é muito curta. Valorize o que você tem. Viva sua vida plenamente, e realize seus sonhos antes que seja tarde. 

 

Aquele plus: ou seja…

É verdade: eu tive um homem realmente incrível para chamar de papai. Mas dizem que as saudades do que não tivemos doem mais.

Espero que seja mentira, afinal, a saudade do que tivemos já é bem dolorosa e, como diz a música: cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é.

De todo modo, torço para que você encontre suas próprias resoluções e que descubra, caso ainda não veja dessa forma, que não é a ausência de figuras que torna alguém incompleto, que deixa “lacunas”. Mas a indisposição de estabelecer conexões reais, verdadeiras, puras, com quem quer que seja, com quem quer que a vida oportunize. 

Portanto, se eu pudesse dar uma sugestão seria: esteja atento(a) a novas chances de se conectar com as pessoas e coisas certas, e agradeça as que teve até aqui, entregando-se verdadeiramente a elas. 

Abrace quem você ama, com barba ou sem barba. Jovens e velhos. Rabugentos e bem-humorados. Barulhentos e silenciosos. Discretos ou extravagantes. 

Diga que as ama, faça a elas declarações públicas e privadas de amor. Homenageie quantas vezes forem necessárias, de todas as maneiras possíveis. Não tenha vergonha nem medo. 

Mande cartas, bata fotos, almoce junto. Publique ou não publique. Despeça-se sempre de uma forma gentil e amorosa. Faça as pazes. Perdoe, mesmo que internamente. Dê beijos. Acarinhe.

Dê, antes de receber. Não perca tempo justificando seus erros com o erro daqueles que vieram antes de você. Não limite a sua capacidade de amar usando os mesmos padrões de limitações dos outros. 

Reserve-se ao direito de viver plenamente estas conexões que dispensam datas, protocolos, espaços, contextos, regras. Pois, acredite, elas podem passar mais rápido do que desejamos, antes que estejamos prontos. 

 

 

Continue lendo6 homens que ensinam como ser incrível – e um plus indispensável

Quatro coisas que me salvaram

Constantemente lembro-me de como eu era um ser-humano mais bosta até poucos anos atrás. E como isso parece ter diminuído gradativamente conforme os anos, experiências, pessoas, conhecimentos e leituras (boas/bons e ruins) foram se passando.

Não estou dizendo que alguém com características semelhantes seja bosta (como as que mencionei aqui), nem que eu acredite realmente que deixei de ser meibosta.

Mas, olhando para quem sou agora e para tudo que concluí até então, só posso me sentir mais bosta mesmo, quando penso na minha eu de antes.

Como já falei muitas vezes, não posso garantir quando foi o momento estopim, se é que houve algum. Um momento exato da mudança, a única coisa, pessoa ou leitura que me tocou.

Mas se tem algo que eu posso fazer, é listar certas decisões que foram…hm, decisivas?! Não só na mudança de comportamento como um todo, mas também em relação à adoção de determinadas práticas extremamente importantes para que eu tivesse uma vida melhor, dentro daquilo que descobri como meus padrões.

É claro que, nesse sentido, eu teria muito mais pra falar, porque existe uma porção de coisas que me ajudaram/me ajudam. Mas nesse post vou me referir especificamente a coisas mesmo. Objetos, coisas palpáveis, sabe?

Ah! Elas acabaram, sem querer, vindo exatamente na ordem em que aconceram. Eu gostei da ideia e mantive assim. Então, vamos lá.

 

1. O violão

Ter começado a aprender um instrumento me trouxe benefícios pelos quais sempre serei gratas. O violão entrou num momento nada original da minha vida: a terrível adolescência.

Então, como muitos adolescentes, aos 14 anos eu havia me tornado incontrolável. Para mim e para os outros. Em suma, eu era uma adolescente completa.

Tinha crises imensas de choro, tristeza, raiva. E não só me sentia sozinha: eu era sozinha. Não tinha amigos (e juro que não foi falta de esforço) e, para fingir que tava tudo bem, costumava dizer a mim mesma que não precisava de ninguém.

Meu pai, que sempre foi meu herói e reduto de consolo, já não lidava tão bem com aquela menina histérica, dramática, teimosa e desobediente.

Eu não era mais a garotinha de cachinhos, olhar bondoso e parceira de todas as horas. Assim, cada “não” que vinha dele, era uma razão a mais para dificultar sua vida e torná-lo meu inimigo.

Eu quebrava coisas, batia portas (e algumas também quebraram um pouco, tamanha a força), dava socos na parede (antes mesmo de saber que as pessoas faziam isso nos filmes, como uma manifestação apaixonada e problemática da raiva), gritava com os outros sempre que algo dava errado e não sabia lidar com as dificuldades normais da vida.

Portanto, também seria quase dispensável dizer que eu passava muito tempo ouvindo Legião Urbana, Pink Floyd, Guns Roses, Metallica e Ramones no meu quarto, o tempo todo, já que:

  1. eu não tinha amigos;
  2. internet só depois da meia-noite, escondida (sim, amigos mais jovens);
  3. e escrever durante muito tempo dava dor nos dedos.

Então pensei: bem, quem sabe aprender a tocar violão pode propiciar uma nova atividade individual agradável para colocar no menu.

E a mudança foi rápida para mim. Aprender (ou tentar) a tocar violão me trouxe disciplina, dedicação séria a algo, comprometimento e principalmente, concentração.

Quem já tentou aprender um novo instrumento sabe que é impossível fazer sem concentrar-se. É preciso tocar muito agilmente as notas, mesmo nas músicas mais lentas ou “fáceis”, e trocar notas geralmente envolve um conjunto complexo de formação dos dedos, respiração, e contagem instantânea.

Só ali eu vi que aquele modo agitado e intempestivo de ser era prejudicial. Não só para alcançar meu objetivo de conseguir tocar pelo menos uma música inteira sem errar, como para todos os aspectos da minha vida.


A partir de então, foi mais possível entender porque meus pais faziam aquela expressão de que estavam prestes a me esganar (embora eu não admitisse para eles, claro).


Além disso, essa época também foi deliciosamente temperada por pessoas que, de certo modo, eram meus amigos. Nós ríamos juntos e ousávamos compartilhar uns com os outros fragmentos de nossos medos e preocupações.

Por mais curta que tenha sido aquela amizade, não posso dizer que não foi verdadeira. Éramos honestos e confiávamos uns nos outros, não tínhamos vergonha e, acima de tudo, buscávamos genuinamente ajudar-nos.

Precisei admitir que eu queria mais daquilo sim: ter amigos, pessoas com quem houvesse identificação de valores e com quem eu pudesse dividir um pedaço da vida.

Obs.: E…sim. Eu consegui tocar pelo menos uma música inteira, sem errar. rs e de vez em quanto brinco com outras!

 

2. O diário

Foi mais ou menos nessa mesma época, depois de ter percebido algumas coisas sobre mim mesma, que decidi retomar a ideia do diário (iniciada de uma forma bem grostesca, na infância, com letras e desenhos incompreensíveis).

Embora eu lamente ter abandonado a prática, tive diário por uns quatro anos seguidos. E foi transformador de várias maneiras.

A primeira delas é que eu notei que, ao falar livremente sobre meus sentimentos sem ser julgada, eu ficava muito mais tranqüila. Era como se um peso enorme saísse de mim.

Normalmente fazemos isso com os amigos, mas como eu não tinha muitos disponíveis (para não falar o óbvio), era uma opção bem interessante!


Eu escrevia realmente todos os dias. Podia esquecer de escovar os dentes ou decidir tomar banho só no outro dia, mas escrever no diário era um hábito tão automático como tomar água quando estamos com sede.


