Anos 90, Elon Musk e a m#rd@ toda

Essa semana, como muita gente, fui ‘surpreendida’ por duas notícias:

Sobre a primeira, não há muito o que dizer:

a finalização bilionária da compra integral do Twitter por parte do Elon Musk e os petelecos do Sr. Orkut nas nossas vidas.

“Homem bilionário faz transação aparentemente extravagante e choca um mundo aparentemente inocente por acreditar que seus objetivos são exatamente o que se vê acima da superfície.”

manchete imaginária do meu jornal mental


Essa semana de 2022: Elon Musk e Orkut

Então, não vou ficar redundando nada aqui, mas espero que você pare logo de ficar: “oh meu Deus mas é muito dinheiro por uma rede social só pode ser porque ele quer criar caos na terra” – se está sendo seu caso.

Não, o cara não é burro (tampouco vilão nem santo) e embora eu acredite que a defesa pública do ato tenha uma porcentagem de verdade, está longe de ser a verdade toda.

Como disse um ex-colega de trabalho, isso não é sobre rede social, é sobre learning machine. E como esse assunto (incrível) não é tema por aqui, te indico demais ver o videozinho do Dácio Alexandrino sobre isso, lá no instagram dele, e também ir atrás do conteúdo maravilhoso do Zero.Ai, do Hyan.

Bom, indicações FREE à parte… O segundo tópico, aí sim, queridos passageiros, bate mais forte nesse peito nostálgico.

Me ridicularizem à vontade, mas a verdade é que, quando vi aquela palavrinha, já remota, surgindo numa conversa de whatsapp, fui arrebatada por lembranças e reflexões que, provavelmente, quem nasceu nos anos 90 vai entender melhor.

De novo, meu ceticismo marca essa circunstância na minha cabeça: nada é exatamente o que parece quando o assunto envolve muitos dados e, claro, dinheiro.

E, sim, se você pensou isso, eu concordo: precisa existir algum interesse para motivar um ‘pronunciamento’ desse. O conto da fênix renascida é bem forte e irresistível, mas a verdade é que, por mais bonito que seja, precisamos admitir que mesmo se o cara estiver completamente bem intencionado (o que eu não acho tão ridículo assim) e decidir fazer uma operação enxuta:

  1. Gerenciar uma rede social com a quantidade de bytes que isso exige, envolve servidores, hospedagem, aluguel na ‘nuvem’ e um monte de coisas que não são exatamente baratas e dificilmente poderiam ser feitas por uma única pessoa.
  2. E aí vai de a gente pensar quem banca ou vai bancar essa parada aí, aparecendo ou não. Porque o Sr. Orkut não vai simplesmente se aposentar e do nada bancar um sonho maluco de tantas pessoas que pediram (de brincadeira, que seja) a volta do Orkut.

Os anos 90

Tá bom, ok, sanado esse trecho supostamente ingênuo das minhas emoções afloradas, vou te levar para onde isso tudo me levou.

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uma homenagem

É que coincidentemente, essa noite tive um sonho bizarro e ruim que terminava comigo encolhida dizendo: “chega, chega, chega, chega, chega!” repetidamente. Como num surto psicótico, era como se eu tivesse vivendo um pesadelo acordada.

Com a liberdade onírica e um tanto dramática da história, a verdade é que contando pro meu marido sobre o sonho tive um pequeno vislumbre de uma das tantas possíveis origens e significado dele.

Então, vamos lá, se você nasceu ali entre 1985 e 1992, e teve uma vida um relativamente privilegiada, você vai se lembrar: de ter ido na casa de algum amigo jogar videogame e soprar a fita do nintendão. Ou do discman, do gameboy, de Charlie Brown cantando “Vou te levar” Malhação às 17h30 numa academia ‘de verdade‘, dos brinquedos da Estrela e jogos da Grow, de ir na locadora alugar filme (e levar bronca por não ter devolvido e pagar multa); de Doug, da tesoura da Minnie, do Fantástico Mundo de Bob, Dragonball, do pânico parental com Pokemon, dos questionários em caderno que rodavam por aí na sala de aula… e uma série de outras coisas que você viveu nesse surto coletivo.

Mas outra coisa interessante, é que essa galerinha toda aí, na qual me incluo pacas, viveu uma parada que sempre vou achar bem épica: a gente nasceu e cresceu junto com essa merda boa de tecnologia acessível.

Isso significa, entre outras coisas, que vimos coisas como mIRC e ICQ surgirem, evoluírem (em partes) e dar lugar a coisas como blogger, MSN e Orkut para ‘crescerem’ junto com a gente.

E, cara, me corrijam se eu tiver MUITO errada só que era gostoso pensar como tudo era carregado de uma… inocência.

A gente se achava os malandrão, esperando dar meia-noite pra usar escondido a internet. Colocando frase ou ouvindo uma música de indireta no status do MSN. Andando com a mochila cheia de disquete, mandando ou recebendo depoimento para alguém.

‘Participando’ de alguma comunidade onde tudo se resumia a entrar nela para todos saberem que “Eu acho tudo muito caro” e pensarem em você como um senhor de oitenta anos andando num corredor de supermercado e dizendo que achava tudo muito caro.

sem dúvida alguma, uma das minhas preferidas

Ou, em outros casos, uma maneira de deixar no ar aquela ‘indireta’

um clássico

E até mesmo se sentir um adolescente reizão, donão de si, declarando com coragem um tipo muito estranho de rebeldia (só que nada, porque levava peteleco e pedia desculpa se a vó visse)

tipo isso

Ou o oposto, posando de adolescente-xófen-adulto-intelectual e ainda por cima engraçadão com estilo.

quem nunca se irritou mas desejou essa?

Fora que era uma delícia ficar clicando naquele botão que fazia o MSN alheio se tremer todo e obrigar a outra pessoa a te dar uma resposta, só pra encher o saco – e na mesma linha, usar a cutucada do Orkut. (inclusive, aproveita que Facebook ainda existe, e viaja aqui nessa página cheia de referências como estas)

Mesmo quando a gente já tinha crescido um pouquinho, tinha um quê de malemolência ‘dar um toquezinho’ para aquela menina ou menino com quem a gente vinha empreendendo um jogo juvenil, gostosinho e, hoje, arcaico, de conquista – se é que se pode chamar assim.

Nota: queridos millenials e demais: isso era basicamente um universo onde não existia WhatsApp, a internet era cara e até mesmo um SMS poderia ser bem inviável, então o que fazíamos?! A gente ligava para o número, muitas vezes a cobrar, lógico, e deixava tocar uma vez… ás vezes, ousadamente, até DUAS. Impressionante, não é mesmo?

Sei lá, eu me achava muito coerente quando consegui publicar meu blog de poesia e prosa poética (sim, ele ainda existe como um arquivo público, rs) e conversava com escritores e poetas do Brasil todo – sem fazer a menor ideia se o nome daquelas pessoas era aquele mesmo, mas ainda assim gastando horas da minha vida com aqueles perfis cujo rosto e corpo eu desconhecia – mas cujo fragmento ínfimo da intimidade era tão fácil me identificar.

Um jeito simples de entender o que aconteceu

Fazendo um paralelo bem fácil de metalinguagem, vocês também podem lembrar daquele alerta clássico da balinha contendo droga que era vendida perto das escolas.

Pela ‘mitologia’ popular, existia por todo o Brasil, garotos bem apessoados, que se aproximavam das crianças e davam um balinha num dia, um pirulito no outro… e iam construindo uma generosa amizade com essas crianças que se achavam bem especiais, faturando de graça a dose diária de docinho.

Bom, eu daria vários outros nomes para práticas muito semelhantes que infelizmente acontecem com pequenos ajustes de realidade (afinal os mitos nascem de algum lugar). Mas a verdade é que somos essas crianças.

Dia após dia, mês após mês, ano após ano, fomos sendo atraídos com estilo, vai?!

O mundo foi parecendo mais diferente, colorido e divertido. Tinha corrente e fake news, mas a gente recebia essa parada de gente mais velha e era um troço bem elaborado, com apresentação e .ppt, voz Cid Moreira!

Não era uma parada organizada, estruturada, criminosa. Existiam sim outros meios de manipular informação e ‘politizar’ em manada a sociedade. Mas até então, aquele era nosso escape. Ali era um lugar seguro

Aí… vieram os anúncios. E os nossos CPF’s que eram tão protegidos e cuidadinhos, de repente, passaram a ser solicitados com uma frequência cada vez maior.

Afinal AQUELE volumes de dados, aos olhos de um grupo importante de pessoas, era tipo um bifão no melhor estilo Frajola.

o que nossos dados sempre foram

Essa galera aplaudiu em pé o surgimento dos smartphones, do SMS, das compras gigantes de serviços online que iam se bifurcando e buscando espaço no monopólio que se desdobrava.

Isso tudo enquanto a gente andava pra lá e pra cá meio tenso sobre o que fariam com os números dos nossos documentos – você não pode negar que era até charmosa tanta inocência.

Brincadeiras à parte, enquanto a gente estava pensando se ia vender nosso pão, outra patotinha estava focada não só em dominar as padarias como em transformar tudo em uma multirrede.

Chegamos

E aqui estamos. Onde tudo é anúncio, propaganda, imagem pessoal, gatilho mental, landing page, copy, estratégia, marketing. Não tô dizendo que isso é intrinsecamente ruim. Nem daria pra vilanizar a coisa toda porque a gente se beneficiou disso também. Além do mais, eu sei que tudo passa.

Fato é que eu estaria disposta até a pagar por algo que antes eu tinha de graça e, hoje, me sinto incapaz de conquistar sem dificuldade: minha paz de espírito. Mea-culpa, claro, mas de algo que dissesse por mim: “chega, chega, chega!”.

Que me trouxesse a liberdade de sair de casa sem celular e não se preocupar em responder mensagens. De postar a cada três semanas porque deu vontade sem me sentir culpada ou triste ou envergonhada ou ineficiente por isso. De não estar ganhando dinheiro por algo que deveria ser só uma maneira de nos conectarmos sem limites.

Eu entendo, de verdade que, se eu me sinto assim, a culpa é minha por me permitir – e se você carrega frustrações semelhantes mas não vê dessa maneira, te convido a ler esse artigo incrível do Mark Manson a respeito do tema.

Mas no fim das contas, só estou falando sobre conseguirmos ser humanos sem ter que nos esforçarmos tanto pra lembrar que qualquer coisa que tenhamos criado deveria servir para evoluir nossa consciência, e não em externá-la – a ponto de nos tornar dependentes de coisas bem mais perigosas do que os amigos sem identidade dos fóruns que eu participava.

E você? Vai pagar quanto?

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Os piores erros que você (não) pode cometer como freela
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Os piores erros que você (não) pode cometer como freela

Se você é freela, prestador de serviço, autônomo: eu sei que você deve estar com várias guias de navegador, uma cassetada de e-mails para ler, e mais mensagens de WhatsApp que o Papai Noel no Natal.

Você quer respeito, reconhecimento, admiração pelo seu trabalho (espero). Você quer poder ser visto(a) como um dos melhores do seu nicho.

Você quer poder cobrar mais para trabalhar com mais qualidade em cada trabalho.

E é desafiante conseguir isso quando você acabou de começar ou trabalha sozinho(a). Certo?

Mas calma. Aqui estão três kamehameha da paz freela para transformar não só como os outros, mas como você vai se ver como profissional.

Então senta aí um pouco, toma uma água, respira. O mundo não vai acabar se você parar para ver o que tenho pra te dizer. Porque olha só, eu sou como você. Eu tenho pressa.

Corri uma maratona pra chegar até aqui. Sério. Minha última década se resumiu num longo e desesperado circuito de experimentos e tentativas para me encontrar profissionalmente.

Eu errei muito. E aprendi muito também.

Você não precisa cometer os mesmos erros que eu. Mas, olhando para os lados, posso dizer que a chance de estar sim, cometendo pelo menos um deles, é bem alta.

Principalmente se está no início dessa jornada.

Então, absorver as ideias que vou trazer aqui podem levar você a ir de um(a) “cara/garota que faz uns jobs” para se tornar um verdadeiro profissional da sua ‘coisa‘, seja ela qual for.

E vou começar com um erro clássico.

Ser um buffet de sorvete

Você pode amar sorvete. Buffet de sorvete então… Mas você tem que concordar que é mais fácil escolher o que botar no potinho quando não tem muitas opções. É o tal paradoxo da escolha (sobre o qual o Barry Scwartz fala muito bem aqui).

Tudo bem, exceto neste caso, onde duas opções já podem complicar bastante | fonte: Paul Drinkwater/NBCU Photo Bank

Por isso, doce freela, não cometa o engano de pensar que seu cliente te paga só pela sua entrega tangível ou pelas suas qualidades técnicas.

Na maior parte das vezes, o cliente só não sabe a resposta certa.

Seu cliente ama o contexto do problema que fez com que ele te procurasse: a casa dele, a empresa dele, a marca dele, o cabelo dele, enfim.

Mas ele, definitivamente, não espera passar muito tempo rondando os sorvetes. Ele já fez ou tentou fazer isso e a experiência não foi boa.

Por isso chegou até você.

Ele só deseja sentar numa mesinha, com a brisa suave no rosto, e provar um sorvete delicioso. Aliás: o melhor sorvete que ele poderia estar provando naquele momento.

Essa é a parte tácita do acordo, na contratação de um profissional. Quando você entrega uma única versão para o seu cliente, você está dizendo para ele:

Eu estudei muito, eu pesquisei muito, eu pensei muito, eu testei muito, e esta é a
melhor opção pelo caminho que achei ser o mais adequado para você.”

Você está dizendo para ele:

“Fica tranquilo, eu já sofri por você no processo de tomada de decisão”.

Sim, de certo modo, o cliente está te pagando para sofrer por ele e resolver o problema.

Exceto se a condição de duas ou dez versões for uma condição imposta pelo cliente — e você não se sentir desconfortável nesta posição, o caminho mais lindo tá dado.

Pergunte muito no início, tire todas as suas dúvidas e, depois: sofra pelo cliente, faça seu melhor, coloque todo seu espírito criativo ali.

Eu entendo que a intenção de apresentar mais de uma versão é boa.

Mas geralmente causa a impressão de que deriva, de algum modo, ou da preguiça, ou da insegurança — ambas relacionadas ao imediatismo. E nenhuma dessas coisas parece realmente boa. Porque:

  • ou você quer adiantar o processo e ‘matar’ a entrega em uma única reunião (buscando evitar o retrabalho);
  • ou você tem receio de que o cliente não vá gostar do que você escolheu porque não se sente seguro (seja pelo seu pouco tempo de experiência, ou porque não perguntou, não estudou ou pesquisou o suficiente).

E tem mais: quando você apresenta duas ou três versões para seu cliente, ao invés de evitar, você está abraçando o retrabalho.

A não ser que você tenha dedicado menos tempo a cada versão (o que é bem ruim), você está trabalhando a mais para fazer todas as versões sem nem saber se isso seria necessário.

É por isso que o processo de briefing precisa ser assertivo e até exaustivo.

Faça perguntas estranhas se for preciso. Não deixe de perguntar, pesquise, e pergunte de novo.

Muita gente erra por achar que o briefing acaba no final de um formulário. Mas o tempo todo é uma oportunidade de retomá-lo. ING, sabe?!

Você coletou tudo mas no meio do caminho cruzou com alguma nova informação, referência, ou ideia que deu uma balançada — e acredita que uma resposta do cliente possa ajudar? Então crie uma pergunta perfeita para ter essa resposta.

Não fazer isso pode cagar sua entrega. E isso nos leva para outro erro que serve para qualquer profissional e qualquer tipo de negócio.

Não cuidar da entrega

Sempre que dou presente para alguém, independente do valor, eu adoro pensar em como vou embalar e como vou entregar aquilo para a pessoa.

Para mim, esse é o momento em que vou estar presenteando.

Você pode comprar um brinco de diamantes de milhares de reais. Mas experimente dá-los em um saquinho brilhante todo colorido e meio gasto pelo tempo, ‘amarrado’ com um fita durex?!

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não importa o sorriso que você veja, por dentro a pessoa presenteada sempre fica meio assim

É claro, uma vez que descubra o valor daquele brinco, a pessoa presenteada ficará bem feliz. Mas num primeiro momento, o valor do presente é menor que ser levado pra tomar um bom espresso.

Não porque o pacote é simples. Mas porque faltou, claramente, capricho. Faltou cuidado, faltou atenção, faltou colocar o máximo de amor naquele pacotinho. Naquela intenção.

Fala sério: você nem precisa gastar num diamante de verdade. Basta que disponha tempo e energia. Escolhendo com carinho, pensando na pessoa e em como ela poderia entender que ali está todo o seu melhor. Não esqueça disso:

Um caro presente mal dado soa como obrigação. Um modesto presente bem dado se torna um detalhe: porque o verdadeiro presente é o que o gesto representa.

Então, entenda de uma vez por todas: mesmo que você seja tecnicamente o melhor profissional do mundo na sua área, não ouse entregar isso em um pacotinho amassado.

Quando você faz sua entrega dessa maneira, você está não só demonstrando pouco apreço pelo problema e pelo cliente em si, como pelo seu próprio tempo e trabalho.

A sua entrega precisa ser valorosa. É você, dizendo ao seu cliente:

“Cara, valeu por ter confiado em mim ter trazido um problema de algo tão
importante pra você. Em troca, coloquei o meu melhor de mim aqui. Foi feito com
muito carinho, espero que você curta.”

Não importa seu nicho, pense na melhor maneira de entregar seus resultados. Se for uma apresentação: que seja a apresentação mais linda, clara, fácil e agradável possível.