É claro que, antes dos diários eu já escrevia muito: poesia, textos em prosa, desabafos juvenis espalhados, entre outros tipos de conteúdo. Então, na ocasião, eu já tinha acumulado vários cadernos e folhas soltas, devidamente guardadas em uma caixa.

Porém, a escrita do diário, era totalmente diferente. Não eram como arrombos inspiracionais que duravam dias e madrugadas adentro, cheios de paixão, intensidade, furor, fluidez, velocidade e mãos tentando acompanhar pensamentos — que cessavam tempos depois.

Não. Eram geralmente serenos, estáveis, práticos. É inegável que havia toda a tragédia e perspectiva dramática de uma adolescente passando pelas transformações e frustrações naturais.

Mas ainda assim era uma atividade de cunho prático e funcional. Era perene e constante. Era como fazer um relatório minucioso para um professor exigente.

A segunda razão pela qual foi transformador é que, ao escrever, eu também acabava refletindo sobre os acontecimentos que estava relatando, sobre o que eu estava sentindo e de onde vinha.

Essas coisas não apareciam se eu apenas ficava pensando sobre elas. Pelo contrário, ficavam ainda mais confusas  e assustadoras.

Mas escrever sempre deixava as coisas mais claras, para mim e para os outros (sobretudo meus pais, que acabaram sofrendo com alguns “recadinhos” nada elogiosos meus).

Por fim, o terceiro modo com que isso me transformou é que…cara! Ler aquilo era sempre positivo. Seja porque eu dava muita risada (como quando eu lia coisas mais antigas, de meses ou anos anteriores), seja porque me permitia refletir a respeito, lembrar de alguns dilemas, dúvidas e inseguranças, pensar em novas perspectivas.

Não à toa, até hoje tenho esses diários e guardo eles com muito carinho. Ali está parte de quem fui, e muito da minha transformação ao longo dessa fase de “sobrevivência”.

Passei a abandonar a prática quando comecei a trabalhar e fazer um curso a noite. Depois veio a faculdade conciliada com o trabalho. Como costuma acontecer, outras coisas ganharam prioridade e “roubaram” aquele espaço importante do dia.

Como eu disse, sinto um pouco de arrependimento de ter deixado de fazê-lo porque, desde que parei, aconteceram tantas coisas na minha vida, que eu gostaria mesmo de tê-las relatado adequadamente, para lembrar, para me revisitar. Sabe?

Então, uma resolução bem recente foi tentar voltar a prática. Até adquiri um exemplar resumido (365 perguntas, por cinco anos), que é bem gostoso de responder e útil (já vejo as diferenças de um ano para o outro, por exemplo). Mas pretendo usar também o modelo raiz: todo dia, páginas livres.

Inclusive estou pensando em criar um modelo para facilitar alguns gatilhos que acho válidos registrar, como a questão de saúde, hábitos, dores e afins (sabe como é ne, a gente vai ficando veio e sentindo necessidade de resolver mais e melhor essas coisas).

Se você tiver interesse em ser avisado quando isso acontecer, informe abaixo seu e-mail! 


Também já testei um modelo para lá de prático e resumido, que achei muito interessante mas por alguma razão não funcionou muito bem comigo, porque acabo sendo bem genérica e acho legal algo menos restritivo.

Mas fica a dica para quem é mais objetivo: esse artigo explica bem direitinho e o método é super simples e barato.

 

3. A bicicleta

Cara. Minha relação com as magrelas começou bem turbulenta. Ganhei uma linda dos meus padrinhos amados, no aniversário de sete anos.

Mas só comecei a andar sem rodinhas depois de muito tempo (e de várias bicicletas adultas que meus pais tinham que comprar e colocar a rodinha, afinal eu era muito alta para as infantis).

Então, imagine você a cena. Eu e a galera da rua (ou seja, minha prima e os amigos dela, gentilmente compartilhados comigo) dando rolezão.

Eles andando sem uma das mãos, sem NENHUMA das mãos, subindo e descendo de degraus e meio fios, e eu. Super maneira. Na minha super bike adulta. De rodinhas. Eu achava ok. Mas ficava tentada a experimentar aquela sensação. Assim, todos tentaram me ajudar.

Meu pai, coitado, todo dia sugeria algo novo. Minha mãe incentivava com sorrisos e olhares confiantes. Minha irmã mais velha dava todas as instruções, didaticamente. Nada resolvia.

Eu estava determinada: “tudo bem, vou andar para sempre de bicicleta de rodinha oras, qual o problema?”. Veja, eu já estava com uns 13 anos.

Todo mundo que eu conhecia tinha começado a andar de bicicleta (sem rodinha claro, porque a rodinha nem era considerada como andar de bicicleta) no máximo, aos sete.

Quem andava de bicicleta, impreterivelmente tinha começado nessa idade e a rodinha sequer era mencionada. Basicamente, quem não tinha começado a pedalar aos sete, era quem não tinha interesse em pedalar.

Mas eu tinha. Eu gostava de pedalar. De rodinha. Óbvio. Chegou ao ponto de eu repelir a ideia de andar numa bicicleta sem rodinha. Até que um dia minha prima conseguiu. E eu sempre vou agradecê-la por isso.

Ela fez o que meu pai, minha mãe ou minha irmã não tinham coragem de fazer. Afinal, ela também era uma criança, mas ela era melhor que eu nisso: ela não tinha medo.

Se ela era capaz de botar barro e areia nos meus ferimentos com sangue, para “estancar” porque era “meio médica” e sabia o que tava fazendo, ela CERTAMENTE seria capaz de me dizer:

“Olha só, vou te jogar desse morro aqui e você faz tudo que eu te ensinei, ta bom? É fácil, tu vai conseguir” – Foi mais ou menos o que ela fez.


Provavelmente inspirada pelos vários exemplos (bons e maus sucedidos) de filmes e por alguma das propagandas da Caloi, ela tinha muita certeza de que aquilo iria funcionar.

Nem mesmo ficou pensativa quando sugeri que aquela rua, cheia de paralelepípedos irregulares e buracos, talvez não fosse a melhor opção.

Porque além de eu cair (como várias vezes já tinha acontecido) e me machucar pela queda em si, eu me machucaria ainda mais ao cair no meio daquelas pedras. Não. Para ela não tinha crise. Ia dar certo.

“Deixa de ser medrosa, já te ensinei tudo que você precisa, acredite em você, você consegue.” Por obra do destino, pelo meu apurado instinto de sobrevivência, e pelo fato de não ter muita escolha, deu. 

De alguma forma, fiquei naquela geringonça por incríveis trinta segundos! Cai logo depois, mas tudo bem. Foi com estilo e consideramos a empreitada bem sucedida. Fiquei tão confiante por aqueles segundos convictos que depois ficou fácil.

No entanto, após algum tempo, ela precisou se mudar para o Rio e, com isso, todos os “meus” amigos bicicletados também deixaram de fazer parte da minha vida. Cheguei a pedalar durante alguns verões, mas era uma atividade sazonal, embora agradabilíssima.

Até que, já crescida, e tendo abandonado até mesmo a sazonalidade da pedalação (afinal, no verão, para uma jovem, surgem várias outras atividades bem mais interessantes), voltei a pensar nisso. Mas não ao acaso.

Eu tinha recém saído de 1. um trabalho que me deixava ansiosa; 2. de uma experiência traumática e 3. de um estilo de vida irregular, sedentário e gastronomicamente tóxico (era normal almoçar coxinha de frango com muito azeite de oliva, ou pizza da padaria com muito azeite de oliva; e repetir essas riquíssimas refeições também no lanche, e ás vezes a noite).