Se for um relatório impresso, que seja de ótima qualidade de cores e de resolução, dentro de um pacote personalizado ou escrito à mão.

Se for uma reforma ou obra, que seja agendando um dia com o cliente para mostrar tudo que foi/tem sido/será feito, esclarecendo as dúvidas e finalizando com a devolução de um espaço limpinho.

Isso pode mudar tudo pra você.

Muita gente confunde a hora certa de fazer um cliente se apaixonar. Não é na venda, é na entrega.

E, como freela, é ainda mais crítico, porque cada entrega pode ser decisiva para seu próximo mês.

Agora, por fim, vamos para um “erro” baseado numa controvérsia.

Tornar a razão do cliente inversamente proporcional à sua

Meu pai era “budegueiro” como dizia ele. Isso significa que ele tinha umas “budega”. E ele sempre dizia o que todo empreendor já disse ou já ouviu: “o cliente tem sempre razão”.

A questão é que a galera não entendeu bem esse conceito ainda.

Dizer que o cliente tem sempre razão não necessariamente significa que ele de fato tenha —nem que não tenha. Mas, com certeza, não significa que você deva:

  1. Atender à todas suas vontades;
  2. Atender suas vontades por pura condescendência;
  3. Não atender porra nenhuma das suas vontades e foda-se.

Porque o oposto de “o cliente sempre ter razão” não é um simples “nem sempre o cliente tem razão”, nem o extremo “nunca tem razão”.

O bom é entender que o cliente tem as razões dele, e você tem as suas. Estar atento(a) a entender isso é a premissa básica para que se chegue num acordo.

Seu cliente não gostou do que você mostrou?

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eu sei, rola uma ansiedade

Sem crise, tente entender o porquê. E chegar a um denominador comum. O que não é simplesmente algo que agrade ao cliente. Mas algo que te agrade também.

E com “te agradar” não estou dizendo você, pessoa, cheia de preconceitos, crenças e julgamentos. Mas você profissional.

O cliente curtiu e você, tecnicamente falando, percebe que faz muito sentido? Pronto, aí está o que você busca.

Ah, Luana! Mas o eu pessoa é o eu profissional.

Olha, eu sei, eu demorei a entender o ingrediente dessa parada. Mas como sou uma anja, vou te passar de graça:

Pra conseguir realizar esse fetiche, desligue seu modo consumidor (de informação, de referência, de produto).

Você jamais faria isso no seu banheiro? Você jamais compraria uma calça com modelagem tão justa? Você jamais faria isso no seu site? Você detestaria usar um aplicativo daquela maneira?

Dane-se. Ninguém se importa. Você precisa saber e garantir que aquilo vai funcionar para seu cliente, para as pessoas que irão usufuir daquela solução.

E você só precisa ser tecnicamente bom para identificar se realizou todos os processos, se aplicou todos os métodos e se considerou todos os conceitos adequados para aquele projeto.

Por outro lado, ás vezes você precisa dizer ao cliente que algo não funciona e explicar o porquê.

Sim, isso também é difícil. No início da vida profissional, aceitar ‘mesmo que’ soa coerente.

Mas se você está cobrando por um serviço ou produto, você precisa adotar a postura de quem pode cobrar por um serviço ou produto.

A postura de quem sabe do que está falando.

E você precisa saber do que está falando.

Fuja dos jargões e explique da forma mais rápida, didática e gentil que puder. Mostre ou fale exemplos e referências. Pergunte bastante.

Além disso, apure sua intuição para ler nas entrelinhas, para entender o que o cliente quer e não quis ou não soube dizer.

Esse é seu papel.

Lembre-se que dizer não para o seu cliente é exercer compaixão também. Seria muito fácil simplesmente fazer o que ele pede, mesmo sabendo não ser o melhor caminho.

Mas se ele está te pagando para dizer sim, talvez você não seja o profissional que ele procura.

Ou, talvez, você não seja o profissional que deseja ser.


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A Missa da Meia Noite: uma análise da humanidade

Vamos lá: você acha que é uma pessoa boa?

Olha… uma galera lá de Crockett Island também acha. Por isso escolhi começar com essa pergunta: não vejo maneira melhor de falar sobre a série do Netflix. Inclusive, vale dizer que ela esteve entre as cinco mais assistidas no Brasil em 2021.

Embora essa não seja uma análise técnica, a minisérie oferece insights valiosos sobre a humanidade.

A verdade é que você pode escutar coisas bem diferentes sobre “A Missa da Meia Noite”. Mas se te peguei desprevenido ou ficou na dúvida sobre como me responder, esse artigo é pra você.

E se não teve dúvida nenhuma, com certeza esse artigo é pra você.

Ok, mas será que vale a pena ver “A Missa da Meia Noite”?

A resposta pra isso é a mais odiada por 98% da humanidade: depende.

Como não sou (totalmente) trouxa, vou tentar explicar do único jeito que consigo pensar: falando sobre a série.

Particularmente, vejo como uma história quase fabular, capaz de nos lembrar daquilo que costumamos esquecer. Mas, ao invés de uma lição central, ela pode te carregar para um vórtex de percepções – o que eu considero sempre válido.

Cheia de falas extensas, a série vai levando a gente pela beleza e caos das perspectivas dos personagens antagônicos, que nos ensinam sobre: vícios, pontos cegos, orgulho e intolerância.

E é por isso que insisto nas obras de Mike Flanagan – ele tem esse jeitinho Stephen King, sabe?! De usar narrativas horripilantes para nos levar às profundezas de nós mesmos.

Mas confesso que fiquei na dúvida se encararia “A Missa da Meia-Noite”. Até que me rendi à tentação de, como n’“A Maldição da Residência Hill”, identificar elementos cheios da sabedoria que um bom drama costuma entregar, ainda que mascarado por outros estilos.

Ah! Só pra contextualizar, o roteiro… digamos que se baseia em um homem condenado no mínimo três vezes.

Primeiro, pelo desejo de escapar de uma vida medíocre.
Segundo, pela fantasia de que libertar-se do lugar é libertar-se da ideia.

Até, que finalmente, ele chega à terceira. Não legalmente, pelo homicídio. Mas pela mente: a culpa de ter matado alguém inocente.

É assim que Riley acaba voltando para onde passou a infância toda sonhando sair: a pequena ilha de Crockett. Abandonada e remota, com seus 127 habitantes permanentes, a cidadezinha tem atividades que se baseiam num cais e numa igreja.

Então, mesmo se você, como eu, não tem o terror como gênero preferido, eu diria que vale a pena assistir sim.

Acho que essa coisa de “gênero” nos priva de óticas que estão além do que vemos, de aprendizados que transcendem simbolismos óbvios que definem as categorias das histórias.

A “Missa da Meia-Noite”, por exemplo, embora com uma premissa assustadora, mais do que medo, trouxe reflexões profundas.

Não se trata de Riley nem de monstros. Mas, certamente, de humanos.

Então, vamos para o primeiro ponto.

Bev, humanidade, loucura e nossas escolhas mais difíceis

A querida Bev da Missa da Meia Noite. Fofa!

Eu gosto da ideia de que ninguém é intrinsecamente bom ou mal. Mas, no fundo, é difícil ter certeza sobre isso quando não conhecemos a verdade mais profunda sobre cada um.

Além disso, pegando pela história da série, antes mesmo do surgimento do novo padre de Crockett (interpretado com maestria pelo Hamish Linklater – o eterno Matthew, de Christine) e da revelação de alguns mistérios, nos defrontamos com a personificação mais assustadora do mal.  

A gente fica tipo: será que humanos se inspiraram na mitologia de monstros ou se originaram neles?

É Bev quem me traz essa dúvida e mais me dá arrepios. Porque mesmo fictícia, ela pode ser encontrada no nosso mundo

Ela até mostra potencial para carregar estereótipos suavizados. Sabe? Da megera cujo comportamento se enraíza em algum trauma ou dor pungente. Mas Bev não se preocupa com nenhuma justificativa:

sob a ótica dela, ela não tem nada de que se justificar. Ela é pura e terrivelmente incompreendida em sua infinita e rigorosa bondade.

Quem se justificaria de algo assim? Certamente alguém que carrega segredos, pecados. Com certeza, não ela. Porque ela ta todinha ali. Suas verdades se resumem ao escopo da tela. 

Bev incorpora parte do que tememos no mundo: mais do que os outros, talvez, a gente mesmo.

Ela reflete a nossa tentação em enxergar as coisas sob o prisma que nos é mais conveniente (e os desdobramentos terríveis que isso pode trazer). Seus atos são tão cristalinos que nem a ironia, o cinismo ou a hipocrisia são capazes de disfarçar. Para mim, é tão difícil absorver a maldade de Bev, que prefiro enquadrá-la no âmbito da loucura.

Não dá nem pra saber se não foi por isso que criamos o termo: para nos afastarmos de pessoas capazes de coisas tão terríveis. Se torna uma questão de eles, e nós.

Tipo:

“Bev é tão monstruosa e determinada a ser má que só pode ser louca.” – pensamos. Afinal, as pessoas não são assim. Pessoas são boas. Bev é que é monstruosa. Sua humanidade foi consumida pela loucura. Eu não sou assim.”


Olha… não tenho certeza de nada – senão de que, sob a ótica mista da ciência, da psicologia, da filosofia e teologia o debate seria, no mínimo, interessante. Mas sim: é perturbador pensar nisso.

Consumida pelo orgulho e pela noção de superioridade que faz de si, ela é capaz de tomar as decisões mais absurdas sem hesitar. Só que não aleatoriamente.

Nem Bev é tão corajosa assim. Ela se esconde por trás de um livro. De escrituras que sabe serem consideradas sagradas. De palavras escritas por pessoas que ela tem certeza encarnar.

Ninguém pode ousar contrariar o que ela diz ou faz, porque não é ela que diz ou faz, ela só está transmitindo a mensagem. Não importa o que aconteça, ela está sempre com o mesmo escudo:

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Bev, a Anja. Bev, a Santa. Bev, a impecável. A escolhida.

“Está na Bíblia, você não vê porque não é tão soberano quanto eu, oh pecador. Mas deixe-me mostrá-lo com minha infinita sabedoria sobre as coisas não-mundanas.”

Ora condescendente, ora agressiva, o que muda é o tom, nunca a mensagem.

E é assim, emBEVecida (não resisti) pelo êxtase de uma suposta salvação, de ser escolhida e, depois, pela certeza de coisas mais… líquidas, ela vai se destilando na pequena, mas altamente corruptível comunidade de Crockett.

Odiamos Bev, além do fato de ela ser má, porque sabemos que todos nós somos tentados à seguir por aí em algum momento. Porque, no fundo, podemos nos perguntar quantas vezes incorporamos algum tipo de mal.

Talvez algumas pessoas sejam simplesmente más.

Talvez todos nós sejamos um pouco, quando buscamos encontrar ou dar razões para nossas pequenas atrocidades.

E, aqui entramos em outro ponto relevante.

As ilusões causadas pelos vícios e pela aversão à autorresponsabilidade

A culpa maior que qualquer julgamento

É fácil pensar que ninguém, uma vez contaminado, pode resistir.

Que o veneno, feito da maldade, das falácias, do ego, da fofoca, do julgamento social, do preconceito e da intolerância

é infalível.

Uma vez tocado, se apossa de você.

Essa noção fica bem clara quando Riley, (na atuação hipnotizante do Zach Gilford) apresenta o álcool e suas conseqüências abusivas, não como algo de sua responsabilidade, mas como algo externo a ele.

Muitas vezes pode ser tão desafiante assumirmos inteiramente o mal que causamos, que optamos por projetá-lo: foram eles, a culpa foi dela, é porque você.

Na explicação dele quando ‘submetido’ à substância, se torna outra pessoa.

Em qualquer mitologia – e em outros discursos de pessoas viciadas – encontramos diversos relatos onde essa ideia se repete: a da posse.

Algo misterioso, intangível ou inexplicável que nos assola.

Que toma conta de nós de forma tão cruel, rápida e mordaz que nos incapacita – física, mental ou emocionalmente a resistir.

Fomos vitimados. Não fizemos nada, nem a escolha de ‘deixar’ que aquilo acontecesse.

Em uma das cenas mais marcantes, no final do segundo episódio,Rileychega a flertar com o conceito quando explica ao padre uma abordagem sobre o alcoolismo.

Ele diz:

“O Riley que surgia quando eu bebia, ele era ruim. Ele era egoísta, indiferente e arruinou minha vida.”

Ainda que a licença atenda ao roteiro, existe a noção de que alguém, quetomava conta dele, era capaz de fazer as coisas mais horríveis usando seu corpo, sua voz, seu rosto.

E que, depois, facilmente o abandonava para que ele lidasse sozinho com as conseqüências das ações que tomou como sendo o próprio Riley.

Então, ele continua:

“Sempre achei que nos daríamos bem. Aprenderíamos a viver um com o outro, porque ele não me faria mal. Não a mim. Eu o alimentava, ele não me faria mal. Acordei um belo dia e ele havia matado alguém.”


Mas, tão logo se depara com o olhar do padre, mostra o quanto aprendeu. E conclui:

Eu matei alguém.”

Riley não ganharia nem perderia nada com essa confissão voluntária de responsabilidade. Com a demonstração de que, finalmente, entendeu.

De que realmente reconhece que não era outra pessoa, mas ele mesmo, quando matou alguém.

Por isso, vejo este como o primeiro e mais importante marco da história.

Mesmo que ele já se penalizasse e carregasse com tanta clareza a culpa.

Mesmo que já tenhamos visto ele assumindo a responsabilidade perante a justiça e concluído a pena dos homens – foi a primeira vez que presenciamos ele falando em voz alta sua responsabilidade.

É um momento de clareza onde entendemos que Riley pôde tirar algo de tudo. Ele saiu da cadeia e embora vejamos ele aprisionado, somos conduzidos a acreditar que ter ganhado consciência poderia libertá-lo.

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Depois fica claro que, ali, é consumado o final de um ciclo. Mais precisamente quando Riley se vê transformado, e entende que lhe restam poucas escolhas.

No barco, com Erin, sentindo seu novo vício, ele nos revela a escolha menos óbvia.

Ainda que tenham se esforçado em convencê-lo que as conseqüências do seu desejo mais recente fossem benignas, ele as dispensa e se torna capaz de resistir à promessas tentadoras.

A mesma liberdade de escolha que levou Riley a matar uma pessoa inocente no passado, também foi capaz de lhe ajudar a discernir o que era errado do que era certo, em qualquer perspectiva saudável.

Isso se repete quando o resto da cidade se depara com um dilema muito parecido com o dele e, de muitos jeitos, de pessoas doentes.

Não importa o que façamos, ou nosso passado, não importa a condição em que nos encontramos agora: as escolhas estão sempre lá, seja para nos salvar, seja para nos condenar à circunstâncias irremediáveis.

Acima de tudo, “A Missa da Meia Noite”, nos fala sobre nossa realidade.

Onde a religião, o pecado, o crime, nomes, palavras, a aparência ou a vestimenta podem ser infinitamente pequenos perto da nossa bússola interna.

E é claro: várias circunstâncias impactam essas escolhas e parecem nos conduzir com maior magnetismo para um lado ou outro.

Talvez não existam, realmente, pessoas, mas escolhas intrinsecamente más e boas.

E, a cada minuto, dias, semanas, momentos, somos presenteados com a oportunidade de fazê-las.

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E então, eu te pergunto: você é uma pessoa boa?


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6 coisas melhores que Instagram e WhatsApp pra explorar seu tempo

Não é como se eu fosse sócia-proprietária dessa sensação, mas nem por isso ela se torna menos válida: tô cansadona de certas atividades online. Instagram ganhou o Emmy Ranço dessa categoria.

WhatsApp, por outro lado, acaba sim sendo uma mão na roda pro trabalho.

Mas gera uma série de ansiedades que poderiam ser resolvidas de várias outras maneiras – como todas as que nos serviram muitíssimo bem antes de ele existir. Lembra?

Inclusive, eu já estava preparando um artigo trazendo outras opções bem mais legais. E aí, essa segundona, cai instagram, cai facebook, cai whatsapp

Resultado: todo mundo pira, né Mauricio Stycer?

Impossível não escolher esse tweet do Mauricio Stycer como meu favorito da situação


Eu, por outro lado, fiquei mais Edward Snowden: achei um dia abençoado. E me senti aliviada com a declaração dele.

Sim. Muitos vão me odiar. Mas não posso negar: é assim que me sinto. É mais forte que eu. O problema não é você.

Agora, vamos combinar: independente do que você pense a respeito, essa pode ser uma boa oportunidade de avaliar como está usando seu recurso mais valioso.

Por isso preparei 6 coisas bem melhores que o WhatsApp e Instagram pra explorar seu tempo. Confere!


Aprender algo novo

Posso pensar em pelo menos dez coisas novas que podemos aprender dedicando pouco tempo por dia.

Mas, compartilhando minha experiência pessoal, confesso que estou bem feliz em ter usado o tempo (que eu ficava em scroll infinito pelas redes sociais) para aprender algo que sempre me atraiu demais: o francês.

Sim. É verdade: meu marido não me suporta mais praticando (até quando não estou efetivamente estudando).

Porém, sigo satisfeita em sentir que, se eu fosse para Paris já saberia onde e como encontrar livros, pão, vinho, queijo, café, panqueca e cerveja. Sério: quem precisa de mais?

Tenho estudado cerca de 15 minutos por dia. Completamente de graça. Via Duolingo, sim, mas com toda a seriedade que um caderninho enfeitado de ”chattes noirs” pede!

Se idioma não é a sua praia, existem vários cursos free ou baratinhos por aí, como nos sites do Domestika, Udemy, etc. Até a Colab55 lançou uma lista de cursos para aprender fotografia. Escolhe alguma coisa e vai.


Uma voltinha pela web

Se perder num rolê aleatório – ou não tão aleatório assim – pela vida online também pode ser ok quando a gente tá naquela preguiça.

Melhor (é sério, bem melhor) que ficar naquele rolo infinito de vida normalmente plástica.

Pessoalmente, eu recomendo a todo mundo que tenha um canivete suiço pra esse tipo de coisa. Meu perfil curioso sempre me leva para umas viagens muito aleatórias na web.

Ás vezes são boas, mas na maior parte das vezes tendem a ser enlouquecedoras. Então eu tenho esses três canais que gosto muito:

Extraoficial: Eu juro que tenho curtido acompanhar eles por apps próprios. Gamei no Feedly Classic. Literalmente, preto no branco. Experimenta, vai.

Ah! Claro, até o youtube pode ser uma opção. Como gosto muito de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, pingo no Nós da Questão, aprendo uma receita com o Mohamad Hindi, ou vou dar umas risadas com a pureza animada e nerd do Leon no Coisa de Nerd.


Um trabalho manual

Nosso corpo foi feito para se mover. Nossas mãos para construírem coisas. Vilém Flusser, um cara cuja obra e pensamento admiro muito (ainda que polêmico) fala muito sobre essa questão.

Temos, cada vez mais, perdido nossa capacidade de usar nossas mãos para construir coisas. Qualquer coisa. Desenhar , costurar, inventar moda.

Não precisa fazer bem. É só um exercício que pode ser, digamos, criativo. Então, é até melhor que você não saiba fazer bem.

Na boa, tente experimentar algo em que o sucesso não é medido pelo resultado final, mas pelo processo. O sucesso é você parar e fazer isso, com as suas mãos. E depois, claro, você pode olhar para sua própria obra e falar:

Na boa, tente experimentar algo em que o sucesso não é medido pelo resultado final, mas pelo processo. O sucesso é você parar e fazer isso, com as suas mãos. E depois, claro, você pode olhar para sua própria obra e falar:

“Ficou uma merda. E fui eu que fiz. Massa.”

Caso você seja viciado(a) em produtividade também pode escolher algo com menor risco e maior chance de aproveitar de forma dupla o tempo. Quando preciso de algo assim, cozinhar é minha… coisa.


Descobrir outros caminhos

Acho sensacional existir um conceito próprio para designar ambientes criados para as pessoas se socializarem e estabelecerem conexões, redes, interações.

É aqui o momento onde eu deixo claro: eu não odeio internet nem rede social. Eu só me canso da plasticidade e da falta de conexão que algumas delas têm com minha forma de ver o mundo e dos meus próprios interesses.

Para mim, a maior vantagem de uma rede social sempre foi – e me esforçarei para que continue sendo – uma oportunidade incrível para estabelecer o diálogo.

Diálogo, essa coisa sensacional e rara onde as pessoas genuinamente desejam aprender e evoluir juntas a partir da captação de experiências e perspectivas.

Assim, nos últimos tempos tenho me dedicado a descobrir outras, que apresentem maior sucesso com isso. Por exemplo, eu já usava, vez ou outra o Medium e o Twitter.

Mas recentemente o LinkedIn têm sido um bálsamo para consumo de conteúdo e trocas gostosas. (além de outras duas redes que tenho brincado e pretendo trazer aqui outra hora)


Ler, simplesmente

Eu fiquei na dúvida se deveria trazer esta de forma separada já que ela tem tudo a ver com aprender algo novo, buscar outras perspectivas e descobrir outros caminhos de consumo de conteúdo.

Mas, cara! Sinceramente. Não tinha como não trazer isso aqui. A leitura sempre foi algo muito presente na minha vida e eu realmente acho que têm um Q de liberdade.

Tanto pela possibilidade clichê mas real de explorar e conhecer novas coisas sem sair do lugar, tanto pela ideia de poder acessar novos conhecimentos.

(o que fica muito claro em “A pérola que rompeu a concha” – um dos mais recentes e marcantes que li e recomendo para estômagos mais fortes que o meu!)

Não tem desculpa pra não ler. A não ser que você seja daquele tipo que diz que não gosta mas nem tenta.

Fora isso… pega emprestado, vai na estante de alguma biblioteca ou da tia. Pede pro sobrinho escolher um da escola dele. Baixa baratinho pra ler no kindle ou no celular. Opção não falta.

Aqui, mesma lógica de como tenho aprendido francês: um pouquinho todo dia já significa um avanço enorme depois de uma semana. Cada vez que eu iria pegar o celular por pura bobagem, eu lia.

Gostooooso demais! #vidememe (do Garoto da Caneca que não lembro o nome, me ajudem).


Se presentear

Eu sei que você pode achar irresistível ler isso com a voz de algum vídeo cafona motivacional (e esse papo tá, cada vez, mais pipocando por aí.. então você pode sim querer revirar os olhos).

Mas serião: qual foi a última vez que você se presenteou com tempo? Sabe? Tipo, que você ligou um som e se preocupou só em ouvir aquela música.

Que você só parou na frente da janela e observou as coisas rolando lá fora. Que você olhou pra dentro. Que você se alongou ou deu aqueeela espreguiçada ‘fora de hora’ ?

Nesse mundo maluco que a gente têm mergulhado, nada pode ser melhor que esquecer o desespero por alguns minutos e escolher a si mesmo.

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6 lições de Ted Lasso que tornam qualquer pessoa melhor

Ted Lasso, uma série da Appe TV, esbanjou premiações no Emmy. Mas não é sobre as brilhantes atuações ou roteiros que vamos falar aqui.

Eu assisto muitas séries e filmes e o critério principal para escolher meus preferidos é o quão verdadeiros e complexos são os personagens e seus dilemas. Afinal, sou apaixonada pelo que as histórias podem nos ensinar sobre como viver melhor.

Então, desde o lançamento acompanho e fico pensando nas várias abordagens que esta produção carrega. E decidi que a forma mais completa e útil de falar de Ted Lasso é mostrando que qualquer pessoa pode se tornar alguém melhor – profissional ou afetivamente – incorporando alguns comportamentos básicos.

Autenticidade

Ted Lasso se constrói sobre a ideia de um técnico de futebol americano, que, junto com seu parceiro, Beard, vai parar num clube de futebol ‘normal’. Não só isso: na Inglaterra, um país culturalmente cheio de ressalvas com os Estados Unidos, de onde ele vem.

Ted é uma personificação de como a autenticidade é chave nas nossas relações e conquistas. Ele chega sem saber nada sobre futebol, sem conhecer a cultura inglesa, e… sem nenhuma vergonha de assumir isso e ser ele mesmo.

Faz piadas. Esforça-se em ser aceito, querido, valorizado – mas jamais abre mão de ser ele quem é para isso.

Assim como Beard, que faz amigos mesmo sem falar muito. Ou Roy, que tem um carisma pessoal conflitante.

Propósito

Em Ted vemos aqueles homens, que chutam bolas, e suam e fazem cara de maus, e sentem dores, e cospem no chão e xingam, e comemoram jogos, e brigam ás vezes.

Eles amam jogar bola.

Porém, por conta das pressões da vida, da necessidade de apresentar resultados e de exercer o papel que o time espera de cada um, podem esquecer por que estão ali.

Em vários momentos a história nos apresenta essas dicotomias. Mas, até agora, a cena com o novo capitão. Carregando o peso de ser comparado com seu antecessor, que não só era respeitado pelo time como amado pela torcida – começa a desenvolver um comportamento de liderança imperativo.

Ele então é levado para um campo de futebol de ‘rua’. Tenso e com raiva ele é driblado e humilhado – ali ele deixa de ser capitão do time local. Ele é só um cara, apanhando feio.

Cansado e confuso ele é lembrado que antes de ser jogador profissional e ganhar por isso, ele chutava bola com os amigos porque era divertido. Lembrete que faz com que ele volte pro campo mais leve e, claro, dê seu show.

Postura

É muito legal ver e aprender sobre postura em Ted Lasso. Porque, como mencionei, a construção dos personagens é o principal valor da série. E, nela, podemos ver como nossa postura interfere nos resultados que buscamos e que conquistamos quando interagimos com o mundo.

Eu escolheria dois momentos para exemplificar isso. Um, quando Nate, subjulgado e com desejos sempre negligenciados, finalmente passa a adotar para si uma postura firme e decidida para conquistar o que deseja.

Outro, é quando Jamie Tartt tem o aval pra “ser babaca”. Ele carrega o estereótipo do jogador-estrela: egocêntrico, prevalecido, convencido e irritante. Mas depois de um declínio na carreira, é aceito novamente no time desde que ‘se comporte’.

Tudo parece ir bem. Exceto pelo fato de que, ao abandonar totalmente sua natureza agressiva em campo, começa a dar muito espaço para o adversário crescer no jogo.

Então ele finalmente é estimulado a explorar o seu lado mais confiante em momentos oportunos, para desestabilizar o adversário. Essa mudança de postura não só favorece o time, como o desempenho dele em campo.

Vulnerabilidade

Eu sei: você tem ouvido sobre vulnerabilidade sobre aí. Mas é inevitável reconhecer que foi um fio condutor da série. Desde os primeiros episódios vemos como cada personagem interage com este comportamento e os desdobramentos destas escolhas

Embora ficcional, podemos ver vários pessoas que conhecemos ali, e como nós mesmos lidamos com nossas imperfeições e medos.

Vemos Rebecca gerenciando o medo da rejeição, os entraves sociais e os bloqueios transacionais de carreira e papel na empresa. Mas também vemos Keeley se expondo, ora sofrendo, ora sorrindo, mas sempre disposta a entregar-se a qualquer projeto que deseje.

(e vemos cenas sublimes de vulnerabilidade masculina que não posso contar porque me comprometi a não dar spoiler.


Empatia & Alteridade

Como qualquer situação nova, logo no início da trama, já começamos a escolher nossos preferidos: para amar e detestar. Porém, precisamos lidar com alguns tapas na cara sutis (ou nem tanto) que a série oferece.

Ela vai mostrando que todo mundo tem um passado, uma história. Uma base sob a qual se tornou o que se tornou.

Os personagens não são colocados como vítimas das circunstâncias, mas sim como o resultado de um conjunto de escolhas feitas diante das suas experiências.

E é verdade que nem sempre, nas nossas relações, podemos conhecer o histórico das pessoas, entender porque elas são como são.

Mas a série nos ensina que sempre podemos lembrar: você tem todo direito de não gostar de alguém, mas toda a liberdade para considerar que esta pessoa tem seus próprios calos.

Humildade

A vida é cheia de valentões. E mesmo que você seja ou já tenha sido um, você não está escape. Por isso, é preciso escolher como você quer lidar com isso – sem se tornar parte do problema.

Esse é o dilema de Nate, um garoto tímido e apagado da equipe do Richmond. Ele é constantemente ridicularizado, negligenciado e destratado por outros personagens. Até que a situação muda e ele se sente mais confiante.

Mas ainda existem desafios sociais que o incomodam. Então ele passa a usar sua nova influência como armadura para explorar quem demonstra qualquer sinal de ‘fraqueza’. Fica claro que Nate faz isso como forma de compensar sua própria ‘fraqueza’.

Logo, ele passa a se tornar alguém que não gosta. Quando lhe avisam sobre isso, ele toma algumas atitudes que mostram que é possível ser amado e respeitado sem ser rude e arrogante.


E aí, qual sua lição preferida?

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Quem te inspira? – mulheres reais

Como sempre, foi devanear um pouco mas continua que você vai entender como a inspiração e as mulheres formam um bloco compacto e firme na minha vida.

Afinal: quem te inspira?

Essa foi a pergunta com que me deparei ao lembrar de preencher um diário para cinco anos que ganhei de presente de mim mesma no final de 2017  (que, inclusive, é algo que recomendo a todos, porque é uma ferramenta deliciosa de autoconhecimento e reflexão).

(ta, tudo bem que eu não respondi no dia certo e mudei desde o início algumas perguntas que não faziam sentido)

Enfim. Lá estava eu. Pensando naquilo que me inspira.

Então lembrei do workshop de Repertório Criativo que participei com dois mestres incríveis – o Diego Piovesan e o Timóteo Farias.

Em um dado momento fomos “desafiados” a definir parâmetros para nossa bagagem criativa. E um destes pilares eram pessoas que nos inspiravam.

Na ocasião, considerando o objetivo da tarefa e o viés artístico considerei escritores e pintores.

E foi legal notar que em todas as minhas fases, praticamente as mesmas coisas me inspiram: escritores, pessoas da minha vida, artistas, a natureza, o silêncio, a música, a água. Mudam-se os nomes, mas não as “coisas”.

Porém, naquele momento, de responder no caderninho, pensando mais introspectivamente sobre essa questão, percebi que ela poderia ser muito mais rica e cotidiana do que eu havia suposto: eu nem precisava ir longe, romper fronteiras, para encontrar inspiração.

Há pessoas inspiradoras muito, muito perto de nós. Se tivermos um olhar atento, fica fácil perceber.

Assim, decidi que este seria o primeiro post sobre o assunto: o que mais me inspira e me importa no mundo, as pessoas, reais, da minha vida.

Beleza.

Só que ao processar quem eram, e percebendo logo de cara que eu não conseguiria falar de todas em um único post, vieram muitas mulheres.

Portanto, estava mais que decidido. Eu já havia homenageado alguns homens inspiradores. Então olhei com gratidão para essa ideia.

Porque, por acaso e sorte, sou rodeada de grandes mulheres. De mulheres inspiradoras. De mulheres reais. 

Das mulheres mais do que da minha vida, mas da vida delas. Mulheres que criaram e pertencem à própria história. 

Porque temos a tendência de avaliar e interpretar tudo com base em uma perspectiva muito limitada – nosso escopo, o momento específico em que surgimos na trajetória de alguém ou de um determinado acontecimento (inclusive já falei sobre isso aqui).

Então, sei lá, tentei cuidar para não subtrair tanto.

Não posso negar que todas exerceram papéis significativos na minha jornada, muitas vezes estereotipados.

Ainda assim, eu gostaria de trazer à luz os seres-humanos por trás de todos estes “personagens”.

Afinal, ter tido a honra de vê-las exercendo determinadas “funções” em minha vida não me dá o direito de limitá-las a isto. 

Então, é verdade. Continua sendo sobre inspiração, mas este se tornou um texto de agradecimento e homenagem.

As pessoas que menciono aqui merecem o mundo.

No entanto, como o mundo está um pouco longe das minhas possibilidades, espero ao menos ser justa com cada uma delas.


MILSINHA

Milsinha. Mamãe. Quem ouve alguém chamando ela assim, sem conhecê-la, está propenso(a) a logo pensar em uma senhora calejada, baixinha, de olhos bondosos e sei la, tricotando numa cadeira de balanço.

Nada contra nenhuma dessas coisas. Justiça seja feita, porém (ainda que, provavelmente, ela não goste da exposição)…

Vou precisar dizer: Milse é durona.

Na família brincam ao chamá-la “general” e, em todos os ambientes profissionais pelo qual já transitou as pessoas sempre a tratam e a respeitam como líder.

Porque ela é firme e parece sempre saber o que fazer em praticamente qualquer situação.

Pode ser mesmo até meio estranho (para os outros) o fato de alguém chamar ela de “mamãe”.

O que poucas pessoas sabem é que esta mulher, também minha mãe, é incrivelmente doce.

Muitos acreditam que a força que ela tem – ou a habilidade em demonstrar ter – vem das coisas difíceis que já precisou viver.

Sim: minha mãe viveu coisas muito difíceis que, só de imaginá-la vivendo, penso em como ela conseguiu – e em como eu gostaria de já existir e ser adulta para ajudá-la.

E é claro, embora algumas derivaram de escolhas, outras ninguém pôde prever ou controlar – que são justamente o grupo de coisas que nos põem a prova e testam nossa resiliência.

Tudo foi muito precoce: o desmembramento e mudança de padrão de vida da família, o início da vida adulta – quando ela se mudou aos 16 anos, sozinha, buscando um futuro melhor e sobrevivendo em uma cidade completamente diferente – ou a dor de perder um dos irmãos são só alguns exemplos claros do potencial sobrevivente dela.

Não vou detalhar muito porque não quero quebrar o encanto de descobrir as verdades por detrás dos mistérios que ela guarda tão bem e só vai dosando a quem deseja.

Só posso dizer que ela superou tudo e saiu de cada desafio uma pessoa ainda mais preparada. Como um gato, ela parece cair sempre em pé. Então é natural a crença de que é dai que vem tudo que ela mostra ser.

Mas, para mim, não é.

Quando digo que ela supera tudo, não é porque ela não leva as próprias feridas bem guardadinhas.

É porque ela é capaz de continuar, mesmo depois delas, mesmo com elas. O que nos leva ao mesmo ponto:

Para mim, a força da minha dessa mulher impressionante vem da sensibilidade que ela tem em enxergar a beleza do mundo, em olhar através das coisas, e não só por meio delas.

Em viver apesar dos obstáculos e dos acontecimentos ruins. Minha mãe (em algum momento me senti no direito de encher a boca para falar) sempre consegue fazer isso.

Ela pode até ser caos. Mas também é ordem. Eu não sei se ela sabe disso. Acho que, até esse momento nem eu tinha percebido ainda…que essa é a melhor forma com que ela me inspira.O que significa que existem muitas, muitas outras. Por exemplo: lições importantes sobre como definir as prioridades e fazer bem feito tudo que tiver que fazer.

Ainda assim, não são exatamente por essas razões que ela me inspira.

A Milse, que sim, entre várias outras coisas, também é minha mãe, me faz pensar no tipo de mulher que quero ser – não só no tipo de “mãe”, se um dia eu me tornar uma.