Então, depois de passar por uma fase magra, alta, morena, atleta, corredora, bonita e sensual eu estava me sentindo um saco de banha, inútil, gordurento, com a pele horrível, com o cabelo opaco, com olheiras, cansada.

Muito pior do que quando eu só era gordinha por conta dos remédios que tinha que tomar por conta de um quadro alérgico.

Enfim. Por sorte, logo chegou o verão, e aproveitei para relembrar a estação mais quente do ano sob duas rodas, já que na época a maioria dos amigos que eu tinha feito estavam vivendo em outros lugares, tinham feito outros amigos, tendo outras vidas.


Foi um período maravilhoso, inteiramente meu. Andava por todos os lugares, via as pessoas, parava para fazer um lanche saudável na beira-mar, curtindo o sol e o vento, o peso da lua e das estrelas. Senti que era livre.

 

E chegava feliz em casa, sem nenhuma vontade de comer por impulso. Mas quando voltei para a “cidade” e para o meu novo emprego, cada dia que passava me dava mais saudade daquilo.

Eu tinha rapidamente voltado para um estilo de vida ansioso e nocivo, comendo muito, me exercitando nada, dormindo pouco e mal, ficando estressada com o trânsito e com a correria de tudo.

Então tomei algumas resoluções. Uma delas é que eu compraria uma bicicleta, e eu usaria ela para me locomover. E ponto. Não teria mimimi de morro. De movimento de carros. De falta de acostamento. Ia andar SIM de bicicleta.

No início meus pais não botaram muita fé e tinham certeza que duraria pouco, que eu não agüentaria o tranco (porque sempre fui preguiçosa mesmo rs). Mas, ainda bem, surpreendi a eles e a mim. Minha vida mudou COM-PLE-TA-MENTE. Sério.

Continuava acordando sonolenta e me arrumando rapidamente. Mas ao invés de entrar no carro e dirigir rumo ao insuportável tráfego, eu pegava a bicicleta e ia surfando pelo asfalto.

Desviava de obstáculos, acelerava ou parava, passava entre vãos, subia e descia níveis. Quando chegava no trabalho estava disposta, acordada, com energia.

Passei a me importar cada vez menos com a trabalheira de trocar de roupa, secar o suor, me arrumar de novo para estar num nível minimamente razoável para o ambiente “corporativo”.

O mesmo aconteceu com os olhares atravessados, com a risadinhas e deboches do corredor de gente desocupada, com a encheção de saco de alguns motoristas mal-educados e grosseiros, com o preconceito, com a incompreensão de alguns, etc.

Além da alegria de estar me sentindo “no comando”, vieram outros benefícios como conseqüência. Por exemplo: descobri que aquele era meu estilo de vida, e instantaneamente a sensação de liberdade se tornou indispensável.

Isso fez com que eu repensasse sobre minhas roupas também. Afinal, eu deveria estar confortável se quisesse andar de bicicleta. Portanto também precisava desempenhar atividades profissionais que permitissem isso.

O próximo passo foi decidir que eu buscaria oportunidades futuras de trabalhar em um local que fosse mais flexível quanto ao dresscode e eu pudesse me sentir mais eu mesma. 

 

4. Os tênis

Com isso, vieram outras resoluções: eu usaria tênis. Procuraria tênis bonitos e confortáveis que eu pudesse usar para pedalar, ir ao cinema, trabalhar ou caminhar no parque.

Se você é homem e as mulheres da sua vida são perfeitas damas que se dão bem nos sapatinhos lindos e tipicamente femininos, talvez esse tópico não faça sentido para você. Mas, se você é mulher, e nunca se adaptou muito bem nos tais calçados, sabe do que estou falando.


Eu não submeteria mais os meus pés ou o meu corpo ao sofrimento das sapatilhas e outros calçados desconfortáveis que fingimos ser confortáveis para ficarmos mais a altura do que esperam de nós.

 

É claro que isso foi fortemente impulsionado por um problema de joelho que eu tinha há anos e só depois percebi piorar conforme o sapato que eu usava. Mas foi igualmente libertador.

Confesso que no início foi estranho e difícil. Até hoje tenho que pensar em alguns looks para determinados eventos, de tênis.

Pesquisei bastante, salvei uma porção de referências no pinterest ecomecei a imaginar como isso poderia funcionar sem que eu me sentisse mal, deslocada ou desrespeitada.

Não foi nada absurdo. Eu já tinha bastante clareza sobre o estilo de roupa que combinava comigo. Então, bastaram alguns poucos ajustes e achar os tênis ideais, que tudo se acertou.

É claro, para determinados eventos e ocasiões ainda me obrigo a usar um sapato diferente. Mas não mais salto ou sapatilhas.

Escolho sapatos preferencialmente de couro, duráveveis e confortáveis que combinem comigo, com meu estilo e que eu não precise fingir ser quem não sou.

Nesse mesmo viés veio o desapego do jeans. Continuo usando calça jeans, afinal elas são práticas e praticidade é algo que tem tudo a ver comigo.

Mas dou sempre preferência para aquelas que tenham bastante elastano, sem zíperes ou botões e cintura alta. Essas, por sua vez, perdem para as de alfaiataria que consegui achar no meio do processo.

E o mais legal é ver como o mercado está cada vez mais preparado para atender a demanda. Tenho visto váras marcas e referências femininas assumindo de vez os tênis, fruto de todo o trabalho relacionado ao empoderamento feminino e movimento girl power.

Não estamos mais aceitando esmagar nossos lindos pezinhos em qualquer sapatinho de cristal não. Queremos e merecemos conforto, em todas as ocasiões.

Sem dúvida, vez ou outra ainda rola aquele olhar 43 de reprovação, um desconforto de alguém ao ver uma mulher usando tênis fora da academia ou do piquenique no clube.

Mas isso é normal e a gente vai tirando de letra a medida que entende que é um incômodo completamente irrelevante perto da delícia que é poder andar entre nuvens e não ter que esperar chegar em casa para sentir aquele alívio, relatado e vivido durante tanto tempo.

 

Finalizando: experimente.

Decidi compartilhar com vocês porque realmente essas coisas me salvaram, cada uma no seu tempo e do seu jeito. Elas foram instrumentos essenciais para me levar para um outro degrau. Descobri intuitivamente, meio “sem-querer”.

Ou sej: eu não te conheço, ou a sua realidade. Não sei quem você é, ou os problemas que encara. Mas eu poderia, ainda assim, recomendar que tente algumas dessas atividades. 

Na pior das hipóteses, você terá aprendido algo sobre você e, quem sabe, descubra outras “ferramentas” que funcionem melhor para o seu caso. 

E, por favor, se puderem, compartilhem suas próprias listas. 

 

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

  clique para ouvir a música recomendada para essa prática

A prática de hoje é simples e dispensa tópicos: não importa se você está triste, feliz, neutro. Descubra algo novo, tente uma atividade diferente. Sério. É sempre muito bom! E também muito fácil. Ligar o som alto e dançar sozinho(a) em casa já ta valendo. Se possível, tente registrar isso de algum modo. Crie seus botes salva-vidas, porque é algo seu, cujo uso e proveito depende apenas de você mesmo.   
Se quiser, divida sua própria lista, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa, ou nos envie um e-mail! 
 

Continue lendoQuatro coisas que me salvaram

O guia completo da Zona de Conforto – Coisas para jogar fora

É possível que você não goste do que eu vou dizer. 

Produtividade. Alta performance. Mindfulness. Zona de conforto.