O tipo de mulher que se vira e sempre sabe o que fazer, que não se rebaixa – porém sabe, com inigualável elegância, se submeter aos caprichos da vida.

Que tem habilidade em criar estratégias e resoluções sem deixar de ser incrivelmente amorosa, perceptiva e disponível para quem precisa, na hora certa.

Ela me faz tocar o infinito das probabilidades e das escolhas. Visualizar o que ainda está distante, mas não é inalcançável.

Se você tiver a sorte de estar ao lado dela em uma batalha, saiba que tem as melhores chances de sobreviver: porque ela não se deixa abalar nem para no meio do caminho enquanto as bombas estão sendo lançadas.

Ela dá um jeito. Chorando. Sofrendo. Com dor.

E nesse movimento arrasta, quem precisar, junto com ela, pra longe do perigo.

Pergunte a qualquer um que a conhece e você saberá: uns são caos, uns são ordem, uns são cais. Ela? É água.


A SENHORA ANTONIETA

Antonieta é uma das mulheres mais imponentes aqui. Porque ela não é uma raiz de inspiração. Ela é a própria árvore.

E foi tão difícil dar uma imagem ao tópico, que escolhi uma foto dela mesmo.

Veja: se você procurar por “matriarca”, por exemplo, encontrará talvez a foto de uma senhora frágil e idosa – ou de uma elefante já ferida pelo tempo.

E não é assim que eu a enxergo – embora, obviamente, ela tenha feridas do tempo e seja já frágil e idosa.

Por outro lado, se procuro por “power woman”, me deparo com mulheres de salto fino, maquiadas, cabelos esvoaçantes e talvez até vestidas para encarar o mundo corporativo.

Tentando abrasileirar e buscando por “mulheres fortes” uma infinidade de imagens-citação começam a se apresentar.

Ta, vamos parar de revelar meu perfil, ás vezes vergonhoso, de busca com base nos resultados.

Mas não. Nada disso se encaixa e representa.

Dona Antonieta é a própria Senhora do Destino. Foi o mais perto que encontrei.

Uma mulher, saindo sozinha das suas raízes, de tudo que ela conhecia e sabia como certo, para mudar o rumo não só da sua própria história como daqueles que viriam.

Então, imaginei que não faria muito sentido usar a foto da Suzana Vieira com as criancinhas: minha avó tinha ainda mais criancinhas e uma imagem para lá de real.

Como antes, opto por chamá-la pelo nome porque preciso que vocês entendam: essa mulher não é simplesmente minha avó.

Sim: guardo lembranças deliciosas de suas brincadeiras, gargalhadas e sua presença sempre marcante e amorosa.

Mas tive com ela menos contato ao longo da vida do que gostaria, nos seus anos mais saudáveis.

As características, porém, ela manteve, apesar do tempo: com seus quase 90 anos, é revigorante vê-la contar com precisão detalhada os retalhos essenciais da sua trajetória.

Então, olhando-a como personalidade, admiro cada pedaço da história que teve que viver.

Além do mais, achei muito justo mesmo falar da mãe da minha mãe (não resisto, tipo: ei, ta vendo aquela pessoa foda ali? é minha mãe/vó).

Adendo: Devo dizer que a mãe do meu pai também mereça estar aqui, mas eu, infelizmente, não conheço muito da história dela ainda. De quem ela era e do que viveu antes de ser mãe do meu pai ou minha vó. E acho injusto resumi-la assim, somente do papel de minha avó. 

Talvez, sobre a Senhora Antonieta, não exista nada muito exclusivo. Nada que tantas outras senhoras não passsaram.

Mas isso não tira o mérito de quem ela se tornou.

Nascida em uma família abastada num canto de Minas Gerais, tinha pais e avós donos de uma propriedade digna da extensão territorial de uma pequena cidade.

Ali ela viveu grande parte da “primeira vida”. Vale dizer que, ao contrário de muitas crianças da época, em comparação contextual, ela tinha um relacionamento afetuoso com os pais.

E, vez ou outra ela, irmãos, primos e amigos iam até “a cidade” onde aconteciam quermesses e coisas desse tipo.

Foi lá onde ela conheceu o Célio com quem, alguns meses depois se casou, em uma igreja católica (como “bons católicos” que eram de ambas “boas famílias”) quando ela tinha cerca de 17 anos.

Pouco tempo depois, porém, em um acidente terrível, ela veio a perder o pai – homem pelo qual ela tinha muito apreço e que, mesmo depois de casada, impunha-se como uma figura presente.

Foi um episódio pesado e horrível para todos e ela diz, com olhos brilhantes e marejados, lembrar-se se cada minuto que transcorreu naquele período.

Dando um avançar aqui na história…Depois de algumas provações e do fato de quase ter perdido uma filha optou por doutrinar sua fé sob outra perspectiva religiosa.

O marido “não aprovou” e ela suportou anos de perseguição e abusos de poder dentro daquilo que ela deveria poder chamar de lar, mas que deu lugar a proibições, agressividade e traições das quais ela nunca esqueceu.

Poderia-se até dizer que ele não era de todo o ruim. Tinha seus próprios demônios e fez o melhor que pode. Mas isso, definitivamente, foi longe de ser, pelo menos, suficiente.

Eu gostaria que ela não tivesse que ter passado por tudo isso.

Que ninguém passasse por nem um pouco disso. Todos deveriam poder fazer suas próprias escolhas, sem obstáculos. Mas o mundo, ás vezes, é mais cruel que isso.

E foi como ela lidou com tudo que mudou todo o curso da história de quem veio depois dela. 

Porque poderíamos ser uma família espelho de outras famílias: onde um homem manda e as mulheres obedecem. Onde crianças e mulheres esperam um homem chegar, um homem sentar, um homem comer…para então comerem, viverem, sorrirem – se for dada a “liberdade” para isso.

Onde as manias estranhas de um homem, e seu relógio, cotidiano e biológico, determinam todos os rumos e todas as coisas e, sobretudo, das mulheres ao seu redor.

Mas quando aquela realidade se tornou dolorosa demais, esta mulher a quem tenho a honra de ter como avó materna, decidiu dar um basta e entendeu que aquele casamento já havia deixado, faz tempo, seus propósitos de lado.

O Sr. Célio, por sua vez, se resignou em se afastar não só da esposa a quem jurou amar e proteger em quaisquer condições, mas também dos oito filhos – passando a ostentar uma vida que, perto da “primeira família” era quase de luxo, junto à nova mulher e suas filhas.

Não tenho intenção de manchar sua memória, mas estamos falando aqui da mulher mais importante da família – e nenhum filho, sobrinho ou primo irá negar a mesma versão da história. 

Já, “Dona” Antonieta, passou a trabalhar em triplo para dar conta de…tudo.

Com os filhos, mudou de endereço, de casa, de padrão de vida – só não mudou a fé.

Precisou e teve sabedoria e humildade para aceitar a ajuda de familiares – sem absolutamente nunca deixar de ser mãe.

Educou todos os filhos como acreditava ser a melhor maneira e a nenhum deles faltou estudo, roupas, comida, cuidado, proteção e apoio – mas não pôde dar-se ao luxo de comerciais de margarina.

Aos homens da família, que até hoje preservam indestrutível respeito, admiração e reverência, doutrinou o mínimo, que escapa a tantas casas “modernas”: respeitarem as mulheres.

Às mulheres, do melhor jeito que pôde, ensinou a se amarem e se respeitarem acima de tudo.

E é assim até hoje: basta que ela saiba que alguma mulher da família começou a namorar, que cria o momento para chamá-la de canto e fazer a pergunta primordial.

“Ele te trata bem? Ele é bonzinho com você e com os outros? Tem que ser, viu?! Se não for, você me conta que vou dar uma surra nele.”

E não pára aí. Secretamente ela também chama os proponentes para dar um aviso do tipo o-óbvio-precisa-ser-dito:

“Você cuida bem da minha neta/bisneta, viu?! Trata bem ela, hein?!”

Se, por outro lado, algum homem da família apresenta ou menciona a presença de uma nova pessoa em sua vida, ela é resoluta em dar um suave puxão de orelha antes mesmo de qualquer postura inadequada.

As palavras mudam, mas o recado se preserva igual: respeite-a sempre!

No mundo dela, não existiram casais que não fossem homens e mulheres.

Mas eu não tenho a menor dúvida de que, se precisasse, ela “daria uma surra” em qualquer pessoa que não estivesse disposta ao mínimo: tratar bem suas mulheres, como ela deveria ter sido tratada pelo único homem com quem casou.

Isso pode parecer natural e evidente para muitas de nós, hoje (náo tanto quanto gostaríamos).

Pode ser possível (para não dizer urgente) a todas as mulheres. Principalmente solteiras, de classe média, sem filhos ou enormes responsabilidades – exceto aquelas que impomos a nós mesmas.

Mas minha avó está prestes a completar nove décadas. Eu não imagino o quanto isso custou para ela no interior do Brasil de 1974, com oito filhos para criar e muito mais gente que hoje para julgar: ela não buscava destaque; frases de efeito; ideologias.

Não desmereço nada disso, mas o fato de ela simplesmente saber e sentir tem seu mérito: ela não queria provar nada para ninguém, ela só queria ter uma vida minimamente digna.

Ninguém nunca lhe ensinou claramente. Ela nunca leu nada a respeito. Nunca fez uma faculdade. Tinha como livro de cabeceira a bíblia.

Se ela tivesse perguntado às mulheres que conhecia o que deveria fazer, quantas delas teriam lhe dito, naquela época: “Força Antonieta. Dê um basta nisso. Defenda aquilo que acredita e não permita que ninguém fique no seu caminho. Você não precisa disso.”?

Talvez eu não esteja sendo totalmente clara, mas o que quero dizer é que a realidade é quase sempre sem bússola e mapas.

É preciso ter uma imensidão dentro de si para dar grandes passos.

Decisões que os outros nem sempre vão entender, aceitar ou apoiar. Decisões incomuns.

Decisões cujos louros não se espera. Mas cujos resultados nos basta confiar que serão os melhores, um dia.

E para isso, é sempre bom tentar ouvir mais as vozes que, com o som do mundo e dos outros ignoramos, independentemente das suas crenças: do instinto, do coração, de Deus.

Ela me inspira porque me lembra que, ás vezes, aquilo que acreditamos e repassamos pode ser decisivo na história de alguém. Foi na minha. Na da minha mãe e, tenho certeza, em todas as pessoas da nossa família.

Obrigada, Senhora Antonieta do Destino. Você é a melhor inspiração feminina que eu poderia ter. Nenhum discurso, nenhum livro, nenhum textão de facebook, nenhuma citação, foto ousada ou série de TV vai ser melhor do que você para me ensinar o mais importante.

Tomar as próprias decisões, sobretudo as ousadas, é um ato de coragem. Sendo mulher, quase nunca será fácil, raramente haverá apoio. Mas será sempre possível. 


A MARILDA

A Marilda não entrou na minha vida. Ela sempre fez parte dela.

Foi o primeiro grande presente que eu ganhei, antes mesmo de nascer.

E, na minha infância, habilmente alternava entre os papéis de vilã e heroína como, provavelmente, toda boa irmã mais velha.

Capaz de enfrentar até o durão do meu pai, essa paranaense baixinha, brava e generosa, merece ser musa inspiradora sim, Senhora! 

Dona do silêncio mais imponente e ensurdecedor – e dos seus próprios mistérios – não há ninguém que resista ou não deseje sua presença leal e autêntica. 

A Marilda é de poucas palavras, gargalhadas contagiantes e coração enorme.

E ela é de verdade. Quando ela chora, nenhum choro comove tanto. Quando ela ri, o mundo inteiro ri com ela. Quando ela está brava, sem emitir um único som, ela é capaz de esmagar até as paredes.

Se você tem a sorte de ganhar um abraço da Marilda ou de vê-la lacrimejar, você sabe do que ela é capaz de fazer por aqueles que ela decidiu amar. 

Se tem alguém que me lembra um leão enfurecido defendendo algo importante, esse alguém é a Marilda.

Não a provoque. Não ouse ofender os seus. Você entenderia o que quero dizer.

A fúria dela em defender aquelas poucas coisas e pessoas das quais ela não abre mão…é inspiradora.

Ela me inspira me mostrando todo dia que, por este pouco e seleto, pelo qual estamos dispostos a lutar, vale até sair ferido, vale qualquer consequência, qualquer desafio.

De que, defender este pouco e seleto que escolhemos preservar, ainda que esteja na mão de outras pessoas, poderia também estar na mão de ninguém: afinal estará, primordialmente, nas suas.

Pode ter um batalhão ao seu lado, defendendo as mesmas coisas, mas ela, sozinha, encararia a guerra e daria a vida por aquilo.

Ela sabe o momento de calar. E o momento de agir. Porque escolhe bem suas batalhas. E tem uma ferocidade que eu nunca vi, mas que vêm do amor. É impossível não se sentir inspirado(a) por isso.


A LAIZ

Caçula de uma família de três irmãs e um pai babão a Laiz cresceu graciosa como uma princesa moleca de olhos azuis.

Quando criança, despertava sorrisos por onde passava. Impossível dizer não.

Mas não queira estar numa luta contra ela, que é capaz de ameaçar a própria irmã duas vezes seu tamanho com uma tesoura e de se manter firme e forte nos piores momentos.

Essa é a Laiz. Uma pessoa que não se faz de rogada e não se permite ser definida.

Definir a Laiz é como pedir que ela mostre um novo lado: totalmente dela, mas totalmente desconhecido.

É pedir para perceber que a vida é um segredo a ser descoberto, explorado.

Ela pode até não saber, mas dentro dela existe sempre uma peça guardada capaz de mudar o próprio jogo.

Se ela não tá feliz com alguma coisa, o mundo inteiro nota.

E não importa o que o mundo inteiro diga: só ela sabe que cara, que carga, que carta jogar – e a hora certa de fazê-lo.

Quando ela joga, tudo muda. E pessoas que não a conhecem tanto, ficam: “Nossa, quem diria…a ‘Laizinha’, hein?!”.

Se enganam muito. A Laizinha pode ainda não ter chegado a todas as pecinhas secretas, que protege nela mesma, acerca de algumas coisas práticas da vida (ainda). Mas ela sabe se virar sozinha.

Ao contrário do que muitos podem imaginar, ela não é do tipo que senta na calçada quando começa a chover, nem do tipo que se entrega ao tentador e romântico personagem alisando as gotas pela janela.

Embora pense bastante antes, ela é do tipo que atravessa a chuva. E leva todo mundo junto.

Ela não é nenhum anjo. Ela não é princesa. Ela não é criança. Ela pode precisar de um tempo.

Mas quando decide assumir as rédes da situação, sai de baixo.

A Laiz me inspira, definitivamente, pela sua capacidade de auto-superação.

A capacidade de, embora com medo da tempestade, se lançar para fora no meio do temporal.

Por que?!

Porque ela simplesmente pode.

E é claro que isso é inspirador. Porque você pensa:

“Ei! Eu também posso, não é?! Não é porque acreditei durante tanto tempo nisso, que isso é verdade, que agora sou refém disso. Acho que…Acho que…talvez…

eu-também-posso.


MARIA ANGÉLICA

Vou ser diretona ao ponto.

A “Maeca” me inspira por sua incrível e infindável capacidade de amar os outros.

De descobrir novos espaços no seu coração para acomodar mais um – como quem encontra lugar no sofá ou na mesa para alguém (o que ela faz constantemente, porque todo mundo quer estar perto dela).

Eu sei, eu sei. Parece que estou objetificando o papel dela na minha vida, se resumi-la a “Tia Maeca”.

Que o que penso ou sinto sobre ela é apenas a visão de uma sobrinha de olhar limitado.

Mas se você conhecesse ela, você entenderia que “Tia Maeca”, “Maeca” ou “Maria Angélica” tem a mesma característica marcante, não importa o contexto e as pessoas envolvidos.

Meu-Deus. Como essa mulher ama. “Apesar de”, “mesmo com”. Poucos são os limites do seu “coração” para amar.

Na verdade, é difícil dizer se ela inspira pela capacidade de amar, pela humildade ou se ambos não se tratam da mesma coisa.

Essa mulher, que passou por coisas não-ditas, que viu e viveu tanto que não gostaria e não merecia, ainda assim, foi capaz de resistir em sua profunda humildade e amor.

Ela poderia ter se rendido. Se rendido ao rancor ou à mesquinharia. Ou poderia…sabe? Ter se fechado. Ter se tornado uma pessoa inalcançável. Mas não.

No seu íntimo, num lugar e num momento que talvez nem ela tenha se dado conta, ela escolheu amar.

Estar na vida dela é como o cheiro do café recém preparado. Como chegar em casa.

Como achar um lugar quente e confortável para…ficar. Como quando estamos com muita fome e ganhamos um prato de minestra deliciosamente fumegante e perfumada.

Quando nos sentimos horríveis por alguma razão e encontramos tudo que não fomos generosos o suficiente conosco para dizer.

É achar uma porta sempre aberta que nos faz sentir bem.

Amar de verdade as pessoas, com toda a humildade que isso exige, com toda a entrega que isso exige.

Podem dizer que amar assim é um convite aos que alimentam más intenções. Talvez seja.

Amar assim carrega seus próprios riscos. Riscos que quem é Tia Maeca escolhe carregar. 

Porque quem ama asssim não espera algo em troca. Quem ama assim não ama para ganhar algo – se não, não seria amar.

Então, é isso.

Essa mulher, que no silêncio, numa ingenuidade adulta e realista, nos sorrisos gentis, e no olhar duro – que ás vezes distribui sem dó e deixa todo mundo nervoso – me inspira amando, impecavelmente, cada um que cruza seu caminho e se mostra pelo menos um pouquinho disposto a ser amado(a).


PRÁTICA

dá um play numa música que acho que tem muito a ver, e já aproveita para conhecer o belíssimo trabalho da inspiradora Karoline Kroib, artista dona da arte acima 😉

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

É inevitável que a prática de hoje seja essa. Porque adulamos tantos desconhecidos. Fazemos propaganda daquilo que nos inspira. Enquanto, quase sempre, ao nosso redor, fervilha inspiração. Você pode não ter muitas mulheres inspiradoras na sua vida. Mas, se olhar atentamente, encontrará muitas pessoas que te inspiram em algum sentido. Por que, então, não avaliar melhor isso? E, melhor: que tal fazê-las saber? Faça-as saber sempre, o máximo que puder.

Continue lendoQuem te inspira? – mulheres reais

O guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

Nada como começar do começo. E final de ano é sempre um incentivo à maioria das pessoas, porque os finais tendem a trazer, junto à vergonha e culpa constantes dos últimos trezentos dias, uma autocrença e determinação instantânea (que aparentemente tiram férias no resto do ano).

As resoluções de final de ano são, por isso mesmo, o clichê que protagoniza piadas e artigos como estes – principalmente entre 20 e 31 de dezembro de qualquer ano.  E eu não tenho absolutamente nada contra elas.

Para ser bem honesta, eu e as listas somos íntimas há anos e, seguindo com a verdade, não tenho a menor pretensão de abandoná-las tão cedo.

Portanto, saiba que não quero também mexer nas suas. Mas tenho aprendido que existe, nessa obstinação toda, coisas que costumamos ignorar.

Como já contei aqui ou aqui houve um período em que eu acreditava que coisas como alta performance, produtividade, desempenho, disciplina, comprometimento e total entrega ao trabalho eram, não somente o único caminho do sucesso, como o único caminho para uma vida minimamente decente.


Sente-se, vou servir uma caneca de ansiedade e um pratinho de angústia

Assim, durante um tempo eu vivia entre a corda bamba da vergonha e do empenho.

Me cobrava o tempo todo e me punia com rigor todas as vezes que eu não cumpria minhas próprias (altíssimas) expectativas.

Isso era bem ruim. Embora o maior problema fosse eu nunca ter reparado a estrutura que constituía aqueles tempos – que, de um modo ou de outro, começaram ali pela sexta ou sétima série e não me abandonaram até um bocado depois do término da faculdade (se é que se vão completamente).

Digo “de um modo ou de outro” porque esse padrão de comportamento assumiu várias facetas.

Uma das primeiras que recordo brotou quando o período escolar começou a complicar e eu não aprendia de forma alguma como fazer uma simples divisão.

Meus pais tentaram de todas as maneiras e, mesmo quando passei a fazer os exercícios sozinha eu não entendia como aquilo funcionava realmente.

Em matemática sempre fui péssima e, pelo menos durante todo o ensino fundamental, me culpei por isso. Porque sempre tive excelentes professores desta disciplina que, hoje, acho fantástica.

Além disso, eu tinha aulas particulares, ia aos plantões do colégio e alguns amigos e colegas sempre se mostraram dispostos a me ensinar – além, é claro, dos meus próprios pais e da minha irmã mais velha.

Então, empenhava intensas vias sacras e, depois de tudo eu acreditava que recuperaria a nota.

Fazia as provas certa de que desta vez eu havia superado e ia começar a ascender com os números e fórmulas. Então, eu as recebia de volta com uma pontuação horrível.

Foi difícil fazer com que os outros acreditassem que sim, eu estava me esforçando, eu estava estudando e fazendo as atividades; que sim, eu estava prestando atenção e me dedicando nas aulas particulares.

E depois de um tempo, tornou-se ainda mais difícil: eu simplesmente deixei de fazer aquilo tudo. Afinal, se eu havia me esforçado durante mais de dois anos inteiros sem nenhum resultado, o cinismo parecia a melhor opção e eu comecei a fingir que não me importava.

Nessa época minhas notas – em todas as disciplinas – caíram absurdamente. Eu matava aulas, desrespeitava regras, não cumpria com nenhum acordo nem me dedicava a nada considerado produtivo.

Gastava minhas horas lendo escondida. Escrevendo. Pensando na vida. Andando por aí. Flertando – com pessoas e novas atividades – em uma competição pelo vazio (e, por que não dizer, até roubando um pouco do armário de bebida dos meus pais).

Segui me sentindo profundamente inútil. Eu desejava mudar, mas a culpa, a vergonha e a sensação de que eu não era capaz me prostravam.

Embora algumas pessoas possam dizer – como na época já diziam – que estas eram desculpas para a preguiça, outras que se sentiam e se sentem como eu sabem do que estou falando.

Até que, depois de algumas tentativas comecei a colher boas coisas. Encontrei coisas com que eu me dava bem e que eram, de modo geral, aprovadas, e me dediquei a elas com afinco. 

Adoeci algumas vezes e só “mais velha” compreendi que a origem era muito mais profunda. Em resumo, as etapas foram mais ou menos assim:

Ilusão
eu achava que era incrível e invencível;

Compreensão
…descobri que não era bem assim e tentei avançar;

Desilusão
mas coisas boas exigem uma constante de sacrifícios e dores com as quais não lidei bem;

Cinismo
então escolhi desistir delas e esconder minha frustração comigo mesma sendo uma imbecil;

Inanição 
quando cansei, finalmente deixei que culpa e a vergonha me consumissem a  ponto de me prostrarem;

Falsa gratificação e entrega total
comecei a descobrir coisas com as quais, após me empenhar, eu obtinha algum sucesso e entregar toda minha energia a elas;

Adoecimento e caos
tudo virou uma bagunça quando eu descobri que nada daquilo poderia realmente estar certo se vinha me fazendo tão mal.


Foi depois da sétima etapa ou, como costuma acontecer, depois do caos, que decidi entender um pouco melhor como eu funcionava e novas formas de operar, sem morrer cedo demais ou ter uma existência miserável dedicada exclusivamente ao nobre grupo de “coisas importantes”.

Então li, conversei, descobri novas metodologias e ferramentas – e, desde então, assumi um permanente estado de teste e aprendizado que têm sido riquíssimo. Por isso, achei justo compartilhar algumas das lições mais relevantes. 

Eu as separei, organizei e ordenei e pude ver claramente como cada uma deles foi transformadora para mim, mas é inevitável destacar que elas trabalham melhor juntas. Espero que você aproveite!

  1. O método não importa
  2. Fazer é o mais importante
  3. Todo recurso é administrável
  4. Significação e autoconhecimento
  5. Procrastinação e perspectiva
  6. O equilíbrio não existe
  7. Falhar é do processo
  8. A única chance

 

1. O método não importa

Não importa se você usa GTD, Bullet Journal, um bloco comercial que ganhou numa feira, aquele aplicativo revolucionário ou um guardanapo.

O método simplesmente não vai resolver se você não resolver antes algumas coisas na sua cabeça. E essa é, com certeza, a parte mais difícil.

Recomendo fortemente parar de gastar tempo com métodos e coisas complexas.

Ler um livro inteiro sobre algum novo método aprovado por celebridades e grandes nomes do empreendedorismo pode sim te trazer uma porção de insights poderosos.

Mas não será útil se você não estiver pronto(a) para entender que não é o fator determinante do seu sucesso numa nova e estupenda ideia de vida plena.

 

2. Simplesmente fazer é mais importante que planejar

O famoso 80/20 é determinante aqui. Eu achava que se planejasse tudo com argúcia e cuidado aos detalhes, as coisas se realizariam perfeitamente.

Eu não chegava a considerar que uma ação era composta de 100% de esforços e realmente acreditava que poderia planejar o máximo possível e realizar o máximo possível. E estava, provavelmente, apenas gastando minha cota de 100% com planejamento.

No fim, restavam apenas aqueles míseros 20%, temperados com um punhado de dúvidas, novas inseguranças e possibilidades.

Tenho tentado pensar menos e fazer mais e os resultados estão sendo menos desastrosos do que eu supunha: porque do chão não se passa e uma coisa louca é só uma coisa depois que você faz.

Isso não significa que estou defendendo a impulsividade. Ainda acho que o raciocínio deve ser usado com parcimônia, preferencialmente em situações de baixo risco. Mas para alguém que pensava demais considero um avanço maravilhoso.

Essa postura me tirou um pouco a pressão de obter resultados perfeitos – agora estou entendendo que chegar constantemente a algum resultado é uma ótima maneira de alcançar algo mais próximo ao que chamam de “perfeição”.


Chegar constantemente a algum resultado é uma maneira interessante de alcançar algo mais próximo do que chamam de perfeição.


Então…este blog não está perfeito, minha dedicação a ele não está perfeita, mas sempre que dedico alguma energia a ele, ela é distribuída mais para a ação do que para o planejamento, e isso é libertador.

Ah! E, na mesma lógica, não faz sentido gastar uma eternidade com planners e ferramentas de papelaria ou tecnologia incríveis, bonitas, “instagráveis”, coloridas.

Você não tem obrigação de “competir” com blogueiras e influenceres do mundo dos “bujos” ou concurseiros. Fica de boa: a personal organizer que você segue não vai descobrir se você não seguir à risca o que foi proposto. 

Aliás, mesmo que você fosse descoberto(a), boas referências sobre o assunto, como a Ana, do EuOrganizado, além de darem ótimas dicas são extremamente coerentes e reconhecem que nada é definitivo e aplicável a todos.

Porque medidas radicais raramente combinam com longo prazo. E tempo, energia e força de vontade são coisas preciosas demais para gastarmos com essa versão adulta e covarde de devanear com sonhos de uma existência perfeita. 

 

3. Todos os recursos são administráveis

Quando se fala em “recursos” normalmente pensamos em algo monetário, talvez por ser uma representação tangível de algo que sabemos que precisamos gerenciar.

Mas quando pensamos no que importa podemos determinar várias outras categorias de recursos indispensáveis.

Por exemplo: nossa saúde; dinheiro; nossa rede de apoio; tempo; nossas fontes de conhecimento e inspiração; nossa energia; nossa disciplina e comprometimento (ou nossa força de vontade); nossas horas de recarga e descanso; nossa paciência e calma, nosso pensamento estratégico, nossa empatia, nossa capacidade de dizer “não” e barganhar…

Todos estes são recursos, que podemos ou não precisar para alcançar objetivos que determinamos como significativos e relevantes.

Um exemplo claro foi um dia em que eu estava cheia de coisas que precisavam ser realizadas naquele tempo chamado “logo” ou “quanto antes”, apelidado carinhosamente também de “pra ontem”.

Meu marido me perguntou como aquela lista tinha crescido tanto e rapidamente.

Eu lhe disse que não queria dizer “não” quando me pediam, pois queria mostrar que dava conta de tudo. Mas que ele não entenderia, porque sempre dava conta de tudo. 

Então ele me informou delicadamente quão equivocada eu estava.

O ponto não é que ele dava conta de tudo. Embora ele tivesse conhecimento das pendências, era justo consigo mesmo e com os outros, deixando claro o que poderia ou não concluir dentro dos prazos estipulados.. 

Parecia fácil, com ele falando. Mas argumentei que, ás vezes, prazos e entregas de tarefas eram inegociáveis e apenas “tinham de ser”. E que me sentia culpada e com raiva de mim quando não era capaz. A resposta, parafraseada, veio como um tiro:

“Não existe isso. Eu sou um só e o tempo é limitado. Então, tem coisas que eu posso fazer e tem coisas que eu não posso. Eu deixo isso claro e, se preciso, peço que priorizem o que é mais importante. Se me dizem que tudo é importante, vou eu mesmo escolher o que acredito ser mais viável.”

Depois dessa conversa apreendi o óbvio: 


Se nem você conhece e administra bem seus próprios recursos e não é capaz de negociar e dizer não a si, não espere que os outros o farão. 


Portanto, tomar ciência dos recursos envolvidos nas tarefas que você precisa executar, e acompanhar como eles vêm sendo empregados, pode fazer uma baita diferença nos resultados que você busca.

 

4. Preocupe-se com significação e autoconhecimento 

Olha só, tenho uma coisa pra te falar…você não é um hamster numa roda meercenária de laboratório nem precisa protagonizar Charlie Chaplin à la Tempos Modernos.

Isso significa que você já tem autorização para pensar, ao invés de fazer por fazer. Mas depois de tantos milênios ainda parece uma honra.

Então vamos lá: que ser produtivo sem significado normalmente não é edificador. Quero dizer que, antes de criar listas, você deveria fazer perguntas:

O que é produtividade para você? O que realmente importa? Quais são suas prioridades?

Por que estas são suas prioridades? Por que você deseja ser produtivo(a)? Por que faz listas, usa aplicativos e outras ferramentas, porque busca ter um alto desempenho?

Qual o significado de tudo isso? Onde está a raiz da sua preocupação e dos seus objetivos? Que objetivos e preocupações são esses, de onde vêm? São seus ou de outras pessoas? São verdadeiros?

No final, que resultados você espera? Como você se vê convivendo e vivendo estes resultados? Todas essas coisas convergem ou são mera fantasia?

Entenda o que é realmente importante, e dê significado a isso.  

Quando você descobre estas respostas, fica mais fácil designar os caminhos pelos quais poderá exercê-las.

Você pode otimizar melhor seus recursos ao evitar contextos onde sua força de vontade (esse tópico mereceria um artigo inteiro, mas se quiser adiantar-se recomendo a leitura do livro “A única coisa”) será exigida para realizar aquilo com que não concorda ou não entende como importantes.

Por exemplo: se você gosta de ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade sócio-econômica e esta é uma vertical indispensável na sua vida, trabalhar em uma empresa sem este valor pode te desgastar bastante.

Enquanto trabalhar rodeado de quem se preocupa com as mesmas coisas (e busca caminhos para realizá-las) te deixa mais próximo do seu objetivo, mesmo que você seja marceneiro e trabalhe em um estúdio fotográfico.

Ou seja, se seu objetivo é ajudar as pessoas, podem existir diferentes maneiras de fazer isso, sem comprometer muito seu estoque de recursos.  

 

5. O ato de procrastinar não é inimigo e perspectiva ajuda muito

Cada um tem os próprios gatilhos para procrastinar e o seu jeito preferido de fazer isso.

E a pobre procrastinação acaba caindo na vala comum do desprezo: mas procrastinar ou não é uma escolha de cada um, e numa sentença a culpa quase sempre é do sujeito. 

Ainda assim, desejamos evitar o verbo. Porque normalmente, quando retornamos dessas (quase sempre não merecidas) férias, sentimos (de novo:) uma profunda culpa e vergonha.

Mas, depois de pararmos para avaliar os porquês e como evitá-los, ainda nos resta considerar o que rolou no período de procrastinação. 

Às vezes, é apenas o ócio criativo entrando em ação e isso ajudará a entender como seu modus operandis pode funcionar de forma mais fluída e gerar resultados melhores.

Mas olha só, nada de tentar se convencer de que aquelas longas horas que você passa “rolando” em alguma rede social, “atualizando” grupos de conversa ou de entorpecendo de nada são o exemplo perfeito do que to querendo dizer, ta bem?

Ás vezes, é verdade, procrastinamos por procrastinar. Porque estamos com preguiça, cansados, aborrecidos ou rebeldes. Ok, ok. Tudo bem. Faz parte. Depois a gente se acerta com o destino e com as consequências. 

Mas, algumas vezes, a forma com que fugimos de algo que decidimos não querer fazer pode revelar muito.

Eu, por exemplo, gostava de desenhar, refletir, ler e escrever – para não estudar. 

Primeiro porque eu havia concebido que estudar era algo detestável em que se juntava livros, lia-se muito, sentia-se sono, seguia-se o protocolo do que iria cair nas provas e não seria possível fazê-lo de outra maneira que não aquela.

Ou seja, era algo que eu devia evitar a todo custo…estudando. A perspectiva que eu tinha do ato de estudar era horrorosa.

É como a passagem criada por Mark Twain, do lendário Tom Sawyer – mencionado por Mihaly Csikszentmihalyi e Daniel Pink neste livro (que também recomendo muito). 

Ali pelo capítulo II das Aventuras de Tom Sawyer, o garoto é incubido de pintar toda a cerca da casa e tenta jogar o trabalho para outra pessoa, liberando-se assim para as atividades divertidas que deseja executar naquele dia ensolarado.

Sem sucesso ele têm uma ideia brilhante e passa a fazer a coisa com afinco e deleite quase artísticos transformando, aos olhos de quem passa, aquela tarefa maravilhosamente atrativa e irrecusável.

Dispensando a lógica malandra da cena e desconsiderando o fato de que era puro fingimento, não é tão difícil imaginar em como podemos usar isso no cotidiano.

Se quisermos, podemos nos convencer dos benefícios que uma determinada função pode nos trazer. 

Eu achava que “estudar” era algo chato que eu deveria fazer de um jeito chato para agradar aos adultos chatos e fazê-los parar de me chatear com coisas chatas da vida chata que queriam que eu levasse quando havia um mundo de coisas legais a espera de serem vividas.

Desde o início eu poderia ter facilitado muito minha vida se mudasse minha perspectiva sobre como aprender a estudar, gostar de estudar e estudar direito traria benefícios a mim, e somente a mim. Que tola. 

Por fim, depois, descobri que ler e escrever resumos poderia ser uma ótima maneira de estudar. Que refletir me ajudava a planejar apresentações melhores e defesas argumentativas relevantes.

E que desenhar era uma maneira fundamental de finalmente compreender a lógica por trás das fórmulas matemáticas que tentavam me ensinar.

A mesma coisa aconteceu com meu sobrinho, quando passei a ajudá-lo nas disciplinas que tinha dificuldade.