Toda essa porcaria. Sabe o que você faz com elas? Joga no lixo. Elas não servem para nada se você não estiver bem posicionado. Mas vamos por partes porque eu quero continuar sua amiguinha (talvez). 

Hoje vou falar só da segunda. Porque ficaria ainda mais enorme (?).

Então decidi ampliar minha singela “homenagem” às afirmações que nos entregam na bandeja na tentativa de que sirvamoss aos outros buscando impressionar.

Ao invés de um único artigo contra uma única “verdade incontestável”, decidi começar uma série (nada planejada) para combater essas coisas que ficam na boca do povo e nem sempre fazem sentido.

Como você pode já ter sacado meu motim, aproveito para avisar e me desculpar: esse artigo ficou gigantão. E precisava ser assim. No entanto, como sou incrível razoável decidi pôr um sumário para te ajudar, caso você esteja com preguiça seja uma pessoa objetiva e assertiva e não queira ler todas as ponderações que antecederam conclusões.

  • Zona de conforto: por que mesmo isso é ruim?
    Aqui vou falar bem brevemente da minha cisma com o termo e parte da minha motivação para escrever esse post – prometo não te encher muito o saco.

  • Afinal, o que é “Zona de Conforto”
    Discuto sobre de onde surgiu essa merda a suposta origem do termo e começo a te encher um pouco o saco.

  • Ok, vamos de base científica 
    Não ronca. Essa parte é importante pra você entender porque não faz sentido nenhum o uso tão enriquecido de um termo tão pobre baseado na interpretação rasa de coisas bem mais legais (e algumas óbvias graças aos avanços e etc)

  • Finalmente posso dizer
    Finalmente falo o que queria falar desde o início mas precisava de uma introdução bem embasada para mandar para longe umas coisas bestas que surgem e os problemas que elas geram:

    1. O problema das interpretações genéricas
    2.  Culpa e vergonha.
  • Joga fora no lixo, e ponto.
    Finalizo enchendo quase nada o seu saco com coisas que você pode tentar lembrar quando alguém mal-informado sobre o tema ou sobre a sua vida e não tão bem-intencionado vir com conversinha explanações pouco aprofundadas.

Zona de conforto: por que mesmo isso é ruim? 

zona de conforto não é ruim

Foi essa a pergunta que eu estava me fazendo um dia. Confesso que me senti envergonhada. Culpada. Constrangida. Eu não podia falar aquilo para ninguém. Ninguém poderia descobrir que eu tinha  minhas considerações a respeito de algo aparentemente tão óbvio para todo mundo. 

Até que confiei a inquietação para uma amiga. Já estava lá, me preparando para a derrota de um jogo que eu entrei em campo para perder. 

E então ela me disse algo como: “poisé, né?! também não entendo”. Essa reação, vinda de uma pessoa incrível, extremamente profissional, competente, engajada com sua carreira e, por que não dizer, workaholic me surpreendeu e me pegou de “calça curta”.

Conversando sobre o assunto e depois estendendo a outras pessoas de variadas perspectivas e estilos de vida cheguei à conclusão que esse assunto, em algum momento, se tornou um tabu. Entrou no grupo daquelas coisas das quais você não pode discordar: 

Sim. Este é um fato consumado. O céu é azul tanto quanto zona de conforto é um lugar horrível para se estar, se é o seu caso, nossos pêsames! Você precisa sair dela/você está sendo preguiçoso/você vai ficar para trás/várias outras coisas do gênero.


Isso me faz pensar em um artigo recente da Freaknomics Radio que mencionava um problema chamado illusion of explanatory depth (ilusão de profundidade explicativa), investigado por Leonid Rozenblit e Frank Keil há alguns anos e ajustado mais recentemente por Steven Sloman. 

Este conceito diz respeito ao “fenômeno” que leva as pessoas a acreditarem que sabem sobre um determinado assunto. No entanto, quando suas explicações são solicitadas, elas simplesmente não são capazes de fazê-lo da mesma forma lógica e coerente com que concluíram determinados conteúdos. 

Essas coisas costumam me incomodar. E não por motivações egoístas ou como postura defdensiva. As pessoas dizem uma porção de coisas sobre mim, mas eu não lembro de alguém ter mencionado: “ei, você está bem acomodada aí, não é mesmo?”.

Porque, infelizmente, eu vivo inquieta. Sem querer, busco o desconforto. Portanto, esse lugar “horrendo” nunca deixou de ser algo que me intrigava e me atraía: “Gente, existe mesmo um lugar onde você vai lá e fica benzão e tudo bem? Gosto.”.

No entanto, eu vejo isso o tempo todo. Pessoas dizendo para outras pessoas como elas deveriam estar se sentindo mal por não estarem se movendo do modo que o mundo, outras pessoas e aquele renomado CEO que todo mundo venera (mas cuja empresa poucas pessoas conhecem). 


Afinal, o que é Zona de Conforto? 

Então ta. O que é mesmo essa tal de Zona de Conforto que tem gente que gosta tanto de falar? Não a coisa óbvia. Eu sei que você sabe o que é se tivesse que falar rapidamente sobre ela. Mas, e se tivesse que analisar BEM direitinho, se tivesse que explicar tintim-por-tintim para um alienígena visitando nosso planeta?

explicando zona de conforto não faz sentido
assista essa série, sério


Vamos lá, nosso amigo WikiPedia diz:

Na psicologia a zona de conforto é uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Nessa condição a pessoa realiza um determinado número de comportamentos que lhe dá um desempenho constante, porém limitado e com uma sensação de segurança. Segundo essa teoria, porém, um indivíduo necessita saber operar fora de sua zona de conforto para realizar avanços em seu desempenho – por exemplo no trabalho – eventualmente chegando a uma segunda zona de conforto. Atualmente já foi concretizado que indivíduos mais bem sucedidos operam com frequência fora da zona de conforto, expandindo cada vez mais o número de dificuldades que conseguem superar.


Bem, parece que é isso mesmo. Ao que tudo indica, esse conceito pode ter tido origem na psicologia behaviorista em 1908 (!) quando Robert M. Yerkes e John D. Dodson fizeram um experimento voltado a entender a relação entre velocidade de aprendizagem e níveis de excitação.

Eles observaram que ao levar pequenos choques elétricos o ratinho (desculpe) sentia-se “motivado” a completar o labirinto, mas se a intensidade dos choques aumentava o desempenho apresentava resultados inversos, levando-os a correr com a intenção desesperada de escapar.

Assim, a conclusão foi que níveis ideais de excitação (nesse caso representada pelos choques leves) ajudam a concentrar a atenção na conclusão da tarefa em questão, mas apenas até um determinado ponto.

Ou seja, se você decide saltar de paraquedas pela primeira vez, naturalmente estará com algum um nível de ansiedade. Quando o grau de estresse provocado pela ansiedade for “ideal” você será levado a se concentrar naquilo, respeitar o processo e as instruções atentamente e concluir a “missão” do jeito que espera.

Por outro lado, se o estresse provocado pela ansiedade for muito alto, você facilmente poderá ficar atrapalhado, pensando, por exemplo, em como aquilo pode dar errado, não prestando atenção nas instruções ou sair correndo para o banheiro fugir.

Ok. O que é que tem?! Eu diria que tem muito. Mas vou começar pelo mais óbvio:


a única relação “científica” do termo Zona de Conforto é um experimento feito há mais de cem anos atrás, sobre velocidade de aprendizagem e níveis de excitação, em que o termo “comfort zone” nem sequer aparece.

É claro, fui apenas até a página quinze do Google (muito descuidada) e você pode me desafiar descobrindo algo diferente disso. Mas pelas minhas leituras posso supor com alguma confiança que esse termo surgiu de uma interpretação do estudo, conhecido como Lei de Yerkes-Dodson ou U invertido.

Como a maioria dos itens que entram no não-tão concorrido grupo das coisas-absolutas-sem-devido-embasamento, em algum momento alguém entendeu e disse algo que rapidamente transformou-se num telefone sem fio no emaranhado de informações, comportamentos de consumo criados, reinventados e mascarados, e assim nasceu uma nova verdade. 

“Se você continuar gostando mais de sorvete de café ao invés de chocolate, será incapaz de meditar porque estará entrando na curva de distração viciante.”.


Isso faz sentido para você? Se você gostasse de sorvete de café e alguém te dissesse isso, sairia distribuindo a informação e sequer questionaria? Bem, suponho que foi algo assim que aconteceu em algum momento.


Ok. Vamos de base científica

origem da zona de conforto e lei de yerkes-dodson
sacou?

 

Aparentemente, a chamada “zona de conforto” seria algum ponto na curva de desempenho, antes do ápice (ponto ideal de ansiedade) do desempenho. Nos gráficos representativos geralmente aproxima-se muito mais do tédio.

Ou seja, não é exatamente sobre um desempenho RUIM. Tanto que, no próprio estudo, este era considerado um ponto de desempenho estável, constante. Ponto. Apenas isso.

É preciso dizer que respeito muito afirmações embasadas empiricamente. Portanto, mesmo se partirmos do princípio de que aquilo que foi comprovado não pode ser derrubado por achismos, encontraríamos objeções que até Yerkes e Dodson facilmente concordariam.

Por exemplo: ainda que níveis de ansiedade possam afetar nosso desempenho, não há um copo medidor de qual seria esse nível. 

Esses indicadores só são possíveis com laboratórios, neurotransmissores e outras coisas que normalmente não fazem parte da nossa rotina. Portanto, qualquer pessoa que queira afirmar que uma outra está em sua “zona de conforto” precisaria carregar algo mais que as convicções adquiridas.

Outro ponto é que, em tarefas simples e operacionais (organizar coisas numa caixa) o nível de estresse tem menor poder de influência. Enquanto que tarefas mais complexas (tomar uma decisão que pode matar uma pessoa, como as que os cirurgiões cardíacos passam, por exemplo) são mais propensas a sofrerem as influências dos baixos ou altos níveis de ativação/excitação.

Faz sentido porque tem uma relação direta com o peso da decisão, que varia conforme as possíveis conseqüências no resultado final (errar o lugar do objeto na caixa é muito mais banal que a vida de alguém, a não ser que você seja psicopata). 

Mas não é só a complexidade da tarefa que é contabilizada nessa lógica. O modelo considera outras variações, que inferem em diferentes medidas conforme o indivíduo, já que considera-se quatro fatores que afetam a curva: habilidade, personalidade, traço de ansiedade (nível de autoconfiança) e complexidade da tarefa.

Assim, extrovertidos parecem lidar melhor com a pressão do que introvertidos, que costumam apresentar desempenhos melhores na ausência de pressão – o que foi confirmado por outros novos estudos, que sugerem que a lei do U invertido não funciona para todos, inerentemente ao elemento habilidade ou autoconfiança.

Antes disso, inclusive, várias pesquisas surgiram, indicando que a correlação de excitação e desempenho existe – como a de Broadhurst (1959), Duffy (1957) e Anderson (1988)  – embora as causas ainda não tenham sido estabelecidas com sucesso. (Anderson, Revelle, & Lynch, 1989).  Se quiser, você pode ler aqui uma das mais recentes e expressivas, feita pela NASA em 2004. 


Finalmente, posso dizer


Então…vamos parar de usar esse termo?! Convoco a todos que estão lendo (e entenderam os porquês), de pararmos de usar termos como “zona de conforto”, como se eles realmente significassem algo muito sério e verdadeiro.

Porque eu realmente gostaria muito de saber quem usou o termo pela primeira vez, já que desde sempre tive desconfiança de que dois cientistas (ainda que do século passado) pudessem remeter o nome zona de CONFORTO a algo tão desconfortável. Portanto, se você descobrir ou souber, por favor, me avise!

Afinal, desde os primórdios buscamos o conforto. Foi graças a isso que sobrevivemos: descobrimos o fogo, aprendemos a construir casacos, a endireitar a postura para não sobrecarregar a coluna com nosso cabeção, a criar ferramentas para construir outras coisas, e assim sucessivamente (inclusive, recomendo esta leitura que fala bastante disso).

Para título de curiosidade, a palavra conforto vem do Latim Confortus (con – junto e fortus – forte, intenso), significando, literalmente, algo como “com força, com intensidade”. Uma das teorias é que, com o surgimento do termo “dar uma força” (ou seja, oferecer apoio e amparo em momentos difíceis) a palavra foi ganhando um novo sentido, de suavizar, aliviar. E, por fim, levando ao significado de atmosfera agradável, de um estado emocional ou local onde se sinta amparado, acolhido. 

Vamos logo esclarecer: deixar de fazer algo por medo, por se julgar inferior ou incapaz e ficar ali se sentindo infeliz, miserável, arrependido e/ou um bosta porque sua vida não está como você gostaria não tem, absolutamente, NADA a ver com conforto (lembra da época do discurso efeito estufa/aquecimento global? mesma coisa).

Porque estar num ponto, querendo estar em outro, não tem absolutamente nada de acolhedor e, portanto, nada de confortável. Neste caso, a palavra ideal poderia ser, quem sabe, acomodação, cuja origem significa “maneira satisfatória, modo adequado“. Bastante a ver com o sentido daquilo que é mediano e/ou ordinário comumente associado nos discursos pró “ouf of the box“. 

Para mim, esse sempre foi o topo do desconforto (como já disse aqui, meu maior medo é olhar para trás e sentir que fiz tudo errado).

Da mesma forma, se arriscar, vender tudo para realizar o sonho de viajar, abrir a própria empresa, se demitir de um emprego estável ou recusar uma oferta irresistível. Decidir casar ou decidir nunca casar nem ter filhos. Fazer uma faculdade ou decidir não fazer uma faculdade.

Fazer uma especialização para ser foda num determinado assunto, ser líder ou ser “súdito” – tudo isso e milhares de outros casos apresentam tanto conforto quanto desconforto.

A única diferença é que as pessoas aceitam (conscientemente ou não) desconfortos diferentes.

Alguns são constantemente motivados pelo risco, pela pressão, pela dor. Eles geralmente vivem em picos e precisam aceitar o desconforto que vem como conseqüência dessa escolha.

Outras pessoas buscam sistematicamente a estabilidade e a segurança, e precisam aceitar o desconforto que vem do medo, da não-aceitação, de talvez não ter ganhos significativos como aquela amiga que investiu na bolsa e foi para outro patamar de estrutura financeira.


Se somos perfeitamente capazes de entender e aceitar que cada escolha tem um peso, que todo espetáculo tem um bastidor, que toda conquista tem prioridades e sacrifícios, também somos perfeitamente capazes de entender que não faz sentido nenhum nos preocuparmos tanto com “zona de conforto”, já que conforto, sucesso e felicidade são diferentes para cada um.


Por isso fico incomodada com termos jargonizados-gurulizados-demonizados-exaltados-etc. Porque: eles tendem a perder sentido se a gente pára para questionar, analisar, investigar e entender bem bonitinho; eles geram problemas de interpretação devido a conclusões generalizadas; eles promovem embaixadores da culpa e vergonha.