Ele sempre foi agitado e imaginativo. Quando tentava estudar pegávamos ele olhando para o nada, brincando com os lápis, livros e borrachas: procrastinando.

Mas e se, em algum lugar de sua mente, o modo como ele fugia daquilo que considerava execrável fosse exatamente a maneira pela qual poderíamos transformar aquilo em algo melhor? 

Portanto, quando passamos a usar objetos próximos da mesa de estudos, interpretar personagens e cenas históricas como quem brinca e rir muito com isso suas notas melhoraram bastante!

Aplicando a mesma lógica podemos descobrir uma infinidade de verdades no porquê e como procrastinamos e, talvez, ainda acharmos ali uma maneira menos desagradável de realizar coisas que simplesmente precisam ser feitas. 

Se, por exemplo, você costuma ser competitivo, pode usar isso a seu favor ao lidar com aquilo que não deseja mas precisa terminar logo. 

Ao transformar coisas chatas mas importantes em algo vantajoso você pode acabar descobrindo que pintar cercas é uma atividade na qual pode se dar muito melhor.


6. Equilíbrio não existe

Esta lição veio como uma pluma em um livro cuja indicação me marcou tanto quanto a obra, chamado “A única coisa”, do Gary Keller e Jay Papasan.

Embora eu tenha fugido um pouco da proposta dos autores, foi depois deles que eu finalmente pensei sobre a questão do equilíbrio e porque ele é uma ilusão.

Como sermos excepcionais em casa, quando dedicamos tanto tempo em sermos profissionais disputados e bem pagos para mantermos nossa família quando acreditamos ser nosso dever? 

Como ser pai ou mãe incríveis se desejamos tanto conquistar um cargo de liderança e grandes responsabilidades? 

Quando tentamos ser impecáveis em casa e estarmos presentes com mais frequência, simultaneamente não podemos fazer tantas horas extras quando julgamos necessário para ascender. 

Quando um pai ou mãe sai da apresentação do filho para atender a uma ligação importante da empresa não poderá ser atender a ambas as demandas com a mesma qualidade. 

Então é claro que precisamos escolher os extremos se quisermos ter sucesso.

Mas quais extremos escolher, em que momentos e por quanto tempo ficar por lá parece ser uma chave difícil de encontrar no palheiro da vida moderna, essa terra prometida onde tudo deve ser possível. 

Porque quando estendemos demais esses extremos, os espaços entre eles se tornam maiores, ficamos mais tempo entre eles.

Automaticamente, as outras coisas que estão fora desses espaços também são deixadas de lado por mais tempo e podem causar uma grande confusão quando voltamos a elas e percebemos que tudo se acumulou e se complicou à beça naquela borda.

Se, repetidamente, não voltarmos a tempo para as coisas, elas podem se tornar coisas mais importantes do que eram antes, exigir mais força de vontade e mais tempo. Criando um círculo vicioso.

Parece poesia quando lemos Keller e Papasan falarem sobre o equilíbrio:

“O ato de viver uma vida completa dando tempo ao que importa é um ato de equilíbrio. (…) O tempo gasto com uma coisa significa tempo perdido para outra. (…) Saber quando buscar o centro e quando buscar os extremos é, em essência, o verdadeiro princípio da sabedoria. Resultados extraordinário são alcançados por essa negociação com nosso tempo.”

Mas “ter uma vida equilibrada” é uma ilusão porque nada vem de graça. Não é possível conquistar o equilíbrio. Mas é possível tentar equilibrar-se na maior parte do tempo e do melhor jeito possível.

Entendi que é tão incoerente determinar o equilíbrio como objetivo, quanto estipular como meta ter um casamento integralmente apaixonado e feliz ou um trabalho satisfatório o tempo todo ou dinheiro e sucesso sem sacríficios.


Todas essas miragens se resumem em acreditar que haverá eterna colheira sem eterno plantio.

Equilíbrio é uma questão de sabedoria, paciência, comprometimento e disciplina – é uma questão de escolher quais batalhas lutar e fazer o seu melhor.

Você não poderá ter uma vida equilibrada o tempo todo entre sua vida profissional e pessoal – basicamente, não sem ser um pouco medíocre em alguma coisa, ou em todas.

Foi difícil para mim aceitar essa noção. Mas também inevitável. Porque é claro que “a mágica não acontece no centro, acontece nas bordas” como mencionam.

Mas como alcançar estes extremos quando existem tantos outros? 

Bem, a resposta é valiosa mas, relembrando a leitura, já ajuda lembrar que talvez o caminho seja simplesmente não esperar um equilíbrio perfeito, mas um balanceamento baseado no melhor possível

 

8. Falhar faz parte do processo

Eu sei que isso já está bastante disseminado por aí e eu prometo não citar a “historinha” do Thomas Edison. Mas não custa lembrar e reforçar, porque eu precisei ler e ser lembrada disso muitas e muitas vezes até finalmente assimilar.

Falhar é uma porcaria. Mas você pode simplesmente chutar isso para lá, disfarçar, sentar na calçada da vida e ficar chorando, martirizar-se e sentir-se um(a) bosta ou (mesmo depois de tudo isso) você pode se levantar e dizer: foda-se.

Quando eu falhava eu gastava muitos recursos sentindo raiva e pena de mim mesma.

Ok, para sermos bem francos eu ainda faço isso. Mas a proporção diminuiu e, quando eu consigo, imediatamente, transformar a experiência em aprendizado, me sinto muito mais forte e preparada para o que virá.

Na realidade, eu acredito que isso sempre acaba acontecendo, porque uma hora ou outra aquele monte de falhas vai se reverter em um olhar lânguido e apaixonado para trás, onde pensamos:


Uau! Como eu era trouxa antes. E como sou melhor agora graças a tudo que aconteceu.


Mas quanto menos adiarmos esse momento e pularmos a parte “dramática” da coisa, mais temos a ganhar.

Porque podemos voltar ao jogo mais rápido, lutar mais vezes e, quem sabe, degustar da vitória um dia.

Foi demitido? Beleza. Aprenda com os erros, considere o que faz ou não faz sentido para você e para o que você busca, avalie o que ganhou, agradeça internamente a tudo e segue o baile.

Terminou um relacionamento? Chore, fique triste, abrace o turbilhão de emoções. Faz parte da vida e é uma pena. Mas se doeu, é porque também valeu.

Perdeu alguém importante? Isto é horrível. Viva com imensidão cada etapa do luto. Mas chegará uma hora em que será necessário voltar a sorrir e lembrar de tudo que foi bom – porque sempre tem algo bom.

Acredita em mim. Eu falho bastante e, portanto, entendo disso. Embora eu não me orgulhe, sou ótima em falhar. 

Falhar me fez perder empregos. Amigos (muitos e dos melhores). Amores. Falhar me faz perder a oportunidade de me relacionar melhor com gente incrível perto de mim ou de viver coisas extraordinárias a partir de situações desagradáveis.

Falhar como amiga foi doloroso. Todas as vezes. Mas me fez entender e valorizar mais os poucos amigos que restaram.

Enquanto ter falhado como companheira me fez avaliar erros que não desejo cometer novamente e com os quais devo me policiar constantemente.

Já, falhar como filha, me faz lembrar que ainda posso ser melhor e refletir sobre meu papel na mudança das dinâmicas familiares.

E falhar como profissional sempre me mostrou um novo caminho, um caminho mais…meu.

Não estou falando que o certo é sair falhando por aí sem medo e mergulhar em uma onda de imbatível positividade: isso é chato pra cacete e todo mundo nota quando não é verdadeiro (mesmo que menos você).

O que estou dizendo, e demorei tanto para entender é que, sim a vida é uma merda quase sempre, e nem por isso deixa de ser incrível.

Realmente acredito que vivê-la, em todos os seus contrastes, é o que confere a paleta de cores única da nossa existência – que não precisamos ficar esfregando na cara de todo mundo nem exigir que o universo enxergue ou entenda.

Mas que podemos sempre segurar com carinho e ter orgulho do que fizemos – mesmo quando não pudermos fazer nada.   

 

8. A vida não dá segundas chances e páginas em branco

Essa é a seção final e também uma boa coisa para se colocar como aprendizado.

Porque embora falhar faça parte do processo, a vida simplesmente não costuma nos dar novas chances, páginas em branco, toda essa baboseira. 

Tudo que fazemos fica registrado, tem consquências e deixa uma mala muitas vezes pesada que arrastamos por aí, ás vezes só porque queremos e, ás vezes, porque ainda não descobrimos o que fazer com aquilo tudo. 

Por mais que gostemos de nos enganar, a existência é uma trama feita de uma linha só

Podemos descobrir novas formas de alinhavar cada ponto, de apresentar nosso melhor ou nosso pior.

Mas o que costuramos até aquela altura fica lá, pendurado em algum lugar. Ora mais acessível por nós, ora somente para os outros – porque por mais que desejemos esquecer, alguém nunca esquece

Raramente fica claro se o que estamos fazendo é realmente bom e certo e significativo. Não dá para saber essas coisas totalmente.

Então espero que o que aprendi e compartilhei contribua para o seu processo de resoluções de final de ano. Ou melhor…de vida mesmo.

E que elas sejam algo mais verdadeiro e factível, algo mais possível e realizável e, acima de tudo, algo que represente aquilo que é significativo e importante para você.

Porque, ao contrário do que algumas pessoas afirmam, eu não acho que um novo ano seja um conjunto de novas chances – assim como um novo-qualquer-coisa. 

É claro que um novo lar pode representar dias mais gostosos. Mas não vai excluir dos registros da sua vida os dias horrorosos de um lar antigo – e muito menos eliminar os riscos de outros dias ruins. 

Se você se dedicar a arrumar um novo emprego, talvez você se sinta melhor lá ao ser reconhecido(a). Mas seus defeitos profissionais, comportamentais e técnicos não vão desaparecer. E, por mais que você tenha novos amigos, as pessoas que você marcou não vão esquecer. 

Eu penso que todos os dias significam isso, e que a passagem de ano é apenas uma representação simbólica que nos lembra que nossos objetivos não deveriam ser limitados aos 365 dias do ano, como se fossem páginas novas e em branco de um novo livro.

Mas optando pelo clichê das metáforas e figuras de linguagem, bem…

Nossa vida é um livro só e quanto mais coerência os capítulos tenham entre si, mais fácil será escrevê-los e mais gostoso será relê-los sempre que você precisar se lembrar de quem é e porque deseja estar aqui – porque essa pode ser a coisa mais próxima do porque você está.

 

PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Vou fazer a única coisa que consigo pensar agora. Tente pensar em uma única coisa que você realmente deseja para esse ano. Aquela única coisa para a qual você realmente deseja se dedicar. Aquela coisa que, não importam os sacrifícios que terá que fazer, você está diposto(a) a realizar. Depois determine o que precisa fazer e dedique-se a esta única coisa – se possível aplicando o que viu aqui!

 

Continue lendoO guia indispensável para abandonar de uma vez por todas as resoluções de mentirinha

O universo perverso e nosso digno merecimento

Sem aviso prévio de 30 dias, somos finalmente capazes de perceber. É, então, impossível negar que nossa mãe tava certa em parafrasear: tudo passa.

As estações mudam. Os cabelos caem, as unhas se tornam quebradiças quando uma unha nova se força a nascer.

A pele do pé, aquela contra a qual você insiste em lutar para afinar e amaciar em sessões caseiras de embelezamento, se desfaz.

Trocamos de carro, trocamos de meios de locomoção, surgem novas tecnologias. O que era barato se torna caro, o que era caro se torna barato.

O que era feio se torna bonito e o que era bonito se torna motivo de vergonha quando olhamos para as fotos do passado.

Aquela saia que era cafona e há dez anos atrás você usava se tivesse o sádico interesse em ser chamada de maria-mijona, se torna elegante e sai na Vogue. O tênis, antes prova de desleixo e desinteresse, agora é cool.

As plantas precisam ser podadas para dar lugar a folhas melhores. As árvores secam…e dão flores. O chão antes infértil ganha terra nova e adubo para dar lugar a novas árvores.

As pessoas partem. Ou deixam de fazer parte da sua vida para serem parte da sua história. Mudamos de casa. De rotina. De trabalho. De mentalidade.

As roupas que antes gostávamos já não parecem dizer nada sobre quem somos hoje e aquele cabelo parece nos incomodar.

As preocupações deixam de ser aquelas para serem outras. O que tanto nos atormentava antes parece, agora, bobagem. Nosso choro ganha motivos mais duros.

Os bebês, rapidamente crescem. Aquele pezinho vermelho e inchado do recém nascido se torna um artefato firme da sustentação que permitirá que, finalmente, ele ou ela explore o mundo no seu próprio ritmo: quem você só poderia carregar no colo, agora quer correr o mundo todo debaixo dos pés.

A rede de apoio com a qual antes você contava se dissolve. E, do contrário, também pode se refazer e ganhar um novo sentido mediante o inesperado.

Nós sabemos de tudo isso. Quando as mudanças (principalmente não tão boas) não acontecem conosco, chega até… ser bonito dizer, ler, ouvir falar.

Nós sabemos de tudo isso. Mas saber é tão diferente de sentir! Sob uma perspectiva racional somos capazes de perceber e entender que nada é permanente.

E, ainda assim, ficamos esperando que a vida ocorra exatamente do jeito que esperamos: céu azul (ou, no caso de alguns, nublado), sol, flores e sorrisos.

Esse foi o modo mais adequado que processamos para lidar com a valorização do sofrimento da era vitoriana, das guerras, da fome, das pestes, das crises financeiras que abalam o mundo: a ilusão.

Comerciais de margarina, barbies, o “American Way of Life” que germinou nos meados da década de 40…tudo pareceu uma ótima saída para a crise de 29 e outras porcarias que se pudesse imaginar. 

 

Mas,   ás vezes, o cadarço simplesmente é vermelho

baby-cry
sim, até você se comporta assim

Afinal se, por um lado, a vida pode ser muito difícil, por outro, deve ser apenas uma preparação para nos tornarmos tudo aquilo que acreditamos que precisamos e gostaríamos de nos tornar. Mas não.

Uma pessoa que respeito, gosto e admiro muito me ensinou uma frase pela qual sou apaixonada até hoje (Sim, Ste! Estou te devendo um quadro rs) e que busco compartilhar sempre que considero pertinente. Afinal, há sempre a possibilidade de ser s vida dizendo:


“Não te dou o que você quer, porque não é o que você precisa.”


Então, flertando obsenamente com o achismo, talvez uma das razões pelas quais não sabemos lidar com a transitoriedade seja pelo fato de que transitoriedade significa que o que está bom, deixará de ficar – mesmo que também signifique que o que está ruim, dará lugar ao que você escolher tornar.

Outra razão é que demoramos muito mais tempo do que imaginamos para deixarmos de ser aquela criança que chora porque o cadarço do sapato não é azul – ou seja lá as razões estranhas pelas quais você chorava quando era criança.

Hoje estas razões parecerão bestas pra você. Porque, sob o olhar de quem já viveu e superou outras coisas, elas passam a ser.

Mas experimente se tornar o maior inimigo de uma criança ao debochar de sua dor e dizer a ela que aquilo é bobagem.

Obviamente, existem dores que uma criança experimenta que perduram na vida adulta. Eu arriscaria dizer que muitas dores e frustrações que carregamos na vida adulta, vêm justamente dessa fase

Só que estou falando daquelas situações em que realmente parecia que estávamos sendo espancados ou passando fome porque sua vó/pai/tia decidiu dizer “não” no supermercado.

Então, tente se lembrar disso: existem coisas que te perturbam hoje que parecerão ridículas no futuro. E existem coisas que te perturbarão por muito tempo.

Quanto às primeiras, se eu pudesse, sugeriria analisá-las com frieza e observar quanto de energia você está gastando com isso, no lugar de qualquer outra coisa melhor. 

Em relação às segundas, considere-as como parte, mas não ressignifique sua vida e suas decisões por causa delas.

 

Dos cadarços aos chinelos

nem sempre a vida cabe em um comercial, na verdade, geralmente não cabe mesmo

Bem, e tem uma outra coisa que precisamos admitir: nossa incrível incapacidade de sermos humildes.

De aceitarmos e entendermos que nem tudo podemos controlar e, com o restante, nos resta fazer o melhor que pudermos – mas que os resultados dependem unicamente de nós.

Então, quando sentimos a impotência de não controlarmos nada, culpamos. Os astros, Deus, as pessoas, Newton, o funcionamento do universo, seu amigo impertinente, Lavoisier.

E aquela pequena parcela de coisas que talvez possamos transformar em algo é compreendida apenas como martírio: afinal, você está cansado demais da vida para lidar com isso, certo?!


Mas lidar com essas poucas coisas que podemos transformar em algo é justamente do que se trata a vida.

Esta é a vida real. As dificuldades e como podemos aprender a sorrir e viver mesmo com a consciência de que elas estão ali.

É claro que, em alguns momentos, a vida parece estar tirando uma onda com a nossa cara. O universo parece estar conspirando especificamente contra nós.

É mais cômodo pensarmos dessa maneira ou adotar o cinismo como melhor companheiro, do que questionarmos nosso comportamento, nossas escolhas, nossos próprios obstáculos internos em evoluirmos: “o que estou precisando aprender?”

Questionar verdadeiramente, se perguntar o que aquilo significa e o que você PODE fazer com isso é, sem dúvidas, mais desafiante do que lamentar tudo aquilo com o qual você NÃO PODE fazer absolutamente nada.

Uma grande lição que este livro me ensinou – ou melhor, uma noção que foi reforçada a partir dele – é justamente isso: ser positivo não tem nada a ver com ignorar as merdas da vida. Tem a ver em considerá-las como parte da existência.

“Sentir-se confortável com o fracasso”, como sugere Mark Manson, parece uma boa ideia para o sucesso, afinal de contas.

Inclusive, vou deixar que Mark fale por si:

“A cultura em que vivemos hoje nutre obsessivamente expecativas pouco realistas. Ser mais feliz. Ser mais saudável. Ser o melhor, superior aos outros. Ser mais inteligente. Mais popular, mais produtivo, mais invejado e cagar pepitas de ouro de doze quilates antes de beijar uma esposa impecável e dois filhos perfeitos no café da manhã, depois ir de helicóptero para seu emprego extremamente gratificante onde você passa os dias fazendo um trabalho importantíssimo que um dia ainda vai salvar o planeta.”

Percebe como é isso que, no fim das contas, bem lá no fundinho, esperamos? E como é aburdamente, ridiculamente, próximo de um roteiro de filme de ação do Tom Cruise, do 007, do Indiana Jones ou de um punhado de super-heróis?

 

Surpresa!

“Oi, eu sou a vida real”

Tenho uma novidade pra você: você não é um super-herói (ou uma super-heroína) e provavelmente seu trabalho não vai salvar o planeta.

Você não viajará o mundo perseguindo vilões nem acordará no cume de uma montanha na Índia. Dificilmente você terá descoberto a maravilhosa Atlantis.

Muitas vezes seu trabalho – mesmo que você o ame – será simplesmente maçante e exigirá grande força propulsora, disciplina e comprometimento.

Com sorte, você encontrará um parceiro ou uma parceira de vida especial que, como todo ser-humano, carrega suas próprias dores e manias.

Mas não, este relacionamento não será perfeito, regado a sexo, jantares, viagens e sorrisos. Na maior parte das vezes será…normal. Porque a vida é, na maior parte das vezes, normal. E tudo bem.

Então, esta pessoa, que você escolheu para estar ao seu lado, fará coisas absurdas em muitos momentos.

Talvez ela bagunce o armário que você levou um dia inteiro para arrumar. Ou tenha problemas motores em repousar a toalha molhada no lugar certo.

Você ainda pode correr o risco de esta pessoa comer o resto do feijão e esquecer de deixar um pouco para você de vez em quando, ou ter o azar nada romântico do seu parceiro ou parceira ter um gênio ruim. 

Existe a chance de esta pessoa esquecer, dia-após-dia, de deixar os sapatos no lugar certo, ou que tenha a intolerável mania de guardar até o caldinho da carne e do tomate.

Caso você decida ter filhos, esqueça aquelas cenas de novela onde tudo é bonito, leve e maravilhoso. Há chances bem grandes de ser simplesmente doloroso, dificil, caótico, perturbador.

O parto não serão aqueles 60 segundos da Carolina Dickman maquiada de sofrência enquanto empurra o bebê. Acostume-se a ideia de que será irritante e que os gritos podem durar umas quatorze horas.

Ah! E aceite o fato de que eles serão criaturinhas que farão coisas estranhas, capazes de produzir coisas fedorentas e despertar uma fúria inexplicável em você.

Há enormes chances de um dia ele ou ela soltar um pum na sua cara, limpar o salão bem na hora daquela foto de família que tinha tudo pra ficar perfeita ou o mais velho fazer chifrinho na mais nova.

Quem sabe você terá uma filha “bunda-mole” como você disse que jamais admitiria, ou seu filho seja chorão de um jeito que você nunca imaginou.

Se você acha que, então, está tudo certo porque você já decidiu não ter filhos, você também está para lá de iludido(a)!

Não será essa simples decisão que tornará sua vida digna de clipe de hip-hop ou comercial de shampoo, desodorante, gillete.

Você não estará o tempo inteiro com pessoas lindamente esculpidas ao seu redor.

Seus amigos seguirão tendo suas próprias vidas, e as merdas não vão dizer: “Volta, volta gente, deu ruim. Esse aqui se deu bem e decidiu não ter filhos nem se casar.” ou: “Risca aí da nossa lista, essa aí tá proibido atormentar!”.

Não duvide: você também vai passar por uma porção de perrengues que julgará detestáveis ou até insuportáveis. E, ás vezes, sentirá a mesma solidão da sua amiga, casada e com filhos. 

Ah! Não: a probabilidade também não está ao seu lado em relação à moradia. Tão cedo você não estará morando na casa dos seus sonhos, talvez, nem um pouquinho.

Pode ser um apartamento no centro barulhento da cidade ou uma casinha bem simplesinha cheia de coisas para consertar.

Se for, tudo bem: paciência. Analise suas prioridades, trace uma estratégia e execute um plano de ação para mudar isto. Mas não espere pela mudança de casa para mudar de perspectiva.

O que quero dizer é que você, provavelmente, passará a maior parte da sua existência por situações difíceis – que se tornam ainda mais difíceis mediante as expectativas cheias de fantasia que colocamos nas coisas.

E esperar viver, sorrir e estar bem só depois que essas situações passarem é loucura e, por que não dizer, um dos maiores erro que poderíamos cometer.

Condicionamos todo nosso bem-estar nos contos da Disney. E envolvemos todas as pessoas e coisas no nosso devaneio. O mais bizarro é que, quanto mais fatores que fogem do nosso controle, mais possível aquilo tudo parece.

 


Por outro lado, quando entendemos que estar bem não tem muita relação com as condições ideais e nos libertamos da culpa de não termos sido capazes de realizá-las, a vida fica mais leve.


Você aceita, por exemplo, que pode ter vontade de esganar alguns membros da sua família de vez em quando, mas que é maravilhoso tê-los por perto.

Que a pessoa com quem você está construindo uma história é realmente incrível e estar com ela te tornou muito melhor.

Que você ainda não conseguiu fazer aquela viagem, mas que vai ser muito gostoso encontrar seus amigos no próximo final de semana.

Que você não tem o corpo que gostaria de ter, mas tem um coração quentinho e que, por enquanto, isso deve bastar.

Que, talvez, você gostaria de não ter tido filhos se soubesse o quão desafiante era. Mas você teve – e se não tivesse, sua vida teria dificuldades proporcionais à sua realidade.

Voltando ao Manson escritor (não o assassino): “O segredo para uma vida melhor não é precisar de mais, é se importar com menos e apenas com o que é verdadeiro, imediato e importante”

 

A lei do esforço invertido

Seja esse cachorro. Tô brincando – mas cê entendeu, né?!

Tudo isso parece ter muito a ver com o que descobri, mais tarde, se chamar também de “A Lei do Esforço Invertido”, do Alan Watts, que se resume assim: 

“O desejo de ter mais experiências positivas é, em si, uma experiência negativa. E, paradoxalmente, a aceitação da experiencia negativa é, em si, uma experiência positiva.” 

Há séculos passados essa ideia foi a base do Budismo. Tempos depois, foi um dos pilares do Estoicismo.

Provavelmente seria possível escrever umas vinte páginas sobre os inúmeros teoremas e conceitos relacionados, em diversos credos e culturas.

Mas pouco importaria: nenhum nome, teoria ou artigo poderá representar a totalidade e a complexidade individual das nossas experiências.

Sua dor é a sua dor e ninguém será capaz de compreendê-la completamente. 

Só nós sabemos o que carregamos, o que aquilo nos causa e o quão difícil é nos livrarmos de algumas malas pesadas que mal sabemos explicar como vieram parar no nosso carrinho. 

Mas, volto a falar: VAI passar. Não há como evitar isso. Nada é fixo. Não importam as suas escolhas, tudo vai estar passando, o planeta vai estar girando.

E as coisas não vão parar um pouquinho de acontecer porque deu uma boa complicada.


A vida não será paciente e não esperará você se recompor. Ela acontece enquanto e porque você se recompõe.



Para dar contorno ao que quero dizer, compartilho esse excelente trecho do longa Paddleton (2019) onde o personagem, brilhantemente interpretado por Ray Romano interpreta um outro personagem (ta, não importa, ne?). {ah! Se você tem Netflix, recomendo ver na versão legendada, ali pelos 32 minutos}


Em resumo: quando chegarmos ao último minuto, não haverá “misericórdia”. Você pedirá por mais tempo, desejará voltar atrás, viver todos aqueles problemas que, na época, te atormentaram tanto.

Mas adivinha só? Isso não vai acontecer. 

 

Então aproveite o segundo tempo

Apenas isso. O óbvio. O clichê do clichê. 

O que resta da sua vida está descortinando bem na sua frente e, enquanto o espetáculo acontece, você está preocupado porque a cadeira não está confortável o suficiente.

Não estou dizendo que, por isso, você deva sentir culpa. Por reclamar, por se queixar, por se cansar, por achar a vida uma senhora bem desagradável de vez em quando. 

Estou sugerindo que experimente uma existência onde isso não seja capaz de definir seu estado de espírito, ou pelo menos não prioritariamente. 

Porque, se nem todo mundo tem o privilégio da fé sobre para onde iremos depois da morte, qualquer um pode saber exatamente o que deseja fazer com todos os outros dias que restam. 


PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Hoje a prática é bem simples, e não precisará ser executada por uma vida perfeita. Na verdade, seria até recomendável que se fizesse meio ao caos. Como alguns já sabem, eu amo listas. Portanto…
1. Trace três colunas. Em uma, faça uma lista de grandes amigos,  digo, de tudo aquilo que mais tem te incomodado ultimamente.
2.Na outra, force-se a visualizar o que poderia fazer de bom e produtivo com aquilo: como cada um destes incômodos poderiam ser uma oportunidade de aprender ou fazer algo? Não se preocupe…você não precisa achar uma coisa boa para cada coisa ruim, afinal, ãs vezes as coisas ruins podem ser simplesmente ruins.
3. Na terceira, faça um cruzamento das informações de ambas as colunas e de suas próprias percepções ao longo do exercício, e conclua considerando uma ação prática e cotidiana que você pode adotar para lidar de uma forma diferente com os problemas.
4. Uma sugestão extra é, depois, considerar pelo menos 3 coisas pelas quais você é sinceramente grato. Pode parecer uma tremenda bobagem mas esse simples ato foi cientificamente comprovado como um método eficaz de aumentar a satisfação e bem-estar quando feito diariamente. E sabe o melhor de tudo? É de graça. Na pior das hipóteses você ainda pode encher a boca para sair falando por aí que não funciona e que é tudo balela. Mas antes, concentre-se em tentar e realmente se entregar ao ato em si. 
Ah! Se quiser compartilhar ou tirar dúvidas, ficaremos felizes em conversar. E se estiver disposto(a) a diálogos construtivos, comente abaixo o que achou do post e da prática…concorda, não concorda? 

 

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Talvez eu (e todo mundo) saiba do que você precisa

Sim. Talvez, mesmo que a gente não se conheça, eu saiba exatamente do que você precisa. E, por mais que você possa estar duvidando, garanto que isso é menos prepotente do que parece. Me dê uma chance e vou te mostrar.

Porque uma das coisas mais transformadoras que me aconteceram foi…um livro. Claro.

Depois dele, fui capaz de aprender algumas coisas bem importantes. Conforme ia passando os parágrafos eu também refletia sobre minha própria vida, sobre minhas experiências, sobre coisas que eu havia fixado sem me dar conta.

Como eu já havia mencionado anteriormente, a questão da empatia é bem difícil para mim. Eu nunca entendi direito porquê. Mas depois dessa leitura.

Ela me fez concluir que sim, existe um conceito “fabricado”, complexo, cheio de palavras bonitas e definições longas.

Mas existe uma outra coisa, quando falamos disso e outros termos populares, que negligenciamos o tempo todo. Como as cores, afinal de contas, algumas ideias parecem ganhar novos formatos para agradar o público, para angariar novos seguidores.

Então, uma das coisas mais relevantes que esse livro em especial me disse, sem usar essas palavras, foi algo como:


“Querida, vamos parar de complicar e considerar como “empatia” aquilo que você SABE do que estou falando.”

 

Porque, sinceramente, eu sequer podia apreender o sentido dessa palavra.

Se hoje posso confessar a quem quiser que “eu não sou empática” antes era muito pior: eu era incapaz de tangibilizar “empatia”.

E é por isso que decido compartilhar algumas concepções que fiz a respeito, depois dessa leitura – e de uma porção de vivências, conversas e chororô.

Afinal, eu adoro constatar como as palavras são muito mais inteligentes que nós, que costumamos interpretar tudo ao nosso bel prazer.

Portanto, pensar sobre elas e sobre como elas impactam a nosso comportamento, nossa comunicação e nossa forma de viver é algo que me atrai.

Talvez você simplesmente não goste dessa palavra. Talvez você ache que ela seja apenas uma palavra boba que estão usando adoidado. Eu mesma penso isso ás vezes e talvez ela até seja.

Por isso gostaria de te convidar a discutirmos sobre isso sem medo de sermos julgados ou nos sentirmos inferiores, uns bostas, etc.

Então, acho mesmo que só temos a ganhar aqui.

Caso você use essa palavra, goste dessa palavra, que essa palavra já faça um sentido natural para você…bem, então nem preciso te explicar por que só temos a ganhar aqui.

Vamos lá.


Essa tal de Empatia

“e o Roque Enrow minha filha?” / calma aí, Ritinha!


A verdade é que, assim como eu, você também sabe exatamente do que se trata essa tal de empatia que todo mundo fala mas é o caviar daquela música do Zeca Pagodinho: nunca vi, nem comi, só ouço falar. 

É até possível que a falta dela te faça sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.

E é possível também que, grande parte das vezes que você se sente assim e associa a um monte de coisas, por mais que você negue, tenha relação direta com essa palavra bonita, gostosa e quase unicórnica.

E é mais possível ainda, caso as situações anteriores não tenham ocorrido, que você já tenha feito alguém se sentir um/uma merda de vez em quando/sempre.

Para começar, existe um vídeo que explica bem isso. Se você assistiu, você vai achar milhares de outras palavras para a mesma coisa. Se não assistiu, recomendo.

Em resumo, não parece ser tão difícil verdadeiramente respeitar a dor do outro – como a dor do outro, não a sua.

Não deveria, pelo menos, ser um desafio tão grande, deixar-se a mercê por algum tempo para dedicar-se em aceitar o outro.

Porque, afinal de contas, “aceitar” o outro não é como um ato generoso que você faz pelo outro. É fruto de um ato generoso com você mesmo.


Seu “aceite” ou não em relação a uma pessoa não vai impedi-la de continuar vivendo, sorrindo, sendo feliz, sendo amada, conquistando coisas, tendo sonhos, aprendendo, evoluindo. 


Quando você “não aceita” alguém, posso dizer que só existe uma pessoa que, garantidamente, vai ser privada de qualquer coisa. Não se trata da outra pessoa aqui. Mas eu acho que, sobre isso, não preciso falar muito.

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Pois quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo também olha para você.” – F.W. Nietzsche


Mas essa noção é tão difícil que, grande parte das pessoas, quando precisa definir empatia, ainda menciona algo como: “se colocar no lugar do outro” (explanado num dos tópicos desse artig0).

E aqui me refiro a pessoas inteligentes, do bem, interessadas em lidar com a complexidade humana, com todos os vieses não tão agradáveis que resultam disso algumas vezes.

Somos tão naturalmente egocêntricos que até mesmo falar sobre essa ideia é conflituoso. Porque “a tal da empatia” é o exato oposto de se colocar no lugar do outro.

Tem muito mais a ver com deixar-se aberto para que o outro entre em nós (sem piadinhas!). Tem muito mais a ver com deixar-nos suficientemente vulneráveis para que o outro nos acesse realmente.

É por isso, talvez, que seja tão difícil.

Somos programados para sobreviver. E estar vulnerável a este nível é nos pôr em uma situação declaradamente ameaçadora e que rapidamente nos leva a perder o controle.

Ganhar uma discussão usando argumentos lógicos e racionais. Vencer uma batalha utilizando armas. Sair vitorioso de uma luta na porrada. Tudo isso agrada bem mais o paladar prático do nosso instinto mais primitivo.

Mas lidar com as emoções ainda não é algo que dominamos completamente.

Portanto, nos deixarmos vulneráveis, mesmo inconscientemente, nos leva diretamente à uma cena onde estamos na selva e desenhamos um alvo no nosso ponto mais fraco.

Parece um sinal claro ao universo de que desistimos de sobreviver e estamos prontos para sermos dilacerados.

E eu não poderia discordar. Sim: ao fazermos isso ficamos suscetíveis à chantagens emocionais. E nada como uma versão mais sofisticada do olhar de gatinho do Shrek para atrapalhar nossos planos de sermos invencíveis. 

Por outro lado, vencer é tão subjetivo que até dói pensar profundamente a respeito.

Se, de um modo, nosso instinto de sobrevivência nos leva a temer a vulnerabilidade, o mesmo mecanismo fica ecoando a assustadora percepção de que, alguma coisa vai faltar.

Essa relação pode ser entendida também no equilíbrio entre o egoísmo e o altruísmo.

Fato é que, algum lugar, dentro de nós, simplesmente sabe o que já foi profeciado: “Os extremos nos afastam do caminho”.

E então ficamos andando, levando choque a cada contato com um desses lados que, na verdade, podem conviver pacificamente e dar contorno à nossa jornada.  

 

Ta mas e aí, como faz isso?

Ao que tudo indica, temos esse medo absurdo de estarmos vulneráveis porque não sabemos ao certo como seremos recebidos.

“Essa postura será suficiente? Os riscos de ser destruído são compensados com a possibilidade de sentir que faço parte de alguma coisa? De que alguma coisa disso tudo faz sentido?”

Parece-me que nosso medo de nos mostrarmos, em toda a magnitude, em toda a complexidade, tem muito mais a ver com nossa própria dificuldade de nós mesmos aceitarmos nossa inferioridade poética.