1. O problema das interpretações genéricas

Se você disser, em um ambiente ou pessoa totalmente focado em alto desempenho, competitividade, produtividade e afins: “Eu gosto de estar confortável. Qual o problema?”

Você provavelmente ouvirá frases do tipo:

  • O problema é que se você ficar confortável, não vai mudar e evoluir;
  • O problema é que você vai se contentar com aquilo ali e vai se aconchegando;
  • O problema é que você vai parar de buscar coisas novas que te desenvolvam; 
  • O problema é que você vai esquecer que a vida é mais que isso;
  • O problema é que você pode ficar para trás;
  • O problema é que quando a vida te cobrar você não estará preparado (a).

Eu sei disso porque pesquisei muito e foi o que encontrei. São respostas mais ou menos assim que normalmente vêm. E, bem, existem pelo menos dois pontos a respeito:

a. Se buscar o desconforto é importante para você, é claro que tudo bem. Mas isso é como: “ei, tudo bem se você preferir tomar banho de água gelada logo cedo quando estiver 4 graus; tudo bem se você gosta mais de rúcula do que de brócolis; tudo bem se você prefere sorvete de café do que de chocolate”. Ou seja: tudo bem se algumas pessoas fazem uma coisa e outras não, gostam de uma coisa e outras não.

b. Até que alguém importante diga que água gelada, rúcula e sorvete de café são certamente a única escolha plausível, é natural que você não aceite que alguém te diga, sem qualquer explicação razoável e racional, que justo a sua opção é a errada.

2. Culpa e vergonha: as ferramentas dos embaixadores da “zona de conforto”

Gostar do conforto, de estar bem, feliz e satisfeito na “zona de conforto” não é impossível até que alguém diga: “ei, você não será feliz aí, você sabe disso, não é mesmo?”.

A armadilha parece ser exatamente essa.

Ninguém pode estar confortável na zona de conforto. Se alguém estiver sorrindo quando estiver naquele lugar horrível, você precisa mostrar a ele(a) sua terrível realidade. Está nas suas mãos salvar alguém que acha que está bem e feliz com suas medidas de conforto e desconforto, fruto das decisões de cada um. A felicidade que alguém aparenta quando estiver lá não é real. Acredite em mim. Sua missão é fazer com que a vítima perceba.


E aí tooodo mundo parece fazer exatamente isso: deixar alguém se sentir culpado por estar satisfeito do jeito que está. 

Mesmo artigos bem intencionados na internet parecem carregar uma ameaça velada àqueles que estão “naquele lugar”. É fácil encontrar coisas como: “A não ser que seu objetivo de vida seja ficar estagnado. A escolha é individual e as consequências são a médio e longo prazo.”. O que significa, basicamente:

se você quer mesmo isso, tudo bem, mas pode se preparar porque você vai se foder em algum momento, mesmo que demore a sua vida toda, eu tenho certeza que você vai se arrepender dessa decisão.


Embora eu nunca tenha precisado disso para me sentir desconfortável e raramente precisei ser cutucada pelos outros, eu mesma fazia isso por mim. Eu sei o preço que isso me causou. E por isso me incomoda que alguém assuma esse papel de embaixador da vergonha. 

Porque o conforto, essa coisa de estar parado, sentado, vendo um filme besta sem culpa, sem pensar que deveria estar fazendo algo importante e significativo e produtivo era algo que eu invejava.

Então, vejo da seguinte maneira:

  • Quando você está sentado felizão no sofá gostoso vendo Sherlock uma série Netflix você está CONFORTÁVEL, portanto em uma ZONA DE CONFORTO.

  • Se você está sentado no sofá gostoso vendo Sherlock uma série Netflix pensando que gostaria de ter um blog reconhecido sobre outra coisa isso é DESCONFORTÁVEL, e esta é sua ZONA DE DESCONFORTO

  • E quando está felizão no sofá gostoso vendo Sherlock uma série Netflix você está CONFORTÁVEL, portanto em uma ZONA DE CONFORTO e a tendência é que continue assim, até que alguém te convença de que não está:

    Ei você está na sua zona de conforto e precisa sair dela. Tinha é que estar estudando agora, ganhando dinheiro, achar um emprego para usar terno ou beber durante o expediente numa empresa moderna. Fazer uma pós-graduação, sei la! Todo mundo ta fazendo isso e você ai perdendo tempo.


 

Ver alguém tentando tirar a paz de outra pessoa sob a alcunha de salvador, de bondoso, de mestre, normalmente me leva a concluir quem precisa mesmo de ajuda.

É verdade: ás vezes a gente ta fazendo burrada, repetindo o erro, ficando descontente com a própria vida dia após dia simplesmente por preguiça ou por outras formas de limitações que colocamos a nós mesmos e não fazem sentido. 

Então, ainda bem, existem pessoas da nossa confiança, que nos conhecem realmente, que têm intimidade e embasamento o suficiente para dizer: “cara, isso não ta legal, eu to vendo que você não ta bem, por que não tenta mudar?”.

Isso é muito bom. Mas na grande maioria das vezes não vem dessas pessoas.

Em outros casos, alguém pode estar lá, na demonizada, subjetiva e relativa “zona de conforto” porque ainda não desenvolveu ou adquiriu todos os recursos que julga necessários para sair “de lá”.

Porque sente que realmente não está preparado(a) emocional, física ou financeiramente. Porque simplesmente ainda não é a hora.


Ao contrário do que dizem alguns, quando chega a hora, a gente sabe, se vira, encara e resolve. A vida é assim. E é linda. E tudo bem. Cada um do seu jeito. No seu ritmo.

Afinal, se você não puder conduzir nem a sua própria vida do jeito que considera mais adequado, não há nada mais que você poderá controlar.


Joga fora no lixo, e ponto.

Liberte-se dessas porcarias. Leia seu romance. Veja aquele filme besta para desligar o cérebro. Vai viajar pelo mundo. Vai fazer sua pós. Marca de ver aquela sua amiga. Fica no scroll do instagram. Enfim! 

Entenda e lembre-se de que sim, você pode ser um adorador da “zona de conforto” e:

  • ter muito sucesso (porque sucesso é você que define);

  • ser realmente muito feliz (porque felicidade não depende do ritmo com que você se move mas se você está se movendo no seu ritmo e respeitando isso);

  • não estar na zona de conforto (porque, afinal, conforto quem define é você);

  • buscar evoluir, se desenvolver e aceitar mudanças (porque evolução é o que acontece dentro de você, e pode acontecer mesmo que para os outros você esteja “parado”).

Em resumo, se eu pudesse te dar uma recomendação seria: entenda quem você é, o que é importante para você, quais são suas prioridades, quais são seus desconfortos e como eles interagem com aquilo que você busca para sua vida.

Descubra quais sacrifícios você está disposto a fazer, que palco te estimula aos bastidores. Busque profissionais qualificados, cerque-se do que complementa não do que intoxica.

Se você é do tipo embaixador: reflita. Nem sempre você está certo, nem sempre é o melhor momento, nem sempre é você a pessoa que deve falar isso. Foque no que é interessante para você e deixe que os outros façam o mesmo.

Isso se aplica a qualquer coisa bonita, “chique”, pronta, impressionante que as pessoas vivem falando por aí. Sabe o que você faz com isso? Investigue. Questione. Dialogue. Assuma os riscos de pensar e se expor.

E se isso realmente não fizer sentido nenhum, não se encaixar na sua vida, na sua realidade, joga fora no lixo.