De sermos, muitas vezes, incapazes de dizermos para nós:


“Ei, você foi realmente besta aqui. Mas isso não faz de você alguém detestável. Faz de você humano, e sempre é possível melhorar isso, tudo bem?!”


A forma mais fácil de saber que alguém sofre desse mal, é observar como ela trata as pessoas. O reflexo mais evidente de como lidamos conosco, é analisar o modo como lidamos com o outro.

Aquela pessoa que você detesta, que você simplesmente não suporta lidar ou conviver, provavelmente tem alguma característica sua da qual você se culpa, se envergonha e odeia.

Quem sabe você mantenha essa característica tão bem escondida que nem você a perceba.

Mas, por mais que ás vezes seja desagradável lidar com isso, por mais que nos cubramos de distrações, ainda assim, os fatos estarão lá.

E mesmo que a razão do não bater de santos com alguém seja por alguma característica dessa pessoa que você deseje, ou simplesmente te lembre algo que você não goste de lembrar: existe algo importante aí. E parece difícil discordar:  

“Tudo o que nos irrita nos  outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.” – C.G. Jung

 

Sim. Eu sei.

É geralmente difícil engolir isso. Tem um sabor amargo.

E sei porque, minha primeira reação ao assistir um vídeo a respeito (que eu procurei e não encontrei, mas você pode encontrar coisas similares buscando por “projeção” e “teoria do espelho“) foi algo como:

“Ei, Sra. Dra. Super Psicóloga. Você pode ser incrível e sabichona, e estar apenas parafraseando outros pesquisadores e estudiosos aclamados. Mas isso só pode estar errado.” 

Então: calma. Eu não sou psicóloga, super, doutora nem senhora. Estou apenas parafraseando, só para citar alguns, Jung, Lacan, Freud, Robert Bly e Nietzsche (mesmo que você tenha facilidade em identificar os meandros duvidosos na obra de cada um deles, é insensato simplesmente descartar isso).

Mas, depois de ter acesso a essa afirmação, foi inevitável não avaliar minhas interações com outro olhar.

Fez sentido a afirmação de que “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”.

Foi incômodo perceber que ser intolerante, que não estar disposta a compreender as outras pessoas, enxergar seus contrastes, aceitar suas pequenezas não me fazia superior. Nem inferior.

Era apenas a consequência de eu não aceitar me compreender. Não me perdoar pelas minhas pequenas, por eu mesma ser ridícula e me preocupar com pouco.

Eu não estou tentando justificar meus erros. Estou exercitando a vulnerabilidade: eu sou essa merda. E tudo bem.

Se me falta indulgência ao lidar com as pessoas, é porque mal tenho o suficiente para mim mesma. Essa palavra, que antes eu entendia como permissividade – e que por si ressoa como negativa aos meus ouvidos – seja, talvez, a chave dessa tal de empatia.

 

Não por coincidência, a definição que faz mais sentido para mim agora, é a primeira.

E os opostos (severidade, antipatia, aversão, severidade, crueldade) são justamente o que distribuo para mim e, eventualmente, para quem tem o azar de estar por perto quando estou menos autoconsciente.

Essa outra característica, que antes tinha um conteúdo predominantemente negativo, é o que mais busco me tornar.

E também é o que tem a ver com “essa tal de empatia”, com estar vulnerável, mas consciente.

Assim, dispostos e conscientes – sem que ninguém nos julgue, nos pressione ou nos cobre – conceder a permissão (graças à disposição de perdoar) que o outro nos mostre o mundo sob sua perspectiva e, possibilitando darmos mais consistência à estas conexões.  


Mas um pouco de prudência não vai fazer mal

O problema é que você não vai pensar em desenhar um alvo no seu ponto mais fraco se não confiar plenamente, por algum tipo de inteligência coletiva, de que aquilo vai dar certo.

E, nesse ponto, “dar certo” significa muito mais o que você está disposto a entregar do que a expectativa do que farão com aquilo. 

Porque, mesmo que te destruam ou tentem, você saberá que fez sua parte e confia que saíra mais forte. Isso só acontece, se você se ama o suficiente, se você se ama o suficiente para ser autocomplacente.


Eu concordo: dói amar os outros e não ser amado de volta. Mas nem se compara à dor de não ser capaz de amar a si mesmo.

Essa condição sim é que nos torna vulnerável de um jeito perigoso.

Amar os outros tem algo a ver com amar tanto a si mesmo, e em confiar tanto nisso, que não importa se tentem usar sua aparente fragilidade contra você.

Não estou falando das pessoas que elogiam a si mesmas. Que gostam de falar dos seus louros. Porque essas pessoas estão bem longe disso.

Estou falando de simplesmente você ser capaz de fazer um high-five individual no ar e falar:

“Cara! Você manda bem! Ás vezes você manda muito mal. Mas você é massa. Segue em frente. Que o que os outros fazem não tem que afetar o teu caminho. Acerta a sua bússola e deixa que cada um acerte a sua”

Essa postura, que foi tão mal-falada e pregada de forma negativa, é o que na verdade nos fortalece como pessoas e, consequentemente, como sociedade.

Quanto mais gente ter essa noção, mais fácil será nos conectarmos. E, sei lá, vai saber se Narciso não foi empurrado. As conspirações estão aí para quem quiser.

Afinal de contas, quem gosta de mitologia sabe que, na representação romana, Narciso é Valentim – nome bastante utilizado em vários países para celebrar a perseverança e vitória do amor, mesmo a partir de contravenções cheias de pureza (não apenas o amor eros, mas o amor fraternal também; frequente, mas erroneamente, desenhado, como Cupido).

Embora digam que ele era arrogante, orgulhoso e desprezível, é um mito. Então, tudo é possível.

Verdade seja dita: a maioria de nós tende a ficar incomodada com quem emana amor-próprio.

Faz muito mais sentido deixar que as pessoas se sintam desprezíveis e precisem desesperadamente da aprovação alheia que fará com que submetam àquilo que, genuinamente, não era do seu interesse.

E é por isso que esse artigo não começa com: amem todas as pessoas.

Além de incoerente, isso também seria muito imprudente. A ideia não soa natural.


Quando a maioria de nós precisa escalar frias montanhas ou mergulhar fundo em mares desconhecidos para preservar o autoamor, dizer para amarmos todas as pessoas parece mais um grito de desespero do que de salvação.


É impossível estar pronto para essa aventura. Ela se torna um ato de suicídio muito antes que de glória ou nobreza.

Então, empatia seja, talvez, um dos benefícios de todo esse processo.

Um resultado entre o equilíbrio sistêmico entre ter amor o suficiente por nós mesmos, para que possamos ter amor de sobra para os outros.

Empatia é o menor dos nossos problemas. Enquanto aquilo que realmente importa for ignorado ela, basicamente, importa muito pouco.  

Então ta.

“All you need is love. Love is all you need”


Mas “amor” é muito complexo também. Então, espero que essa leitura tenha feito algum sentido.

E mesmo que não tenha feito…vamos ver se estamos nos entendendo e falar sobre isso?

O que, pra você, é empatia? Você se considera empático(a)? O que você recomenda ou têm feito para isso?

Que outros artefatos do comportamento podemos utilizar?

Porque, para mim, como eu disse, é apenas um maravilhoso resultado de uma porção de coisas que a gente faz para se sentir vivo, para sentir que fazemos parte de alguma coisa.

Nos conectarmos uns aos outros, não por dependência ou por precisar disso para propriamente viver ou ser feliz, mas para dar outro sentido à nossa perspectiva, parece ser exatamente isso.  



PRÁTICA

Para não deixarmos que minhas maluquices morram na praia, vou buscar sempre deixar uma prática: uma sugestão de algum exercício que me trouxe um bom resultado, fruto do instinto, das leituras ou das conversas com outras pessoas.

Falarmos com respeito e um olhar gentil sob outras perspectivas exige que tenhamos a capacidade de preservar isso conosco. Então, discutirmos sobre qualquer coisa, usando esses atributos e essas regras básicas de convivência positiva, de diálogo sem ofensa e de conversas realmente produtivas, parece ser um ótimo caminho para nos conectarmos. Por isso, a prática de hoje não poderia ser mais metalinguística. Portanto, convido aos interessados que:
1. Percebam qe alimentar esse blog é tremendamente difícil e geralmente desafiante, gasta um temo enorme e, se é útil para você, poderia ser muito bom que eu soubesse disso;
2. Compartilhe com as pessoas com quem você confia e com quem você acha que pode se conectar mais e melhor ao dialogar sobre coisas desse tipo;
3. E comente aqui embaixo! Porque os comentários estão liberados. Desde que se mantenham como um espaço de debate coerente, saudável e construtivo.
Ah! Se tiver alguma sugestão, nos envie um e-mail!

 

Continue lendoTalvez eu (e todo mundo) saiba do que você precisa

9 obstáculos na busca pelo nosso caminho

Uma das minhas coisas mais latentes é que, desde criança, gosto de tentar entender quem sou.

Qual o meu caminho. Porque estou aqui. O que eu deveria fazer. 

Se isso ficou claro o início não foi à toa. Essa é uma questão que toma conta da maior parte dos meus pensamentos.

Para mim, isso sempre foi fundamental, porque um dos meus maiores medos é chegar no fim da vida, olhar pra trás e rolar um grande facepalm: fiz tudo errado. 

Mesmo assim, demorei muito, muito tempo mesmo, para finalmente aceitar as respostas que tive ao longo da vida. 

É possível que eu pensasse tanto nisso, que me afastasse do meu objetivo?

Pode até ser, mas não posso dizer com certeza.

Por outro lado, reconheço facilmente razões que foram mais eficientes em me afastar do processo. 

Afinal, a gente tem que fazer escolhas o tempo todo. Nem sempre são certas ou erradas – quando existe essa dicotomia.

No entanto, por mais projeções que façamos, os resultados rais só conhecemos depois. E nisso a gente se perde. Algumas vezes/sempre. 

Imagino que com você já tenha acontecido.

Aquele momento em que você olha para toda sua vida, para o momento exato em que você está, e se pergunta: 

será? 

O ponto positivo é que estamos em um cenário onde o questionamento e a descontrução voltaram ao palco e lutam lado a lado das certezas e convicções.

Portanto, os caminhos e escolhas rumo à felicidade são cada vez mais mencionados. Discutidos de uma forma transparente.

E tenho aproveitado para ler, ouvir e conversar a respeito destes assuntos. 

Você mesmo, inclusive, pode até já ter visto ou ouvido de várias outras pessoas o que tenho a compartilhar. 

Ainda assim, gostaria de aproveitar a oportunidade de te falar sob meu olhar.

Quem sabe, exatamente agora, você precise ler esse texto. A vida é uma incógnita . 

Talvez você encontre algo que te ajude na sua trajetória .

Afinal, são coisas que, certamente, teriam me ajudado na minha. Não se ofenda, sei que só há uma cópia de você no mundo. 

Mas acredito que, embora cada um carregue sua própria história, os dilemas da humanidade seguem uma curva semelhante. 

Ah! Adianto que decidi ser boazinha de novo (rere) e dar uma encurtada (obrigada, David).

Porque gostaria que você pudesse realmente processar a respeito de cada uma delas.

Então, decidi dividí-las em três partes e mencioná-las sob a abordagem de “erros”. 

Também não há nenhuma ordem “estratégica” dos tópicos: estão exatamente conforme surgiram na minha memória.

Então, vamos lá, conhecer 3 dos 9 obstáculos ou erros que você ( ou alguém que precise desse artigo)  pode estar vivenciando na procura de si mesmo. 


1. Pressa, impaciência, intransigência

a pressa como obstáculo

Eu já falei sobre essa questão da pressa e como isso foi/é problemático pra mim (e uma porção de gente).

Mas aqui estou falando de um outro tipo de pressa.

Entenda como quiser. Mas você sabe do que estou falando. 

Daquele nosso jeitinho super especial de querer as coisas naquela hora. 

Eu entendo: não evoluímos tão rápido quanto imaginamos.


Sempre preservarmos um resquício do estilo egocêntrico e mimado, típico das crianças. 

Antes de nos permitirmos pensar nas perguntas, queremos respostas

E, quando elas não vêm, nos frustramos e desistimos de esperar por elas.

Ficamos de mal com o mundo, com Deus, com o universo, com o cosmos, com os astros.

Com o movimento das marés, com a mudança da lua e com aquele amigo cheio de sabedoria que se nega a responder como você queria: mastigadinho.

Até tentamos de outros jeitos. Perguntamos pra nossa mãe, pro vô, pra vizinha.

E terminamos putos quando cada um deles parece fazer parte de um acordo conspiratório para responder daquele jeito passivo-bundamolizado: 

“tudo no seu tempo.”

Ou então aquele outro clássico:

“as coisas acontecem como têm que acontecer”

“Que tudo no seu tempo o quê! Tudo no meu tempo” — pensamos (ás vezes, falamos também, nem que seja para as paredes). 

“Não tem nada disso das ‘coisas’ acontecerem ‘como têm que acontecer’. Que as ‘coisas’ não têm que ter é vontade ne-nhu-ma. As ‘coisas’ estão na minha vida. Minha vida, minhas regras!”

E assim a gente fica certão de que pode fazer tudo sozinho.

Que temos o controle remoto do mundo e de todas as coisas na palma da mãozinha. Só chora, bebê.

Enquanto você não entender isso, o cosmos, o universo, Deus, os astros, seu amigo sabiozão, sua tia, seu vizinho…vão seguir dando a mesma resposta, no máximo com suaves variações. 

Você aprende, depois você ganha. Sempre foi assim, ué minha gente. 


2. Distrações da vida e coisas mal-resolvidas

as distrações da vida nos impedem de encontrar nossa bússola interna

Mesmo que alimentemos dúvidas e questionamentos dentro de nós.

Mesmo quando aprendemos que desvendamos a vida aos poucos: o buraco é sempre mais embaixo. 

Porque essa vidinha curta, é comprida o bastante para deixar rolar um monte de águas entre o momento que a gente nasce e morre.

Esse ‘e’ pequeninho ali é o grande barato – que pode sair caro.

Nesse espaço-tempo, passamos por uma porção de fases.

Descobrimos novos gostos e preferências, redefinimos prioridades, postura e estilo de vida.

Encontramos outras atividades prazerosas e pessoas com as quais queremos passar mais tempo. 

Tudo isso é muito bom e merece ser aproveitado.

Mas precisamos saber voltar para ficar a sós com a gente mesmo. 



Eu sei que você não quer dialogar com seus demônios mais assustadores. E que sentar a buzanfinha no sofá, para ver aquela nova animação do Netflix, é bem mais gostosinho. 


Afinal, essas distrações, que fazem parte da vida e são maravilhosas, também são armadilhas muito eficazes. 

E, como se as distrações naturais não fossem suficientes, decidimos criar mais algumas (ora, por que não?).  

Por exemplo: de repente, podemos começar a “sentir” que “precisamos” trabalhar mais, dormir mais e ver mais séries .

Embora eu concorde que nenhuma delas é intrinsecamente nociva, é preciso cautela.

Todas são bem legais, desde que nas devidas proporções e no momento certo.

Então a sugestão é: pergunte-se constantemente sobre a natureza das suas distrações, e o quanto tem se lambuzado nelas.

Você pode descobrir que tá meio demais, e que talvez elas estejam sendo uma ótima muleta—ou uma deliciosa forma de fugir de algo mal-resolvido.

 

3. Absorção de projeções externas

um obstáculo do processo é deixar que os outros projetem em nós sua visão de mundo

Sempre tem alguém com quem você cruza no meio do caminho e fala, usando palavras diferentes:

“Não, não é por aí não. Vem na minha, que dá boa. Eu sei um caminho bem melhor.”.

Porque uma coisa é certa: o mundo está cheio de pessoas dispostas a te dizer o que você deve ou não fazer.

Inclusive está muito relacionado ao primeiro dos comportamentos nocivos que mencionei.

Portanto, eu não tenho dúvidas que, em grande parte, essa é uma postura bem-intencionada.

Mas quem acordará ao lado das suas escolhas todos os dias é você. 

Nunca se esqueça disso. 

Costumamos, desde crianças, absorver o que vemos e ouvimos .

E mesmo quando nem é direcionado a nós ou sequer percebemos, algumas coisas penetram na nossa mente e ficam ecoando. Inclusive já falei sobre isso aqui.

Talvez seja nosso instinto primitivo de sobrevivência. Ansioso para aprender sobre a vida, sobre o mundo, sobre como existir nele. 


Mas muitas destas coisas, quando internalizadas, podem afastar você do seu caminho. 


É assim que as crenças limitantes começam:

“Você precisa ser forte; deixa de ser bunda-mole; isso é ridículo; é importante ter sucesso; você precisa entender que é um adulto e não pode mais ficar gastando tempo com essas coisas” — entre outras.

Só existe um colete salva-vidas. Como dizem, é preciso ser filtro, não esponja.

Eu sei: dificílimo, mas fundamental. 

 

 

[…]

Bom por hoje é só (que coisa de radialista né?!). Mas à medida que for interessante, compartilho o restante.

Enquanto isso…E você? Já cometeu algum desses erros? Qual seu palpite dos próximos? 

Se gostou, não deixe de compartilhar com aqueles que poderão se beneficiar! 

Ainda estou refletindo sobre os comentários. Mas, pufavozinho! Me fala lá pelo instagram, por aqui, manda uma carta, um sinal de fumaça. 

Me conta se isso fez sentido para você ou recomende outros “erros” que poderiam ser mencionados.

Ah! E se puder, me diz também se as práticas têm feito diferença ou se você sentiu falta delas em algum artigo.  😉

 

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