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Hoje tá fácil. Reflita sobre sua vida e questione se você está realmente abaixo do que deseja (não do que desejam para você), ou se o sentimento de culpa e vergonha vem mais de fora que de dentro. Só. E se realmente estiver incomodado, por você, entenda porquê e trace um plano objetivo. 
Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

Continue lendoO guia completo da Zona de Conforto – Coisas para jogar fora

O que nos impede de ser mais feliz?

Desculpe. Eu me desautorizei expressamente de responder perguntas genéricas desse tipo para a sua vida. Porque, infelizmente (será?) eu não te conheço. Mas, para tentar ajudar no caminho tortuoso rumos aos tesouros do autoconhecimento, vou compartilhar minhas descobertas. 

O descontrole da Dolores, do Eufrades e outras coisas aí

Sabe quando sua mãe, qualquer adulto ou seu primo mais velho que se achava o sabichão, dizia que você não era todo mundo? Poisé, nesse caso, você é sim.

Porque todo mundo, até vocêzíssimo, acumula coisas ao longo da vida que vão dando forma a sua existência. Então a gente vai seguindo morreba abaixo, morreba acima, e na retona da vida. E nisso a gente vai catando coisinhas no caminho.

Aqui nem estou falando de coisas propriamente materiais. Estou falando exatamente do que é intangível, mas perene ao longo de todo esse caminho. Vamos chamar essa bolinha — esse emaranhado de coisas confusas que remoemos ao longo da vida, de Dolores

as coisas que acumulamos ao longo da vida costumam direcionar para onde seguimos ou podemos seguir
não entenda mal, o nome não é para ser sugestivo…amo minha Dolores, e espero que você ame a sua também!


Assim, conforme o tempo vai passando, nossas Dolores também se transformam. Aumentam, diminuem, desaparecem e se adequam a momentos e distrações que as levam para longe.

Ainda que a Dolores de cada um deva ser respeitada, até eu sou obrigada a concordar que ás vezes deixamos que ela passe dos limites, principalmente quando se junta com Eufrades, um competente radar-auto-falante-esponjoso.

Pelo menos é assim que eu vejo esses dois amores.

Vamos falar desse romance

Eu sempre fui muito perceptiva a tudo ao meu redor que, por qualquer razão, me interesasse. Então minha Dolores ficou grande e forte rapidinho, assim como eu. 

No entanto, manter o foco nunca foi muito uma habilidade minha. Sempre fui mais acumuladora do que propriamente uma agente de mudança.

tem horas que a gente se surpreende com a gente mesmo


Então eu só ia engordando a Dolores, sem nunca pôr aquela massa de coisas a trabalhar. Mesmo assim (ou talvez por isso), vez ou outra a Dolores ficava tão distante que eu não conseguia ver e a vida parecia mais simples.

Mas meu radar continuava ligado e eu não deixava de ser esponja, absorvendo tudo que via, lia, escutava — reverberando essa “riqueza” de conteúdo dentro de mim. 

Esse competente radar-auto-falante-esponjoso é a quem chamo de Eufrades

Nunca importaram as circunstâncias: Eufrades se comportava sempre um dedicado trabalhador, repetindo continuamente tudo que eu precisava fazer: estudar para ter um bom emprego; emagrecer para ser saudável, aceita e feliz; socializar mais e gastar menos tempo na biblioteca com medo do mundo. 

E não posso dizer que ele estava totalmente errado. 

No entanto, ás vezes, ele ficava sem controle e achava muito coerente me lembrar que eu precisava, urgentemente, planejar toda a minha vida, pois iria ficar para trás. “Já está ficando”, ele dizia ás vezes. Ou: “Não adianta nada ficar olhando pro horizonte…como você vai chegar lá?”.


Então, comecei a traçar planos e sonhos reais

E, com mais ou menos treze anos, resolvi tudo, torcendo para o Eufrades fechar aquela matraca. Decidi, por exemplo, que ter meu próprio apartamento e carro aos 23 – no máximo 24 (porque ne, eu era muito realista) – e trabalhar em um lugar com chão de vidro transparente.

Lá, eu andaria fazendo um toc-toc ritmado e sutil com meu salto; desfilaria com meu conjunto de alfaiataria cinza grafite, meu cabelo bem arrumado e uma pasta de couro elegante e feminina nos braços.

a expectativa e a realidade dos nossos sonhos e a nossa verdasdeira felicidade
até a poderosa Jéssica Pearson estava aquém da minha imaginação, mas digamos que era mais ou menos assim


Quando eu passasse, as pessoas me olhariam com admiração e respeito sem que eu me sentisse constrangida: porque eu simplesmente saberia que era merecedora daquilo, e aí tudo bem.

De manhã eu iria acordar e minha assistente pessoal estaria me aguardando com uma mesa de café da manhã simples e deliciosa, composta de geleias e suco natural; croissant, queijos e frios, ovos cozidos no ponto que eu gosto.

Eu tomaria o café já perfeitamente arrumada, sem um fio saindo do penteado. Maquiagem no ponto. Sairia de casa assim, impecável.

Do mesmo modo, chegaria ao meu posto de trabalho, onde exerceria algum ofício de excelente rendimento, com a competência e alto desempenho que me garantiriam crescer absurdamente e ganhar ainda mais.

Só que não

Nem preciso dizer que, nessa fantasia, quase tudo mudou. Até porque o despertador tocou e a vida real começou a chamar.

No meio do caminho, assim que tive a primeira oportunidade de começar a me tornar aquela pessoa, achei que simplesmente não tinha amadurecido o suficiente e não era digna desse papel ainda

Depois, mais velha, blindada e madura…bem, eu seguia me sentindo igual: com aquele peso incongruente de assumir o conjunto de alfaiataria cinza, salto alto, maquiagem diária, e roupas elegantes de todo dia (e eu sequer sentia que era merecedora de respeito ou admiração).

Algo estava errado (e ficou ainda mais)

Foi o que comecei a perceber, sem me dar conta do quão urgente era eu descobrir. Até que entendi, aos poucos, com um passo de cada vez, as batalhas pelas quais precisava lutar.

O primeiro estopim da guerra que travei dentro de mim foi quando perdi meu pai de uma forma dolorosamente inesperada.

Não quero usar de drama para conquistar mas é inevitável falar da minha trajetória/dos meus grilos e preocupações, sem falar daquele momento: porque eu realmente achei que não poderia suportar.

Mas, como humana obediente e sem a devida inteligência emocional, segui com esmero cada etapa do luto: odiei a vida, o mundo, as pessoas. Tinha raiva. 

Uma sensação insuportável de impotência e “desnecessidade” do existir tomou conta de mim. E é claro: eu não estava disposta a ouvir nada, embora muita gente tivesse tentado me dizer coisas importantíssimas.

Nesse processo, as conversas, o apoio e a troca de idéias que encontrei num grande amigo meu foi fundamental. Voltei a questionar alguns parâmetros, fazer perguntas sobre o mundo, sobre mim mesma.

Sobre a vida. Sobre como realmente não somos e não controlamos nada e como digerir e digerir tudo.

Hoje entendo que tudo realmente acontece por uma razão — além disso, era uma forma de tentar dar algum sentido à  “despessoalidade” daquele homem que eu supunha ser forte o suficiente para ser eterno. 


O primeiro checkpoint é a dúvida

Se existe uma palavra especial para nossos saltos no idioma francês, talvez o impulso para esses pulos também mereça nossa atenção. Você já passou por momentos assim? Um episódio marcante na sua vida?

Se já, é possível que tenha se deparado com dúvidas originárias, e poderia identificar pelo menos uma engrenagem, dentro de você, que passou a funcionar diferente.

Caso esteja passando por algo semelhante, a pessoa que você será depois que tudo se resolver, já não será a mesma. Se você não passou, um dia vai passar. Espero que lembre-se do que vou dizer. 



São os momentos de queda que antecedem o salto. Acredite: por mais difícil que seja, a dor tem um potencial enorme de nos transformar.

E acho que isso ocorre porque normalmente ela nos coloca em dúvida. Cria perguntas que não existiam e reverbera outras que decidimos simplesmente deixar de lado e fingir que nunca existiram – até aquele ponto.

Bom, embora esse não tenha sido o primeiro quatervois da minha vida, certamente foi o primeiro mais doloroso: questionei tudo, duvidei de tudo e, a partir daí, fui reconfigurada

Não entendam errado: não acho que a dor seja o único caminho. Pelo contrário, penso que não deve ser. Mas diante do inevitável da vida, pode ser uma ótima (embora cruel) propulsora da dúvida.

Afinal, duvidar é um dos sinais mais sublimes da nossa evolução: é um momento excelente para dar espaço a outras possibilidades.

Foi assim que uma possibilidade alternativa começou a se desenhar na minha cabeça: um contexto mais ameno, que já tinha permeado minha imaginação em outras ocasiões, voltou para disputar com aquela fantasia urbana de comercial de banco dos anos 90.


Fez-se luz: uma nova imagem começava a se formar

Nela, eu levava uma vida simples, vestia roupas confortáveis, estava de cara limpa, com o cabelo no máximo preso num coque. 

Sentada em uma mesa, eu podia sair de vez em quando para ver o verde, o céu, ouvir os pássaros; observar o mar ou alguma extensão de água e voltar ao trabalho, com um sorriso tranquilo.

Mesmo assim, por mais alívio que essa construção me trouxesse, vi como uma opção bastante ponderada dividir tais circunstâncias: poderia trabalhar na cidade, e depois chegar em casa, num lugar tranquilo e em paz.

Nem preciso explicar como isso estava errado. Mas ainda levei tempo para perceber que essa fenomenal flexibilidade era, na verdade, uma dualidade inviável e frustrante. 

Primeiro porque descobri que nunca estaria pronta para a projeção cosmopolita e urbana: aquele papel não me pertencia, seria só isso, um personagem.

Segundo porque comecei a entender algo que, para mim, hoje, faz muito sentido: não dá para ser metade autêntico e se dividir assim torna tudo ainda mais difícil.


Somos um só. E insistir em ir para dois caminhos tão opostos pode nos dividir tanto, a ponto de perdermos um pedaço da gente.

sobre autenticidade - trecho Lucifer S04E06 - sábia Dra. Linda
 sábia Dra. Linda


Era hora de dar uma esticada na Dolores

Então, quando notei que precisaria decidir, mas realmente não enxergava a opção “certa”, escolhi revisar meio sem-querer mesmo, mesmo no automático, tudo que eu era.

Peguei Dolores com carinho. Primeiro achei a pontinha mais recente e fui desenrolando todo o resto até achar a ponta mais antiga. 

Queria olhar meu passado com a nova perspectiva, descobrir de onde eu tinha tirado tantas ideias sobre quem eu seria ou deveria ser, na tentativa de finalmente encontrar meu pedaço mais importante.

Até que, passeando pelos nós firmes da Dolores e andando pela cidade, pensei em como eu detestava concreto, prédio, barulho, buzina, cinza. Por outro lado, olhava para o céu e me sentia livre. 

Foi mais ou menos assim que passei a descobrir a vida e a cidade de outros jeitos, me deslocando de bicicleta na maior parte das vezes. O vento no rosto, a fluidez de tudo, o mundo me pertencendo por um segundo. Eu, só eu, fazendo o caminho que quisesse, na velocidade que escolhesse.

E, finalmente, tive certeza: aquela primeira fantasia nunca foi real, nunca foi minha.  [imagine um mindblow agora].

Pode ter vindo de algum filme, novela. Devo ter visto alguma mulher poderosa que eu admirava — porque mulheres poderosas sempre fizeram parte da minha vida.

Talvez, por acaso, ela usava como armadura o terninho cinza, a maquiagem e o salto alto, me levando a associar as duas coisas; poder e estilo de vida cosmopolita. Poder e sucesso. Sucesso e felicidade.

Ou, quem sabe, nem tenha sido assim a construção desse formato de vida ideal. Vai saber. Não posso dizer de onde veio a noção de que aquelas coisas eram as minhas coisas, as coisas que eu desejava. Nem importa mais, porque depois eu soube.

E descobri que o caminho seria difícil de qualquer jeito. Mas poderia ser um pouco menos pesado. Decidi seguir tentando superar os percalços certos: ilusão por ilusão, escolho a minha. 

Recapitulando…

 

tire os entulhos do seu caminho que te impedem de ser mais feliz

 

Embora essa seja uma representação precisa da minha jornada, ao longo das conversas e leituras percebi que existe sim uma ocorrência predominante nos fatores que nos levam a ser menos felizes e na sequência de checkpoints que acontece no processo que vai do ponto A (completa ilusão e piloto automático) ao ponto B (entendimento, aceitação e ação consciente).

Fatores que nos afastam do que buscamos

  • acúmulo de resquícios mal resolvidas que constrem nosso sistema de crenças;
  • projeção superestimada do instinto de defesa que nos leva a autosabotagem;
  • resistência em confrontar e aceitar verdades sobre nossa vida;
  • construção de fantasia projetada como ideal, segundo expectativas de terceiros.

Sequência de checkpoints

  1. o processo de dor e dúvida vivido sem distrações;
  2. a interpretação dos problemas como campo fértil de oportunidades;
  3. risco de regredir com tentativas de esquemas de negociação com a realidade;
  4. aceitação do que podemos e não podemos controlar e a reação diante do inevitável;
  5. reconfiguração do nosso sistema de crenças e das verdadeiras possibilidades.

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

clique para ouvir a música recomendada para essa prática
Por isso, gostaria de propor algo nem seu Eufrades mais atento ou sua Dolores mais enloquecida poderia negar. Ah! Se tiver postits talvez eles sejam úteis. 
1. Pegue uma folha e divida em três partes/colunas. Em uma escreva Felicidade (1) Dolores (2) e Eufrades (3) – ou seu próprio nome para cada um deles. (ou baixe o arquivo prontinho, disponível no final da página)

2. Na primeira coluna responda à pergunta: “O que realmente é felicidade pra mim?”. Na segunda coluna escreva tudo aquilo que te deixa desconfortável, fruto de episódios anteriores que não foram devidamente processadas e resolvidos (coisas que as pessoas te disseram, que você viu, que sentiu, etc). Na última coluna escreva seus pensamentos mais persistentes (tanto os que te incomodam quanto os que não são um problema aparente para você) e que, na grande parte das vezes, guia suas decisões, seus objetivos, etc.  

3. Analise cada um dos elementos das colunas e veja se existe algum tipo de relação entre eles. Se puder ou quiser, você também pode compartilhar com alguém de sua confiança, com quem poderá falar a respeito e facilitar no processo de insight.

4. Com bastante honestidade, defina pelo menos um e no máximo três elementos que estão sendo obstáculos no caminho do tipo de felicidade que você busca e definiu na primeira coluna. Observação importante: pode ser, que nesse momento, você até perceba que precise alterar o que escreveu na coluna 1: tudo bem. O importante é buscar a verdade. 

5. Deixe esse material guardado em algum lugar que você possa revisitar com alguma frequência e faça os ajustes que considerar necessário ao longo da sua evolução.
Se quiser, publique sua experiência no instagram e twitter usando #assimpassa ou nos envie um e-mail!

Continue lendoO que nos impede de ser mais feliz?